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4.1 A aprovação do PNAISM no CNS

4.1.3 A construção Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) e a

4.1.3.3 Monitoramento da PNAISM pelo movimento feminista

No que tange ao monitoramento da PNAISM pela Cismu, verificamos que a comissão manteve esse ponto de pauta em todas as suas reuniões, desde a aprovação da PNAISM, no entanto aconteceram somente quatro reuniões desde o lançamento da PNAISM, em 2004, até a apresentação da PNAISM no CNS, em março de 2006. Dessa monta, uma das ocupações foi agendar essa apresentação no CNS.

Nessas reuniões da Cismu, o destaque para o PNAISM ficou concentrado no acompanhamento das normas técnicas que foram aprovadas, e citadas, no item anterior. As ações do comitê de acompanhamento e apoio à suspensão da exigência do boletim de ocorrência sobre estupro em caso de gravidez decorrente dessa violência gerou mobilização e manifestação favorável ao MS e ATSM. O Pacto de Redução de Mortalidade Materna, do qual muitas integrantes da Cismu também participavam, neste período; e a questão da antecipação do Parto por Anencefalia que a Cismu levou ao Pleno de CNS, e que gerou um debate de qualidade, de grande repercussão, e uma resolução favorável a proposta das feministas, questões que a comissão também levou até o Pleno do CNS.

Além dessas questões, aprofundou o debate e fez sugestões sobre os impactos da PNAISM na nova política de saúde da adolescente, bem como a preparação do Seminário de Modelo de Assistência, Gênero e saúde da Mulher, que aconteceu em 2007. Além desse acompanhamento da PNAISM pela Cismu, verificamos que o monitoramento da PNAISM pela Rede Feminista que se apresentou como um instrumento importante já que se trata de uma ação coletiva transnacional. Segundo nossa entrevistada 8,

a Rede Feminista promove um monitoramento internacional das políticas de saúde da mulher, porque tem tradição no monitoramento internacional, desde a Conferência Internacional de Desenvolvimento de População (CIPD), no Cairo, em 1994, que a Rede Feminista conquistou condições para monitoramento de Cairo +5, Cairo +10, Cairo +15, e depois o Cairo +20. (8ªentrevistada). E ainda

o tema monitorado é sempre o da atenção integral. No processo de Monitoramento da Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação de 2002, 2007 e 2012, nós monitoramos a

PNAISM, no que ela estava sendo ou não cumprida. (8ª entrevistada).

Anteriormente, apresentamos os depoimentos sobre os recursos financeiros que a Rede Feminista captou nacional e internacionalmente nos anos 1980 e 1990. Esses relatórios internacionais sobre a PNAISM também são resultado de mobilização internacional da Rede Feminista, que é reconhecida pela sua capacidade de pesquisa e demonstração dos resultados sobre a saúde da mulher no Brasil, em articulação com redes latino-americanas e outras articulações junto às Nações Unidas, como a Plataforma DhESC.

Assim, os relatórios da Rede Feminista demonstram a existência de uma política nacional de saúde da mulher, o que não significa que essa política esteja sendo executada. Os principais pontos de monitoramento são oriundos da Conferência do Cairo, 1994, e são: morte materna, violência, em especial violência sexual, contaminação de mulheres por HIV, sempre com foco na atenção integral.

Para a 8ª entrevistada,

foi a Rede Feminista que construiu, na América Latina, o discurso da integralidade, o movimento latino-americano de mulheres, e caribenho, reconhece que foi o movimento feminista brasileiro que introduziu em toda a região a linguagem da integralidade na atenção a saúde das mulheres, existe um reconhecimento e o próprio movimento internacional, por exemplo, a Rede Mundial de Mulheres pelos Direitos Reprodutivos, [...] concorda que é um conceito cunhado pelo movimento feminista brasileiro a partir da década de 80 (8ª entrevistada).

Assim, o monitoramento, desde 1994, acontece a partir dos marcos de atenção integral à saúde, e para a 8ª entrevistada,

pra nós sempre foi assim, um ouro da nossa comunicação e das nossas estratégias, e eu acho que isso se expressa tanto dessa questão internacional quanto na construção da linguagem, porque nós aprendemos também ao fazer o monitoramento internacional que você monitora conteúdo e linguagem, isso é monitoramento internacional de direitos humanos e que todas as vezes que a gente perde na linguagem, a gente perde no conteúdo. (8ª entrevistada). Para a avaliação dessa ação, consideramos Tarrow (2009) em sua análise sobre

“os repertórios de confronto, detidamente no tipo básico de que oferecem três tipos básicos de ação coletiva: violência, ruptura e convenção. [...] a convenção, que “ , tem a vantagem de criar rotinas que as pessoas e que as elites irão aceitar ou até facilitar” . [...] Sobre o repertório de confronto , “ a ruptura é a fonte de grande parte da inovação no repertório e do poder em movimento, mas é instável e gera violência ou se torna rotinização na convenção” [...] “e os movimentos que defendem a ecologia, os direitos civis e o feminismo combinam desafios, de solidariedade e incerteza em seus protestos. (TARROW, 2009, p. 138).

Portanto, esse processo de monitoramento que passa pelos projetos que a Rede mantêm com recursos públicos nacionais ou internacionais segue um roteiro público e negociado, o que significa que os relatórios não mudam de rota diante de um ou outro governo. Quando a política de saúde da mulher está desagregada do marco de atenção integral, é motivo de alerta, visto que o marco de integralidade e direitos sexuais e reprodutivos rege essa ação.

Ao mesmo tempo, esses relatórios podem servir de referenciais para possíveis diálogos e construção de consensos em espaços públicos como os conselhos de saúde, afinal, a participação institucionalizada tem apoio das feministas que estão nos movimentos e nos cargos de comando dos governos.

Deste modo, essa ação de monitoramento é uma ação estratégica que pode gerar e permanecer como estratégia de mobilização na defesa da atenção integral à saúde da mulher, e faz parte das performances de ação política da Rede Feminista.