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4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.2 EM BUSCA DE UMA DIDÁTICA REFLETIDA: A REFLEXÃO

4.2.1 A Didática Refletida a partir da análise dos clusters do questionário final

4.2.1.1 Mediador cauteloso – cluster 1

Os licenciandos desse cluster possuem relação com as Ciências da Natureza. Esse grupo, composto por quatro participantes (L15, L16, L50 e L207), os quais cursam Física, Química e Biologia e pertenciam inicialmente aos clusters ambicioso (C2), “por referências” (C4) e sonhador libertador (C10). Além disso, todos já estavam inseridos no contexto escolar, atuando próximo aos alunos e professores da escola (a partir de estágios, residência pedagógica, PIBID, entre outros). No Quadro 35, apresentamos os principais significantes desse agrupamento:

Quadro 35 - Síntese dos significantes elementares do Cluster Mediador cauteloso

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Bom professor

O1 Está preparado para a aula/planeja a aula 75

C1 Ter didática 50

D1 Observar, oportunizar a interação e preocupar-se com a aprendizagem 50

G1 Dominar habilidades de ensino 50

Saber ensinar L2 Adaptar/planejar de acordo com a turma 50

Ter didática G3 Utilizar as habilidades didáticas 100

B3 Mediar o conteúdo, sendo uma ponte entre aluno e conhecimento 50 Práticas do bom

professor

E4 Articular o conhecimento construído ao cotidiano 75 B4 Adotar estratégias metodológicas relacionadas à especificidade de sua área 50 Avaliação D5 Avaliação formativa/Atividade-meio que considera o contexto da turma 50 F5 Adotar múltiplos instrumentos considerando valorações distintas 50 Contribuição da

Didática

D6 Ensina é complexo, possui muitas influências e bases legais 75

H6 Importância do planejamento 50

Didática e ação

docente B7 Favoreceu a relação entre teoria e prática 75

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

No que se refere à doxa que foi consolidada em relação ao questionário inicial, em uma análise comparativa com o agrupamento a que pertenciam, é unânime a compreensão de que um bom professor possui o domínio das habilidades de ensino (G1) descritas por Cunha

(1988, 1996). Outro aspecto que é presente é a preocupação com a aprendizagem (D1). Duas compreensões que se destacam nesse grupo dizem respeito ao bom professor ter didática (C1) e estar preparado para a aula (O1), as quais não estavam presentes nas crenças iniciais. Com relação às práticas desenvolvidas por esse professor, relacionadas à articulação do

conhecimento com o cotidiano (E4) e às estratégias metodológicas da didática específica

(B4), as quais divergem totalmente da doxa inicial (prioritariamente pautadas na dimensão interpessoal desenvolvimento da criticidade). Sobre a avaliação, a doxa que um bom professor a compreende como uma atividade-meio que considera o contexto da turma (D5) ainda permanece, bem como o uso de instrumentos avaliativos (F5), os quais inicialmente estavam relacionados à apenas uma listagem de instrumentos e, agora estão relacionados à necessidade do uso diversificado desses.

A denominação “mediador cauteloso” advém de que esse grupo possui a compreensão da noção de mediação docente, mas ratifica a importância da cautela no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem seja reforçando a importância do planejamento (noção presente em três das sete questões), como também o cuidado com os princípios do viés crítico da educação e a aprendizagem. De modo geral, inferimos que, parte das atitudes dóxicas a respeito do bom professor foi ressignificada, desde em relação aos clusters aos quais pertenciam inicialmente, como propriamente em relação às respostas individuais nos dois momentos da pesquisa. À exceção do licenciando L50, os demais já pertenciam a um cluster que apresentava características relacionadas ao professor mediador, emergente de um contexto de abordagem crítica de ensino. (MIZUKAMI, 1986; SAVIANI, 2012; ROLDÃO, 2009; MEIRIEU, 1998).

A noção de planejamento que representa cautela, pode evidenciar tanto uma articulação não crítica (MARTINS, 2012), como também a operacionalização docente para investir na aprendizagem (MEIRIEU, 1998) considerando a adaptabilidade e formalização das estratégias docentes. Para elucidar tal questão, destacamos as respostas dos licenciados:

Um professor que tem planejamento, sabe adequar a linguagem, abre espaço para interação, presta atenção nas necessidades dos alunos. (Resposta da questão 1 – questionário 2 – L16).

