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3.1 – O Assentamento Novo Horizonte II: Características Gerais

O Novo Horizonte II está localizado entre os municípios de Maxaranguape e Ceará- Mirim, na microrregião Litoral Nordeste, estado do Rio Grande do Norte, às margens da BR 101. Entretanto sua maior parte está situada em Maxaranguape, como consta no mapa anexo. Possui uma área de 1.208 hectares distribuídos entre 60 famílias oriundas da ocupação da fazenda Vale da Esperança e vindas dos municípios de Touros (32%), Rio do Fogo (16%), Ceará-Mirim (6%), Maxaranguape (2%) e outros do Estado (28%).

Quando as fazendas Cruzeiro do Sul e Cruzeiro do Norte foram desapropriadas, os/as trabalhadores/as rurais já as receberam com algumas benfeitorias: uma produção de coco numa área plantada de 245,10 hectares e uma produção de banana com 62,20 hectares; dois galpões, 14 casas; sete poços tubulares, embora apenas um em funcionamento para o consumo humano. A área de Novo Horizonte II apresenta bom potencial agrícola, comprovado pelas culturas do coqueiro e bananeira implantadas com uma boa produtividade. As culturas de milho, feijão, coco

e banana dão boa produção nessa área, que apresenta também potencialidade para exploração pecuária de médio e grande porte.

No que se refere à sua potencialidade hídrica, as fazendas são cortadas pelo rio Maxaranguape, com regime fluvial de março a setembro, formando a bacia hidrográfica do Trairi, e pelo rio Riachão. Possuem sete poços, sendo que apenas um em condições de funcionamento, que serve para abastecer a agrovila. Há também duas lagoas naturais, bem próximas ao assentamento.

A desapropriação das fazendas Cruzeiro do Sul e Cruzeiro do Norte, ocorrida no dia 13 de maio de 1998, resultou de um processo de negociação e significou a conquista, realização e segurança de moradia e trabalho para as famílias que participaram da ocupação. A negociação para a desapropriação das fazendas de Maxaranguape se procedeu através de várias reuniões com o INCRA, com o fazendeiro e com a comissão dos trabalhadores rurais e suas entidades de representação e aliadas. Acertada a compra das fazendas pelo INCRA para assentar 60 famílias do conflito Vale da Esperança, as famílias puderam ser transferidas para uma área próxima à sede da fazenda de Maxaranguape, onde se mantiveram até a imissão de posse e a construção das casas. No dia marcado para a saída da fazenda Vale da Esperança, as famílias ainda estavam sendo vigiadas pela polícia de Touros e pelos prepostos do fazendeiro. Organizaram os caminhões e seguiram em direção a Maxaranguape. Ao chegarem às fazendas Cruzeiro do Sul e Cruzeiro do Norte, foram recebidas pelo fazendeiro, que indicou onde poderiam se instalar e dar início à construção do assentamento. Nesse mesmo dia receberam a visita da polícia de Maxaranguape que as intimou a se retirarem da propriedade, pois ainda não tinham conhecimento de que a fazenda estava em processo de desapropriação. O depoimento abaixo reflete a reação dos trabalhadores/as rurais ao chegarem à fazenda e a acolhida do proprietário das terras.

A gente chegou aqui nessa fazenda tudo desconfiado, pela estrutura que a gente viu. Fazenda boa, com rio permanente, com duas culturas permanentes, que é o coco e a banana, 58 hectares de solo fértil, com energia instalada, com as casas havia alguns moradores, uma casa sede com uma estrutura assim mais ou menos e a gente chegou desconfiado. A gente chegou umas 5 horas da manhã. Uma média de 8 pra 9 horas chegou a polícia de Maxaranguape pra despejar nós novamente, se oferecendo ao proprietário que ele disse que tirasse nós dali que nós era uns baderneiro, que nós num queria a terra, nós queria era fazer bagunça e o proprietário respondeu pra ele que daqui da fazenda Cruzeiro do Sul e Cruzeiro do Norte, que é onde nós tamo assentado hoje, que essa terra que a polícia não tinha nada a ver com a terra dele e nem com o acampamento, com a nossa chegada. (Chico, assentado, entrevista realizada em sua casa no assentamento Novo Horizonte II, em 03/04/2004)

Até a imissão de posse há um período de transição no qual as famílias tiveram que montar os barracos numa área próxima à estrada e ao rio Maxaranguape. O processo de construção do assentamento envolveu outros atores, entre os quais destaca-se o INCRA órgão responsável, no âmbito do Estado, pelo processo de construção dos projetos de assentamentos. Inicialmente o INCRA realizou o cadastramento das famílias a serem assentadas, paralelo ao processo de compra e venda da terra.

