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3. O desenvolvimento do conceito de Justo Valor

3.5. Rivalidade entre Custo Histórico e Justo Valor

3.5.1. Justo Valor e Custo Histórico e o critério da relevância

Relembrando o conceito de relevância, a “informação é relevante se for capaz de influenciar a tomada de decisão dos utilizadores da informação financeira (IASB, 2010, §QC6), tendo, para o efeito, de possuir valor preditivo e valor confirmativo. Como é mencionado também na EC, a “informação financeira tem valor preditivo se puder ser usada como um input para processos aplicados pelos usuários para prever resultados futuros” (§QC8) e “tem valor confirmativo se fornecer feedback sobre (confirmar ou alterar) avaliações anteriores” (§QC9).

Segundo McEnally (2007a), decisões relacionadas com o reconhecimento e divulgação de informação nas demonstrações financeiras têm estado significativamente relacionadas com a facilidade e a certeza associadas à mensuração dos elementos nelas inscritas, negligenciando a relevância e, por conseguinte, a utilidade que essa informação possa ter para os seus vários utilizadores nas suas tomadas de decisão. Consequentemente, a autora afirma que colocar de lado o requisito da relevância tem vindo a repercutir-se no fornecimento de informação de utilidade questionável do ponto de vista da realização de investimentos, assim como no emprego desnecessário de recursos por parte dos preparadores da informação. Esta opinião é também partilhada por Rashad Abdel-Khalik (2011), que explica que por mais precisa e verificável que a informação seja, esta não será útil caso não seja relevante. Contudo, tal pensamento tem vindo a propagar-se de forma

140 acrescida e, por sinal, a refletir-se nas declarações de várias entidades de normalização. Por exemplo, um dos membros do FASB comunicou que, a propósito da discussão sobre a relação hierárquica do justo valor face ao custo histórico em termos de mensuração, “a Diretoria não aceita a visão de que a fiabilidade deva superar a relevância na mensuração das demonstrações financeiras” (Johnson, 2005194, citado em Mala & Chand, 2012, p. 31).

Assim, apesar de, no passado, os profissionais de Contabilidade serem mais a favor do critério da fiabilidade que da relevância (Barlev & Haddad, 2003), a verdade é que esta última característica tem vindo recentemente a surgir cada vez mais nos debates sobre as propriedades ideais da mensuração nas demonstrações financeiras, muito por conta da introdução também relativamente recente da base do justo valor nas normas contabilísticas, ao qual a literatura reconhece as suas virtudes nessa matéria. Procuremos explorar, então, os motivos pelos quais a literatura considera (ou não) o justo valor relevante, assim como confrontá-lo com o custo histórico, sob o ponto de vista do mesmo atributo.

No que diz respeito à relevância, vários trabalhos fazem alusão à superioridade do justo valor face ao custo histórico (Barlev & Haddad, 2003; Barth, 1994; Barth, 2007; Barth & Landsman, 2010; Bastos, 2009; Cullinan & Zheng, 2014; Elad, 2004; Guthrie et al., 2011; Haswell & Evans, 2018; Jarva, 2009; Khurana & Kim, 2003; Mala & Chand, 2012; Martín & Osma, 2009; McEnally, 2007a; Palea & Maino, 2013; Penman, 2007; Quagli & Avallone, 2010; Richard, 2004).

De acordo com André et al. (2009) e Barth (2006, 2007), o justo valor é consistente com as EC, tanto do IASB como do FASB, no que concerne à posse de características qualitativas importantes para assegurar a utilidade da informação financeira para os seus utentes, nomeadamente os investidores, entre elas a relevância. Assim, os apologistas desta base de mensuração consideram-na relevante, pois reflete a cada momento as condições económicas atualmente em vigor associadas aos recursos e obrigações económicas detidas pelas organizações, circunstâncias essas que são cruciais para que os utilizadores da informação financeira possam realizar decisões fundamentadas (Barth, 2007; Conceição, 2009; Magnan

et al., 2015; Mala & Chand, 2012; McEnally, 2007a; Penman, 2007). Como explica Rankin

(2009195, citado em Mala & Chand, 2012, p. 34), “a função do relato financeiro baseado no

194 A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Mala e Chand (2012) é a seguinte:

Johnson, L. T., 2005, Relevance and reliability. The FASB’s goal in setting accounting standards. Available at:

http://www.fasb.org/articles&reports/relevance_and_reliabili

195A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Mala e Chand (2012) é a seguinte:

