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4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.1 A DIDÁTICA DÓXICA: O OLHAR EMERGENTE DO QUESTIONÁRIO

4.1.1 A Didática Dóxica Consolidada nos Clusters

4.1.1.1 Mediador altruísta – cluster 1

Pertencem a esse Cluster 53 licenciandos, sendo o maior agrupamento de futuros professores. Com relação à distribuição desses, há pelo menos um discente de cada curso de Licenciatura, com exceção da Química. Consideramo-lo um cluster bem distribuído em relação à quantidade total de licenciandos e suas áreas de conhecimento, apesar do predomínio quantitativo de licenciandos de Letras. Os significantes que mais se destacaram estão no Quadro a seguir:

Quadro 20 – Síntese dos principais significantes elementares do Cluster Mediador altruísta

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Escolha licenciatura G1 (Despertar a) afinidade com a área 37,7

Bom professor

E2 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 81,1

G2 Dominar habilidades de ensino 54,7

D2 Observar e preocupar-se com a aprendizagem 30,1

H2 Saber diversificar as estratégias metodológicas 30,1

Práticas bom professor

H3 Valorizar a dimensão interpessoal 56,6

A3 Ser um profissional comprometido e em constante formação 49 F3 Adotar estratégias de ensino que privilegiam desenvolvimento da

criticidade e cidadania

49

C3 Compreender, respeitar e preocupa-se com as diferentes necessidades de aprendizagem

39,6

D3 Dominar o conteúdo 32

Avaliação

A4 Com uso de instrumento(s) avaliativo(s) 45,2

D4 Atividade-meio que considera o contexto da turma 43,3 F4 Adotar múltiplos instrumentos considerando valorações distintas 43,3 Contribuição da

Didática I5 Ampliar compreensões sobre possibilidades metodológicas e avaliativas

50,9 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

A escolha por cursar a licenciatura, para o “mediador-altruísta” é resultado de uma escolha que envolve afetividade com a área do conhecimento (G1) com o magistério e, também, como uma possibilidade de ajudar outras pessoas, como evidenciamos nas respostas a seguir:

Nunca gostei da forma como a educação é aplicada em sala de aula. Vi na licenciatura uma forma de tentar contribuir para mudar esta fama ultrapassada e desrespeitosa que grande parte das escolas impõe. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L01).

O curso de Licenciatura foi minha primeira escolha pelo fato que sempre admirei a carreira do professor, porque ele não é apenas um profissional que faz seu trabalho, ele é um profissional que forma outros profissionais, não guarda o conhecimento apenas para si, ele tenta irradiar para todos os cantos. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L07).

Inicialmente, puramente pela Arte, foi a formação mais próxima ligado diretamente a Arte. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L58).

A escolha pelo curso perdura a paixão pela ‘ciência dos homens no tempo’ (Bloch). Desde os anos na área básica o bom desempenho, seguido do prazer pela disciplina motivaram a opção. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L70).

Sempre tive vontade de ser professora, e ao mesmo tempo tive muita proximidade com esportes. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L96).

Gostar de esportes e a vontade de ser a professora que eu não tive no ensino médio. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L100).

Sempre estive na área da educação física, mesmo subjetivamente, com isso, me senti motivado a seguir nesta carreira, quando comecei a me questionar sobre o que eu viria ser na vida. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L113).

Por gostar de crianças e querer proporcionar a elas um futuro melhor lendo e escrevendo. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L165).

A maior parte da família exerce à docência, é uma ‘cultura’ familiar. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L219).

Uma forma de ajudar na educação das filhas e meu interesse pela matemática. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L224).

As respostas revelam que muitos escolheram a licenciatura por afinidade, porém, muitos excertos indicam ainda, a preocupação com o outro, seja ele, criança, um familiar, ser o(a) professor(a) que não teve, revelando um espírito bondoso, humilde o qual denominamos de “altruísta”. Essa adjetivação é destacada pela preocupação com utilizar diversificadas estratégias metodológicas (H2) como também as que contribuem para criticidade e cidadania (F3) e refletir sobre as diferentes necessidades de aprendizagem (D2), como que a possibilidade para modificar a educação, como destacado por L01 e L07.

