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O município de Maxaranguape localizado no litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte possui uma área de 131 km2 na qual vivem 8.001 habitantes, sendo 4.130 homens e 3.871

mulheres, dos quais 3.017 vivem na área urbana e 4.984 na área rural, o que corresponde a 62% da população. (IBGE, 2000).

A sede do município está localizada junto à foz do rio Maxaranguape que deságua no mar formando uma linda paisagem. Outras praias fazem parte do território do município, dotando-o de belezas naturais que exercem forte atração turística: Muriú, Jacumã, Caraúbas, Maracajaú. Limita-se ao norte com Rio do Fogo e Oceano Atlântico; ao sul com Ceará-Mirim; ao leste com o oceano Atlântico e ao oeste com Pureza, Rio do Fogo e Ceará-Mirim.

Os principais produtos agrícolas do município são: banana, coco-da-baia e manga. Existe um pequeno rebanho bovino (3.836 cabeças) destinado à produção de leite e ao corte. Parte dos produtos se originam da agricultura familiar, que nos finais dos anos 1990 foi ampliada com a implantação de novas áreas de assentamento rural: Novo Horizonte II (1.208 ha e 61 famílias), Vale Verde (382 ha e 40 famílias), Nova Vida II (1.200 ha e 100 famílias) e São José de Maxaranguape III (405 ha e 38 famílias). Além dos assentamentos citados, há no município o assentamento São Lourenço (60 ha e 38 famílias), implantado na década de 1980, pelo Instituto de Terras do Rio Grande do Norte (ITERN), na gestão de Geraldo Melo.

Apesar das potencialidades, o município não conta com um planejamento estratégico para seu desenvolvimento que busque o equilíbrio entre a eficiência econômica (com a melhoria da qualidade de vida da população local) e a preservação do meio ambiente. Com isso, as atividades econômicas, sociais e culturais não são devidamente articuladas, causando graves distorções. (CEAHS, PROJETO “RIO MAXARANGUAPE: FORTALECENDO A ORGANIZAÇÃO DE BASE, CUIDANDO DO RIO E MATANDO A FOME”, 2004)

Verifica-se a exploração desordenada e predatória dos recursos naturais nas atividades turística, de pesca e agrícola, colocando em risco a sobrevivência das gerações futuras. A pesca predatória tem ocasionado a redução dos cardumes, e principalmente da lagosta, colocando o setor pesqueiro em crise e mergulhando as famílias de pescadores em dificuldades financeiras. Apesar de dinamizar a economia local, o turismo vem acompanhado da poluição das praias, rios,

lagoas e dunas da bela paisagem do município, além de estimularem a prostituição juvenil e o uso de drogas, da mesma forma que vem ocorrendo em outras áreas do Nordeste onde o turismo é desenvolvido, expressões que têm se diversificado no campo e incorporado, além da concentração da terra, várias atividades econômicas.

Nas atividades agrícolas também são identificadas ameaças ambientais e sociais, como o uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras, prejudicando os solos e as pessoas, e poluindo o meio ambiente. A retirada da mata ciliar das margens dos rios e riachos provoca o assoreamento dos seus leitos e outros danos ao ecossistema da Bacia do Maxaranguape. Esta bacia ocupa uma superfície de 1.010,2 km2, correspondendo cerca de 1,9% do território estadual, abrangendo dois municípios da região: Pureza e Maxaranguape. (CEAHS, PROJETO “RIO MAXARANGUAPE: FORTALECENDO A ORGANIZAÇÃO DE BASE, CUIDANDO DO RIO E MATANDO A FOME”, 2004)

O desenvolvimento econômico não tem proporcionado a redução das desigualdades sociais, concentrando a renda gerada e o poder político. Com isso, a maioria dos homens e mulheres do município permanece excluída das condições dignas de vida. O município apresenta um baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 0,392, bem abaixo da média do Rio Grande do Norte (0,668) e do Brasil (0,830). (IBGE, 2000)

Em Maxaranguape, dos 41 estabelecimentos agrícolas, a agricultura familiar corresponde a 48,8% do total (20 estabelecimentos), com uma área de apenas 148 ha (2,7% do total); já a agricultura patronal, com 51,2% dos estabelecimentos, possui 5.344 ha, isto é, 97,3% da área total, confirmando a concentração fundiária e econômica na região. (IBGE, 2000).

O município de Maxaranguape está localizado entre dois pólos da região do Mato Grande: Touros e Ceará-Mirim, onde historicamente os/as trabalhadores/as rurais desenvolveram importantes lutas por terra e por direitos. Maxaranguape, por sua vez, não possui uma tradição de

lutas pelo acesso a terra, mas sim um processo de negociação entre proprietários fundiários, trabalhadores/as rurais de municípios vizinhos e o Estado. Assim, vem se constituindo como uma expansão das lutas desencadeadas nos pólos referidos acima. Foi através de negociação com os proprietários de terra de Maxaranguape, que os trabalhadores/as rurais acampados na Fazenda Vale da Esperança, conquistaram os Assentamentos Nova Vida II e Novo Horizonte II, foco dessa pesquisa.

As áreas de assentamento do município poderiam ser alternativas eficazes para a dinamização da agricultura familiar com a conseqüente melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. No entanto, os diagnósticos realizados pelo CEAHS constataram que as famílias assentadas carecem do apoio necessário para desenvolver a produção: crédito agrícola apropriado às suas necessidades; assistência técnica e gerencial; infra- estrutura para produção, beneficiamento, armazenamento e escoamento dos produtos; e apoio na comercialização. Apesar de conquistarem terra e moradia, essas famílias enfrentam problemas para a satisfação de necessidades básicas como água, saneamento básico, destino e tratamento do lixo, educação e assistência à saúde, entre outras.

Um dos desafios a serem enfrentados é o fortalecimento da organização dos trabalhadores/as rurais para implementação da construção de um plano de desenvolvimento local sustentável, de forma participativa. Além da capacidade de organização e mobilização da sociedade civil, é preciso que haja o comprometimento do governo local com as demandas dos assentamentos rurais a fim de garantir sua viabilidade. Deve-se reconhecer, no entanto, que no município já existe uma base de organização popular com várias associações comunitárias de produtores/as familiares, de assentamentos rurais, Colônia de Pescadores, Sindicato de Trabalhadores Rurais, grupos de mulheres e de jovens, entre outras. Porém é valido ressaltar que

esses sujeitos ainda não têm conseguido enfrentar os interesses das elites locais de forma mais eficaz para garantir o acesso as políticas públicas.

Nessa perspectiva, o resgate do cenário e da luta pela terra na região do Mato Grande e nos dois municípios envolvidos no conflito agrário em análise, feito até o momento, oferece elementos de reflexão da memória do acampamento Vale da Esperança bem como do significado da luta pela terra para as mulheres trabalhadoras rurais.