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CAPÍTULO I – A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO SUBSISTEMA DA SEGURIDADE SOCIAL

1.2 SUBSISTEMAS DA SEGURIDADE SOCIAL: SAÚDE, PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL

1.3.8 Princípio da descentralização administrativa

Esse princípio preceitua que haja compartilhamento entre os entes federativos nos processos de tomadas de decisão. É um princípio importante para duas áreas da seguridade social: saúde e assistência social113

. As áreas de assistência social114

e saúde são pautadas pela descentralização político- administrativa e, direção única em cada esfera do governo. Na previdenciária, de forma diferente, apenas a União tem essa atribuição.

Na área da assistência, o enfrentamento da pobreza será mais produtivo e eficaz, se for atacado diretamente no espaço territorial onde se encontra o necessitado, ou seja, no Município. Para que isso aconteça pela gestão descentralizada, se transfere para

a periferia do sistema o poder de decisão, permitindo que os conselhos estaduais e municipais discutam e proponham – a partir da situação local, sempre peculiar, da necessidade particular daquela população assistida – diretivas e planos de ação.115

A assistência social tem um sistema próprio de gestão, determinado no art. 204 da CF/88, ou seja, compete à esfera federal a coordenação e a elaboração das normas gerais. Já mencionamos anteriormente que a coordenação e a execução dos respectivos programas competem às esferas estadual e municipal, bem como à entidades e organizações assistenciais.

___________________________________________________________________ 113Art. 23, CF: II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

114Embora a Constituição Federal não estruture a Assistência Social com direção única, a LOAS assim determina. Vide art. 5º da Lei 8.742/93 - LOAS

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47 Ao descentralizar as ações para a assistência social, o constituinte objetivou que o sistema fosse implantado de modo eficaz e que se instituísse instâncias de articulação, negociação, pactuação e deliberação.

Em cumprimento a esse mandamento foi elaborado, pelo CNAS, a NOBs – Norma Operacional Básica em 1997 e outra em 1998. A de 1997 teve por função a de conceituar

O sistema descentralizado e participativo, estabelecendo condições para garantir sua eficácia e eficiência, explicitando uma concepção norteadora da descentralização da Assistência Social. Ademais, ampliou o âmbito das competências dos níveis de governo com a gestão da política, sem, entretanto, delimitá-las. Propôs a criação de uma Comissão Tripartite, de caráter consultivo, com representantes dos três níveis de governo, para discutir e pactuar acerca dos aspectos relativos à gestão da política. Dessa forma, o modelo de gestão foi fundado nas relações intergovernamentais, como estratégia capaz de revisar o papel do Estado no campo da Assistência Social.116

A Normal Operacional Básica de 1998 atuou na ampliação das atribuições dos Conselhos de Assistência Social e

Propôs a criação de espaços de negociação e pactuação, de caráter permanente, para a discussão quanto aos aspectos operacionais da gestão do sistema descentralizado e participativo da Assistência Social. Esses espaços de pactuação foram denominados de Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que passaram a ter caráter deliberativo no âmbito operacional na gestão da política.117

A NOBS-SUAS de 2005 foi aprovada pela Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, do CNAS, “retoma as normas operacionais de 1997 e 1998 e constitui o mais novo instrumento de regulação dos conteúdos e definições da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) que parametram o funcionamento do SUAS”.118

As instâncias de negociação e pactuação estão estruturadas na Comissão Intergestores Bipartite – CIB e na Comissão Intergestores Tripartite – CIT. A CIB é uma instância colegiada de negociação e pactuação de gestores municipais ___________________________________________________________________ 116Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, do CNAS. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, 2005, p. 13.

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Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, do CNAS. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, 2005, p. 13.

118Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, do CNAS. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, 2005, p. 14.

48 e estaduais, como forma de viabilizar a implementação da Política de Assistência Social, quanto aos aspectos operacionais, apenas da gestão do Sistema Único da Assistência Social – SUAS, em âmbito do Estado. Os seus integrantes representam os interesses e as necessidades coletivas dos municípios participantes, e, segundo a NOB-SUAS/2005, a comissão deve ser integrada por a) 03 (três) representantes dos estados indicados pelo gestor estadual de Assistência Social; e b) 06 gestores municipais indicados pelo Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência Social, segundo o porte de cada município.119

Por sua vez, a CIT120

é formada pelas três instâncias do SUAS: a União, representada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS); os Estados, representados pelo Fórum Nacional de Secretários de Estado de Assistência Social (FONSEAS); e os Municípios, representados pelo Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (CONGEMAS), que objetivam a operacionalização da gestão do sistema assistencial. Todas as decisões devem ser submetidas aos respectivos Conselhos de Assistência Social, após a devida publicação.

