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Professor comportamentalista em busca da mediação – cluster 7

4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.2 EM BUSCA DE UMA DIDÁTICA REFLETIDA: A REFLEXÃO

4.2.1 A Didática Refletida a partir da análise dos clusters do questionário final

4.2.1.7 Professor comportamentalista em busca da mediação – cluster 7

O último cluster engloba dez licenciandos das Ciências Humanas e Naturais, dos cursos de Ciências Biológicas (L06, L07, L19, L38), História (L76), Educação Física (L107), Música (L198) e Geografia (L237, L242, L247). Na primeira coleta de dados, eles estavam em cinco clusters diferentes, sendo que 40% deles pertenciam ao “Mediador altruísta”. Os principais significantes elementares emergentes do segundo questionário estão no Quadro 41:

Quadro 41 - Síntese dos significantes do Cluster Professor comportamentalista em busca da mediação

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Bom professor

E1 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 80

G1 Dominar habilidades de ensino 80

D1 Observar, oportunizar a interação e preocupar-se com a aprendizagem 40 H1 Saber diversificar as estratégias metodológicas 40

K1 Estar em constante processo formativo 40

Saber ensinar D2 Conhecer e diversificar estratégicas/técnicas/formas de ensinar 60 Ter didática I3

Buscar facilitar as diferentes formas de aprendizagem procurando que todos

entendam o conteúdo 70

E3 Utilizar (e aprimorar) estratégias e métodos diversificados 50 Práticas do bom

professor

E4 Articular o conhecimento construído ao cotidiano 50 I4 Despertar o interesse a partir da linguagem utilizada 40

Avaliação A5 Com uso de instrumento(s) avaliativo(s) 80

Contribuição da Didática

B6 Conhecer diferentes metodologias, caminhos, técnicas e alternativas para

ensinar 80

A6

Compreensão do processo de ensino-aprendizagem enquanto viés crítico e de situações de sala de aula, pensando no aluno, superando os ensinos tradicional e tecnicista

40 Didática e ação

docente

B7 Favoreceu a relação entre teoria e prática 50

C7 Evidenciou subsídios metodológicos 40

Os significantes sobre o “bom professor” juntamente com suas práticas associadas, de maior frequência estão relacionados ao respeito ao aluno tendo como referência as relações estabelecidas (E1), domínio de habilidades de ensino (G1) e uso de instrumentos avaliativos (A4). Esses, também são doxas incorporadas pelos participantes, pois inicialmente já possuíam um percentual de 60% (para E1 e G1) e 70% (para A4).

Algumas crenças que inicialmente não estavam presentes nas respostas dos licenciandos agora aparecem com percentual intermediário (40% a 50%), mas que contribuíram na constituição do grupo. Essas referem-se a que um “bom professor” se preocupa com a aprendizagem (D1), despertando o interesse (E4), diversificando estratégias metodológicas (H1) a partir do constante aprimoramento formativo (K1).

A denominação “professor comportamentalista” para esse agrupamento advém da análise desses significantes: ele parte da dimensão interpessoal (maior significante) utilizada para firmar o processo de ensino, dentre os quais ele compreende a necessidade de diferentes condicionantes (centrados em sua ação e conhecimento) os quais indicam a “busca pela mediação” (G1, H1, E4, I4), mas ainda estão distante dela pela baixa frequência percentual dessa noção. Essa nomenclatura é ratificada pela percepção da avaliação a qual envolve apenas a menção a instrumentos avaliativos (prova, trabalhos, relatórios, oficinas, entre outros), em sua maioria individualizantes, segundo Mizukami (1986), visam a verificar a aprendizagem.

Com relação ao saber ensinar, os licenciandos responderam que:

[...] deve saber metodologias diferentes de ensinar. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L07).

Ter diferentes maneiras e estratégias de ensino para cada caso. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L19).

O professor precisa saber fazer uso das ferramentas de que dispõem, e saber utilizá- las de forma construtiva, precisa estar consciente da realidade dos alunos e buscar adaptar a forma de ensinar para ser o mais acessível possível a estes. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L76).

Ter as características de um professor profissional. Aquele que leva em conta o ensino propriamente dito, que vai em busca de novas e diferentes formas de ensinar, que se adapta às suas turmas e que auxilia os alunos sempre que possível. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L237).