A denominação “mediador” é resultado de uma doxa que considera diferentes aspectos das dimensões apontadas no estado da arte: a preocupação com a dimensão profissional, a partir do domínio do conteúdo (D3) e de estar comprometido com a profissão e em constante formação (A3); a interpessoal que quando considerada (H3) também valoriza o aluno e as relações humanas (E2); e a didático-pedagógica, a partir do uso das habilidades de ensino (G2), e o uso de encaminhamentos metodológicos (F3/H2) e avaliativos diferenciados (A4), considerando nesses últimos, diferentes valorações (F4) em que pese o fato de ser uma atividade-meio cujo contexto possui influência (D4), tendo em vista a preocupação com a

aprendizagem (D2) e suas diferentes necessidades (C3).

Desse modo, esse grupo preocupa-se com todas as dimensões, relações e competências que envolvem a noção de bom professor como Cunha (1996), Nóvoa (2009a, 2017) e Rios (2001) já afirmaram. Além disso, a preocupação com o resultado de sua ação é expressiva, ou seja, não pensam apenas no ato de ensinar, mas no seu reflexo sobre a aprendizagem do aluno, considerando seu contexto e as diferentes ferramentas que devem ser utilizadas tendo em vista as distintas necessidades. Por isso, sua compreensão concentra-se numa abordagem crítica/sociocultural, que com as diferentes habilidades (de ensino e sociais) contribui para o desenvolvimento humano, técnico e político do indivíduo. (ROLDÃO, 2017; MEIRIEU, 1998; MIZUKAMI, 1986; SAVIANI, 2012; FARIAS et al., 2011; CUNHA, 19996; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001).

Apesar de expressarem essa concepção mais crítica sobre o ensino, o entendimento sobre a contribuição da Didática para sua formação é instrumental (I5), no sentido de dinamizar e diferenciar o ensino (métodos, metodologias, técnicas, práticas, etc.) a partir das técnicas aprendidas na disciplina, como destacamos a seguir:

Sim. Me dando ideias maneiras de transmitir o conteúdo específico de várias maneiras. Ajudar a compreender melhor a relação ‘aluno+ professor’. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L25).

Com certeza! Nos ensinando maneiras de abordagem, opções, e utilização de recursos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L34).

Sim, pois na Didática aprendemos diversas formas de ensinar um mesmo conteúdo e como devemos nos comportar em meio a sala de aula e alunos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L38).

Sim, ensinando as técnicas adequadas para fazer com que o aluno tenha desenvolvimento realmente significativo e que abstraia informações adquiridas em sala de aula e as extrapole para a vida cotidiana. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L51).

Sim, aprender a ensinar é uma questão que nos ajuda muito em sala, conhecer métodos (suas variações), sem dúvida facilita o processo, e o principalmente aprender a aprender com o aluno (reduzir a arrogância científica). (Resposta da questão 5, questionário inicial – L78).

Sim. Eu ainda não sei exatamente como funciona a disciplina de didática, mas creio que auxilia muito a entendermos formas melhores de conduzir as aulas, aprender a ser mais dinâmico. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L132).

Sim, pois a didática não ‘deixa’ o professor ser ‘engessado’ no conteúdo. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L157).

Sim, devido ao fato de ceder ao educador meios diversificados, maleáveis e eficazes, com o intuito de fazer com que o aprendizado do aluno seja desenvolvido com a maior facilidade possível. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L194).

Sim. Imagino que nesta disciplina aprendemos mais sobre como repassar o conteúdo ao aluno de forma mais suave, as maneiras de avaliar, uso de quadro, entre outros. (Resposta da questão 5, questionário inicial 1 – L219).

Em linhas gerais, o foco ainda está na transmissão do conteúdo. Isso revela o quanto trazem mesmo de modo inconsciente a prática dos professores que tiveram, os quais como L01 e L100 criticam que querem mudar. Possuem o desejo de ser diferente ainda que sem saber como. Dessa forma, a contribuição da disciplina, para esse grupo, ainda reside na sobrevalorização da dimensão técnica/instrumental e dos aspectos relacionados aos saberes da ação pedagógica – gestão da matéria a partir das metodologias diferenciadas e da classe – com preocupação com o aspecto humano (da relação professor-aluno e aprender uns com os outros). (FARIAS et al., 2011; CANDAU, 1988),