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Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços

CAPÍTULO I – A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO SUBSISTEMA DA SEGURIDADE SOCIAL

1.2 SUBSISTEMAS DA SEGURIDADE SOCIAL: SAÚDE, PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL

1.3.3 Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços

As necessidades sociais são infinitas frente aos benefícios e serviços que o Estado pode ofertar às pessoas. Assim, pelo princípio da seletividade são feitas escolhas ou seleção dos riscos, por parte do legislador infraconstitucional, que sejam mais abrangentes e atinjam o maior número de pessoas, fixando-se o rol de prestações. Esse princípio funciona como um mitigador ao princípio da universalidade da cobertura, pois o legislador deverá fazer a opção, de tal modo que “dispense um tratamento desigual, aos desiguais, na exata medida de suas desigualdades”.71

Devemos estender essa mitigação também para o campo da universalidade de atendimento, pois escolhas deverão ser feitas das etapas e selecionados os riscos sociais a serem atendidos, de tal forma que seja atingido grupos específicos.

Zélia Luiza Pierdoná sustenta que esse princípio revela uma contenção provisória, uma vez que o “legislador infraconstitucional, discricionariamente, deverá escolher etapas, selecionando os riscos sociais que serão cobertos por prestações”.72

A seleção dos riscos acima, bem como as condições de concessão e clientela que será protegida, é de escolha política do legislador, segundo “as possibilidades econômico-financeiras do sistema de seguridade social”.73 A lei é que disporá sobre quais pessoas os serviços e benefícios serão estendidos. Seleciona- se para poder distribuir.74

Mas essa discricionariedade por parte do legislador não é total, uma vez que está limitada pelo próprio comando constitucional. Devem ser aquelas vulnerabilidades relacionados à velhice, à doença, à invalidez, à maternidade, à família, à adolescência etc., os quais, por si sós, são extremamente amplos. O legislador constituinte determina que sejam priorizadas as camadas populacionais ___________________________________________________________________ 71

UGATTI, Uendel Domingues. O princípio constitucional da contrapartida na seguridade social. São Paulo: Ltr, 2003, p. 40.

72PIERDONÁ, Zélia Luiza. A proteção social na Constituição de 1988. Revista de Direito Social nº 28. Notadez. Porto Alegre, 2007, p. 16.

73Expressão usada por Sérgio Pinto Martins. Direito da Seguridade Social, 27. ed. São Paulo: Atlas. 2009, p. 54.

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36 que se encontrem em maior necessidade social, dentro do universo dos necessitados.75

Por esse princípio se define o grau de proteção que competirá a cada um. E em seu nome pode ser exigido, no campo da assistência social, que o idoso, de 65 anos, ou mais, ao requerer o Benefício de Prestação Continuada, demonstre que não tem condições de prover a sua manutenção, nem de tê-la provida por sua família, e que comprove renda mensal per capita inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.

Esse princípio nada mais é do que uma “tática de intervenção do Poder Público na busca da solução dos riscos sociais e operam como redutores ao vasto campo dos programas da seguridade”76, nas palavras de Wagner Balera. Tática, porque a conjuntura econômica pode fazer com que a seguridade se expanda ou, em situação adversa, o sistema pode ceder e se adaptar a circunstâncias diferentes. É um referencial para o sistema, que deve ser pautado pela flexibilidade e na capacidade de proporcionar a seguridade.

Não existe incoerência em se falar em mitigação e a universalidade estudada anteriormente. A universalidade é um ideal a ser buscado e somente poderá ser alcançado progressivamente. O sistema precisa desse princípio redutor, que implicará na escolha de necessidades sociais e da clientela a ser atendida, em cada um dos subsistemas que a integram, bem como pelo outro princípio redutor, da distributividade, que averiguará os graus de necessidades e os efeitos de redistribuição de riqueza entre os grupos sociais77

, até atingir a plenitude dos seus objetivos, ou seja, o bem estar e a justiça social, estampadas no art. 193 da Constituição Federal.

Segundo Wagner Balera:

Mediante a seletividade, o legislador é chamado a estimar aquele tipo de prestações que, em conjunto, concretizem as finalidades da Ordem Social, a fim de fixar-lhes o rol na norma jurídica.

___________________________________________________________________ 75UGATTI, Uendel Domingues. O princípio constitucional da contrapartida na seguridade social. São Paulo: Ltr, 2003, p. 40.

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BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2004, p. 86.

77COSTA, José Guilherme Ferraz. Seguridade Social & Incentivos Fiscais. Curitiba: Juruá. 2007, p. 47.

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Realizada a estimativa, a distributividade faculta a escolha, pelo legislador, de prestações que – sendo direito comum a todas as pessoas – contemplam de modo mais abrangente os que se encontrem em maior estado de necessidade.

Novas circunstâncias poderão exigir a definição de outro plano tático e a fixação de outras prestações, com valores diferenciados, a fim de que se realize, em plenitude, a igualdade de cobertura e do atendimento.78

A justiça distributiva, segundo Alinne Arquette Leite Novais, regula as “ações da sociedade política em relação ao cidadão e tem por objetivo a justa distribuição dos bens públicos: honras, riquezas, encargos sociais e obrigações”.79 Por sua vez, Marisa Ferreira dos Santos afirma que a mesma “impõe que a escolha recaia sobre as prestações, que, por natureza, tenham maior potencial distributivo”.80

O Benefício da Prestação Continuada é exemplo de aplicação do princípio da seletividade, pois somente é dirigido para idosos e pessoas com deficiência, que preencham as condições estampadas na lei. Outros programas são dirigidos para crianças e adolescentes, permitindo uma melhor focalização e eficiência em relação ao perfil daqueles que recebem a assistência.

A assistência social é um direito que propiciará, por políticas públicas, benefícios e serviços para aqueles que dela necessitar e o Estado tem o “poder-dever de estabelecer os meios e instrumentos pelos quais poderá atingi-los, além de ordená-los e normatizá-los”.81 As necessidades são imensas, mas os meios para que estas sejam eliminadas ou diminuídas são restritos.