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A região conhecida popularmente como Mato Grande50 está situada em duas zonas

homogêneas do Estado: Litoral Norte e Litoral Oriental (subzona de Ceará-Mirim). Estas duas zonas atingem um conjunto: Litoral Norte; subzona de João Câmara (Afonso Bezerra, Angicos, Caiçara do Norte, Fernando Pedrosa, Galinhos, Jandaíra, Jardim de Angicos, João Câmara, Lajes, Parazinho, Pedra Grande, Pedra Preta, Pedro Avelino, São Bento do Norte) subzona de Touros (Poço Branco, Pureza, São Miguel do Gostoso, Taipu e Touros); Litoral Oriental, subzona de Ceará-Mirim (Ceará-Mirim, Maxaranguape, Rio do Fogo, Extremoz e São Gonçalo do amarante).51

A zona homogênea do Litoral Norte está localizada no nordeste do Rio Grande do Norte, ocupando uma superfície de 8.484 km² que corresponde a 16% do território estadual. Sua população sofreu os efeitos da urbanização nas duas últimas décadas, conforme dados do IBGE (Censo Demográfico 2000). Em 1980, havia um contingente de 131.529 mil habitantes e representava 7% da população estadual, com uma distribuição de 41,75% na área urbana e 58,25 na rural. No ano 2000, a população atingiu um número de 168.776 pessoas, correspondendo a 54,52% vivendo nas cidades e 45,48 no campo.

Esta região apresenta posição geográfica de fácil acesso, visto que é servida de três grandes rodovias: a BR-304, que corta o Estado, passando pela segunda maior cidade (Mossoró), até o Estado do Ceará; a BR-10152, prolongada até o município de Touros, em 1998, ligando o

50 O termo “Mato Grande” designa uma porção mais a nordeste do estado do Rio Grande do Norte, em virtude da

existência de uma grande parte da Mata Atlântica, predominante na área, no período colonial.

51 Como a maior parte do Mato Grande está situada na zona homogênea Litoral Norte, a referência da região se

deterá prioritariamente sobre esta zona, a qual já possui um Plano de Desenvolvimento Sustentável. Será feita referência, também, à zona homogênea Litoral Oriental (subzona de Ceará-Mirim).

52 A BR 101 se tornou o grande eixo de integração nacional. Partindo do Rio Grande do Norte, atravessa o País até o

Rio Grande do Norte ao sul do país e a BR-406, que alcança a cidade de Macau. Dentre seus municípios, existem quatro pólos comerciais, jurídicos e financeiros que dão sustentação à região do Mato Grande: Ceará-Mirim; João Câmara; Touros e Lajes. No que se refere ao clima, há uma predominância de árido e semi-árido, tendo suas atividades agropecuárias dependentes do regime pluviométrico. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ZONA HOMOGÊNEA DO LITORAL NORTE, 2002)

Apesar do clima, o Litoral Norte apresenta uma diversidade de perfis ecológicos, com solos de média e alta fertilidade, presença de aqüíferos subterrâneos com abundância de água, intensa luminosidade, favorecendo a implantação de cultivos irrigados, sobretudo frutas tropicais. O município de Touros se destaca com a maior área irrigada, em torno de 2000 hectares, com uma pauta voltada para o mercado estadual. Também nos municípios de Jandaira e João Câmara, diversas propriedades cultivam frutas de forma irrigada, além de hortaliças e forrageiras, com água captada por poços tubulares, perfurados no calcário. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO LITORAL NORTE, 2002)

A base econômica da região é a agricultura, a pesca e o turismo. A derrocada da cultura do algodão e do sisal (agravadas pela conjuntura do mercado externo, pautado na lógica da competitividade e da qualidade) mergulhou a região num quadro de estagnação econômica que perdura até o momento. Atualmente a economia local se assenta na pecuária, especialmente na ovinocaprinocultura e a bovinocultura; e na agricultura, com o caju e as culturas de subsistência e, por fim, a pesca artesanal e a carcinicultura. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ZONA HOMOGÊNEA DO LITORAL NORTE, 2002).

nota-se um maior investimento dos grupos econômicos na região, dadas suas condições favoráveis de locomoção e transporte da produção agropecuária e de mercadorias em geral, propiciando inclusive a expansão dos negócios turísticos.

