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4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.1 A DIDÁTICA DÓXICA: O OLHAR EMERGENTE DO QUESTIONÁRIO

4.1.1 A Didática Dóxica Consolidada nos Clusters

4.1.1.4 Mediador “por referências” – cluster 4

Pertencem a esse Cluster 31 licenciandos, sendo que há pelo menos um representante de cada curso de Licenciatura. Apesar disso, há um predomínio quantitativo de licenciandos de Ciências Biológicas (7), Letras (7) e Educação Física (6). Os significantes que mais se destacaram estão no Quadro 23, a seguir:

Quadro 23 – Síntese dos significantes elementares do Cluster Mediador “por referências”

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Escolha licenciatura G1 (Despertar a) afinidade com a área 45,1

F1 Influência de professores 35,4

Bom professor

K2 Estar em constante processo formativo 61,2

E2 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 58 B2 Saber ensinar (e suas variantes epistemológicas) 45,1 J2 Sentir-se realizado profissionalmente, compreendendo a função e impacto

social da profissão

45,1

G2 Dominar habilidades de ensino 41,9

Práticas bom professor

H3 Valorizar a dimensão interpessoal 51,6

A3 Ser um profissional comprometido e em constante formação 45,1 C3 Compreender, respeitar e preocupa-se com as diferentes necessidades de

aprendizagem

41,9 F3 Adotar estratégias de ensino que privilegiam desenvolvimento da

criticidade e cidadania

38,7

Avaliação A4 Com uso de instrumento(s) avaliativo(s) 83,8

Contribuição da Didática

A5 A formação de um bom professor 58

I5 Ampliar compreensões sobre possibilidades metodológicas e avaliativas 41,9 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

Esse grupo de licenciandos, essencialmente apresenta uma compreensão sobre o bom professor, resultante das referências construídas pelos seus bons professores. Essa dimensão pessoal evoca, assim como verificamos no estado da arte, o olhar sobre essas práticas vivenciadas como também a noção de que o bom professor possui o sentimento de realização profissional (J2). A escolha pelo curso de licenciatura considera essa influência (F1) como também a afinidade pela área (G1):

Pelas ótimas professoras de Biologia e de ciências que tive na vida escolar. Queria Bacharelado em Bio, mas por conta de ser integral e não poder trabalhar, optei por licenciatura e não me arrependo. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L06). Minha professora de Biologia e o próprio gosto pela docência. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L18).

Minha motivação principal foi por influência de um professor de Biologia, no cursinho pré-vestibular. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L29).

Meu professor de Educação física da 8ª série. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L91).

Sempre quis ser professora e como sou apaixonada por esportes escolhi a Educação Física. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L101).

Minha primeira professora, aos 6 anos. Aos 11 decidi que queria Letras também por admiração à minha teacher da 5ª série. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L133).

O interesse pela língua portuguesa, alguns professores que tive ao decorrer do ensino fundamental e médio. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L181). Sempre gostei de música, e a profissão me atrai então, logo e curso está em destaque na minha escolha. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L202).

Poder transmitir todo meu conhecimento para mais pessoas, quem sabe assim, ser uma influência boa como professora, como eu tive uma. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L225).

A escolha pela docência é tanto pela influência da área, como também uma referência aos bons professores que esse agrupamento teve, como destacamos nas respostas acima. Assim, podemos dizer que de certa foram, o bom professor contribui na captação de novos agentes para o campo educacional. Com relação às contribuições que a disciplina de Didática pode trazer à sua formação, apesar da dimensão instrumental (I5) sobre a Didática, com ela também se aprende a ser (bom) professor (A5):

Sim. Entramos na faculdade para sermos professores e, no entanto, ninguém nos ‘ensina’ como ser um professor. Acho que a matéria de Didática pode ajudar a descobrirmos isso. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L15).

Sim, a didática ajuda a aprimorar formas de trabalhar c/ os alunos, ensinando métodos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L17).

Sim, a didática, contribui para que o professor se conheça melhor como profissional, e mostre-se ao mundo de forma melhor, sendo capaz de reconhecer seus ‘erros’ e seus ‘acertos’. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L66).

Sim, ajuda no crescimento profissional além de mostrar uma nova perspectiva de trabalho. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L91).

Sim, porque a didática é fundamental para as aulas serem atrativas, para que não foque só no slide, é preciso ir além de só ler em sala e a didática nos proporciona ser o ‘bom professor’. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L188). Sim, com o conhecimento temos apenas um colaborador, mas como o conhecimento e com a didática, na minha opinião, assim temos o professor preparado para os desafios de ensinar. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L202).

Com certeza. É ela que nos prepara a sermos bons professores, um professor que não exerce a didática não ganha alunos, acaba sendo um mero ‘robô’ dentro da sala de aula, seguindo sempre os mesmos caminhos, sem nunca inovar atividades novas. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L213).

Sim, e muito! Tenho em mente que a Didática é a matéria do currículo que irá mostrar mais de uma forma de ensino, como se portar em sala de aula, ter mais dinamismo com os alunos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L225).

Respostas como a de L91 e L202 remetem à uma compreensão inconsciente quanto à incompletude da formação apenas com os saberes científicos e ainda, da necessidade de um subsídio para o desenvolvimento profissional docente. Do mesmo modo, L166 a identifica como um modo de reflexão sobre a ação docente e o aprimoramento dos saberes da ação pedagógica propriamente dita, como é destacado por L15. Ou seja, apesar da grande relação com os aspectos instrumentais, a doxa dos licenciandos a indica como um elo importante na estruturação dos saberes docentes e o desenvolvimento e reflexividade docente. (GAUTHIER et al., 1998; PIMENTA, 2012, IMBERNÓN, 2011; BEHRENS, 1996).

O reconhecimento a respeito da necessidade do desenvolvimento profissional docente é ratificado quando se destacam nesse cluster a necessidade de o bom professor ser

comprometido (A3) e estar em constante processo formativo (K2), além de sentir-se realizado profissionalmente, compreendendo a sua função e o impacto social que a profissão

possui (J2). Uma vez que entendem a influência de seu trabalho, podemos articular tal noção ao desenvolvimento da dimensão política da ação docente e que, sabe ensinar (B2) a partir do uso de estratégias que privilegiam o desenvolvimento da criticidade e cidadania (F3), fundamentando-se em uma abordagem sociocultural de ensino. (BEHRENS, 1996; OLIVEIRA; BEHRENS, 2014; IMBERNÓN, 2011; FARIAS et al., 2011; MIZUKAMI, 1986). Ademais tal profissional valoriza a dimensão interpessoal (H3) a partir das relações

humanas e afetivas (E2) desenvolvidas entre ele e os alunos, as quais fundamentam-se não

apenas nas habilidades sociais empáticas e comunicativas, como também na importância da afetividade para o processo de ensino-aprendizagem. Além dessa, o uso de habilidade de ensino (G2) e diferentes instrumentos avaliativos (A4) reforça a preocupação sobre as diferentes necessidades de aprendizagem (C3), demonstrando que além da perspectiva mediadora, a influência dos bons professores a qual destacam como importante para a escolha do curso, também é uma marca em seu processo formativo, assim como a etimologia da palavra ensinar.

(CUNHA, 1996, DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001; LEITE, 2018; ROMANOWSKI, 2012, VEIGA, 2012b, GASPARIN, 1994).