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3. MARCO TEÓRICO

5.3. Instrumento

O instrumento utilizado para coleta de dados foi a entrevista narrativa e, mais especificamente, a história de vida, que pode ser definida como a narrativa que cada pessoa faz de

si mesma. É uma explicação narrativa montada a partir de marcos que, guardados seletivamente na memória, dão consistência à nossa identidade e nos faz reconhecer a nós mesmos. Na tentativa de definir a técnica da história de vida, Queiroz (1987) a considera como um relato de um narrador sobre sua existência através do tempo, resgatando acontecimentos vividos e a experiência adquirida. Por intermédio dessa narrativa individual, é possível ao pesquisador desvendar as suas relações, sua profissão, o grupo social a que pertence e a sociedade na qual está inserido, com o interesse último de captar algo que ultrapassa o caráter individual do que é comunicado e que se insere na coletividade a que pertence.

De acordo com Silva (2007), o objetivo dessa técnica é compreender o indivíduo na sua singularidade e para isso, a grande preocupação está no vínculo entre o pesquisador e o sujeito, o que pode gerar tanto uma rica captação de dados como um documento histórico valioso a ser estudado. Outra vantagem seria a possibilidade de uma maior aproximação com a realidade na qual o sujeito está inserido, sem a necessidade de roteiros predefinidos.

A técnica de história de vida prevê uma entrevista aberta, onde não existe um roteiro de questões definidas a priori pelo entrevistador. Quem define o roteiro é o próprio entrevistado, na medida em que fala livremente sobre sua vida ou se detém em um determinado período ou aspecto de sua biografia. Assim, é possível ao entrevistador entrar em contato com as experiências do entrevistado, a partir da referência do próprio. A entrevista não se resume apenas à voz ou à palavra, pois o conteúdo inconsciente pode se manifestar no gesto, no movimento, na expressão facial, na atitude diante do entrevistador e até mesmo no silêncio. Assim, o momento em que a entrevista acontece é bastante rico; nele o pesquisador deverá estar atento a todos os sinais do sujeito, de modo a realizar uma escuta ativa, demonstrando o seu interesse pela história do narrador. Para poder oferecer uma escuta e uma atenção realmente ativas, utilizaremos o gravador que, segundo Queiroz (1987), pode servir para anular, ou pelo menos diminuir o possível desvio trazido pela intermediação do pesquisador.

A história de vida foi a tática de coleta do material empírico, na qual se apoiaram as fases posteriores da pesquisa: a análise dos discursos, a correlação com a teoria, a comparação entre as histórias levantadas e a elaboração da tese.

5.3.1. Procedimentos de coleta de dados

Como já apresentado, o contato e a construção de vínculos com a instituição se estabelecem há 15 anos, porém, de maneira específica, para esta pesquisa, a apresentação e autorização datam de novembro de 2006. A partir dessa data, as visitas sistemáticas à

organização foram retomadas. Inicialmente duas vezes no mês e, no período de julho de 2008 a maio de 2009, as visitas se tornaram semanais e, em algumas situações, devido aos agendamentos de entrevistas, os encontros ocorriam duas vezes por semana.

As entrevistas foram iniciadas pelas mães sociais que se disponibilizaram com facilidade para contarem as suas histórias de vida, após a divulgação, em reunião dos objetivos e dos procedimentos da pesquisa. Apesar de não se encontrarem todas as mães sociais no dia da reunião, a maioria procurou por vontade própria o agendamento da entrevista, denunciando, na nossa percepção, a necessidade de um espaço de escuta. Quando não agendavam, mandavam um recado por outra mãe, indagando sobre qual seria o dia da sua entrevista. Diante dessa disposição e também pela riqueza dos conteúdos trazidos nos seus relatos, tomou-se a decisão de entrevistar as 14 mães e uma tia social, das três pessoas que ocupavam essa função.

Após essa decisão, foram agendados também os adolescentes maiores de quinze anos. Das 14 famílias sociais, em apenas nove delas existiam adolescentes com a idade proposta pela pesquisa e destes, apenas quatro conviviam há mais de dois anos com a mãe social atual. Apesar do tempo de permanência na instituição, para a maioria dos adolescentes, ultrapassa quatro anos, alguns haviam passado por mais de uma casa-lar, convivendo com algumas mães e com um tempo de convivência menor que dois anos com a mãe social atual. Assim como realizado com as mães, os nove adolescentes foram entrevistados, a título de ampliação da visão institucional e da dinâmica das famílias sociais. As entrevistas não utilizadas para análise, neste trabalho, serão incluídas em uma pesquisa posterior.

Atendendo ao que preconiza o artigo 30º do Código de Ética do Psicólogo, antes do início de cada entrevista, procedia-se à leitura e assinatura do Termo de Consentimento do Livre e Esclarecido que expunha os objetivos da pesquisa e também o compromisso de sigilo e regras de divulgação de resultados. Mesmo esclarecidos da possibilidade de interrupção das entrevistas a qualquer momento do processo, nenhum dos participantes manifestou esse desejo.

Para preservar a identidade dos participantes, optou-se por usar nomes fictícios. Nomes que iniciam com letra A, para os adolescentes, com letra M para as mães sociais e com T para os membros da equipe técnica mencionados nos discursos.

As entrevistas aconteceram ao longo do período já mencionado. A solicitação inicial era para que cada participante contasse a sua história de vida, falando de tudo o que lembrassem e também aquilo que as pessoas que os acompanhava, como os familiares, amigos e conhecidos falavam sobre a sua trajetória. Durante as entrevistas, foram

estabelecidas interações que permitiram confirmar informações e esclarecer pontos que não ficavam claros nos relatos.

Os discursos foram ouvidos e gravados, a partir de um encontro individual, com duração de 59 minutos, sendo que uma das entrevistas foi realizada em dois encontros de, aproximadamente, 50 minutos.