Cada uma das instâncias são representadas por 5 (cinco) membros representando a União, indicados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e seus respectivos suplentes; 5 (cinco) membros representando os Estados e o Distrito Federal, indicados pelo FONSEAS e seus respectivos suplentes e 5 (cinco) membros representando os municípios, indicados pelo CONGEMAS e seus respectivos suplentes.121

Nessas comissões não ocorre o processo de votação e nem a deliberação. As pactuações só serão possíveis de serem realizadas se houver concordância de todos os entes envolvidos. Em havendo a concordância, a

___________________________________________________________________ 1192 (dois) gestores são de municípios de pequeno porte I, 1 (um) de município de pequeno porte II, 1 (um) de município de porte médio, 1 (um) de município de grande porte e 1 (um) da capital do Estado. Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, do CNAS. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, 2005, p. 47.

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Por meio da Resolução nº 7, do CIT, foi aprovado o protocolo de gestão integrada de serviços, benefícios e transferência de rendas, buscando maios articulação entre os serviços socioassistenciais e os benefícios monetários.

121Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, do CNAS. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, 2005, p. 49.

49 pactuação será formalizada por meio de publicação e, logo após, serão submetidas às instâncias de deliberação.122

As instâncias de deliberação estão personificadas no Conselho Nacional de Assistência Social, nos Conselhos Estaduais e Distrital de Assistência Social e nas Conferências de Assistência Social.123

A descentralização administrativa também ocorre em relação ao repasse das verbas públicas assistenciais, especialmente destinadas para a gestão do sistema, uma vez que a União apoiará financeiramente o aprimoramento à gestão descentralizada dos serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, por meio do Índice de Gestão Descentralizada (IGD)124

do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), para a utilização no âmbito dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal (art. 12-A, da LOAS).

Com essa postura a União visa, principalmente, medir os resultados da gestão descentralizada do SUAS, com base na atuação do gestor estadual, municipal e do Distrito Federal, bem como na articulação intersetorial. Dispõe o § 2º do art. 12-A da LOAS, que

§ 2o As transferências para apoio à gestão descentralizada do SUAS

adotarão a sistemática do Índice de Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família, previsto no art. 8o da Lei no 10.836, de 9 de

janeiro de 2004, e serão efetivadas por meio de procedimento integrado àquele índice.

Por esse mesmo critério são repassados para os municípios os recursos para a gestão do programa do Bolsa Família, a partir do Índice de Gestão Descentralizada Municipal (IGD-M). Esse é um programa que, além de envolver um trabalho integrado entre as áreas da saúde e educação, implica, também, em visitas

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Item 4.3 – Deliberação – CNAS - Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, do CNAS. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, 2005, p. 50-51.

123POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PNAS/2004 NOB/SUAS. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – SNAS. Brasília, novembro 2005, p. 119-122.

124O Índice de Gestão Descentralizada (IGD) é um indicador que mostra a qualidade da gestão descentralizada do Bolsa Família, além de refletir os compromissos assumidos pelos Estados e Municípios na sua adesão ao Programa. O índice varia entre zero e 01. Com base nesse indicador, o MDS repassa recursos a Estados e Municípios para a realização da gestão do Bolsa Família. Quanto maior o valor do IGD, maior será o valor dos recursos transferidos para o ente federado.In http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/gestaodescentralizada/indice-de-gestao-descentralizada-igd, acessado em 15.06.2011.

50 dos assistentes sociais para a análise do cumprimento das condicionalidades e acompanhamento das vulnerabilidades, o que demanda custos e recursos materiais.

Assim, o Ministério tem o controle da verba repassada e pode cobrar do Município a prestação de contas daquilo que recebeu. Os valores são obtidos com a multiplicação do índice IGD-M, alcançado pelo município, pelo valor de referência de R$ 2,50 (dois reais e cinquenta centavos) por família beneficiária, incluída na folha de pagamento do Programa Bolsa Família (PBF), do mês anterior ao do mês de referência do cálculo, até o limite da estimativa de famílias pobres no município.125

Esses recursos vão, obrigatoriamente, do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) ao Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS), na modalidade “fundo a fundo”, sendo depositados em conta-corrente aberta pelo FNAS, no Banco do Brasil, especialmente para fins de execução das atividades vinculadas à gestão do programa Bolsa Família.126

Os Estados também recebem recursos do MDS, que deverão ser usados em ações de apoio técnico e operacional aos seus municípios, também voltados para a gestão do Bolsa Família e do Cadastro Único para Programas Sociais e devem destinar recursos financeiros aos Municípios, a título de participação no custeio do pagamento dos benefícios eventuais, de sua competência e cofinanciar, por meio de transferência automática, o aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos de assistência social em âmbito regional ou local.127

Em âmbito local, os Municípios também são cofinanciadores do aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos de assistência social. Por essa razão podem executar os projetos de enfrentamento da pobreza, também por meios de parcerias com organizações da sociedade civil.128

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Dados disponibilizados no site do MDS;

http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/gestaodescentralizada/gestao-descentralizada-municipal-igd-m, acessado em 15.06.2011.

126Nos termos do art. 8º da Lei nº 10.836/04. Dados disponibilizados no site do MDS; http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/gestaodescentralizada/gestao-descentralizada-municipal-igd-m, acessado em 15.06.2011.

127Art. 13, I e II da LOAS, com a nova redação da pela Lei 12.435/2011. 128

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