141 justo valor é como a função do termómetro – este reflete a realidade, não a cria”. Além disso, os seus proponentes referem igualmente que tal critério beneficia a tempestividade da informação (Barth, 2007; Bradbury, 2000; Magnan et al., 2015; Mala & Chand, 2012), pois reflete as alterações nesses contextos económicos precisamente quando elas ocorrem (Barth, 2007), fornecendo, deste modo, informação atualizada que encoraja a realização atempada de ações corretivas (Mala & Chand, 2012) e que permite reduzir riscos informacionais por parte dos seus usuários, designadamente os investidores, tornando-os, adicionalmente, mais confiantes em relação ao mercado de capitais (Magnan et al., 2015). Neste âmbito, os defensores do justo valor argumentam que este permite informar os investidores sobre os custos de oportunidade associados à decisão dos gestores de uma empresa em continuar a deter determinados ativos ou passivos, o que, consequentemente, possibilita a avaliação de decisões passadas e a reavaliação do valor da entidade de relato (Koonce et al., 2011).

Porém, apesar da maioria dos autores ser a favor de que o justo valor reflete a realidade económica contemporânea, outros acreditam no contrário. Como indica Penman (2007), os seus proponentes defendem que o seu uso se repercute na produção de um resultado também ele económico, consonante com a definição de rendimento económico de Hicks (1946196, citado em Hitz, 2007, p. 348), segundo o qual “o rendimento de uma pessoa é o

que ela pode consumir durante a semana e ainda esperar que esteja tão bem no final da semana quanto estava no começo” que, por outras palavras, se traduz nas oscilações no valor da empresa durante um certo período, descrevendo, por conseguinte, de forma direta, o bem-estar ou potencial de consumo de cada indivíduo (Hitz, 2007). Sendo assim, pelo critério do justo valor, o resultado de uma empresa derivaria das mudanças no valor dos seus ativos e passivos inscritos no balanço (Penman, 2007; Ronen, 2008). No entanto, como aponta Hitz (2007), a visão de que o justo valor permite descrever a realidade económica pode ser deturpada, na medida em que existem mismatches resultantes de ativos não reconhecidos e do goodwill. Por este motivo, o autor conclui que, apesar do justo valor se aproximar mais da definição de rendimento económico de Hicks que o custo histórico, este modelo pode dar azo a variações no resultado que são meramente artificiais. Magnan (2009) também concorda, salientando que, no que diz respeito à relevância, a contabilidade a justo valor poderá ter como consequência o afastamento cada vez maior entre o relato financeiro e a realidade da entidade de relato.

196A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Hitz (2007) é a seguinte: Hicks, J. R.

142 Numa outra perspetiva, os opositores do modelo do custo histórico afirmam que este se revela inferior ao justo valor no requisito da relevância, dado apenas indicar as condições económicas existentes num preciso instante, o momento em que é feita a compra ou produção (Conceição, 2009), podendo ser coincidente nesse momento, como vimos atrás, com o justo valor. Assim, posteriormente, este método demonstra desligar-se do tempo e das sucessivas mudanças na envolvente económica nas quais os mercados atuam (McEnally, 2007a), ignorando, por conseguinte, alterações no nível e na estrutura de preços e custos de oportunidade (Barlev & Haddad, 2003). Essa ausência de dinâmica do custo histórico, segundo os autores, retira-lhe a capacidade de representar adequadamente ativos não monetários, como os inventários ou a depreciação e amortização de ativos intangíveis e tangíveis, respetivamente, o que contribui para a deturpação da informação divulgada pelas empresas.

