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Professor teoricamente humanista e cognitivista – cluster 3

4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.2 EM BUSCA DE UMA DIDÁTICA REFLETIDA: A REFLEXÃO

4.2.1 A Didática Refletida a partir da análise dos clusters do questionário final

4.2.1.3 Professor teoricamente humanista e cognitivista – cluster 3

Nesse cluster foram agrupados nove licenciados, sendo um do curso de Licenciatura em História (L83), dois da Licenciatura em Educação Física (L108, L109), três da Letras (L142, L187, L190), um da Química (L216) e dois da Geografia (L246, L253). No Quadro 37, estão detalhados os principais significantes associados a cada questão:

Quadro 37 - Síntese dos significantes elementares do Cluster Professor teoricamente humanista e cognitivista

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Bom professor

D1 Observar, oportunizar a interação e preocupar-se com a aprendizagem 55,5 E1 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 55,5

G1 Dominar habilidades de ensino 55,5

Saber ensinar B2 Possuir habilidades de ensino 55,5

Ter didática K3 Estabelecer relações humanas a partir de habilidades sociais 55,5 Práticas do

bom professor

C4 Compreender, respeitar e preocupa-se com as diferentes necessidades de

aprendizagem 44,4

H4 Valorizar a dimensão interpessoal 44,4

Avaliação

A5 Com uso de instrumento(s) avaliativo(s) 55,5

C5 Um momento ético e planejado para análise do desenvolvimento do processo de

ensino-aprendizagem 44,4

Contribuição da Didática A6

Compreensão do processo de ensino-aprendizagem enquanto viés crítico e de situações de sala de aula, pensando no aluno, superando os ensinos tradicional e tecnicista

55,5

Didática e ação docente

K7 Não respondeu/ Não estava atuando no espaço escolar (em estágio, residência

pedagógica, PIBID, como docente, etc.) 55,5

A7 Importante para a reflexão/formação/desenvolvimento profissional docente 44,4 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

Ainda que esse grupo revele algumas noções associadas à mediação e ao desenvolvimento da relação pedagógica, com a preocupação com a aprendizagem, é o único cluster em que a maioria dos participantes não estava inserida no ambiente escolar. Desse modo, ainda que possuam a consciência da perspectiva mediadora, denominamo-los de “professores”. O complemento do nome associado a esse grupo “teoricamente humanista e cognitivista” advém da preocupação com a dimensão humana e da centralidade da aprendizagem e do aluno e do uso de instrumentos avaliativos, respectivamente. Destarte, compreendem o professor principalmente como um facilitador do que mediador, conforme já pontuou Mizukami (1986) em seus escritos.

As principais compreensões sobre o “bom professor” consolidadas por esses participantes, estão relacionadas ao respeito e valorização do aluno (E1), domínio de

habilidades de ensino (G1) e uso de instrumentos avaliativos (A5). Doxas como a de que um

bom professor se preocupa com a aprendizagem (D1) e as diferentes necessidades dos alunos (C4) e a valorização da dimensão interpessoal (H4) já estavam presentes nas crenças iniciais e apenas foram consolidadas. Um significante que no primeiro questionário não teve grande influência, mas que agora foi expressivo á a noção de que a avaliação é um momento

articulado ao processo de ensino-aprendizagem (C5). Desse modo, é perceptível a preocupação

desses participantes com a aprendizagem, intrinsecamente relacionada à dimensão humana e interpessoal, como também às habilidades sociais particularmente relacionadas à empatia e humildade, conforme destaca-se nas respostas a seguir oriundas da questão sobre as atitudes e práticas do “bom professor”:

Saber contextualizar. (Resposta da questão 4 – questionário 2 – L83).

Conseguir fazer com que todos os alunos participem sem nenhuma exclusão, fazer com que todos aproveitem a aula e ao mesmo tempo aprendam o que é passado. (Resposta da questão 4 – questionário 2 – L109).

Ter humildade, criando um ambiente amigável e acolhedor para o aluno, no qual ele se sentirá bem ao aprender. (Resposta da questão 4 – questionário 2 – L187). Flexibilidade, empatia, humildade. Domínio do conteúdo. (Resposta da questão 4 – questionário 2 – L190).

Saber transmitir o conteúdo, dar bons exemplos, levar os alunos a participarem das aulas. (Resposta da questão 4 – questionário 2 – L246).