O bom professor e aquele que busca estar sempre atualizado, que sempre está disposto a esclarecer dúvidas, que abre espaço para os alunos durante as aulas, que diferencia suas aulas ou que mesmo só com um tipo de aula mantém nossa atenção sempre despertando o interesse em apreender. O bom professor e aquele que pensa nos alunos e não só em vencer o conteúdo e até mesmo que não fica querendo provar aos alunos o quão difícil e passar em sua matéria. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L247).

A respeito da noção de ter didática, apresentamos os seguintes excertos:

Saber fazer com que os alunos entendam o conteúdo, por mais complexo que ele seja, sempre dando algum jeito de ensiná-lo. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L06).

Trabalhar de formas diferentes visando um mesmo ponto de ensino, buscando ressaltar as qualidades dos alunos e as diferentes formas de aprendizagem dos mesmos. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L38).

Saber que cada aluno tem sua forma de entender e procurar fazer com que todos entendam, utilizando diferentes técnicas para ensinar um mesmo conteúdo. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L237).

Precisa ser flexível e ter vários métodos para ensinar. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L242).

A crença referente à noção de que um “bom professor” necessita saber ensinar e ter didática não é diferenciada, como recomenda Pimenta (2012). No primeiro questionário a maioria incluiu em suas compreensões a noção de “saber ensinar” nas suas variantes epistemológicas (saber passar, saber transmitir, saber mediar) e nenhum utilizou a nomenclatura ter didática.

Sua compreensão é convergente ao entenderem que em ambos os conceitos existe a necessidade do conhecimento e uso de diferentes estratégias (D2/B3), sendo que o “professor que possui didática” além dessa busca diferentes formas de aprendizagem (I3). Desta descrição observamos uma noção de saber ensinar no plano normativo de Gauthier et al. (1998) que está vinculada à dimensão técnica da Didática, porém com a presença (ainda que sutil, apenas em algumas respostas) do plano interpretativo de refletir sobre a aprendizagem. E, conforme Candau (1988) e Farias et al. (2011), observa-se tanto a dimensão técnica como também a dimensão humana pois, entendemos que o fato de buscar com que todos aprendam a partir de diferentes formas revela que haverá aproximação entre os participantes do processo de ensino- aprendizagem.

A última discussão sobre esse grupo, assenta-se sobre a contribuição da Didática sobre as suas noções a respeito do ensino, a licenciatura e o contato com o contexto escolar, consideramos as seguintes respostas:

Que é muito mais fácil na teoria, na prática surgem situações não planejadas que devemos resolver, e que muitas vezes, podemos esquecer da teoria da didática, mas que de alguma forma, nos ajuda a tomar a decisão para a resolução do problema ou impasse qualquer que seja. (Resposta da questão 7 – questionário 2 – L06).

[...] mostrou que ensinar é complexo, mas que há diferentes maneiras e que podemos aprender todas com dedicação. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L07). Muitas estratégias didáticas se revelam eficazes e muitas vezes não devido o contexto. (Resposta da questão 7 – questionário 2 – L19).

[...] me proporcionou vários pontos de vista e metodologias que podem ser aplicadas em sala. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L38).

A Didática disponibilizou ferramentas que podem ser utilizadas no desenvolvimento do aprendizado dos alunos em sala, contudo, muitas vezes a realidade encontrada dentro das salas de aula, impede ou dificulta a aplicação das mesmas. (Resposta da questão 7 – questionário 2 – L76).

Trouxe uma compreensão diferente da que tinha anteriormente, e fez com que encontrasse novas formas de fazer a mediação, facilitando-a. (Resposta da questão 7 – questionário 2 – L237).

[...] ensinou a como se comportar como professor, como construir o conhecimento junto ao aluno e usar de várias metodologias para isso. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L242).

[...] modificou muito tudo o que pensávamos sobre o ensino além de nos trazer várias formas de pensar as técnicas didáticas e também as formas diversas de ensino. Porém, o que vemos este ano nos estágios e que o sistema engessa cada vez mais o professor de desenvolver uma boa atividade didática entre outras ainda até hoje nas escolas o que vigora e os alunos aceitam melhor são as velhas técnicas de ensino, porém após os conteúdos de didática devemos buscar cada vez mais mudar isso e também ver todos os incentivos que tivemos durante a matéria de didática na faculdade e levar isso para a sala de aula. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L247).

