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mobilizar aS forçaS que orientam a dimenSão eSpiritual da exiStência humana

Miguel Mahfoud

5. mobilizar aS forçaS que orientam a dimenSão eSpiritual da exiStência humana

Tenhamos agora em vista possibilidades de ações sociais que ajudem a enfren- tar os problemas reais da vida da cidade com suas características próprias, de modo que as ações não sejam desintegradas nem desintegradoras, e que não sejam construções de artificialidades que acabam por enfraquecer e empo- brecer a força vital constitutiva das pessoas. O que está em jogo é aprender a mobilizar as forças capazes de ancorar ações e tomadas de posição no próprio pulsar da vida. Tomar a força dali, daquele pulsar de vida que todos nós re- cebemos na nossa própria constituição de pessoa, na nossa história pessoal, na nossa vida ancorada em nossas tradições. Autenticamente ancorados no mundo da vida compartilhada, podemos nos posicionar nele de modo que a vida possa continuar a fluir de maneira construtiva, enfrentando os riscos de desintegração.

No discurso à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unesco), João Paulo II (1980), acentuou a:

Necessidade de mobilizar todas as forças que orientam a dimensão espiritual da existência humana e dão testemunho da primazia do espiritual no homem – do que corresponde à dignidade da sua in- teligência, da sua vontade e do seu coração – para não sucumbir de novo à monstruosa alienação do mal coletivo que está sempre pronto a utilizar as potências materiais na luta exterminadora dos homens contra os homens, das nações contra as nações.

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Assim, podemos fazer uso do mundo para a realização do destino da pes- soa e da comunidade. Para dar atenção à dinâmica vital-espiritual mais simples e sutil é necessária a contemplação, e a ação dela decorrente, a fim de colher a unidade íntima entre os diversos elementos da vida social e pessoal, como também os elementos integrados de toda a realidade – como entre a bolha de sabão, o cristal, a montanha, a pessoa e a sociedade (stein, 1999a, 2003).

Surpreendentemente, a disponibilidade de acolher essa unidade íntima nos põe em quietude, ancorados na própria experiência, enraizados em nossa própria cultura, de maneira que nossa ação e tomada de posição sejam a par- ticipação na vida que está acontecendo. Nessa tomada de posição podemos admirar a estabilidade da montanha e o horizonte infinito diante de nós; pode- mos permanecer perplexos diante da bolha de sabão que de um instante para outro se desfaz, admirados de nossa própria vida ter continuidade pessoal de um instante para outro; e na consciência de que também nossa vida se desfará, de um instante para outro, podemos autêntica, e continuamente, interrogar- -nos: e essa comunhão íntima com toda a realidade, como há de permanecer? O cultivo da admiração do mistério do existir pode nos tornar mais humanos, mais nós mesmos. Pode nos tornar atores sociais mais constru- tivos. Pode nos tornar mais gratos pela vida, pela vida acontecendo: não é nossa, dela participamos – por graça.

Miguel Mahfoud

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo, com estudos de pós-doutorado na Pontifícia Universidade Lateranense (Roma). Professor Associado do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (1996 - 2016). Fundador e Editor Sênior da revista Memorandum: Memória e História em Psicologia. Membro do LAPS UFMG - Laboratório de Análise de Processos em Subjetividade. Pesquisa e publica nas áreas de memória coletiva, psicologia e cultura, experiência religiosa, fenomenologia. Membro do Comitê Editorial da Coleção “Obras de Edith Stein” da Editora Paulus. Contato: mmahfoud@yahoo.com

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capítulo 2

Democracia e descentralização