Deste modo, na perspetiva de McEnally (2007a), em comparação com o justo valor, demonstrações financeiras construídas à base do custo histórico tendem a produzir informação menos útil para a avaliação dos valores correntes e futuros de um ativo ou passivo. Para a autora, o montante despendido por uma empresa na compra de um ativo há 30 anos é de pouca ou mesmo nenhuma relevância para as decisões económicas a serem tomadas hoje, visão também adotada por Bastos (2009), que argumenta que a informação suscitada pelo custo histórico muitas vezes se encontra “fora do prazo” (p. 46), podendo já não transmitir a situação económico-financeira atual da entidade. Já em 1966, Chambers197

(citado em Barlev & Haddad, 2003, p. 390) defendia que “a qualquer momento todos os preços passados são simplesmente uma questão de história. Apenas os preços atuais têm qualquer influência na escolha de uma ação”, opinião partilhada pelo instituto CFA num documento publicado em 1994, onde é referido que “é axiomático que é melhor saber o que algo vale agora do que o que valeu em algum momento no passado (…) O custo histórico em si é, na realidade, um valor de mercado histórico, o valor de uma transação passada engajada pela empresa (…) Não há nenhum analista financeiro que não queira saber o valor de mercado de ativos e passivos individuais” (AICPA, 1994198, citado em McEnally, 2007a,

197 A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Barlev e Haddad (2003) é a seguinte:

Chambers, R. J., Accounting Evaluation and Economic Behavior (New York, NY: Prentice Hall, 1966).

198 A referência bibliográfica completa encontrada deste trabalho é a seguinte: American Institute of

Certified Public Accountants (1994). Improving Business Reporting — A Customer Focus Contents,

https://www.aicpa.org/InterestAreas/FRC/AccountingFinancialReporting/DownloadableDocuments/Jenk ins%20Committee%20Report.pdf, acedido em 8 de fevereiro de 2019.

143 p. 26). O’Hara (2009199, mencionado em Mala & Chand, 2012, p. 34) também esclarece que,

apesar de uma contabilidade exclusivamente baseada no justo valor ter também as suas imperfeições, esta retrata de maneira mais relevante e oportuna para os investidores o valor dos ativos disponíveis para venda ou negociação, comparativamente a uma contabilidade a custo histórico.

Além disso, como aponta Bastos (2009), o custo histórico pode ficar aquém no que diz respeito à característica qualitativa de relevância dado, em certas circunstâncias, como nos ativos intangíveis gerados internamente ou em determinados instrumentos financeiros, o custo associado a esses elementos ser nulo ou quase nulo, não representando o verdadeiro valor económico do ativo ou passivo em causa. O exemplo mais citado na literatura é o dos instrumentos derivados que, pelo método do custo, surgem representados de forma inadequada nas demonstrações financeiras, revelando informação de pouca ou nenhuma utilidade para quem a analisa, algo que não se sucede com o justo valor, que, por sua vez, garante a plenitude e a transparência dessa informação (Ahmed, Kilic & Lobo, 2006200;

André et al., 2009; Barth & Landsman, 2010; Rankin 2009201). Como diz Penman (2007), os

apologistas do justo valor querem informar-se sobre valores e não custos, desejando ter informação atualizada sobre o valor real dos vários elementos das demonstrações financeiras, não um preço histórico que se tornará irrelevante com o passar do tempo para avaliar a prestação financeira de uma entidade. Para o autor, é de presumir que a contabilidade a justo valor assuma uma maior relevância. Utilizando a sua expressão, “as palavras “valor justo” soam bem (…) enquanto “custo histórico” soa, bem, ultrapassado” (Penman, 2007, p. 33).

Este pensamento também não escapou às entidades de normalização, que têm vindo a aderir cada vez mais ao justo valor, entre as quais o FASB. A este respeito, um dos seus membros comentou que “A Diretoria [FASB] exigiu um maior uso das mensurações ao justo valor nas demonstrações financeiras, porque entende que as informações são mais relevantes para os investidores e credores do que as informações assentes no custo histórico.

199 A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Mala e Chand (2012) é a seguinte:

O’Hara, N. A., 2009, Don’t shoot the messenger. The unfair attack on fair-value accounting. The Investment

Professional 2, 47–53.

200 Mencionado em Barth e Landsman (2010, p. 412). A referência bibliográfica completa apresentada no

seu trabalho é a seguinte: Ahmed, A. S., Kilic, E. and Lobo, G. J. (2006) Does recognition versus disclosure matter? Evidence from value-relevance of banks’ recognized and disclosed derivative financial instruments,

The Accounting Review, 81(3), pp. 567–588.

201Mencionado em Mala e Chand (2012, p. 34). A referência bibliográfica completa apresentada no seu

144 Tais medidas refletem melhor o estado financeiro atual das entidades de relato e tornam mais fácil a avaliação do seu desempenho passado e das suas perspetivas futuras” (Johnson, 2005202, citado em Mala & Chand, 2012, p. 31).