Os principais significantes associados às questões sobre as contribuições da disciplina, dizem respeito à relação entre teoria e prática (B7), a ampliação das estratégias de ensino (B6/C7) e da compreensão sobre o ensino (A6). As duas primeiras, indicam uma articulação entre os saberes docentes com o aprimoramento do saber pedagógico e, inclusive, a valorização da dimensão técnica principalmente, como destacado por L38 e L242. Outros, a partir da Didática destacam o aprimoramento da dimensão humana com a compreensão sobre a mediação e a consciência do papel do professor (L07 e L237). Porém, algumas respostas estão no sentido da denúncia das observações do contexto escolar, evidenciando a importância da dimensão política: L19, L76 e L247 associam o desenvolvimento da relação pedagógica dependente da metodologia, destacando como o contexto de ensino influencia e inclusive a sinalização sobre um sistema de ensino predominantemente tradicional, mas que revela a consciência da necessidade de refletir sobre o viés crítico. (FARIAS et al., 2011; SAVIANI, 2010; VEIGA, 2004; ROLDÃO, 2017).

4.2.1.8 Cluster geral

Nos sete clusters descritos e analisados anteriormente, buscamos refletir sobre os significantes de cada grupo, uma vez que foram constituídos de modo a aproximar as semelhanças entre os licenciandos para a formação de cada agrupamento. Assim, não é possível analisar grupo a grupo suas características comuns, uma vez que, essa não é a proposta da formação de clusters.

Nessa seção, apresentaremos as principais características sobre o bom professor e as influências da Didática para o grupo dos 61 licenciandos. Esses representam todos os

participantes do questionário inicial, uma vez que, há pelo menos dois licenciandos de cada curso de licenciatura e de cada um dos dez clusters iniciais.

Tal qual no cluster geral do questionário inicial, optamos por detalhar as crenças dos licenciandos sobre o bom professor e a disciplina de Didática, tendo como referência aquelas que tiveram um percentual de pelo menos 25% do total de licenciandos. Essas, estão expressas no Quadro 42:

Quadro 42 - Síntese dos significantes elementares do Cluster Geral

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Bom professor

E1 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 50,8

K1 Estar em constante processo formativo 44,2

G1 Dominar habilidades de ensino 42,6

I1 Conectar os diferentes conteúdos e conhecimentos, estimulando a

emancipação do aluno 34,4

H1 Saber diversificar as estratégias metodológicas 31,1 D1 Observar, oportunizar a interação e preocupar-se com a aprendizagem 29,5

Saber ensinar

B2 Possuir habilidades de ensino 32,7

G2 Agir como mediador a partir da construção/produção de conhecimentos,

superando a memorização 27,8

D2 Conhecer e diversificar estratégicas/técnicas/formas de ensinar 26,2

Ter didática F3 Planejar as aulas e ser organizado 32,7

G3 Utilizar as habilidades didáticas 26,2

Práticas do bom professor

B4 Adotar estratégias metodológicas relacionadas à especificidade de sua área 40,9 F4 Adotar estratégias de ensino que privilegiam desenvolvimento da criticidade e

cidadania, superando o ensino tradicional/decoreba 39,3 C4 Compreender, respeitar e preocupa-se com as diferentes necessidades de

aprendizagem 29,5

E4 Articular o conhecimento construído ao cotidiano 29,5

Avaliação

A5 Com uso de instrumento(s) avaliativo(s) 40,9

B5 Um momento de aprendizagem que, enquanto processo que valoriza a

participação 34,4

C5 Um momento ético e planejado para análise do desenvolvimento do processo

de ensino-aprendizagem 29,5

Contribuição da Didática

A6

Compreensão do processo de ensino-aprendizagem enquanto viés crítico e de situações de sala de aula, pensando no aluno, superando os ensinos tradicional e tecnicista

42,6

B6 Conhecer diferentes metodologias, caminhos, técnicas e alternativas para

ensinar 32,7

F6 Ampliação da formação docente e a noção de ser professor 29,5 Didática e ação

docente A7 Importante para a reflexão/formação/desenvolvimento profissional docente 29,5 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

Os significantes evidenciam, a partir da dimensão profissional, a compreensão de que na profissão docente é necessário o constante aprimoramento (K1), de modo a consolidar a noção de que o curso de licenciatura é parte inicial da formação, sendo essa subsidiada pelo desenvolvimento profissional docente. Além disso, o bom professor preocupa-se com a

aprendizagem, o produto impalpável de sua função social, tendo como referência a observação, interação e respeito às diferentes necessidades (D1/C4).

