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CAPÍTULO III: RELAÇÃO JURÍDICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL PÚBLICA

3.4 Os benefícios eventuais e os benefícios de prestação periódica

3.4.1 Benefício De Prestação Continuada

3.4.2.3 Modalidades de Benefícios

O art. 2º da Lei nº 10.836/04 estatui 4 (quatro) modalidades de benefícios, cujos valores iniciais sofreram atualizações434

posteriores, a saber:

• Benefício Básico: no valor mensal435 de R$ 70,00 (setenta reais), é destinado às unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza extrema, sem condicionalidade alguma, ou seja, tenha ou não filhos;

• Benefício Variável: no valor mensal de R$ 32,00 (trinta e dois reais), destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza e extrema pobreza e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes, crianças entre 0 (zero) e 12 (doze) anos ou adolescentes até 15 (quinze) anos, sendo pago até o limite de 5 (cinco) benefícios por família;

___________________________________________________________________ 432Art. 11-A do Decreto nº 5209/04, incluído pelo Decreto nº 7.332/10.

433

Art. 11-H do Decreto nº 5.209/2004 com redação dada pelo Decreto nº 7332/2010.

434Vide art. 19 do Decreto nº 5.209/2004, com redação dada pelo Decreto nº 7447/2011 e Decreto nº 7.494/2011.

435

179 • Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ), no valor mensal de R$ 38,00 (trinta e oito reais), é o benefício variável, vinculado ao adolescente, destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composição adolescentes com idade entre 16 (dezesseis) e 17 (dezessete) anos, sendo pago até o limite de 2 (dois) benefícios por família (criado em março de 2008);

• Benefício Variável de Caráter Extraordinário (BVCE) – é concedido às famílias que migraram dos Programas Remanescentes para o PBF, com perdas financeiras. O valor concedido é calculado caso a caso, tem prazo de prescrição e são pagos em conta corrente, pela Caixa Econômica Federal, agente operadora. (art. 2, § 2º, da Lei nº 10.836/04 e art. 16, do Dec. nº 5.209/04, com redação atualizada).

Os valores que cada família recebe são variáveis. Para aquelas que tenham renda per capita até R$ 70,00 (setenta reais), o montante oscilará entre R$70,00 (setenta reais) - benefício básico - até o limite de R$306,00 (trezentos e seis reais); para os que percebem acima de R$71,00 (setenta e um reais) e até R$140,00 (cento e quarenta reais), os valores variaram de R$32,00 (trinta e dois reais) a R$236,00 (duzentos e trinta e seis reais).436

Não nos esqueçamos que a renda familiar mensal, será a soma dos rendimentos brutos auferidos mensalmente pela totalidade dos membros da família, excluindo-se os rendimentos concedidos por programas oficiais de transferência de renda, nos termos do regulamento437 (art. 2º, § 1º, inciso III, da Lei nº 10.836/04) e a renda per capita pela razão do valor anterior, pelo total de indivíduos na família.

Para se compreender essa variação, o programa leva em consideração o número de filhos e a respectiva idade. Uma família em extrema ___________________________________________________________________ 436Informações divulgadas no site oficial do Ministério do Desenvolvimento do Combate à Fome. Disponível em: http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/valores-dos-beneficios. Acesso em 15.10.2011. 437Segundo o art. 4º, inciso IV, do Decreto nº 6.1325/07, não são inclusos os valores dos programas: a) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil; b) Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano; c) Programa Bolsa Família e os programas remanescentes nele unificados; d) Programa Nacional de Inclusão do Jovem - Pró-Jovem; e) Auxílio Emergencial Financeiro e outros programas de transferência de renda destinados à população atingida por desastres, residente em Municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência; e f) demais programas de transferência condicionada de renda implementados por Estados, Distrito Federal ou Municípios.

180 pobreza receberá R$ 32,00 (benefício variável), por cada criança/jovem até 15 anos de idade, com um limite de cinco filhos438

e R$ 38,00 (benefício variável vinculado ao adolescente), se a idade for entre 16 a 17, limitada a dois filhos. Portanto, a transferência é proporcional ao número de filhos, mas limitado ao máximo de 7 filhos (desde que tenhamos até 5, com idade até 15 anos e 2, entre 16 e 17 anos). Isso para evitar que a maternidade/paternidade se torne uma fonte de renda familiar. É bom lembrar essa composição para desmistificar que o benefício é pago na proporção ilimitada do número de filhos. Para visualizar elaboramos a seguinte tabela:

Tabela 1: Composição dos valores percebidos pela família, proporcional ao número de filhos

FAMÍLIAS: RENDA ATÉ R$70,00 FAMÍLIAS: RENDA R$71,00 a R$ 140,00 Nº filhos Valores Total Nº filhos Valores Total

0 BB 70,00 70,00 0 0 0 1 BV 32,00 102,00 1 BV 32,00 32,00 2 BV 32,00 134,00 2 BV 32,00 64,00 3 BV 32,00 166,00 3 BV 32,00 96,00 4 BV 32,00 198,00 4 BV 32,00 128,00 5 BV 32,00 230,00 5 BV 32,00 160,00 6 BVJ 38,00 268,00 6 BVJ 38,00 198,00 7 BVJ 38,00 306,00 7 BVJ 38,00 236,00

Legenda: BB: Benefício básico; BV: benefício variável; BVJ: Benefício variável vinculado ao adolescente Fonte: MDC. Elaboração própria

Se a família for composta de marido e mulher, sem filhos e a renda

per capita estiver situada na faixa acima de R$ 71,00, a família nada perceberá.