Enquanto aguardavam a imissão de posse, os trabalhadores rurais tinham como estratégia de sobrevivência a colheita de bananas de primeira qualidade para o antigo proprietário em troca da apropriação das de qualidade inferior. A comercialização coletiva das bananas garantiu o sustento das famílias até a imissão de posse e o parcelamento da terra. Nesse ínterim, construíram uma associação provisória representativa de todos/as os/as assentados/as, com o objetivo de regulamentar as relações sociais entre eles e administrar a venda das bananas. Essa associação não foi registrada em cartório, mas tinha um regimento interno.

Após a imissão de posse (ocorrida em 23/07/1998), deram continuidade à experiência de comercialização coletiva das bananas e cocos da propriedade. Após cada venda da produção, o dinheiro era entregue à direção da associação provisória que fazia uma assembléia geral para dividir e distribuir o lucro igualmente para todos. Essa prática permaneceu por quase um ano,

tempo que durou para que o INCRA procedesse ao parcelamento da área, em lotes individuais. Essa experiência se desenvolveu de forma satisfatória até começarem os conflitos internos que dividiram as famílias, desembocando na descontinuidade da comercialização coletiva.

No momento de construção do assentamento, o INCRA exigiu algumas condições. Entre as quais destaca-se a constituição e formalização de uma associação comunitária. Esta funcionava como a instância que garantiria o acesso aos projetos produtivos; aos créditos e aos projetos de infra-estrutura como um mecanismo inerente ao processo de constituição e desenvolvimento do assentamento.

O processo de construção do assentamento envolveu diversos personagens, em especial o Estado, através do INCRA. Nesse sentido, após o momento da imissão de posse, faz parte da política de reforma agrária assegurar aos trabalhadores rurais os primeiros créditos de implantação do assentamento. Desta forma as famílias assentadas em Novo Horizonte II tiveram acesso aos seguintes créditos: alimentação - distribuição de cestas básicas para as famílias assentadas durante seis meses. O crédito fomento agrícola, com o qual os trabalhadores rurais adquiriram um trator de médio porte, implementos agrícolas e telhas para melhoria dos barracos, até a conclusão da construção das casas. A topografia da área para definição da localização da agrovila, realizada pelos técnicos do INCRA. E o parcelamento da terra, ou seja, divisão da área agricultável em lotes por família.

O crédito habitação consistiu na construção da agrovila – as casas e sua iluminação. Esses foram momentos bem participativos, onde os trabalhadores rurais puderam opinar, conhecer melhor a área e discutir suas demandas com os técnicos do INCRA. Esse crédito foi liberado no segundo semestre de 1999 e constou de um processo de debate com as famílias sobre a localização da agrovila, a planta, a área física de cada casa, a compra de material e o trabalho em multirão, realizado por todas as famílias. O recurso foi liberado em duas parcelas, a primeira, de

R$ 1.800, para a construção das casas sem reboco e cozinha. Após a conclusão das casas, os trabalhadores rurais, que tinham aprendido a lutar por direitos básicos, empreenderam um processo de reivindicação, junto ao INCRA para obter a segunda parcela, que possibilitasse construir uma casa em condições habitáveis. Nesse sentido, desencadearam um processo de negociação com o INCRA, que liberou a segunda parcela (R$ 700,00). Entretanto, a quantia ainda era insuficiente para concluir a casa, tendo que optar entre construir a cozinha ou rebocar a casa.

A situação do assentamento Novo Horizonte II não era um caso isolado, refletindo a insuficiência das políticas de reforma agrária e a não prioridade do Governo Federal com respeito a agricultura familiar, submetendo as famílias a condições precárias de sobrevivência. Após a mudança das famílias para as casas na agrovila, iniciaram outras lutas por políticas públicas: água, escola, saúde e crédito agrícola.

