• Nenhum resultado encontrado

Previsto no art. 5º, LXXI, da CF, revela-se como nova garantia conferida constitucionalmente com o objetivo de munir o indivíduo de meios adequados para o exercício de seus direitos. Nos termos do inciso, verbis: “conceder-se- á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.

Esse writ é regulamentado pela Lei n. 13.300/2016. A norma repetiu que os titulares dessa ação são as pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas, sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

O impetrado será o órgão a quem compete a emissão da norma regulamentadora daquele específico direito ou liberdade.

Uma vez reconhecido o estado de mora normativa, será deferida a injunção para determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição de norma regulamentadora ou mesmo estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora no prazo determinado. Isso está consignado no art. 8º da Lei, e seus efeitos terão eficácia subjetiva limitada às partes e perdurarão até o advento da norma regulamentadora. O primeiro parágrafo adverte que poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da impetração.

Uma vez transitada em julgado a ação, seus efeitos podem ser estendidos aos casos análogos, por decisão monocrática do relator. Outro aspecto

interessante é a possibilidade de se renovar a impetração fundada em outros elementos probatórios, caso o pedido tenha sido indeferido por insuficiência de prova.

A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada em julgado, exceto nos casos em que a aplicação da norma editada lhes seja mais favorável. Caso haja norma regulamentadora editada antes da decisão, a impetração estará prejudicada.

O art. 12 especifica quem pode impetrar o MI coletivo. Estão relacionados: o Ministério Público, quando se tratar da defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis; partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária; organização sindical, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus membros ou associados; e a Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados.

3.1. Antecedentes

A origem do mandado de injunção é indeterminada, conforme afirmou Ferreira Filho.19 Apesar de existirem institutos com denominações próximas,

a exemplo do ingiunzione italiano ou ainda do writ of injuction no direito anglo-americano, não há como aproximá-los daquele aqui instituído. Suas respectivas funções se prestam a outras finalidades, distantes daquela estabelecida constitucionalmente ao mandado de injunção nacional.

De acordo com as decisões do STF, parece não pairar dúvidas de que o mandado de injunção seja forma incidental ou controle difuso da constitucionalidade. Destarte, qualquer indivíduo pode ingressar no Judiciário com a finalidade de obter pronunciamento adequado para suprir a falta de norma regulamentadora que inviabilize o exercício de direito determinado.

Diversas foram as interpretações dadas ao remédio. Imaginava-se que o Judiciário supriria a falta de norma regulamentadora por meio de uma decisão. Contudo, pela decisão do STF ficou clara sua mera função de controle incidental da omissão.

Várias foram as decisões do STF que tolheram a utilidade dessa ação constitucional, de forma a equipará-la à ação direta de inconstitucionalidade por omissão. Isto pode ser comprovado na jurisprudência transcrita. O intuito da impetração desse MI foi buscar na cúpula do Judiciário seu entendimento sobre o instituto, a fim de viabilizar sua impetração. Segundo seu entendimento, a ação visa a obter do Poder Judiciário

a declaração de inconstitucionalidade da omissão se estiver caracterizada a mora em regulamentar por parte do poder, órgão, entidade ou autoridade de que ela dependa, com a finalidade de que se lhe dê ciência dessa declaração, para que adote as providências necessárias, à semelhança do que ocorre com a ação direta de inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2º, da Carta Magna).20

3.2. Elementos necessários para impetração do MI

Devem estar presentes alguns elementos importantes para a impetração do MI:

a) existência de norma de eficácia limitada que necessite de norma regulamentadora, que torne efetiva norma constitucional (art. 103, § 2º, da CF e art. 2º da Lei n. 13.300/2016);

b) o impetrante (pessoas naturais ou jurídicas) deve ser beneficiário do direito, liberdade ou prerrogativa, cujo exercício é inviabilizado pela falta de norma regulamentadora (art. 3º da Lei n. 13.300/2016);

c) sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais ou ainda quando for constatada a regulação parcial que resulte insuficiente a norma editada pelo legislador competente (art. 2º da Lei n. 13.300/2016).

Para José Afonso da Silva,21 o interesse de agir decorre da titularidade do

bem reclamado, de modo que a sentença tenha utilidade direta para o demandante. Não pode, por exemplo, reclamar acesso ao ensino fundamental se não precisa pessoalmente dele; não pode pleitear garantia empregatícia se está desempregado.

Assim, o cabimento do Mandado de Injunção será para tornar efetiva norma ainda não regulamentada. A falta dela torna inviável o exercício e este será o objeto central da demanda, o direito. A Lei n. 13.300, de 23 de junho de 2016,

disciplinou o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo.22

3.3. Espécies de MI

A seguir serão divididas as duas formas admitidas de impetração desse mandado:

MI

individual (arts. 2º e 3º)

As pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das

prerrogativas sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das

prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

MI coletivo (arts. 12 e 13)

Podem impetrar MI coletivo o Ministério Público

(defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis); partido político com representação no Congresso (para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a atividade partidária); organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 ano; e a Defensoria Pública quando a tutela for relevante para a promoção de direitos humanos e defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados.

3.4. Peculiaridades processuais

O processamento eletrônico do Mandado de Injunção deve conter a petição inicial ordenando a notificação do impetrado sobre seu conteúdo, a fim de que, em dez dias, apresente informações. Deve ser dada ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação da pessoa jurídica interessada.

A petição inicial deve ser indeferida se o pedido for manifestamente incabível ou manifestamente improcedente.

Após o prazo de dez dias para as informações, o Ministério Público será ouvido para opinar. Com ou sem parecer, os autos seguirão conclusos para decisão. Uma vez constatada a mora normativa, a injunção será deferida para que, em prazo razoável, o impetrado promova a edição da norma regulamentadora ou estabeleça as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria com o objetivo de exercê-los.

A decisão terá efeito inter partes e produzirá efeito até a edição da norma regulamentadora. De outra forma, é possível que o órgão judicante confira eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando essa providência for fundamental ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa.