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Instrumentos de coleta de dados do projeto piloto

15 Categoria: características pessoais que influenciam nas relações de poder, na percepção

5.2 Instrumentos de coleta de dados do projeto piloto

Neste estudo, optou-se pelo método qualitativo de coleta de dados, pois se observa, na literatura, que a finalidade das pesquisas qualitativas, seja no contexto das organizações ou não, na investigação dos fenômenos psicológicos, parece coadunar com a situação teórica do tema desta pesquisa e seus objetivos. Uma das preocupações das pesquisas qualitativas é desenvolver conceitos, mais que aplicar conceitos pré-existentes (ZANELLI, 2002); é compreender o conjunto de elementos, em interação contínua e em multideterminação, que envolvem o fenômeno, quando é difícil, de algum modo, compará-los em ordem ou em graus de importância (BORGES-ANDRADE; ZANELLI, 2004).

As considerações da literatura acerca da necessidade de descrição do constructo, aqui estudado, assim como a complexidade do tema poder e jogos de poder nas organizações orientaram a experimentação de técnicas de coleta de dados, tais como questionário e oficina, visando a identificação da melhor recurso para desenvolvimento do estudo. Esse processo será descrito a seguir.

5.2.1 Grupo de estudos

Primeiro criou-se um grupo de estudos com alunos de graduação do curso de Psicologia desta instituição (Universidade Federal de Uberlândia), com objetivo de auxiliar a pesquisadora, na coleta de dados teóricos e empíricos para a pesquisa. O trabalho do grupo de pesquisa foi importante, pois as diversas opiniões, nas discussões sobre o tema, enriqueceram o trabalho, e o próprio grupo serviu de laboratório para o teste dos instrumentos e procedimentos de coleta de dados.

5.2.2 “Brainstorming”

O “Brainstorming” é uma técnica criada por Osborn (1953), cujo objetivo principal é romper com as limitações habituais do pensamento e produzir, em grupo ou individualmente, e de forma espontânea, um conjunto de idéias, dentre as quais poderão ser escolhidas algumas que melhor atendam aos objetivos propostos. Segundo Osborn (1953), ao praticá-la, é necessário suspender o julgamento, eliminando os juízos de valores; pensar livremente; não se preocupar com a quantidade, pois quanto mais, melhor, para depois escolher; e, além de buscar a idéia de cada participante, promover, no decorrer do processo, uma combinação das idéias, melhorando-as.

O Brainstorming foi utilizado nesta pesquisa para definir as perguntas que seriam feitas aos participantes da pesquisa, que seriam, em hipótese, capazes de verificar a percepção dos trabalhadores acerca do poder e dos jogos de poder, presentes no ambiente organizacional.

Num dos encontros do grupo de estudos, a partir da discussão de textos sobre o tema e da livre associação de idéias dos estudantes, da pesquisadora e do orientador, definiram-se três perguntas: a) as pessoas no seu ambiente de trabalho desejam o poder? Por quê? b) Como as pessoas no seu ambiente de trabalho fazem para alcançar esse poder? c) Quem tem o poder na sua Empresa? Que poder é esse?

Definidas as perguntas, optou-se por utilizar dois instrumentos de coleta de dados: questionário e oficina.

5.2.3 Questionário

O questionário contendo as três questões, mais algumas perguntas relacionadas a dados biográficos e funcionais (APÊNDICE B), foi aplicado, para teste, em 20 trabalhadores, procurados, aleatoriamente, pelos membros do grupo de estudos. Orientou-se cada trabalhador para que respondesse ao questionário, individualmente, e depois entregasse ao membro do grupo de estudos.