Em relação ao PIB, a região apresentava um PIB per capita de U$ 984,00 em 1980, passando para U$ 1.059,63 em 1996, acusando um crescimento de 7,7% em 16 anos, enquanto o estado ganhou um incremento de 27,2%, no mesmo período. Internamente, a Subzona de João Câmara apresentou uma retração de 5% no seu PIB e a Subzona de Touros um crescimento positivo de 25,3%, nesses 16 anos.53

A pesca artesanal marítima é outra tradicional atividade econômica da região do Mato Grande, com destaque para os municípios de Galinhos, Caiçara do Norte, São Bento do Norte, Touros, Pedra Grande e São Miguel do Gostoso. Só nesses municípios o número de embarcações atinge 919 unidades, com um total de 4.704 pescadores. Os municípios de Caiçara do Norte e São Bento do Norte formam o principal pólo produtor de “voador”, peixe de grande aceitação popular.

A estrutura fundiária da zona do Litoral Norte apresentava em 1970 um total de 10.500 estabelecimentos rurais que ocupavam uma área de 674.744 hectares, onde 91,2% representavam áreas de até 100 hectares, perfazendo um percentual de 16,4% da área total. Isso revela o grande percentual de pequenos estabelecimentos, a maioria localizada no semi-árido, com limitações de terra e água. Nas áreas de 100 a 500 ha, 7% dos estabelecimentos ocupavam 23,3% do total; enquanto que as áreas de 500 a 1.000 ha representavam 1% dos estabelecimentos, abrangendo 11% das terras. O grupo que detinha estabelecimentos acima de 1.000 ha ocupava uma área de 49,6% das terras.54 Esse último dado demonstra a concentração de terras nessa região. Esses índices expressam, em âmbito local, a tendência nacional de concentração de terra e renda no país.

53 Dados do IBGE e IPEA (1996).

O Censo Agropecuário de 1995/1996 (IBGE) mostrou uma redução de 16,9% no total dos estabelecimentos da zona, que caiu para 8.738, tendo essa redução ocorrido, principalmente nas áreas abaixo de 100 ha (16,8%). Nas áreas de 101 a 500 ha e de 501 a 1.000 ha, não houve alterações, permanecendo o mesmo percentual de 1970. Entretanto, ocorreu uma alteração nas áreas acima de 1.000 ha, que de 121 estabelecimentos em 1970, passou a 111 fazendas (8,3%) em 1995/1996, acompanhado pela redução de 27,1% das suas terras. Nota-se que houve uma modificação na estrutura fundiária, fato que se deve, em parte, a efervescência política dos movimentos sociais rurais, na luta pela posse da terra, nesse período de 25 anos, gerando uma série de assentamentos rurais.55

Não é por acaso que essa região apresentou um significativo processo de luta, organização e resistência de trabalhadores envolvendo as categorias de posseiros, pequenos proprietários, agricultores sem terra, etc, de onde emergiu o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais. É nesse cenário que Touros se destacou como o município de maior número de conflitos agrários, ocorridos nas décadas de 1980 e 1990. “A especulação fundiária detonada pelo aporte de políticas oficiais atraindo grupos econômicos e empresários individuais dá lugar a um crescente processo de grilagem das terras de posseiros – categoria expressiva em muitas áreas do município”. (ARAÚJO, 2005, p.59). Por outro lado, é nesse município que surgiram e se desenvolveram importantes lutas sociais com participação significativa das mulheres, como será analisado a seguir.

55 Entre os dois censos citados, o número de proprietários cresceu 25,7% e a área dos estabelecimentos teve uma

redução de 8,6%, o que indica um aumento de acesso a terra. Entretanto, não alterou em profundidade a estrutura fundiária e a concentração da terra. Em relação aos ocupantes, segundo o censo de 1970 representavam 33,5%. Em 1995/1996 foram reduzidos a 2,3%. Esses dados do IBGE (1996) indicam a intensa migração dos ocupantes, em virtude do processo de expropriação e expulsão desencadeado na década de 1970 e início de 1980, impulsionado pela modernização da agricultura brasileira.