A partir da dimensão didático-pedagógica, o bom professor possui o domínio das habilidades didáticas (G1) de Cunha (1988; 1996), como também a diversificação das estratégias metodológicas gerais (H1), adotando também, aquelas relacionadas à didática específica (B4). Além disso, há a preocupação com a promoção da criticidade, a partir da articulação entre os diferentes conhecimentos (I1/E4) e de estratégias de ensino que primem também pela cidadania (F4) na concretização da emancipação. Outrossim, além de reconhecer diferentes instrumentos avaliativos (A5), a avaliação é um momento ético e planejado (C5) para a aprendizagem (B5), de modo que ela consolida juntamente com os demais significantes o processo didático no entendimento descrito.

Quanto à dimensão humana, os licenciandos ratificam a necessidade do respeito e valorização do aluno (E1) a partir da relação entre ambos. Desse modo, o olhar do cluster geral, contempla três das quatro dimensões emergentes do estado da arte realizado. A dimensão pessoal, a partir do sentimento de realização profissional foi expressiva apenas para o agrupamento “Professor-especialista libertador”. Como o eu pessoal e o eu profissional não se desprendem, valorizar aprimoramento pessoal ou profissional refere-se ao sentimento expresso nas categorias do estado da arte em que as duas dimensões nem sempre estão em paralelo. De modo geral, ara esses licenciandos o sentimento de afeto pela profissão (dimensão pessoal) motiva ao constante desenvolvimento profissional e reflexão sobre sua experiência (dimensão profissional) como num continuum. (NÓVOA, 1992, 2017; IMBERNÓN, 2011; 2016).

Com relação à doxa sobre “saber ensinar” e “ter didática”, mesmo que nos clusters particulares a maioria dos agrupamentos revelasse uma compreensão distinta sobre esses conceitos, de modo geral, observamos que ainda existem aproximações. Isso porque, entendemos que o saber ensinar engloba o ter didática, porém, não quando considerado apenas sob uma de suas dimensões. Ter didática ainda está predominantemente relacionado à dimensão técnica, visto que sobressaem a concepções de planejamento (F3) e habilidades didáticas (G3). Entretanto, ainda que seja valorizado esse viés, ele não conduz ao tecnicismo, uma vez que as habilidades de ensino estão articuladas à mediação. (CUNHA, 1988; 1996, 2006; CANDAU, 1988). A interpretação quanto ao saber ensinar perpassa tanto o plano normativo – possuir habilidades de ensino (B2) e conhecer e diversificar estratégias de ensino (D) – e interpretativo, na ação mediadora do ensino (G2), o qual expressa a valorização dos saberes pedagógicos na concretização do processo de ensino-aprendizagem. (GAUTHIER et al., 1998; PIMENTA, 2012; ROLDÃO, 2007).

A opinião dos licenciandos a respeito das contribuições da disciplina de Didática demonstra que ela ampliou, segundo eles, a compreensão sobre o processo de ensino- aprendizagem sob uma abordagem de ensino crítica (A6). Essa articulação com a leitura de mundo atual, destaca a relação com a dimensão política da Didática Crítica. Além disso, são pontuados os subsídios técnicos relacionados às metodologias de ensino (B6). O viés humano é observado na relação com a abordagem crítica quando os licenciandos destacam a preocupação com “o pensar no aluno”.

Ainda que não sejam mencionados, os participantes reconhecem que a disciplina contribui para a formação docente e o ser professor (F6) de modo que tal compreensão vai ao encontro do exposto por Tardif (2010). O autor destaca a necessidade de um conjunto de saberes da docência, os quais são aprimorados a partir do desenvolvimento profissional docente (A7), noção segundo a qual a Didática também possui papel relevante, quando da discussão e aprimoramento a respeito do ensino e da leitura de mundo em que esse é pensando, planejado, sistematizado e refletido. Na próxima seção, empreendemos em uma análise a partir dos Grafos a respeito das cinco palavras que os 61 licenciandos relacionaram ao ensino e à Didática.