As respostas às três perguntas revelaram que estas foram insuficientes, em quantidade, para medir toda a dinâmica do poder e dos jogos de poder. Além disso, as respostas instigavam, no leitor, (analista) dúvidas e indagações que, talvez, com a presença do pesquisador, poderiam ser esclarecidas. Esses achados parecem sugerir que, possivelmente, mesmo aumentando o número de questões, para que pudessem abarcar toda a dinâmica do poder e dos jogos de poder, a utilização de um instrumento de coleta de dados, estruturado e aplicado sem a presença do pesquisador, não seja o mais eficaz; sendo o mais adequado, em hipótese, um instrumento cujos procedimentos de coleta de dados permitissem o diálogo entre o pesquisador e o participante da pesquisa.

Observou-se, também, com as respostas do questionário, que se obtinha apenas a percepção de um dos atores envolvidos nas relações de poder. No entanto, não se indagou, no questionário, qual o grau de envolvimento do trabalhador, nas relações de poder – se foi observador, se foi o influenciador ou o influenciado, ou outro.

Portanto, a utilização de um questionário estruturado mostrou-se inviável para medir o poder e os jogos de poder, em sua complexidade e dinamicidade. A partir disso, buscou-se testar a utilização de uma oficina, por esta permitir a participação de várias pessoas, ao mesmo tempo, e o diálogo entre os participantes.

5.2.4 Oficina teste

O objetivo da oficina foi o de testar uma estrutura capaz de apreender o poder e os jogos de poder nas organizações, a qual seria, posteriormente, aplicada em trabalhadores. Participaram da oficina teste seis membros do grupo de estudos, como sujeitos da pesquisa, e a pesquisadora, como facilitadora. A oficina foi realizada numa sala de estudos da Universidade Federal de Uberlândia, num período de duas horas.

Utilizaram-se, como recursos materiais: cartolinas, revistas para recortes, pincéis, colas e um gravador, para captar e gravar as verbalizações dos participantes.

O processo da oficina teve as seguintes etapas:

a) primeiro, a pesquisadora deu as boas vindas e apresentou o objetivo do encontro aos participantes: conversar sobre as “relações de poder nas organizações de trabalho”. b) como aquecimento para o tema, pediu-se que os participantes respondessem, em voz

alta, o que a palavra “poder” os lembrava;

c) depois, os participantes foram divididos em dois grupos para que construíssem uma colagem sobre “como percebiam as relações de poder na sociedade”, utilizando recortes de revistas, pincéis e cartolinas. Cada grupo apresentou sua colagem para os demais participantes;

d) individualmente, cada participante recebeu o roteiro com as três questões, construídas a partir do Brainstorming, e as respondeu. A partir das respostas às três perguntas, foi realizado um debate coletivo, mediado pela pesquisadora;

e) após o debate, a pesquisadora agradeceu a participação de todos e os convidou para um lanche.

A avaliação do processo da “Oficina teste” e a análise dos dados revelaram que esse instrumento de coleta de dados seria inviável, naquele momento, para medir o poder e os jogos de poder nas organizações, por alguns motivos. Um deles foi a ausência de recursos técnicos adequados para a gravação dos diálogos. Ao transcrever a gravação da oficina, constatou-se que o aparelho de gravação não conseguiu captar as falas de todos os participantes; logo, perderam-se todas as verbalizações, pois não era possível ouvir nem distinguir quem estava falando.

Observou-se, também, que o conteúdo das respostas, às três questões e ao debate, não foi satisfatório. Aquelas três questões, mesmo no debate, pareceram insuficientes para investigar o tema. Talvez o mais relevante tenha sido a inexperiência profissional dos membros do grupo de estudos que, com exceção de um deles, nunca trabalharam, formalmente, numa empresa. Logo, pareceu difícil falar de um tema que não fez ou não fazia parte do cotidiano da pessoa. Essa constatação possibilitou que se exigisse, dos participantes reais da pesquisa, um tempo mínimo de seis meses de serviço na empresa onde trabalhavam.

A partir do teste do “questionário” e da “oficina”, optou-se por utilizar, como instrumento para investigar o poder e os jogos de poder nas organizações, a entrevista, feita individualmente e gravada em fita cassete.