Quanto à produção agrícola, além das culturas de subsistência (milho, feijão, mandioca, macaxeira, batata, hortaliças e fruteiras), os/as trabalhadores/as deram continuidade à produção de coco e banana, sendo sua comercialização feita por atravessadores da região. A inexistência de assistência técnica permanente tem dificultado o desenvolvimento sustentável da produção agrícola. Os projetos de assentamentos envolvem uma série de necessidades e políticas públicas. Há uma distância entre o que é planejado pelos Governos e sua execução. Nesse sentido, as precárias condições de assistência técnica têm a ver com as políticas públicas focalistas e seletivas do Estado. Daí o INCRA buscar parcerias com outras entidades e cooperativas de técnicos por não dispor de recursos humanos, financeiros e materiais adequados à promoção do desenvolvimento dos assentamentos. Daí decorre a execução de programas e projetos fragmentados.

Todas as famílias utilizam-se das mesmas culturas em suas explorações e do mesmo tipo de criação. As culturas da banana e do coco possuem a vantagem de ter colheitas praticamente mensais, dando maior regularidade na renda das famílias. O cultivo das frutícolas, banana e coco, realiza-se em uma área de 1,0 hectare de banana no paul79, próxima às margens do rio Maxaranguape e 3,0 hectare com a cultura do coco nas áreas mais arenosas e mais altas, normalmente chamadas de “arisco”, para cada família.

A comercialização da produção agrícola é realizada de forma individual com atravessadores. Outra opção corresponde à usada pelos produtores que vendem sua produção nas feiras livres de Ceará-Mirim e Natal. Os canais de comercialização utilizados e a qualidade dos produtos ofertados fazem com que os preços de venda sejam baixos. Pelo exposto, verifica-se que a estrutura de comercialização absorve parte significativa do valor, gerando na cadeia produtiva instabilidade constante de preços e oferta, não permitindo que os assentados possam alterar sua participação sem o apoio de uma equipe técnica permanente. Em negociações recentes da associação com a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB está se viabilizando alternativa de venda de parte da produção dentro do programa de Compra Antecipada da Produção promovida pelo Governo Federal.

No trato agrícola dos lotes, dos/as os/as assentados/as, apenas 18% protegem o solo contra a erosão; 85% fazem adubação orgânica e química para aumentar a sua fertilidade, 63% combatem as pragas e doenças pulverizando herbicidas e 33% não utilizam nenhum produto. Nota-se que o uso de agrotóxicos no assentamento é uma realidade que precisa ser melhor analisada e combatida. Os assentados não dão a atenção devida aos produtos que manuseiam, desacreditando dos problemas que isso pode representar. Além de não usarem nenhum tipo de proteção, não se preocupam com as embalagens. O mais comum é descartá-las em terrenos a céu

aberto ou enterrá-las nos lotes. Às vezes, reutilizam as embalagens plásticas como recipiente para os mais diversos fins.

Outra questão ambiental é o destino do lixo. Presentemente, a produção de lixo no assentamento ainda não constitui um problema de alta gravidade para os moradores. No entanto, de acordo com a pesquisa realizada e as caminhadas nas ruas, observou-se que o lixo produzido atualmente é enterrado ou queimado em um percentual significativo e o restante é colocado em uma área do assentamento a céu aberto.

No assentamento existem sete poços, sendo que em condições de funcionamento tem-se apenas um, que abastece a agrovila. A água consumida, que vem de um poço artesiano de 80 metros com vazão de 8.000 litros/hora, é considerada de boa qualidade, mas não possui nenhum tipo de tratamento. Até 2004, o abastecimento de água era feito por um dos antigos poços da fazenda, mas a água era contaminada, provocando muitas doenças. Para resolver o problema, o Centro de Educação e Assessoria Herbert de Souza (CEAHS) conseguiu aprovar um projeto pelo Programa de Desenvolvimento Solidário (PDS) do Governo do Estado para a construção de uma caixa dágua e da rede de distribuição até as residências. Ao INCRA coube a perfuração de um novo poço, em local com água saudável. A água captada é bombeada até um reservatório com capacidade para 32.000 litros e distribuída até a entrada das residências. Não existe ainda ligação domiciliar. O custo de funcionamento do sistema é dividido entre os/as assentados/as.

