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CAPÍTULO 3 ONDA NEOLIBERAL E INFLUÊNCIA NAS POLÍTICAS

3.3 IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PARANÁ 12 MESES

3.3.1 Objetivos e análises do ‘Projeto Paraná 12 Meses’

A partir da consolidação do neoliberalismo, o discurso do Banco Mundial e do Governo do Estado estavam mais afinados e foi assim que, ainda no ano de 1995, representantes do Banco Mundial procuraram a Secretaria de Estado do Planejamento para propor um possível projeto para a área rural (IPARDES, 2006). Esse foi o embrião do ‘Paraná 12 Meses’, projeto que tinha como proposta, desenvolver ações para fortalecer o pequeno estabelecimento rural, tornando-o eficiente, competitivo e lucrativo, com melhores moradias, saneamento e renda, entre outros aspectos. A proposta inicial de investimento era de 353,5 milhões de dólares, dos quais 50% financiados pelo Banco Mundial (PARANÁ, 1997). Os recursos saíram do Tesouro do Estado (49,5%) e do Banco Mundial (50,5%). O projeto teve como meta contemplar o desenvolvimento das áreas social, produtiva, tecnológica e o fortalecimento institucional.

O Paraná 12 meses é um projeto do governo do Estado, que visa promover o desenvolvimento econômico social da população rural e o manejo e

conservação dos recursos naturais. Terá duração de seis anos, com área de atuação em todo o território estadual, apoiado por recursos do tesouro do Estado e por financiamento do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). (PARANÁ, 1997, p.5).

Dessa maneira, o Paraná 12 Meses começou a ser desenvolvido entre 1995/96 pela Unidade de Desenvolvimento de Projeto (UDP) do Centro de Coordenação dos Programas de Governo (CCPG) da Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral. A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (SEAB) seria a mais diretamente ligada ao trabalho de campo, junto com suas subsidiárias, como Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar).

O projeto foi criado com o objetivo de desenvolver um trabalho voltado principalmente para atender o pequeno produtor, definido como agricultor familiar, conceito escolhido pelo posicionamento ideológico do governo. O Ipardes (2006), na análise dos resultados, identifica duas vertentes para a proposta. Uma delas considera que houve uma política compensatória, diante da exclusão social ocorrida nas décadas de 1960 e 1970. A outra era voltada para a difusão de técnicas e práticas para a unidade familiar que não tivessem um impacto ambiental tão elevado como no processo de mecanização das décadas anteriores.

A conceituação do ‘Paraná 12 Meses’ considerava como unidade produtiva familiar aquela em que a família fosse a responsável principal pelas atividades diárias da produção. O conceito da unidade familiar abrangia as categorias de ‘Produtor de Subsistência’, ‘Produtor Simples de Mercadorias’ e ‘Empresário Familiar’. Nesse sentido, o documento proposto considerava que a agricultura familiar devia se apropriar das oportunidades apresentadas para superar as desvantagens e ampliar as vantagens que têm. Isso, sob pena de se tornar inviável e agravar a questão social (PARANÁ, 1997).

Do total dos recursos do projeto, 87,2% foram diretamente voltados aos beneficiários das linhas de apoio financeiro, que compreendem obras, serviços, assistência técnica e treinamento. Os 355 milhões de dólares (que depois tiveram adendos para que o projeto fosse estendido para os anos seguintes) foram direcionados para a adequação de estradas rurais e construção de residências nas Vilas Rurais (PARANÁ, 1997). Também eram previstos recursos para aplicação nas

instituições envolvidas e desenvolvimento tecnológico das atividades de capacitação e profissionalização dos beneficiários, pesquisa, estudos e assistência técnica.

A análise econômica e dos custos seguiram metodologia indicada pelo Banco Mundial. Foram feitos levantamentos de campo, estudos de caso e simulações de mudanças nos sistemas de produção recomendados (PARANÁ,1997). Criou-se quatro componentes para atingir os objetivos: desenvolvimento social, desenvolvimento produtivo, fortalecimento institucional e desenvolvimento tecnológico (IPARDES, 2006). Também foram definidas obrigações para os beneficiários, que incluíam o comprometimento de recursos próprios para as despesas não cobertas pelo Fundo de Alívio a Pobreza (FUNPARANÁ), linha de apoio financeiro, criada para fazer a aquisição de equipamentos e materiais; acatar todas as recomendações técnicas; participar de cursos e treinamentos; aplicar técnicas de manejo e conservação de solos; buscar uma produtividade média das principais culturas acima dos índices do município, entre outras (IPARDES, 2006). As instâncias governamentais seriam responsáveis para desenvolver mecanismos e estimular a adoção de práticas e técnicas recomendadas pelo Programa.

A aquisição de equipamentos e materiais devia ser feita a partir de proposta elaborada no município, via escritório local da Emater. Isso depois de definidos pelo Conselho Municipal os itens a serem apoiados. Havia dois tipos de bens, os individuais e aqueles adquiridos por grupos, com o uso previsto no projeto técnico, com um termo formal de compromisso de utilização compartilhada ou um regimento interno. Além dos quesitos técnicos e econômicos, o candidato a beneficiário também precisava se enquadrar no que fosse definido como prioridade pelo Conselho Municipal. Todos os bens adquiridos seriam dos beneficiários, sendo que no caso de grupos, a utilização era prevista no projeto técnico (IPARDES, 2006).

