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Capítulo 5. O contexto português

5.3 A informatização e gestão de coleções em Portugal

5.3.1.2 O In Web e o In arteonline NET

Paralelamente, a Sistemas do Futuro desenvolveu uma gama variada de produtos consoante o tipo de património abordado, na área do inventário e gestão do património cultural. Estes pro- dutos surgiram no contexto das necessidades, ou reportadas por clientes e parceiros, ou apre- endidas em conferências nacionais, em consonância com colaborações ativas, através do de- senvolvimento de parcerias e do estabelecimento de protocolos, no desenvolvimento conjunto de projetos de investigação com universidades, museus, institutos e associações culturais113 (Matos, 2012).

Sensível à evolução no domínio da digitalização e acesso ao património, a empresa desenvol- veu, em 1999 (posteriormente atualizada em 2001), uma aplicação especifica para a disponi- bilização de conteúdos culturais online, o In Web - acesso online ao património. Esta ferra- menta inovadora em Portugal veio possibilitar o acesso ao património através da Internet, da intranet ou de quiosques multimédia. Marcou o início de um novo ciclo: a divulgação do pa- trimónio cultural através das novas tecnologias.

Terá sido igualmente sob o impulso da colaboração da Sistemas do Futuro com a FCG, aquando do desenvolvimento da aplicação In arte Premium, que foi criada uma versão melho- rada do In Web: o In Web (3.0), a qual viria a ser a versão mais utilizada na publicação de pro- jetos de digitalização de bens culturais. No In Web (3.0) foram incluídas duas formas distintas de configuração. Uma consiste na exportação da informação pretendida para um ficheiro XML -Extended Markup Language, que depois seria lido por uma versão específica da apli- cação, salvaguardando deste modo, por questões de segurança, a publicação direta dos dados na Internet, tendo o inconveniente de obrigar à exportação de dados sempre que se verificasse

113 Em 2000 a empresa lançou duas aplicações: In domus - destinado à gestão do património cultural imóvel, património arqueológico e construído; e uma aplicação para a gestão integrada do património cultural que repre- sentou a união de duas aplicações de gestão do património (In arte e In domus). Esta aplicação materializou-se no In patrimonium, que atualmente inclui de base pelo menos dois produtos, sendo possível integrar e combinar, num único programa diferentes aplicações (In arte, In domus, In doc, In natura, In memoria). Em 2001 foi de- senvolvido pela empresa o in natura - para a gestão de património natural e, em 2006, foram concebidas e de- senvolvidas outras duas aplicações, o In memoria - para a gestão de património imaterial e o In doc - destinado à gestão do património documental de duas áreas: documentação de biblioteca e documentação de arquivo. Poste- riormente, foi criado o In anthropos - para a investigação no âmbito da antropologia das populações do passado, e para a gestão eficaz dos acervos de museus, autarquias, universidades e outras instituições que se debruçam sobre a área da antropologia biológica. O mais recente sistema de gestão do património cultural desenvolvido denomina-se In patrimonium. NET, cujo objetivo é responder às necessidades das instituições que procuram ge- rir o seu acervo numa ferramenta através da rede, permitindo que os conteúdos do website sejam geridos pela

uma alteração ou introdução de informação; outra lê os dados diretamente do servidor de SQL utilizado para a gestão da base de dados e tem como principal vantagem a publicação direta dos dados, através de uma funcionalidade da aplicação. Tem como desvantagem deixar expos- ta a base de dados na rede (Matos, 2012: 250).

Segundo Fernando Cabral, o MCG-CF: “continua a utilizar o In arte Premium e há cerca de dois anos introduzimos uma nova versão em tecnologia .NET, o In arteonline .NET, permitin- do o acesso às bases de dados através de um browser, de forma idêntica ao In Web”. Atual- mente o In Web (3.0) possibilita à instituição a publicação na Internet da sua coleção, ou parte da mesma, criando-se um catálogo digital de acesso público. Este catálogo funciona como a interface entre o público utilizador da Internet e os diferentes módulos de gestão interna utili- zados pela instituição (quer sejam o In arte, In domus, In patrimonium, In doc, In natura ou

In memoria). Fernando Cabral explicita, relativamente às duas possibilidades apresentadas:

“as distintas configurações pretendem salvaguardar as diferentes formas de publicação de da- dos online de acordo com as indicações dos clientes da Sistemas do Futuro”, pelo que, aquan- do da utilização do In Web (3.0) ou do In arteonline .NET, a divulgação online dos dados é facultativa, permitindo à instituição que faça uma configuração do tipo de campos que ficarão aptos para serem pesquisados, assim como da informação disponibilizada.