A exemplificação de habilidades de ensino (participação, exemplos, contextualização e ambiente) associadas às sociais (humildade e empatia) demonstram o cuidado desses licenciandos com a relação pedagógica no sentido de que a dimensão humana do trabalho docente influencia, nesse caso, não só em ser/tornar-se um “bom professor” como na aprendizagem, uma das preocupações desse grupo, como evidenciado nos significantes (aparece em quatro deles explicitamente). (LOWMAN, 2009; DAY, 2004; LEITE, 2018).

Quanto às noções “saber ensinar” e “ter didática”, a primeira está relacionada principalmente ao plano interpretativo a partir do uso de habilidades didáticas (B2) e a segunda à dimensão humana (K3). (GAUTHIER et al., 1998; FARIAS et al., 2011; CANDAU, 1988). Nas respostas que se seguem está a compreensão sobre saber ensinar:

Conseguir adaptar a aula para todos [...]. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L83).

Fazer com que os alunos entendam a matéria. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L108).

Saber qual é a melhor maneira de os alunos conseguirem aprender, já que cada um é diferente. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L109).

Ele deve saber o conceito teórico, deve saber explicar de forma clara e tentar vincular os conceitos com o dia a dia dos alunos. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L216).

Saber transmitir o conteúdo de maneira clara e objetiva. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L246).

Os participantes explicitam compreensões relacionadas ao uso da linguagem, trato da matéria de ensino e incentivo à participação (CUNHA, 1988, 1996). Nas respostas de L83 e L109 observamos que segundo os acadêmicos, o professor que sabe ensinar se preocupa com a aprendizagem, o que ratifica os demais significantes que também evidenciam a preocupação com o resultado da função social que exercerão. (ROLDÃO, 2017).

Sobre “ter didática” destacamos as compreensões que se seguem:

Saber lidar com as pessoas. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L83). Saber utilizar das habilidades didáticas para dar aula. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L109).

Ter empatia pelo aluno considerando sua realidade e expectativas. Envolver o aluno na construção do conhecimento. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L190). Precisa ter postura dentro de classe e ser centrado. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L141).

Busca por novos métodos de ensinar, novas formas de se transmitir os conhecimentos. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L216).

Ter uma boa interação. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L246).

O professor precisa ser diferenciado, saber transmitir conhecimentos através de técnicas mais eficientes e não monótonas. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L253).

A concepção fundante desse grupo sobre “ter didática” é predominantemente humana, ou seja, baseada na relação entre professor e aluno e nas habilidades sociais descritas por Del Prette e Del Prette (2001). No entanto, percebemos que praticamente não há diferença entre ter didática e saber ensinar, pois, também observamos nas respostas de L109, L216 e L253 a presença das habilidades didáticas de Cunha (1988, 1996), em que diferenciação pedagógica descrita por Meirieu (1998) indica a variação de estímulos e diferentes estratégias de ensino.

Quanto às contribuições da Didática, a maioria não estava atuando no espaço escolar (K7) quando do envio da resposta dessa etapa da pesquisa. Entretanto, segundo os participantes da pesquisa, ela foi relevante para refletir sobre seu processo formativo (A7) e ampliar a compreensão sobre o ensino pautado em um viés crítico (A6), conforme destacamos a seguir:

Clareou os meus caminhos e só tive mais certeza da minha escolha. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L108).

[...] me questionei durante a disciplina inteira que tipo de didática meus professores utilizavam comigo e porque mesmo eles não fazendo nem metade do que eu aprendi ainda assim escolhi a licenciatura. Aprendi muitas coisas que vou levar para a sala de aula [...]. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L109).

[...] me fez aprender a considerar o aluno como foco da aula. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L190).

[...] ensinar não é só jogar o conteúdo para cima do aluno. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L246).

De modo geral a didática contribui em aulas diferenciadas e proveitosas, trazendo resultados positivos e aproximações com os alunos. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L253).

O caráter reflexivo apontado por L109, L190, L246 e L253 demonstram como a disciplina modificou doxas. Na resposta de L108 percebemos que ele também ratificou a crença sobre a docência desse participante. Isso posto, concluímos que os significantes emergentes dessas respostas evidenciam o aspecto político presente na leitura de mundo atual da Didática, tanto em relação à formação como à atuação docente. (PAULO, 1990; RIOS, 2001; COMÊNIO, 2011)