Nesses seis anos de existência do assentamento, os assentados contaram com algumas iniciativas de assistência técnica da EMATER que iniciou a elaboração do projeto de investimento pelo PRONAF “A”80 (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

80 Programa Nacional de Fortalecimento a Agricultura Familiar - PRONAF é um programa de apoio ao

desenvolvimento rural, a partir do fortalecimento da agricultura familiar como segmento gerador de postos de trabalho e renda. O programa é executado de forma descentralizada e tem como protagonistas os agricultores familiares e suas organizações. O PRONAF A destina-se ao financiamento da produção agropecuária, que é uma linha de ação que promove o acesso do agricultor familiar ao crédito rural - custeio e investimento - destinado ao

Familiar). No entanto, esse trabalho foi interrompido por este órgão, que o repassou para ÁPICE, cooperativa de assistência técnica e elaboração de projetos que fez a revisão, complementação e encaminhamento ao Banco do Nordeste, obtendo aprovação. Atualmente a execução do PRONAF “A” se encontra em fase final. O referido projeto destinou-se à renovação do bananal, adubação do coqueiral, recuperação de cercas, fabricação de carroças e aquisição de quatros animais bovinos para cada família.

Além do PRONAF A, outros projetos produtivos e de infra-estrutura foram conquistados, entre os quais destacam-se a construção de uma caixa d’água e da rede de distribuição para abastecimento das casas pelo Programa de Desenvolvimento Solidário (PDS)81, um programa do Governo do Estado em parceria com o Banco Mundial.

Atualmente os/as trabalhadores/as rurais estão à espera da liberação dos recursos do PAC (Programa de Consolidação e Emancipação – auto suficiência - de Assentamentos Resultantes da Reforma Agrária)82, que consiste na assistência técnica durante três anos, para consolidação do assentamento, prevendo a contratação de uma equipe de assistência técnica; a construção de uma ponte sobre o rio Maxaranguape; a construção de uma brinquedoteca; a recuperação dos galpões e casas da fazenda; além da assistência técnica produtiva, ambiental, gerencial, comercial e social.

desenvolvimento das atividades produtivas. Sua operacionalização é executada pelos agentes financeiros credenciados

81 Programa de Desenvolvimento Solidário – PDS, do Governo do Estado em parceria com o Banco Mundial. Esse

programa se destina a projetos de infra-estrutura e renda em comunidades e assentamentos rurais.

82

O PAC é resultado de um acordo assinado em 2000, entre o Governo Federal e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No momento do acordo, a expectativa era que num prazo de cinco anos se investissem US$ 85 milhões em projetos de assentamentos de sete estados (RN, MA, MG, MT, MS, PR e RS). Do valor, 60% são recursos externos. O principal objetivo do programa é garantir em cada comunidade, em no máximo três anos, o cumprimento de um Plano de Consolidação do Assentamento (PCA). Esse plano prevê, no primeiro ano, um modelo de sustentabilidade, que deve servir de exemplo para outros novos projetos. Também tem como meta assegurar uma renda mínima equivalente a dois salários-mínimos para cada família.

Apesar de o assentamento Novo Horizonte II ser beneficiário desse programa, há de se considerar que um assentamento, para ser autosustentado precisa de políticas abrangentes e estratégicas de reforma agrária que assegurem o seu desenvolvimento sustentável. Inúmeras pesquisas sobre assentamentos apontaram que o Governo Federal recorre as instituições financeiras multilaterais (Banco Mundial, BIRD, BID) para desenvolver programas intermitentes, incompletos e isolados com visões diferenciadas, não levando em conta a trajetória das famílias que lutaram pela terra. No universo de 248 assentamentos rurais no Rio Grande do Norte, foram selecionados apenas treze para serem beneficiários do PAC. Em 2000, na assinatura do convênio, apenas dois assentamentos foram contemplados, restando os outros onze assentamentos para iniciar no ano 2005. Essa experiência comprova a seletividade e não universalidade das políticas públicas para reforma agrária, conforme analisou Araújo (2005), sendo parte das políticas de ajuste estrutural.

