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4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.1 A DIDÁTICA DÓXICA: O OLHAR EMERGENTE DO QUESTIONÁRIO

4.1.1 A Didática Dóxica Consolidada nos Clusters

4.1.1.2 Mediador ambicioso – cluster 2

Nesse Cluster, que abrange 34 licenciandos, há pelo menos um discente de cada curso de Licenciatura, com exceção da História. No Quadro 21, explicitamos os significantes que emergiram como predominantes, a partir da clusterização:

Quadro 21 – Síntese dos significantes elementares do Cluster Mediador ambicioso

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Escolha licenciatura G1 (Despertar a) afinidade com a área 82,3 B1 Pela oferta da universidade ou possibilidade de trabalho/carreira 47

Bom professor

D2 Observar e preocupar-se com a aprendizagem 58,8

B2 Saber ensinar (e suas variantes epistemológicas) 55,8 E2 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 47

G2 Dominar habilidades de ensino 47

Práticas bom professor

A3 Ser um profissional comprometido e em constante formação 38,2

D3 Dominar o conteúdo 35,2

Avaliação

C4 Um momento ético e planejado para análise do desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem

55,8

A4 Com uso de instrumento(s) avaliativo(s) 41,1

D4 Atividade-meio que considera o contexto da turma 35,2 Contribuição da

Didática I5 Ampliar compreensões sobre possibilidades metodológicas e avaliativas 32,3 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

Nesse agrupamento, a contribuição da Didática, assim como no anterior, está relacionada ao aspecto instrumental:

Sim, pois ela ajuda e direciona o professor, de forma que o mesmo trabalhe de forma diferente. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L45).

A didática contribui na construção do ser ‘bom professor’, pois através dela o acadêmico consegue desenvolver as habilidades e métodos necessários para desempenhar suas funções de saber ensinar. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L57).

Contribui em organização e para que a aula seja boa ao ser assistida e não monótona. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L88).

Sim. A didática dá dicas e ensina como dar a aula e ensinar os conteúdos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L171).

Sim, porque a matéria é voltada a aprender a ensinar e isso é de grande importância para os professores na hora de transmitir a informação ou conhecimento, devemos passar de forma que todos entendam. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L201).

Sim, pois a didática nos dá ferramentas para que possamos mediar de maneira mais proveitosa o conhecimento que queremos passar aos alunos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L209).

Sim, quando se entra no curso fica aquele medo de não conseguir ensinar, então ela dá um alívio de ler textos e ver assuntos sobre didática. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L235).

Apesar de sobrevalorizarem os aspectos técnicos do campo, a doxa presente nas respostas revela que a disciplina não apenas auxiliaria com as habilidades de ensino como destaca L88, como também ao tratar das questões do ensino desenvolve no licenciando a ação de aprender a ensinar.

Para esses licenciandos a escolha pelo curso é resultado não apenas da afinidade com a área, mas da oferta da instituição e a oportunidade de ampliar as possibilidades de carreira:

O fato de ter escolhido Licenciatura em Física foi puramente pela Física, pois de início não gostava da ideia de ser professor (Resposta da questão 5, questionário inicial – L45).

Licenciatura não foi o motivo, mas o de produzir a arte. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L65).

O gosto pelo esporte e a facilidade em expressar as ideias. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L102).

Um dos motivos foi aumentar o campo de trabalho, além de aprofundar mais na área. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L125).

Principal área para minha atuação é o bacharelado, porém como tenho que trabalhar o dia todo optei pela licenciatura por ser noturno. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L126).

Não tive outra escolha, pois na área de literatura e línguas não há Bacharelado. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L187).

Pois era a única opção de curso voltado a música. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L199).

Na realidade escolhi a licenciatura por conta do horário, após conhecer melhor o curso me identifiquei, embora eu queira trabalhar na indústria, gostaria de lecionar. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L209).

Gosto da matéria, único curso à noite, ter mais uma opção caso perca emprego na indústria. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L210).

Eu escolhi Lic. Em Matemática, pois a UEPG não ofertava na época bacharelado em Matemática. E também pelos desafios da matemática. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L221).

Esse cluster revela uma característica particular, por isso o denominamos de “ambicioso”, pois ao contrário de outros clusters, a escolha pela licenciatura está pautada em si e não na possível relação com os demais e oriunda de outros, fundamentalmente. Essa é marcada por relação com o horário ofertado pela instituição, ausência de bacharelado ou opção de trabalho (ampliar possibilidades ou secundarização, pois o interesse é na indústria).

Apesar da ambição por uma escolha com interesse em outras possibilidades, que não a docência, a doxa revelada pelos licenciandos que compõem cluster é de um profissional mediador. Este, domina o conteúdo (D3) e sabe ensinar (B2) e, além disso, utiliza das

habilidades e ensino (G2), observando e preocupando-se com a aprendizagem (D2). A dimensão pessoal é valorizada a partir do respeito e valorização do aluno considerando as

relações humanas e afetivas estabelecidas, implicadas pelas habilidades sociais comunicativas e empáticas. O olhar preocupado não apenas com o modo como o ensino é sistematizado, mas com a aprendizagem é ratificado pela utilização de diferentes instrumentos avaliativos (A4) em que a avaliação é um momento ético e planejado (C4), além de uma atividade-meio (D4), considerando o contexto. Por isso, a aprendizagem é entendida sob a ótica interativa de Romanowski (2012) e a abordagem de ensino sob o viés sociocultural, em que o docente é comprometido (A3) e está em constante desenvolvimento profissional. (CUNHA, 1996; DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2001; MIZUKAMI, 1986; IMBERNÓN, 2011; BEHRENS, 1996; OLIVEIRA; BEHRENS, 2014).

O olhar é para si, mas a compreensão é a de que o bom professor medeia a construção do conhecimento, procurando sistematizar o processo didático de Veiga (2004) revelam que apesar da estratégia utilizada para o processo formativo ser para o seu próprio futuro, há uma inconsciente compreensão sobre o papel mediador e a coletividade implicada na ação docente. Essa aparente incoerência de visão da docência também é ratificada pela valorização da dimensão técnica da disciplina, a qual também é superada quando se reflete sobre as práticas (principalmente as avaliativas por eles destacadas) cotidianas, as quais utilizam do aspecto técnico, mas fundam-se no humano e no político.