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2. Estrutura concetual

2.3. Mensuração contabilística

2.3.7. Utilizadores da informação financeira

O termo “utilizadores da informação financeira” foi sendo usado ao longo da presente dissertação várias vezes. O objetivo deste ponto é, então, descrever melhor quem são estes utilizadores. Como salienta Barth (2007), o principal objetivo do relato financeiro é satisfazer as necessidades de informação de um grupo bastante extenso de interessados na tomada de decisões sobre as mais variadas matérias, grupo esse que não se encontra apenas limitado às entidades que procuram avaliar o valor ou capital próprio de uma empresa. Daí o termo usado pelos organismos normalizadores, como o IASB (2010, §OB2) e FASB (2010, §OB2), de “relato financeiro para fins gerais”, expressando, portanto, que é objetivo da Contabilidade de informar todos os utilizadores externos a uma entidade que não têm forma de conhecer privilegiadamente informação interna referente à mesma (Whittington, 2008).

Nas ECs mais recentes, tanto do IASB como do FASB, não existe uma descrição tão pormenorizada do grupo supracitado. Assim, tendo por base a EC do IASC (1989, §9) ou a do CNC (2009, §9), que tem por base a primeira, os utilizadores da informação financeira, bem como as suas necessidades de informação, são as seguintes:

“Investidores — Os fornecedores de capital de risco e os seus consultores estão ligados ao risco inerente aos, e ao retorno proporcionado pelos, seus investimentos. Necessitam de informação para os ajudar a determinar se devem comprar, deter ou vender. Os acionistas estão também interessados em informação que lhes facilite determinar a capacidade da entidade pagar dividendos” (alínea a));

“Empregados — Os empregados e os seus grupos representativos estão interessados na informação acerca da estabilidade e da lucratividade dos seus empregadores. Estão

49 também interessados na informação que os habilite a avaliar a capacidade da entidade proporcionar remuneração, benefícios de reforma e oportunidades de emprego” (alínea b)); “Mutuantes — Os mutuantes estão interessados em informação que lhes permita determinar se os seus empréstimos, e os juros que a eles respeitam, serão pagos quando vencidos” (alínea c));

“Fornecedores e outros credores comerciais — Os fornecedores e outros credores estão interessados em informação que lhes permita determinar se as quantias que lhes são devidas serão pagas no vencimento. Os credores comerciais estão provavelmente interessados numa entidade durante um período mais curto que os mutuantes a menos que estejam dependentes da continuação da entidade como um cliente importante” (alínea d));

“Clientes — Os clientes têm interesse em informação acerca da continuação de uma entidade, especialmente quando com ela têm envolvimentos a prazo, ou dela estão dependentes” (alínea e));

“Governo e seus departamentos — O Governo e os seus departamentos estão interessados na alocação de recursos e, por isso, nas atividades das entidades. Também exigem informação a fim de regularem as atividades das entidades, determinar as políticas de tributação e como base para estatísticas do rendimento nacional e outras semelhantes” (alínea f));

“Público — As entidades afetam o público de diversos modos. Por exemplo, podem dar uma contribuição substancial à economia local de muitas maneiras incluindo o número de pessoas que empregam e patrocinar comércio dos fornecedores locais. As demonstrações financeiras podem ajudar o público ao proporcionar informação acerca das tendências e desenvolvimentos recentes na prosperidade da entidade e leque das suas atividades” (alínea g)).

A este respeito, o FASB (1978, §2461, mencionado em Bastos, 2009, p. 41), no

documento Statement of Financial Accounting Concepts (SFAC) 1 – “Objectives of Financial Reporting

by Business Entreprises”, enuncia uma lista ainda mais alargada de stakeholders, incluindo, além

das entidades já referidas anteriormente, os proprietários, os analistas financeiros e os consultores, as seguradoras, a bolsa de valores, os advogados, os economistas, as autoridades

61 A referência bibliográfica completa apresentada no trabalho de Bastos (2009) é a seguinte:

FINANCIAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD (FASB). (1978a). Statement of Financial Accounting Concepts n.º 1 - Objectives of Financial Reporting by Business Entreprises. May. Connecticut: FASB.

50 fiscais e reguladoras, as associações comerciais e empresariais, os investigadores e estudantes, entre outros utilizadores.

Contudo, existe um grupo primário de utentes que são o principal foco em termos de satisfação de necessidades de informação, composto pelos investidores e credores (Whittington, 2008), como é destacado nas ECs mais recentes do IASB (2010) e do FASB (2010), ao ser afirmado que o propósito do relato financeiro é “fornecer informação financeira sobre a entidade de relato que seja útil para os investidores existentes e potenciais, financiadores e outros credores na tomada de decisões sobre o fornecimento de recursos para a entidade” (§OB2). Tal é visível de forma ainda mais direta no parágrafo OB5, onde é dito que os investidores e os credores não têm acesso direto a informação específica da empresa, tendo de se suportar nos documentos emitidos pela mesma, nomeadamente no relato financeiro, para satisfazer as suas necessidades de informação. Por este motivo, estes são os “principais utilizadores para os quais os relatos financeiros de fins gerais devem ser dirigidos”. O foco do relato financeiro está, assim, nestes utilizadores, pois satisfazendo as suas necessidades, estar-se-á a satisfazer também as necessidades de outros utentes (Barth, 2007; Bastos, 2009).

Deste modo, sabendo que os interesses destes utilizadores são distintos e, por vezes, conflituantes entre si (Pinto, 2013), as entidades de normalização, através do desenvolvimento de normas associadas à elaboração do relato financeiro, têm como preocupação fornecer um conjunto de informações que atendam às necessidades do maior número possível de investidores e credores (FASB, 2010, §OB8; IASB, 2010, §OB8). Contudo, a informação disponibilizada pelas entidades de relato nem sempre é suficiente para suprir as suas necessidades. Torna-se, então, necessário que estes dispersem a sua atenção para outra informação pertinente proveniente de outras fontes, o que implica, designadamente, elaborar uma análise da envolvente, nas suas vertentes económica, social, legal, política, entre outros, para completar essa falta de informação disponível (§OB6).

2.3.8.

Ligação entre os utilizadores e as características qualitativas da