• Nenhum resultado encontrado

Motivos que levam as pessoas a se envolverem nos jogos de poder para ocupar posições

15 Categoria: características pessoais que influenciam nas relações de poder, na percepção

6.9 Motivos que levam as pessoas a se envolverem nos jogos de poder para ocupar posições

Benefícios de ocupar posições de comando – as pessoas buscam alcançar posições de comando e nelas se manterem em função dos benefícios associados. O dinheiro - ter salários maiores - é o principal motivo que levam as pessoas a disputar posições de comando. Todavia, outros benefícios estão associados como ser o centro das atenções e ter status (social ou político); mandar ou ter maior influência sobre as pessoas; ser favorecido, ter necessidades e desejos atendidos; ter autonomia para tomar decisões; ter horários de trabalho melhores,

flexíveis e com maior duração; ser respeitado; possibilidade de crescer profissionalmente e de executar as tarefas sob baixa pressão.

Tema: 1 ao 9. Freqüência: 46 (ver Tabela 13)

Necessidade de poder – é uma necessidade, vontade ou desejo de superioridade, de afirmação ou de domínio sobre outras pessoas. Nas organizações, a necessidade de poder leva as pessoas a buscar posições de comando ou cargos superiores.

Mesmo sendo uma característica comum das pessoas, sua manifestação varia de pessoa para pessoa, ou seja, alguns a demonstram outros não, alguns sentem mais necessidade outros menos e, ainda, alguns são tão obcecados e ambiciosos que chegam a jogar sujo para alcançar posições de comando e nelas se manterem. Essas últimas pessoas, geralmente, jogam sujo (uso de estratégias informais e abuso de poder) porque têm muita necessidade de auto- afirmação, em função do sentimento de inferioridade (autoconceito negativo de si mesmo) e da inveja - “se eu não estou bem, o outro também não deverá estar”.

Tema: 10 ao 24. Freqüência: 42 (ver Tabela 13)

Nesta categoria, observa-se que, na percepção dos entrevistados, as pessoas nas organizações jogam para alcançar posições de poder e nelas se manter. Um dos motivos que levam as pessoas a desejarem estas posições de poder são os benefícios associados a sua ocupação: ter mais dinheiro, ter status, comandar outras, ter seus desejos atendidos, melhores condições de trabalho, dentre outros. E o outro motivo que leva as pessoas a entrarem no jogo para alcançar posições de comando e a usar determinado tipo de estratégia é a necessidade de poder.

Antes de discutir cada um dos motivos levantados, é importante esclarecer o uso da nomenclatura “jogo”, no discurso do entrevistado. Na categoria “conceituações de poder”, mostrou-se que o fenômeno é percebido como uma relação de dependência, de interdependência e como sendo um jogo de interesses (no sentido de competição, onde há ganhadores e perdedores). Aqui, nesta categoria, observou-se que a nomenclatura jogo referiu-se a uma relação de disputa entre alguns atores (lideranças formais ou colegas ou subordinados) a fim de alcançar e preservar posições de comando. E quando eles utilizam a nomenclatura “jogos sujos”, referem-se ao uso de estratégias informais e ao abuso de poder.

No discurso dos entrevistados, as pessoas são levadas a alcançar e preservar posições de comando por dois motivos: benefícios de ocupar tais posições e necessidade de poder.

Na literatura, observa-se que a necessidade de poder é objeto de estudo da Psicologia. Segundo Fadiman e Frager (1986), Adler argumentava que os objetivos e expectativas têm maior influência no comportamento humano que as experiências passadas e que o ser humano é motivado, principalmente, pelo objetivo de superioridade ou conquista do meio, que pode tomar direção positiva ou negativa. Ele é positivo quando inclui preocupações sociais e interesse pelo bem-estar dos outros, desenvolvendo-se numa direção construtiva e saudável. É negativo quando as pessoas lutam, apenas, pela superioridade pessoal e quando tentam alcançar um sentimento de superioridade, dominando os outros em vez de se tornarem mais úteis a eles. Neste último caso, as pessoas se comportam dessa forma em função do predomínio de sentimentos de inferioridade. Os entrevistados, de certa forma, confirmam os estudos de Adler (1966 apud FADIMAN; FRAGER, 1986).

Para os entrevistados, a necessidade de poder ou de superioridade é uma característica individual e comum às pessoas, porém a sua demonstração e a sua intensidade variam de pessoa pra pessoa, sendo que o sentimento de inferioridade e a inveja são os fatores que influenciam na presença de uma necessidade de poder exarcebada e no uso de estratégias sujas para alcançar e preservar posições de poder. Nas categorias anteriores, observou-se, também, que os entrevistados percebem que, quando o exercício do poder é voltado para o bem comum, é visto como positivo, e quando voltado apenas para si próprio, é negativo.

A presença, na literatura, de pesquisas empíricas sobre a necessidade de poder está associada à teoria de McClelland (1987) sobre a necessidade de realização, afiliação e poder. Sobre a necessidade de poder nas organizações, há estudos que confirmaram a associação entre necessidade de poder e perfil de liderança (SOSIK; DINGER, 2007), e outros autores evidenciam que líderes eficazes ou administradores de bom desempenho tendem a ter grande motivação para o poder e uma baixa necessidade de afiliação, sendo esse padrão geral de comportamento chamado de Síndrome do Motivo de Liderança ou Padrão de Motivos da Liderança (BOWDITCH; BUONO, 1992; KRUMM, 2005). McClelland (1987), em seus estudos, propõe que os indivíduos que conseguem restringir ou controlar seus impulsos emocionais (inibição da atividade) tende a expressar e usar sua necessidade de poder de uma forma mais adequada. Baseando-se nessa concepção, Schultheiss e Brunstein (2002) verificaram que os indivíduos com o motivo de poder inibido (Inhibited Power Motive – IPM) foram mais bem sucedidos na persuasão de outras pessoas. Diante dessa pesquisa, pergunta-se se os autores envolvidos nas relações de poder evitariam determinados meios para exercer seu poder, como por exemplo, as estratégias informais e o abuso de poder. Acredita-se que a

relação entre a necessidade de poder e o comportamento nas organizações seja um frutífero campo de pesquisas empíricas.

Partindo da compreensão do jogo enquanto uma relação de poder baseada na competição, observa-se, na literatura, autores que explicam os motivos que levam as pessoas a competirem por poder. Huinzinga (1980), ao considerar o jogo enquanto competição, afirma que o objetivo primordial do jogo é o desejo de ser o melhor que os outros, de ser o primeiro e ser festejado por esse fato, é ganhar. E o que se obtém com a vitória pode ser um aumento de poder, honra, estima, prestígio ou qualquer outro prêmio material ou simbólico. Portanto, os benefícios percebidos pelos sujeitos da pesquisa (principalmente o dinheiro), para Huinzinga (1980), são secundários.

Para Korda (1976), algumas pessoas se envolvem nos jogos de poder por dinheiro, outras por segurança ou por fama, outras ainda por sexo, e a maioria joga-o por uma combinação destes três objetivos; e, ainda, salienta que nenhuma dessas coisas constitui o poder, mas o poder pode produzir todas elas. De certa forma, os entrevistados confirmam que as pessoas se envolvem nos jogos de poder porque obterão benefícios - ter mais dinheiro, ter status, comandar outras, ter seus desejos atendidos, melhores condições de trabalho, dentre outros.