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CAPÍTULO 3 ONDA NEOLIBERAL E INFLUÊNCIA NAS POLÍTICAS

3.3 IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PARANÁ 12 MESES

3.3.3 Objetivos e justificativas do Projeto

No ano de elaboração do ‘Projeto Paraná 12 Meses’, mais de 80% dos estabelecimentos familiares do Estado tinham área inferior a 50 hectares. A lavoura média das principais culturas era de: feijão 2,5 hectares; algodão, 7,6 hectares; milho, 8,6 hectares; trigo, 25 hectares e soja, 35 hectares (PARANÁ, 1997). Tais produtos, com pequena escala, tem custos elevados e reduzem a sustentabilidade. Esse e outros aspectos faziam com que o objetivo geral do projeto fosse

[...] aliviar a situação de pobreza rural no estado numa ação sustentável, apoiada na modernização tecnológica, na geração de novos empregos, na proteção ao meio ambiente e na melhoria das condições de habitação e saneamento básico da família rural. (PARANÁ, 1997, p. 14)

O documento também traz alguns objetivos específicos, dos quais, para efeito da análise desse trabalho, destacam-se a redução dos índices de pobreza no meio rural, com ações voltadas para moradia, saúde, saneamento, geração de renda, entre outros; implantação de vilas rurais para melhorar as condições de vida dos trabalhadores volantes; atuar em ações de recuperação dos solos, com manejo e uso sustentado dos recursos naturais; uso de tecnologias para aumento da produção, produtividade e renda. Chama a atenção a proposta seguinte:

[...] apoiar mecanismos de aumento de ingressos de renda na unidade produtiva, aqueles que propiciam maior capacidade de competição frente a abertura de mercado e a redução da participação do Estado no processo econômico. (PARANÁ, 1997, p. 14).

O texto em destaque deixa clara, mais uma vez, a opção pelo discurso neoliberal, presente naquele momento. Com abertura de mercado e encolhimento do papel do Estado. O ‘Paraná 12 Meses’ destacava, ainda, a comunidade, como a base para as ações a partir da vontade dos envolvidos. Assim, o ‘Projeto’ seria um instrumento para assessorar, orientar e capacitar os produtores, além de oferecer apoio financeiro para “alavancar as mudanças necessárias para superar os desafios da agricultura familiar no Paraná” (PARANÁ, 1997, p.11). Para a análise do Ipardes, questões como padronização eram importantes porque os mercados do agronegócio, cada vez mais, assim exigiam. Isso significa ter escala e regularidade na oferta de produtos e matérias-primas para a indústria, o que só é possível, segundo o Instituto, incorporando tecnologias que então não estariam acessíveis aos produtores de baixa renda.

A justificativa apresentada no projeto de cunho neoliberal, critica os programas econômicos anteriores, que teriam sido marcados por uma combinação entre protecionismo intenso e produção interna com elevados investimentos públicos. Isso teria criado um cenário econômico artificial, que seria culpado pela redução de crédito de longo prazo, aumento da inflação e marginalização de boa parte da população, segundo a visão do governo (PARANÁ, 1997).

A partir da crítica anterior, o documento síntese do Projeto lembra que a agricultura depende muito das políticas nacionais (PARANÁ, 1997). São do plano federal, questões como crédito, comercialização e comércio exterior. Assim sendo, cabia ao Estado do Paraná políticas para o desenvolvimento da agricultura que pudessem intervir para estancar o processo de empobrecimento da agricultura familiar. Nisso é que se enquadrava o ‘Projeto Paraná 12 Meses’.

Diante do exposto, o projeto destaca mudanças ocorridas mundialmente a partir da década de 1980, baseadas em teorias que o documento chama de liberais, ou seja, a vitória neoliberal sobre o Estado de Bem-Estar Social. Tais mudanças redefiniriam o papel do Estado, enfatizando conceitos de eficiência e competição. Com isso, seriam reduzidos subsídios e aplicados programas de privatização e abertura do mercado para o capital estrangeiro. No Brasil, as mudanças teriam como suporte o Plano Real, que reduziu a inflação drasticamente e assim criou, na

concepção do documento, um ambiente favorável aos investimentos externos (PARANÁ, 1997). Dessa forma, os coordenadores consideravam que cresciam as perspectivas de investimentos e crescimento econômico. Mas as novas regras poderiam restringir a capacidade de competição de quem não estivesse organizado.

Também são expostas estatísticas econômicas para justificar a implantação do projeto. Os dados apontavam para o fato da renda na agricultura do Paraná ser baixa, inclusive com 39% da população rural não tendo renda alguma e, daqueles com rendimento, 70% ganharem menos de dois salários mínimos mensais (PARANÁ, 1997). Se fossem considerados dependentes, o percentual de pessoas ocupadas com renda mensal até dois salários mínimos chegava a 81%. O motivo, de acordo com o ‘Paraná 12 Meses’, estava na baixa rentabilidade das culturas trabalhadas e na pequena escala da produção. Com técnicas adequadas, seria possível aumentar a produtividade de algumas dessas culturas em até 100%.

O documento questionava a qualidade da alimentação da família rural e destacava as condições precárias de muitas moradias. Na época, do total de domicílios rurais, 56,3% eram próprios e 43,7% cedidos ou ocupados (PARANÁ, 1997). O índice era inferior à média nacional (68,2%) e bem abaixo dos outros estados do Sul: Rio Grande do Sul (75%) e Santa Catarina (77,35%). O ‘Projeto’ (PARANÁ, 2019) lembra que o Paraná era responsável por mais de 20% da produção de grãos do Brasil, com destaque para trigo, soja, milho, feijão e algodão. Mas, apesar desses números, quase metade das residências rurais eram precárias, feitas de materiais muitas vezes inadequados. Um terço dessas casas tinha apenas um cômodo e 12% dois cômodos. A eletricidade era encontrada em 30% das casas e 80% não tinham água encanada. Além disso, 92% não tinham sanitários. Tais índices justificariam o item ‘reforma de residências’ do subcomponente ‘Combate à Pobreza’.

Na questão do manejo e conservação de solos, o Projeto destaca os efeitos da intensa mecanização da década de 1970, que geraram perdas de solos e erosão “pondo em risco a produtividade das lavouras” (PARANÁ, 1997, p. 6).