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CAPÍTULO 4 UNIDIMENSIONALIDADE DO AGRONEGÓCIO PRESENTE

4.2 FORMAS DE DIVULGAÇÃO DO PROJETO VIA COMUNICAÇÃO SOCIAL

4.2.5 Inserção do pequeno produtor ao mercado “globalizado e competitivo”

Os critérios 3 e 4 podem ser considerados centrais da análise, no que diz respeito à presença de um pensamento unidimensional, ou dominação freiriana, no ‘Projeto Paraná 12 Meses’. O terceiro critério verifica se existe uma defesa do mercado globalizado e a necessidade de que o pequeno produtor atenda às exigências técnicas e de oferta para atendê-lo. Em 21 releases, 14 matérias e dois artigos publicados nos jornais analisados foram encontrados temas relativos à necessidade de se adequar ao mercado por parte dos pequenos produtores.

Expressões como ‘agregar valor’ foram intensamente utilizadas, como se vê no release “Fórum traz Fábrica do Agricultor aos Campos Gerais”, publicado pelo

‘Diário da Manhã’ de 19/08/1999, que destaca também a necessidade de abrir ‘canais de comercialização’, bem em voga no período neoliberal. Aliás, a agroindústria familiar foi apontada como uma ótima alternativa nesse sentido, especialmente a partir do programa ‘Fábrica do Agricultor’.

A postura dos agentes envolvidos com o ‘Projeto Paraná 12 Meses’ e replicada pela imprensa, reflete o pensamento hierarquicamente superior, posicionado unidimensionalmente em favor dos ditames neoliberais. Em release publicado pelo Diário da Manhã do dia 3 de fevereiro de 1998, o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Antônio Leonel Poloni, afirmou que sem profissionalização e investimentos em tecnologia ficaria difícil a inserção dos pequenos agricultores na produção de escala “exigida pela abertura da economia e pela integração com o Mercosul”. A ideia da abertura do mercado e as exigências impostas por este estavam bem solidificadas no discurso. O mesmo release reforça o pensamento governamental no parágrafo seguinte, quando diz que

De acordo com um diagnóstico feito pelos técnicos das Secretarias de Planejamento e da Agricultura, ao mesmo tempo em que o Paraná exibe uma agricultura moderna com forte participação na produção nacional, os pequenos produtores estão marginalizados deste processo. (DIÁRIO DA MANHÃ, 19/08/1999).

Segundo o secretário Poloni, o objetivo do projeto era estimular a adoção de tecnologias modernas e agroindustrialização para gerar renda na propriedade o ano inteiro. Em um artigo publicado na ‘Folha de Londrina’ do dia 28/07/1999, Poloni ressaltava a avaliação de que o modelo neoliberal seria inevitável, quando diz que

[...] mudanças ocorridas nos últimos anos na economia mundial exigem também uma mudança de postura do homem do campo. O agricultor de hoje tem que ser empreendedor. Precisa se emancipar e não ficar mais dependente do Estado e dos governos. O agricultor tem que ser o agente de sua própria transformação. É claro que algumas atribuições competem ao governo, mas ele deve ser visto como um dos parceiros. Não há mais espaço e nem condições para soluções paternalistas. (FOLHA DE LONDRINA, 28/07/1999).

O secretário afirmava ainda, no artigo, que países mais adiantados só começaram a avançar a partir do momento em que governantes mostraram à população que não podiam se responsabilizar sozinhos pelo desenvolvimento. Dizia

ainda que no Brasil há um “ranço paternalista”, difícil de romper em pouco tempo. O texto defendia também a participação da iniciativa privada.

Com a iniciativa privada [...] estamos conseguindo avançar, desenvolvendo ações que vão contribuir para que, em pouco tempo, tenhamos no campo um novo agricultor. Moderno, ágil, eficiente e capaz de competir no mercado em igualdade de condições com os agricultores dos países mais adiantados. (FOLHA DE LONDRINA, 28/07/1999)

O texto pregava independência e o que chamava de “emancipação” do agricultor, mas, por outro lado, o secretário Poloni reconhecia que ainda havia muita gente no meio rural necessitando de apoio e era para este grupo que o ‘Paraná 12 Meses’ desenvolvia o subcomponente ‘Combate a Pobreza no Meio Rural’. O objetivo é que tal público, então marginalizado (dizia) também fosse inserido ao processo de produção capitalista. Em uma entrevista à Folha de Londrina, também do dia 28/07/1999, o governador Jaime Lerner dizia que era preciso reabilitar o pequeno agricultor, que não podia ser deixado de lado e sim introduzido na tecnologia: “Lerner garante apoio ao campo” (FOLHA DE LONDRINA, 28/07/1999).

Matérias e releases tratam da ideia de profissionalizar o pequeno produtor para aumentar a competitividade deles. O que o discurso quer dizer é que ele deve ser inserido na proposta neoliberal do agronegócio e não exatamente atender seus anseios, desejos e ideias. A capacitação aparece no discurso como o caminho para ter espaço no mercado, “exigente e globalizado”, inclusive no mercado exportador.