Relativamente à possibilidade de publicar na Internet a coleção, criando um catálogo digital de acesso público, algumas considerações poderão ser tecidas. A seleção do conteúdo dispo- nibilizado através do In Web (3.0) e do In arteonline .NET, restringe o âmbito da pesquisa do visitante, pois tem implícita a seriação da informação disponibilizada ao público. A possibili- dade do visitante poder aceder à base de dados do museu para pesquisar as peças e informa- ções sobre a coleção, foi apresentada ao MCG-CF114; porém, tanto o responsável pelo depar- tamento de comunicação como os seus colegas, mostraram-se renitentes ao facto da pesquisa abarcar a totalidade da coleção, defendendo que deveria limitar-se ainda a informação facul- tada sobre as peças aos campos mais relevantes. O responsável pelo departamento de comuni- cação acredita que não será necessário munir o publico em geral, por um lado, com uma pes- quisa que abranja toda a coleção, e por outro lado, com informações tão específicas e detalha- das sobre as peças.

114 Foram apresentadas três propostas de interface, tendo sido selecionada pelo museu a que se encontra online atualmente.

Perante esta constatação, um facto se torna evidente: poderão ser aplicados filtros sobre as mesmas bases de dados ao disponibilizar a informação. Encontramos-nos assim perante um cenário que, almejando o total, pois os museus pretendem a inventariação informatizada da totalidade das suas coleções, disponibilizam o parcial. Esta parece ser uma forma ilusória de apreensão da totalidade, na medida em que, à base de dados onde a informação se encontra guardada, foi feita, por parte do museu, não só uma seleção das peças a disponibilizar ao pú- blico, como também dos campos (considerados mais relevantes pelo museu) a que se pode aceder.

Face à colaboração desenvolvida entre a empresa e a FCG, poderíamos acrescentar um con- tributo à questão levantada por Cameron e Kenderdine: “how museum has appropriated,

adapted, incorporated and transformed digital technologies?” (2007: 1). Os museus, através

do património cultural, argumentam as autoras, apropriam-se, adaptam, incorporam e trans- formam as tecnologias digitais às quais recorrem; sendo que o modo e a razão porque tal su- cede nas instituições culturais, requer investigação (Cameron e Kenderdine, 2007).

O In arte Premium, aplicação para o inventário e gestão de coleções utilizada pelo MCG-CF, é um exemplo concreto de uma ferramenta que foi desenvolvida entre o departamento de sis- temas de informação da Sistemas do Futuro e a direção, conservadores, técnicos, e o departa- mento de comunicação do museu. A transmissão dos conhecimentos das equipas do museu, fez surgir uma aplicação moldada à medida dos requisitos quotidianos do trabalho museológi- co. Simultaneamente, a Sistemas do Futuro agiu enquanto mediadora entre os desejos “subje- tivos” do staff e as possibilidades objetivas dos sistemas de informação para o inventário e gestão de coleções.

O avanço da investigação patente na aplicação In arte Premium, terá proporcionado por um lado, a continuidade da evolução dos próprios sistemas de gestão de coleções da empresa. Por outro lado, com maior amplitude, o desenvolvimento desta aplicação terá contribuído para a evolução das tecnologias digitais aplicadas ao património móvel dos museus, na área específi- ca da arte (antiguidade clássica, arte islâmica, artes decorativas, arte oriental, arte europeia, arte moderna, arte contemporânea).

Embora o desenvolvimento dos produtos atualmente utilizados pelo MCG-CF - In art Pre-

mium e In Web 3.0 - possa ser entendido numa engrenagem evolutiva das inovações das tec-

nologias digitais, estes não poderão, contudo, ser desconexos das necessidades dos museus, sendo a satisfação dos seus requisitos, um fator obrigatório. Será a partir destes processos co- laborativos que os museus desenvolvem com as empresas que trabalham para a utilização das novas tecnologias digitais da informação para a gestão do património, que o campo museoló- gico se vai redefinindo (Parry, 2007), à medida que se vai apropriando, adotando, incorporan- do e transformando as tecnologias digitais (Cameron e Kenderdine, 2007).