Possuir uma boa didática para concretizar seu plano de aula de forma precisa, que por sua vez deve ser feito com maestria, devendo conter tudo que a aula demanda, eliminando improvisos e diminuindo o risco de imprevistos, tudo isso ajuda a realizar a arte que é ensinar. (Resposta da questão 1 – questionário 2 – L50).

É aquele que ‘sabe’ ensinar, tem didática, pensa em seus alunos, prepara aula voltada especificamente para cada turma. (Resposta da questão 1 – questionário 2 – L207).

O grupo possui clareza que de “ter didática” e “saber ensinar” são distintas, como representado pela resposta de L207 sobre o que é um bom professor, associando a primeira à

noção de mediação (B3) e uso de habilidades de ensino (G3) e à segunda, a noção de

planejamento (L2). Pimenta (2012) compreende que, essa possível similaridade de conceitos

deve ser superada ao longo do processo formativo docente. No que se refere à noção “ter didática”, esse cluster a articula à relação de mediação da relação pedagógica (MEIRIEU, 1998; VEIGA, 2004; SAINT-ONGE, 2007), valorizando em alguma medida as três dimensões dessa noção destacadas por Farias et al. (2011):

Ter a capacidade de adaptar a linguagem a diferentes faixas etárias, a diferentes realidades e conseguir fazer com que o aluno perceba a importância que aquilo pode ter na vida dele. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L15).

É estimular a participação dos alunos, metodologias diferenciadas. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L16).

Ter didática significa ter o conhecimento e a destreza necessária para dominar um conteúdo de forma a conseguir passá-lo a outras pessoas, de forma clara e simples. (Resposta da questão 3 – questionário 2 – L50).

Quanto ao “saber ensinar” o entendimento sobre a adaptação e planejamento ainda que possua conexão com o aspecto técnico a partir do plano normativo definido por Gauthier et al. (1998), também se sistematiza à relação de mediação destacada em Saint-Onge (2007):

Saber ensinar significa planejar de acordo com os alunos nos quais se pretende trabalhar, onde é necessário domínio de diversos conteúdos, não só da disciplina a ser ensinada, fazendo com que o conteúdo será ensinado com a devida maestria. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L50).

Tentar ensinar de um modo que a aprendizagem dos alunos seja efetiva. (Resposta da questão 2 – questionário 2 – L207).

Assim, há diferenças sutis entre ter didática e saber ensinar, porém, a preocupação ainda se aproxima da mediação docente, ora na realização do processo de ensino-aprendizagem, ora no planejamento.

Com relação às contribuições da disciplina bem como a ação docente no ambiente escolar, esse grupo rompeu com a crença inicial de que a Didática era a responsável por formar o bom professor e ampliar o repertório técnico (relacionado às possibilidades metodológicas e avaliativas). Após cursar a disciplina, esses licenciandos compreendem que a Didática teve contribuições em seu processo formativo. Essas foram tanto na dimensão técnica, no sentido da importância do planejamento docente (H6) como a noção de que o ensino é uma atividade

complexa (D6), relacionada à consciência de sua profissão e, particularmente à dimensão

política, articulada à abordagem crítica do ensino. Além disso, a disciplina contribui com a relação entre as discussões teóricas e o contexto da prática (B7), como destacamos nos excertos:

[...] contribuiu porque me mostrou que o ensino não e apenas feito de conteúdos e conhecimento, existem uma série de fatores e ferramentas que o professor deve considerar na hora de atuar como professor para que possa estar sempre aprimorando sua forma de ensinar, e também me mostrou a importância de se fazer um bom planejamento . (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L15).

[...]. Ajudou a compreender melhor o que é ensinar, que é muito mais que apenas explicar um conteúdo. (Resposta da questão 6 – questionário 2 – L16).

Fez com que o planejamento se tornasse algo integrado a aula, fazendo com que a mesma possuísse um aproveitamento muito maior, tanto para o professor quanto para os alunos. (Resposta da questão 7 – questionário 2 – L50).

Em linhas gerais, nesse cluster, ainda que várias crenças tenham se consolidado, a compreensão geral de bom professor transpôs a técnica em detrimento de um viés crítico tanto do ensino como da Didática.