Por questões operacionais, o Projeto subdividiu o Estado em oito regiões, associadas com as ações do componente social e do componente produtivo. A constatação das diferenças regionais, segundo o Ipardes (2006), deveria ser incorporada na formulação de políticas públicas. Essas diferenças eram mais importantes, segundo a avaliação, do que o tamanho da área, principal variável usada para caracterizar as categorias de produtores. A análise do Instituto é de que ao subdividir o Paraná em regiões, a coordenação do ‘Projeto’ percebeu que o Estado é diversificado.

FIGURA: Mapa do ‘Paraná 12 Meses’ dividido por regiões

Os produtores atendidos pelo programa foram divididos em categorias específicas. Assim, para efeito do projeto, os beneficiários foram caracterizados como Produtores de Subsistência (PS), Produtores Simples de Mercadorias (PSM), Empresário Familiar (EF) e Empresário Rural (ER). Os PSM foram classificados de acordo com área e capital em três diferentes faixas, conforme a tabela abaixo:

TABELA 4 – Classificação dos PSM

CATEGORIAS ÁREA (ha) BENFEITORIAS (R$) EQUIPAMENTOS (R$) MÃO DE OBRA FAMILIAR (%) PS / PSM 1 25 12.150,00 9.720,00 80 PSM 2 40 29.160,00 29.160,00 50 PSM 3 50 97.200,00 87.480,00 50 EF / ER 50 97.200,00 87.480,00 50

Fonte: Paraná. Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (2019)

Os produtores de subsistência seriam aqueles, de acordo com o Projeto, com a produção voltada predominantemente para a subsistência familiar e venda do excedente. Além disso, parte da renda familiar poderia vir de trabalho fora da propriedade. Já o produtor simples de mercadorias, além de atender as necessidades da família com a produção, teria pelo menos um produto voltado para o mercado, uso de tração animal e mão de obra familiar, principalmente. Já as outras duas categorias eram voltadas para o mercado, sendo que o empresário familiar deveria ter a venda como prioridade, mas com forte participação da família

nas tarefas cotidianas, enquanto o empresário rural trabalhava exclusivamente para o agronegócio e com empregados assumindo as tarefas.

Candidatos a beneficiários precisavam se enquadrar nos critérios definidos de área, renda, estrutura e ocupação da mão de obra. Outra definição do projeto era de que a renda fosse proveniente exclusivamente das atividades agrícolas, com exceção dos grupos PS e PSM1, que podiam também servir como trabalhadores em outras propriedades. Além dos proprietários de terra, foram classificados como beneficiários os assentados, posseiros, arrendatários, parceiros e meeiros. Empresários familiares e empresários rurais seriam beneficiados indiretamente, quando tinham estabelecimentos localizadas em microbacias hidrográficas do Projeto Paraná Biodiversidade, de acordo com o Projeto (PARANÁ, 1997).

Outra categoria descrita no ‘Paraná 12 Meses’ era dos ‘trabalhadores rurais volantes’. Nesse caso, o texto se refere às Vilas Rurais (PARANÁ, 2019), programa iniciado em 1995, por iniciativa do Governo do Estado. Em 1997, as Vilas passaram a compor o ‘Paraná 12 Meses’. O objetivo era melhorar as condições de habitação dos trabalhadores rurais volantes e aumentar a renda (SEPULCRI, 2005).

O subcomponente mais direcionado ao público alvo foi o ‘Combate à Pobreza no Meio Rural’, voltado especialmente para os ‘produtores mais pobres’, que se enquadravam como PS/PSM1. Previa três linhas de atuação: infraestrutura social familiar (que incluía reforma de moradias); desenvolvimento comunitário e geração de renda. O objetivo era...

[...] propiciar instrumentos que possam melhorar as condições de vida das famílias, o acesso a serviços básicos e a geração de renda, fundamentados na organização comunitária e na capacitação/profissionalização para atividades na agricultura ou fora dela. (PARANÁ, 1997, p.14).

Outros subcomponentes voltados diretamente aos produtores beneficiados eram: ‘Manejo e conservação dos recursos naturais, primeira fase’; e ‘Manejo e conservação dos recursos naturais, 2ª fase’. O Subcomponente Manejo e Conservação dos Recursos Naturais (fases 1 e 2) tinha como objetivo desenvolver o setor produtivo. Na ‘Fase 1’ a proposta era aumentar a produtividade das lavouras, com a preservação do meio ambiente, a partir do manejo adequado dos recursos naturais que levaria ao controle da erosão e melhoria da fertilidade dos solos. Já na ‘Fase 2’, o projeto tinha como foco a melhoria da eficiência técnico-econômica

voltada para o mercado, principalmente com uma produção mais intensiva, diversificação e verticalização da produção (IPARDES, 2006). A assistência técnica/extensão rural passou a atuar intensamente no projeto, com orientação aos beneficiados na seleção e utilização de tecnologias adequadas a cada atividade.