Nesse aspecto é urgente que se ampliem as políticas públicas, que permitam a esses integrantes buscarem melhores condições de vida, com criação de empregos e realização de capacitação pessoal. Não pode ser objetivo do BF a manutenção permanente dessas famílias em situação de miserabilidade. Daí, a interrelação com as outras áreas, como educação, previdência, cultura, trabalho e outras na busca do resgate da cidadania.

Os direitos sociais devem ser progressivamente ampliados, segundo regras contidas em tratados internacionais, as quais o Brasil é signatário. Mas, antes disso, é necessário lembrar que ainda encontramos, no território nacional, pessoas e ___________________________________________________________________ 438Essa elevação de 3 para 5 se deve em razão da instituição do Plano Brasil Sem Miséria, por meio do Decreto nº 7492, de 02.06.2011. Tendo em vista essa implantação a Lei inter-relação 10.836/04 teve a redação alterada pela Medida Provisória nº 535/2011.

181 famílias em extrema pobreza. Essa necessita ser erradicada antes da ampliação do programa.

A Secretaria Nacional de Renda e Cidadania divulgou que as famílias pobres, no perfil do Bolsa Família, são estimadas em 12.995.195439, dados calcados no PNAD de 2006, o que representa estatisticamente 6,81%440

do montante global das famílias brasileiras441

.

Analisando o relatório encontramos a informação da existência de 21.479.556 famílias cadastradas no sistema do Cadastro único, com renda mental per capita mensal de até ½ salário mínimo, representando 10,91% das famílias. Ou seja, hoje o sistema atende 13.171.810 famílias, em relação à estimativa inicial, mas ainda temos um contingente muito grande de pessoas pobres, para serem atendidas, pessoas com rendimento abaixo do aceitável.

Não obstante as famílias já são contempladas pelo programa, o IBGE divulgou o resultado do Censo-2010. Os dados demonstraram a existência 16.267.197 pessoas442

, que ainda percebem até R$ 70,00 (setenta reais),443

o que nos faz concluir que são pessoas que se encontram fora do sistema. Tal conclusão é feita, uma vez que, se estivessem percebendo os benefícios, a sua renda seria maior.

Nessa mesma tabela, constatou-se que esse montante tem a seguinte subdivisão: 1.953.646 de crianças de 0 a 4 anos; 4.533.901 de crianças de 5 a 14 anos; 1.173.007 de jovens entre 15 a 17 anos; 1.875.472 de adultos entre 18 ___________________________________________________________________

439 Disponível em:

http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/ascom/index.php?cut=aHR0cDovL2FwbGljYWNvZXMubWRzLmdvd i5ici9zYWdpL2FzY29tL3NlbmFyYw==&loc=mdsSenarc . Acesso em: 25.10.2011.

440Cálculo: 190.732.694 : 12.995.195 = 6,81%. Segundo o IBGE as famílias de baixa renda são compostas, em regra, por quatro membros, o que eleva a taxa encontrada

441

Segundo dados constantes do site do IBGE o total da população brasileira é de 190.732.694 pessoas, in http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm. Na obra: Síntese de Indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira:2010. IBGE. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE. 2010, p. 31. O órgão utilizou a população total de 191.796 milhões de pessoas.

442

Segundo o IBGE, a média dos membros dessas famílias são 4, o que nos dá uma média de 4.066.799 famílias desamparadas, in IBGE - Síntese de Indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2010. IBGE. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE. 2010, p. 111.

443

Tabelas adicionais: Tabela 10 - População residente em domicílios particulares permanentes sem rendimento domiciliar per capita e com rendimento de 1 a 70 reais. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/resultados_preliminares/preliminar_tab _adic_zip.shtm Acesso em 10.06.2011.

182 a 24 anos; 6.176.613, se encontram na faixa entre 25 a 65 anos e, finalmente, 554.558 idosos, acima de 65 anos. 444

Mesmo com a proteção social do benefício de prestação continuada a amparar os idosos e deficientes e do bolsa-família a amparar as famílias em extrema pobreza, ainda existem milhões de pessoas nessa situação. Somente para ilustrar, os dados do SENARC apontam a existência de 17.410.056 famílias445

, em agosto de 2011, com renda per capita mensal de até R$ 140,00 (cento e quarenta reais) - valor bem superior aos beneficiados do programa.

Nem todos foram contemplados, pois, embora se encontrem na faixa da pobreza (e não da indigência), é necessário além do requisito monetário, ter filhos em idade de 0 a 17 anos. Portanto, nós temos 4.238.246 famílias que não são atendidas pelo programa, embora tenham uma baixa renda per capita, em razão da falta da prole.

É assustador saber que 10,91% do contingente familiar brasileira sobrevivem com ½ salário mínimo e que, desse montante, apenas 6,81% percebem o benefício do bolsa-família.

É necessária uma política de criação de empregos que garantam a esse contingente populacional, bem como aos de extrema pobreza, uma política de inclusão no mercado mais justa e que atenda ao princípio da ordem social, da busca do pleno emprego.

Entendemos que esse objetivo seja possível por meio de política social firme, instituições sociais estáveis, recursos orçamentários, comprometimento da sociedade e uma equipe de agentes assistenciais comprometidos com os programas, a fim de que seja revertido, definitivamente, o quadro da miséria em nosso país.

___________________________________________________________________ 444Tabelas adicionais: Tabela 10 - População residente em domicílios particulares permanentes sem rendimento domiciliar per capita e com rendimento de 1 a 70 reais. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/resultados_preliminares/preliminar_tab _adic_zip.shtm. Acesso em 10.06.2011.

445Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/as com/index.php?cut=aHR0cDovL2FwbGljYWNvZXMubWRzLmdvdi5ici9zYWdpL2FzY29tL3NlbmFyYw ==&loc=mdsSenarc. Acesso em 25.10.2011.

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CAPÍTULO IV: A ASSISTÊNCIA SOCIAL E A INCLUSÃO SOCIAL