• Nenhum resultado encontrado

MODOS DE AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE ORIGINÁRIA De acordo com o preceituado na ordem internacional, cada Estado pode

legislar outorgando a nacionalidade aos indivíduos originários de seu território. Este é o denominado princípio da atribuição estatal da nacionalidade. Não poderiam, por outro lado, indicar que seus nacionais não pertencem a outro Estado, indo de encontro ao princípio da pluralidade da nacionalidade. Não obstante haja recomendação internacional de atribuição de uma nacionalidade única e da repulsa à apatridia, os Estados modernos concebem a possibilidade de multinacionalidade.

O texto original da Constituição de 1988 parecia seguir essa tendência de conceber unicamente a mononacionalidade. Assim, seus nacionais deveriam possuir unicamente a nacionalidade brasileira. Contudo, o art. 12, § 4º, II, foi modificado a fim de admitir a possibilidade de segunda nacionalidade nos casos em que houvesse imposição de naturalização pela lei estrangeira para o brasileiro lá exercer seus direitos civis ou permanecer em seu território.11

São brasileiros natos, nos termos da redação das alíneas do inciso I do art. 12 da CF:

“a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;”

A norma constitucional é a que pode tratar desse tema. O legislador ordinário regulamentou os casos de naturalização por meio da Lei de Migração.

Na hipótese de alínea a, com caráter marcadamente territorial (jus soli), o filho de pais estrangeiros, sejam eles turistas ou mesmo imigrantes, são considerados natos. Exceção feita aos que, aqui, prestem serviço oficial a seu país, e, para tanto, basta apenas um deles estar nessa condição. Isso decorre do

princípio da extraterritorialidade diplomática, adotada por grande parte dos países, segundo a qual a nacionalidade da prole segue a do genitor ou da genitora a serviço oficial de determinado Estado.

“b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;”

Nesta alínea, o critério de filiação (jus sanguinis) é determinante e marca a nacionalidade dos filhos daqueles que prestam serviços oficiais ao Brasil. Observa-se nos textos doutrinários a inclusão de todos os entes federativos na possibilidade de envio de emissários ao exterior. Contudo, como somente a União detém personalidade jurídica de direito externo, compreende-se que somente esta poderia enviar seus prepostos para tais missões, a exemplo dos diplomatas e oficiais lotados em repartições consulares ou diplomáticas ou ainda destacados a serviços militares especiais. Atualmente se fala muito em “paradiplomacia” como sendo o exercício de relações internacionais fora da estrutura estatal. Introduz-se novos atores nesse contexto de prevalência da União. “Ela compreende relações internacionais realizadas por atores governamentais subnacionais, distintos do governo central (estados, regiões, províncias, departamentos, comunidades, cidades).”12

“c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;”

Na alínea c ocorre o que se denomina nacionalidade potestativa, pois depende de ato voluntário à opção da nacionalidade, mesmo oferecendo a possibilidade dessa ser efetivada a qualquer tempo, depois de atingida a maioridade. Certamente há o critério de filiação (jus sanguinis), mesmo que o pai ou a mãe de nacionalidade brasileira estejam naquele Estado por razões de índole pessoal, sem estarem vinculados a um serviço oficial brasileiro. Essa possibilidade é reiterada no art. 63 da Lei n. 13.445/2017.

Aqui devem reunir-se alguns elementos a fim de se obter a nacionalidade. Basicamente são: a necessidade de residir no território brasileiro e a

possibilidade de se fazer a opção pela nacionalidade brasileira aos que não tenham sido registrados em repartição consular brasileira no exterior, nos termos do art. 63, que é possível ser feita, a qualquer tempo, por meio de ação de opção de nacionalidade. Enquanto não estiver no território brasileiro, o indivíduo não poderá optar. Nesses termos, há necessidade de fixação no território. Isso não quer dizer que antes não possuísse a nacionalidade. Ela já existia. O que ocorre, na verdade, é a necessidade de fixação da nacionalidade, uma vez existentes as condições de atingimento da maioridade e da residência em território brasileiro. A redação da lei excluiu a expressão “completado a maioridade”, contida na Constituição Federal.

Relativamente a essa particularidade precisa é a conclusão de Mendes, Coelho e Branco13 quanto à pendência da opção da nacionalidade pelo filho

menor brasileiro, na hipótese de não registro no consulado respectivo. Segundo os autores, a norma possui caráter protetivo e não restritivo da norma constitucional e os efeitos severos da apatridia. Assim, tornou-se inevitável reconhecer ao menor, filho de brasileiro, nascido e residente no estrangeiro, a nacionalidade com eficácia plena até o momento de se completar a maioridade. A partir desse evento, poderia decidir livremente acerca da opção pela nacionalidade brasileira. Se antes da maioridade não poderia decidir sobre a fixação de residência no Brasil, não haveria como não se lhe reconhecer a condição de brasileiro nato. A atual Lei de Migração cria situação favorável para que a apatridia seja solucionada diante do processo indicado nos parágrafos do art. 26.

Assim, reconhece-se que a nacionalidade brasileira permaneceria em condição suspensiva até o momento da opção somada à residência no território nacional, na hipótese de não ter sido registrado o filho na repartição consular competente. A partir da opção da nacionalidade torna-se impossível efetivar a extradição.

Registre-se ainda o dispositivo introduzido pela Emenda Constitucional n. 54/2007, a qual inseriu o art. 95 no ADCT, com a seguinte redação:

Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da promulgação desta Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira, poderão ser registrados em repartição diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a residir na República Federativa do Brasil.