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4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.2 EM BUSCA DE UMA DIDÁTICA REFLETIDA: A REFLEXÃO

4.2.1 A Didática Refletida a partir da análise dos clusters do questionário final

4.2.1.2 Mediador substancial – cluster 2

Os nove licenciandos desse cluster pertencem predominantemente às Ciências Humanas, sendo seis (L131, L133, L134, L136, L141, L171) da Licenciatura em Letras e um (L196) do curso de Licenciatura em Música. Além desses, temos um licenciando (L44) em Física e um (L111) em Educação Física. Inicialmente, eles pertenciam a diferentes agrupamentos, dentre os quais, três ao cluster sonhador libertador (C10). No Quadro 36, apresentamos os principais significantes emergentes desse cluster:

Quadro 36 - Síntese dos significantes elementares do Cluster Mediador substancial

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Bom professor

K1 Estar em constante processo formativo 55,5

E1 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 44,4

G1 Dominar habilidades de ensino 44,4

Saber ensinar

G2 Agir como mediador a partir da construção/produção de conhecimentos,

superando a memorização 55,5

K2 Auxiliar o aluno a apropriar-se do conhecimento, compreendendo como

facilitar a aprendizagem, aproximando-os 44,4

Ter didática - Práticas do bom professor

C4 Compreender, respeitar e preocupa-se com as diferentes necessidades de

aprendizagem 55,5

F4 Adotar estratégias de ensino que privilegiam desenvolvimento da criticidade e cidadania, superando o ensino tradicional/decoreba 44,4

H4 Valorizar a dimensão interpessoal 44,4

Avaliação

C5 Um momento ético e planejado para análise do desenvolvimento do processo

de ensino-aprendizagem 77,7

B5 Um momento de aprendizagem que, enquanto processo que valoriza a

participação 66,6

Contribuição da

Didática A6

Compreensão do processo de ensino-aprendizagem enquanto viés crítico e de situações de sala de aula, pensando no aluno, superando os ensinos tradicional e tecnicista

88,8 F6 Ampliação da formação docente e a noção de ser professor 55,5 Didática e ação

docente D7 Noção de que a docência está intrinsecamente relacionada à didática 77,7 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

Crenças relacionadas à noção de que o bom professor respeita e valoriza o aluno (E1) e a dimensão interpessoal (H4) bem como a preocupação com as diferentes necessidades de

aprendizagem (C4), além de possuir o domínio das habilidades de ensino (G1) e a diversidade de estratégias de ensino (F4) foram consolidadas. Além dessas, o grupo

modificou algumas crenças: sua compreensão da mera listagem de instrumentos avaliativos na doxa inicial para a percepção da relação com a aprendizagem (C5) sendo uma atividade-meio, a qual deve ser ética e planejada a fim de refletir em uma análise do processo de ensino-

aprendizagem (B5); consciência de que o bom professor está em constante processo formativo (K1).

Desse conjunto de significantes emergiu a denominação “mediador substancial”, pois além da noção de que o professor medeia o conhecimento ao aluno, sua preocupação está intrinsecamente relacionada à aprendizagem. Tal cuidado está presente em todos os conjuntos de significantes. Além disso, não é uma aprendizagem mecânica ou relacionada ao ensino tradicional (cujos próprios participantes a denominaram de ‘decoreba’), mas fundamentalmente interativa, conforme suscitado por Romanowski (2012). Essa preocupação com a aprendizagem, emergente de um viés crítico de ensino, é expressa em algumas das respostas às questões sobre o “bom professor” e as práticas que ele utiliza:

Auxiliar a aprendizagem do aluno e sua formação como cidadão. (Resposta da questão 1 – questionário 2 – L44).

Um bom professor de Língua portuguesa e de Línguas estrangeiras precisa compreender as subjetividades dos alunos, ou seja, conhecer o contexto social em que os alunos vivem para poder entender quais são as suas dificuldades em relação a aprendizagem da língua portuguesa ou de uma língua estrangeira. [...]. (Resposta da questão 4 – questionário 2 – L131).

O que planeja suas aulas e tem como foco auxiliar seus alunos na aprendizagem. (Resposta da questão 1 – questionário 2 – L134).

Para ensinar língua portuguesa deve-se levar em conta o que os alunos já sabem pois é a língua que eles utilizam, então, a maior atitude será desenvolver as adequações de uso e também tratar sobre o conceito de preconceito linguístico[...]. (Resposta da questão 4 – questionário 2 – L171).