Ademais, o justo valor é também considerado relevante pelo seu valor preditivo. Os estudos de Barth et al. (1995) e Aboody et al. (1999), por exemplo, evidenciam que o justo valor se revela ser um importante contributo para a previsão de fluxos de caixa gerados pelas empresas no futuro e, por conseguinte, para a avaliação do seu património. Como esclarece McEnally (2007a), a mensuração ao justo valor incorpora os dados mais atuais sobre o valor dos elementos das demonstrações financeiras, bem como eventuais mudanças futuras nesses valores, o que envolve a determinação dos montantes, da tempestividade e do risco associados aos fluxos de caixa futuros inerentes a um certo ativo ou passivo. Assim, na perspetiva de Magnan et al. (2015), incidindo a contabilidade a justo valor sobre os preços de mercado ou aproximações aos mesmos e sendo esses mercados eficientes, as mensurações baseadas neste critério traduzir-se-ão em expectativas imparciais acerca dos fluxos de caixa que se espera que venham a ser gerados no futuro pelos ativos e passivos em causa. Assim, caso a divulgação dessa informação seja adequada, os analistas poderão interpretar de uma maneira mais acessível os valores reportados e, consequentemente, prever melhor os resultados subsequentes das entidades de relato. McEnally (2007b) também se encontra em sintonia com estes autores, afirmando que, se o mais importante para os investidores é a avaliação do seu investimento numa dada empresa ao longo tempo, e se, para tal, é necessário conhecer de maneira profunda a forma como as suas operações e atividades estão a afetar o seu valor (ao aumentar ou diminuir o valor do seu património), então o justo valor é claramente o melhor critério para averiguar as tendências de consumo e de criação de riqueza das empresas em escrutínio.

Assim, em termos comparativos, o justo valor é considerado pela literatura como tendo maior valor preditivo e mais utilidade para a avaliação de empresas que o custo histórico, dado estar mais orientado para dar suporte a decisões económicas em que seja necessário ter uma visão futurística do que se passará na realidade empresarial, por via da determinação do valor corrente dos elementos das demonstrações financeiras através da atualização dos

202 A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Mala e Chand (2012) é a seguinte:

Johnson, L. T., 2005, Relevance and reliability. The FASB’s goal in setting accounting standards. Available at:

145

cash-flows futuros subjacentes (Barlev & Haddad, 2003; Bernstein, 2002203; Bignon et al., 2009;

Correia, 2000204; Guthrie et al., 2011; Martín & Osma, 2009; Penman, 2007; Quagli &

Avallone, 2010). Como explicam Martín e Osma (2009), a informação financeira, seja qual for o modelo utilizado na fase de mensuração, incluindo o justo valor, tem capacidade preditiva limitada. Contudo, na sua opinião, o modelo contabilístico baseado no custo histórico, não só tem essa deficiência, como ainda falha em refletir adequadamente o passado recente e a situação presente da entidade de relato no momento da elaboração das suas contas. Assim, para os autores, o modelo do justo valor garante uma maior relevância da informação para os seus utilizadores. Por exemplo, em fases de recessão económica, este fornecerá antecipadamente sinais de complicações financeiras sentidas pelas empresas.

Bignon et al. (2009), debatendo a participação do justo valor na determinação da riqueza criada por uma empresa, defendem que, dado o custo histórico não refletir as mudanças económicas ou financeiras na envolvente, ou nas circunstâncias de aquisição de um ativo, o justo valor aparenta ser o critério mais adequado para garantir que no balanço das empresas esteja registada a sua riqueza verdadeira, ou seja, o valor mobilizado na produção, por intermédio da mensuração de cada componente desse ativo ao valor atual dos fluxos de caixa futuros associados. Penman (2007) acredita que, num mundo perfeito, o justo valor seja melhor que o custo histórico, dado fornecer diretamente no balanço o valor da empresa. De facto, de acordo com o autor, seria muito mais acessível para os investidores e analistas terem acesso ao justo valor de cada ativo e passivo detido por uma organização, pois, nesse caso, não necessitariam de estimar, por sua própria iniciativa, os cash-flows que se esperam vir a ser gerados no futuro para cada elemento específico, para depois avaliar o valor da empresa, dado, no caso de uso deste método, a informação divulgada pela mesma e que consta no balanço já transmitir essa informação.

