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4. MARCO EMPÍRICO E INTERPRETATIVO: APRESENTAÇÃO E

4.1 A DIDÁTICA DÓXICA: O OLHAR EMERGENTE DO QUESTIONÁRIO

4.1.1 A Didática Dóxica Consolidada nos Clusters

4.1.1.10 Sonhador libertador cluster 10

O Cluster 10 possui predomínio de indivíduos das Ciências Humanas (28), de um total de 41 licenciandos. À exceção dos cursos de Música e Matemática, há representantes dos demais cursos. O Quadro a seguir, destaca os significantes elementares mais significativos desse agrupamento:

Quadro 29 – Síntese dos significantes elementares do Cluster Sonhador Libertador

QUESTÃO SIGNIFICANTES ELEMENTARES %

Escolha licenciatura A1 Pelo significado da docência 56

D1 Possibilidade ou prazer em ensinar 31,7

Bom professor

B2 Saber ensinar (e suas variantes epistemológicas) 65,8

I2 Estimular a emancipação do aluno 58,5

G2 Dominar habilidades de ensino 51,2

D2 Observar e preocupar-se com a aprendizagem 36,5

E2 Respeitar e valorizar o aluno a partir das relações humanas estabelecidas 34,1 Práticas bom

professor

F3 Adotar estratégias de ensino que privilegiam desenvolvimento da criticidade e cidadania

85,3

Avaliação A4 Com uso de instrumento(s) avaliativo(s) 51,2

D4 Atividade-meio que considera o contexto da turma 46,3 Contribuição da

Didática

A5 A formação de um bom professor 39

B5 Auxilia na compreensão da dimensão técnica do trabalho docente 31,7 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de pesquisa.

Optamos pela denominação “sonhador libertador” por esse cluster possuir duas características que em nenhum momento sobressaíram-se nos demais: a escolha pela docência

por conta de seu significado e a perspectiva de que o bom professor contribui para a emancipação do aluno e, em referência à abordagem freireana a qual visava justamente a isso,

entendemos justa essa denominação. (SAVIANI, 2012).

Com relação à noção e práticas do bom professor, além de saber ensinar (B2), é o agente que utiliza das habilidades de ensino (G2), como também utiliza das dimensões

interpessoal e didático-pedagógica. A primeira é evidenciada pelo respeito e valorização do

aluno a partir das relações humanas e, portanto, sociais e afetivas. A dimensão didático- pedagógica do viés sociocultural/libertador funda-se na utilização de estratégias de ensino que contribuem para o desenvolvimento da criticidade e cidadania (F3), as quais colaboram para a emancipação dos sujeitos (I2) e refletem a observância e preocupação com a

aprendizagem, a qual, desse modo, deve ser interativa e, fundada na exploração e regulagem

dessa. Colabora com essa perspectiva: a articulação a esse paradigma inovador, a concepção da avaliação pautada em diferentes instrumentos avaliativos (A4) e como uma atividade processual que deve considerar o contexto. (BEHRENS; PEREIRA, 2011; DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2001; CUNHA, 1996, LEITE, 2018; MIZUKAMI, 1986; ROMANOWSKI, 2012; MEIRIEU, 1998).

Tais noções sobre o bom professor revelam a ótica mediadora de ensino. Entretanto, ainda que compreenda a necessidade da mediação no viés libertador, esse agrupamento é sonhador pela razão da escolha pela docência, a qual envolve o seu significado (A1) – enquanto identificação com a profissão ou um sonho desde criança para realização pessoal – e o prazer por ensinar (D1):

Sempre gostei da profissão, além de querer tornar a ciência mais legal, sem ‘cópias’ do livro. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L16).

Sempre achei divertido e prazeroso ensinar alguma coisa à qualquer pessoa. Amava a Biologia e resolvi juntar as duas coisas, sempre foi minha primeira e única opção de vida. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L23).

Admiro muito a profissão de ser professor, acho que é uma das mais importantes se não a mais. É a base para uma boa educação e assim para um mundo melhor. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L118).

Acho que esta profissão tem o poder de mudar a vida das pessoas para melhor, dando mais conhecimentos e assim mais oportunidades. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L136).

A meta de ensinar, com seus desafios e a vontade de ajudar o próximo a crescer ou enriquecer seus conhecimentos, aprendendo mutuamente. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L169).

Vi que possuía potencial e paixão por ensinar/ ajudar quando auxiliava uma colega surda que não tinha intérprete. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L178). Amor pelo ato de ensinar e também pela Geografia, entendendo que ele faz parte do nosso desenvolvimento sendo necessária em sala de aula. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L236).

Pela vontade de provocar nas futuras gerações o desejo do saber, pela sede de mudança e a simples paixão pela profissão. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L239).

A importância da educação em nossa sociedade; a luta por uma transformação através da educação; a carência causada pelo menosprezo dos governantes que deve ser entendida através do despertar de um conhecimento crítico nos cidadãos. (Resposta da questão 1, questionário inicial – L240).

As respostas descritas, além de ratificar a noção de que a escolha pelo curso foi a partir de uma identificação pessoal pela docência ou particularmente pelo ato de ensinar, também fazem, fundamentado na ótica freireana uma denúncia e um anúncio de sua escolha: L118, L136 e L240 denunciam o descaso pela educação e anunciam que adentram ao campo para colaborar na luta pela emancipação dos sujeitos e consciência crítica.

Com relação às possíveis contribuições da disciplina de Didática, a perspectiva desses licenciandos é de que ela é um subsídio para a dimensão técnica de como agir em sala de aula (B5) além de ser uma característica do bom professor (A5):

Sim. Para que um professor se torne um melhor profissional e saia da ‘mesmice’. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L16).

Sim, para aprimorar sua fala e atitude dentro da sala de aula. Para organizar melhor seus conteúdos do tempo previsto. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L137).

Sim. Porque ela é extremamente necessária para sua atuação dentro da sala de aula e contribuirá muito para formação do seu perfil e como ele será percebido pelos seus alunos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L140).

Sim, pois através dela os professores aprendem maneiras eficazes de se expressar e como se portar em sala. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L205). Com certeza, pois a Didática influi muito na sala, principal ‘arma’ do professor. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L239).

A didática contribui sim para a formação de um bom professor, por dará a eficiência no processo de comunicação entre professor e aluno. Além disso, trará clareza e desenvoltura ao professor e seus métodos. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L240).

Sim. Aprender não só os conhecimentos que o nomeiam um professor, mas como ser, agir e se relacionar como tal dentro de uma sala de aula o faz um bom professor. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L248).

Sim, pois ela vem com um objetivo de fazer com que o docente esteja mais preparado e capacitado para o ambiente escolar. (Resposta da questão 5, questionário inicial – L249).

As assertivas acima, apesar de prioritariamente concentrarem-se sob o aspecto puramente instrumental da Didática – relacionado à adequação ao tempo, metodologias e relação professor-aluno, no sentido de passo a passos para bem fazê-los – destaca a crença de que ela é essencial para os saberes da ação pedagógica. Quando L248 destaca que a Didática contribui para o ser, agir e se relacionar, inconscientemente apresenta uma das dimensões que Cunha descreve: a relação entre o ser e o sentir, o que revela a necessidade da afetividade para o bom professor. Possivelmente, quando L239 menciona que ela é uma arma para o professor, inferimos que seja por conta das habilidade de ensino, o despertar o interesse para o conhecimento, porém nos questionamos: E se a Didática fosse a “arma” para consolidar enfim, o pedagogia libertadora, superando as batalhas entre as abordagens que tanto confundem a formação do indivíduo?