A preocupação dos licenciandos com o processo formativo docente vai ao encontro dos estudos Ferreira, Carpim e Behrens (2010) e Behrens (1996) quanto à compreensão de que a formação de professores é uma etapa inicial da carreira docente e que possibilita o desenvolvimento do saber da experiência a partir da vivência docente, da qual, emerge a noção de bom professor explicitada pelo grupo.

Com relação às compreensões de que um bom professor “sabe ensinar” e “tem didática”, no questionário inicial, nenhum dos licenciandos desse cluster utilizou essas nomenclaturas. No segundo momento da coleta de dados o entendimento sobre “saber ensinar” relaciona-se à mediação docente (G2) com foco na apropriação do conhecimento por parte do aluno (K2), como pode ser observado nas respostas a seguir:

Saber de que forma ele pode facilitar a aprendizagem do aluno. (Resposta da questão 2– questionário 2 – L44).

Saber ensinar significa ter a habilidade de lidar com diferentes formas de aprender. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L134).

Saber ensinar para mim é ter bons métodos, técnicas, para que o aluno se sinta acolhido na sala de aula para que o conhecimento seja construído. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L136).

A noção sobre saber ensinar é convergente nesse grupo e perpassa o plano interpretativo da compreensão de Gauthier et al. (1998). Entretanto, na noção de “ter didática” de um bom professor não há convergência, mas aproxima-se à dimensão técnica explicitada por Candau (1988, 2015) e Farias et al. (2011) majoritariamente, como destacamos nas respostas:

Saber expressar o conhecimento para o aluno de maneira no mínimo compreensível. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L44).

Precisa estar atento a novas metodologias e sempre observar as possibilidades de se ensinar, para que assim os alunos tenham aulas significantes e de maior qualidade. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L111).

Ter didática é ter um feeling aguçado. É conseguir realizar o trabalho de uma forma que o conteúdo chegue nos alunos de uma maneira interessante e clara. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L133).

Planejamento. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L134).

Ter didática é saber reconhecer as fragilidades que uma turma tem para que seja possível a (re)construção do conhecimento. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L136).

Saber que o conhecimento se dá desde a organização até a forma como esse professor vai ‘tocar’ cada aluno dentro de um âmbito imenso de variáveis. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L141).

Para o grupo em questão, as principais contribuições da Didática no processo formativo e ação docente, se referem principalmente à consolidação dos saberes docentes a partir da ampliação da formação e da noção sobre ser professor (A6) e da interrelação que a didática enquanto parte dos saberes pedagógicos possui para a docência (D7). Além disso, como já destacado nas crenças sobre o bom professor, ela contribuiu para ampliar a necessidade da dimensão política no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem (F6):

[...] apresentou uma visão diferenciada a respeito da profissão de professor e das possíveis situações em sala de aula. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L44). [...] a partir das aulas de Didática passei a olhar para a prática docente com uma outra perspectiva e compreender o ensino como um processo de desenvolvimento de potencialidades, no qual professor e aluno são fundamentais para o processo de ensino e aprendizagem. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L131).

[...] eu não fazia ideia do quanto a didática é tão importante para a construção do conhecimento tanto para os professores quanto para os alunos. [...]. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L136).

[...]. Aprendendo as habilidades didáticas e entendendo sobre sua história, o retrocesso ao ensino tradicional se torna praticamente inviável pela sua tamanha ineficiência se comparado ao ensino interacional, dialógico, didático e consciente. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L141).

Em minha prática a didática é extremamente necessária, e me fez ver que ser professor é mais do que aparenta ser. (Resposta da questão 7 – questionário 2 – L134).

Se, inicialmente, a doxa sobre o papel da Didática era que ela contribuía na formação de um bom professor, principalmente associada à ampliação no repertório de estratégias metodológicas e avaliativas, articuladas a uma concepção instrumental, os excertos acima evidenciam o oposto. Os participantes possuem clareza de sua função na consolidação dos saberes docentes (PIMENTA, 2012; TARDIF, 2010; GAUTHIER et al., 1998) numa perspectiva crítica, de que eles não se encerram na formação individual mas, contribuem para o desenvolvimento do professor e do aluno, em uma inovação edificante. (VEIGA, 2009).

As respostas indicam aproximação com a profissão (a partir da reflexão sobre o ensino – objeto de estudo próprio da Didática) e com o contexto escolar, ainda que 33% dos participantes não estavam inseridos nele no momento da segunda coleta de dados. Desse modo, substancialmente os licenciandos desse agrupamento demonstram não somente a preocupação com a mediadora no processo de ensino como também a ressignificação sobre a docência.