No entanto, alguns autores não consideram o custo histórico totalmente irrelevante. Apesar das críticas frequentes sobre o facto desta base de mensuração estar muito focada no que se sucedeu no passado, ignorando o que se irá suceder no futuro, Ronen (2008) argumenta que quando os rendimentos e gastos são devidamente compensados entre si, este método torna-se voltado para o futuro. Como vimos atrás, usando este modelo, a riqueza

203 Mencionado em Bastos (2009, pp. 48-49,). A referência bibliográfica completa apresentada no seu

trabalho é a seguinte: BERNSTEIN, D. W. (2002). Is Fair Value Accounting Really Fair? International Financial

Law Review. August. 21(8): 17.

204 Mencionado em Bastos (2009, p. 49, em nota de rodapé). A referência bibliográfica completa

apresentada no seu trabalho é a seguinte: CORREIA, M. L. A. (2000). Instrumentos Financeiros Derivados:

146 criada por uma empresa advém da compra de inputs, da sua transformação noutros produtos e, por fim, na venda dos mesmos acima dos custos incorridos durante todo o processo. Na visão de Ronen (2008), embora o custo histórico não forneça diretamente o valor do negócio da empresa, torna-se um auxílio para a estimativa desse valor, dado as margens de lucro atuais serem frequentemente um bom indutor das margens de lucro futuras.

Cooper (2007), apesar de ver no custo histórico uma medida menos relevante que o justo valor na tomada de decisão acerca de um ativo específico, defende que nem sempre as decisões são feitas a uma escala individual, mas baseadas na lucratividade da organização como um todo. Assim, uma mensuração ao justo valor para ativos que são usados simultaneamente com outros e onde não existe uma intenção imediata de venda desses ativos pode ficar aquém em termos de relevância, por comparação com o modelo do custo histórico. Como explica o autor, a “mensuração ao custo histórico e um foco nas transações podem ser o melhor meio de medir esse desempenho e, portanto, tomar decisões económicas relacionadas com esse negócio” (pp. 17-18). Adicionalmente, o autor defende que apesar do justo valor contribuir para a previsão de fluxos de caixa futuros, tal não implica que este método tenha necessariamente valor preditivo, pois os investidores podem tomar um outro rumo, considerando outro tipo de informação, para efetuarem as suas previsões. Nesse sentido, o autor argumenta mais uma vez que uma abordagem baseada em transações e mais focada na análise da demonstração de resultados pode muito bem servir melhor as necessidades dos investidores em prever os cash-flows a serem gerados no futuro do que um balanço onde todos os seus elementos estejam inscritos ao justo valor.

Ijiri (1975205, mencionado em Bastos, 2009, p. 46) também discute esta ideia de o custo

histórico estar associado a uma perda de relevância da informação. Para o autor, o facto deste critério estar mais orientado para o passado não condiciona a sua relevância, apesar de ser uma questão importante. Assim, para ele, a identificação dos itens detidos pela organização é feita através do conhecimento do seu passado. Mesmo numa contabilidade onde são usados valores correntes em que não seja necessário fazer uma avaliação desses elementos com base na sua história, o input desse sistema de avaliação não pode ser construído sem primeiramente considerar os registos históricos desses recursos. Neste

205A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Bastos (2009) é a seguinte: IJIRI, Y.

147 sentido, juntamente com Carqueja (1998206, mencionado em Bastos, 2009, p. 46), são

apologistas de que a informação histórica não é completamente irrelevante, pois pode muito bem servir de input para moldar uma opinião sobre o futuro, “cabendo ao relato financeiro expressar e medir aquilo que aconteceu para justificar o que existe” (Bastos, 2009, p. 46).

Por outro lado, uma grande diferença entre o justo valor e o custo histórico, importante para o debate sobre a sua relevância, prende-se com a questão dos ganhos e perdas não realizados. O modelo do custo histórico é mais conservador ou prudente, no sentido em que se debruça na antecipação do registo de perdas, mas não de ganhos, que ainda não foram ocorridos, nas contas atuais da empresa (Barlev & Haddad, 2003). Já o modelo do justo valor considera tanto as perdas como os ganhos não realizados na elaboração das contas, o que o torna distintivo face ao outro método (Linsmeier, 2013; Martín & Osma, 2009). Assim, para