QUADRO 9: Discurso pela profissionalização do pequeno produtor Produtor se torna mais profissional

Release diz que Paraná 12 meses vai investir mais em profissionalização. Diário da Manhã 24/06/2001

Agricultores recebem benefícios

Release sobre entrega de novilhas do projeto a produtores do Sudoeste. Texto fala que produtores podem se profissionalizar e entregar leite para laticínios.

Diário da Manhã 23/06/2001

Poloni quer profissionalizar o produtor

Matéria fala em investimentos de R$ 120 milhões para profissionalizar 67 mil famílias e, assim, incentivar a melhoria da produção para ter competividade.

Folha de Londrina 17/01/1998

Itaipulândia: Vileiros montam uma panificadora

Release destaca que a panificadora foi montada com recursos do Paraná 12 Meses e que os vileiros poderão competir no mercado.

O Paraná 11/02/2001

Percebe-se uma concordância na forma como se comporta o mercado e do que exige do pequeno produtor, que deve se adaptar a tais exigências. Assim, o

discurso sobre a inserção à estrutura mercadológica globalizada está amplamente presente nas matérias e releases publicados, sendo encontrado de forma direta em 34,8% dos 330 textos analisados. Quando avaliados apenas os releases, o índice sobe para 39,1%.

TABELA 9 – Discurso referente à inserção ao mercado globalizado Textos (Totalidade) Discurso de inserção %

RELEASES 189 74 39,1%

MATÉRIAS 133 39 29,3%

ARTIGOS 7 2 28,5%

ENTREVISTA 1 1 100%

TOTAL 330 116 34,8%

Estar inserido ao modelo do agronegócio é apresentado como ponto central nos discursos referentes ao ‘Paraná 12 Meses’. Já no lançamento do projeto, em release publicado pelo Diário da Manhã de 03/02/1998, o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Antônio Leonel Poloni, dizia que a situação atual (daquele momento) do produtor dificultava a inserção ao que o mercado exigia após a abertura econômica. As falas do secretário se repetiram ao longo do projeto, a tratar da ajuda aos marginalizados para participarem da globalização.

A convicção de que a participação no modelo do agronegócio seria o ideal para pequenos produtores se repete também no discurso do governador Jaime Lerner, que disse em entrevista do dia 28/07/1999, à ‘Folha de Londrina’ que 1 milhão de paranaenses tinham deixado o Estado anteriormente por falta de oportunidades e que agora o governo estava dando isso, se referindo ao ‘Paraná 12 Meses’. A proposta era de ser inserido no modelo do agronegócio.

Nos textos referentes à liberação de recursos, independente do subcomponente, as falas das autoridades sempre traziam a proposta de resgate do pequeno produtor e da inserção ao mercado globalizado, exigente e competitivo. Várias parcerias divulgadas, como a leiteira, com a Cooperativa Batavo, apontavam para a possibilidade de o beneficiário participar do modelo agroindustrial. Notícias de projetos de geração de renda nas vilas rurais traziam como destaque as alternativas possíveis. Nesse sentido, também se trata da inserção ao modelo do agronegócio. Ainda com relação ao ‘Programa Vila Rural’, mereceu frequente destaque o repasse de recursos do ‘Paraná 12 Meses’ com declarações das autoridades envolvidas relativas à se estar dando uma vida digna aos vileiros e de que o Estado estava deixando de ser paternalista.

QUADRO 10: Notícias de parcerias para geração de renda Programa Vilas Rurais busca novas parcerias

Diário da Manhã 31/03/1999

Alternativa: moradores de vila rural vão implantar fábrica de vassoura Diário da Manhã 10/10/2000

Paraná 12 Meses é a garantia de mais recursos para as Vilas Rurais do Estado Diário da Manhã 12/02/1998

Além das matérias e releases referentes às vilas rurais, direta ou indiretamente, o tema estava presente também em outros discursos, como de liberação de verba ou cursos de capacitação para os beneficiários do projeto, dentro do modelo agroindustrial.

QUADRO 11: Liberação de recursos para estímulos à produção Bird aprova projetos do Paraná 12 Meses

Release trata da aprovação dos primeiros 30 projetos e de que eles são uma forma de permitir aos beneficiários inserção no mercado produtor.

O Paraná 01/04/1998

Estímulo: Governo investe mais R$ 3 mi na cafeicultura

Matéria trata da aplicação de recursos do Paraná 12 Meses na produção de café adensado. Discute a proposta de competitividade do setor.

Folha de Londrina 26/06/1998

Paraná 12 Meses tem recursos de R$ 123 milhões

Release sobre a cerimônia de lançamento do Projeto. Texto fala dos valores a serem investidos na transformação do campo e das vilas rurais.

Diário da Manhã 10/02/1998

A análise mostra que o pensamento unidimensional presente no discurso é de que há um único mercado fornecedor de insumos e comprador da produção viável e que é globalizado e exigente. Quem quiser continuar vivendo e trabalhando no campo deve participar de forma competitiva no mercado e o papel do ‘Paraná 12 Meses’ seria de inserir os beneficiários nessa proposta neoliberal.