No que se refere à fonte de renda das famílias assentadas em Novo Horizonte II, esta advém, principalmente, da produção agrícola, representando 100% da população. Desse percentual, 16% complementam a renda com o comércio e serviços e 10% com as aposentadorias de idosos/as. Segundo dados do Plano de Consolidação do Assentamento Novo Horizonte II, realizado em 2004 pela empresa AGRAR – Consultoria e Estudos Técnicos S/C Ltda, a renda advém praticamente do único sistema de produção existente voltado para o mercado, ou seja, a comercialização de banana e coco. Conforme os dados da pesquisa, a renda atual média é estimada em R$ 470,03 (quatrocentos e setenta reais e três centavos). E, ainda, no assentamento 24 famílias vêm recebendo o programa Bolsa-escola no valor de R$ 15,00 por criança, e 18 famílias possuem um membro recebendo aposentadoria de um salário mínimo.

Quanto aos indicadores sociais, os/as trabalhadores/as assentados/as apresentavam, em 1999, um número significativo de analfabetos, correspondendo a 23,3% do total da população,

especialmente entre as pessoas do sexo masculino cujo índice é 30,5% em contraposição às mulheres com 14,3%. Nota-se que as mulheres têm mais escolaridade, talvez por causa da cultura tradicional em que aos homens cabe prover o sustento da família, de modo que os meninos são obrigados a acompanhar o pai no trabalho agrícola. É lógico que essa é apenas uma das faces da problemática. Certamente uma das questões refere-se à exclusão dos trabalhadores rurais do acesso à terra e dos bens culturais e simbólicos, especialmente a educação.

Se no início do assentamento era esse o quadro da escolaridade, após seis anos a pesquisa permitiu observar que não ocorreram alterações ou mudanças significativas quanto aos níveis de escolaridade da população adulta. Não houve investimentos estratégicos na educação de jovens e adultos. A preocupação das famílias era melhorar o nível educacional das crianças e adolescentes. Esses dados revelaram que o índice de analfabetismo se concentrava na população adulta do assentamento. Revelaram também uma queda quando referiram-se as faixas etárias de 11 a 15 anos (0,0%), 16 a 20 anos (8,2%) e 21 a 25 anos (6,2%); ou seja, os/as filhos/as são mais escolarizados que os pais e mães. De forma geral os adultos entendem a importância do estudo dos filhos/as, mesmo que isso imponha o sacrifício de trabalharem sozinhos no roçado. Os dados de uma pesquisa realizada pela PNAD/IBGE (1993 a 1998) revelaram que, independentemente do sexo, o setor agropecuário tem a mais baixa escolaridade de toda a economia brasileira (apenas 17% de mulheres trabalhadoras rurais são escolarizadas e os homens, 18,5%).

No assentamento funciona uma escola municipal que oferece os cursos do pré-escolar até a 4ª série do ensino fundamental. Seu corpo docente é constituído de sete professoras, das quais seis são do próprio assentamento. Duas têm o ensino médio, quatro são formadas em pedagogia e uma está concluindo o curso. Aos alunos é oferecida uma merenda escolar composta de iogurte, biscoito, feijão, frango, macarrão, arroz, batatinha e cenoura. Os pais têm reclamado que a merenda não dá para todo o mês e a Secretaria Municipal de Educação alega que a falta advém

do desperdício das merendeiras. Isso demonstra a ausência de uma política voltada para a reforma agrária, não há um investimento nos assentamentos rurais para garantir o pleno direito a educação.

Para os adolescentes e jovens que estudam da 5ª até a 8ª série têm que se deslocar, à noite, ao distrito de Dom Marcolino, a 8 km do assentamento. Para cursar o ensino médio, deslocam-se até Maxaranguape, sede do município. Para o distrito de Dom Marcolino (ensino fundamental), o município disponibiliza transporte escolar garantido pelo convênio firmado com o governo estadual, o mesmo não ocorrendo para os alunos do ensino médio em Maxaranguape. A fim de enfrentar o problema do analfabetismo na população adulta, funcionou em 2004 o Programa “Educação de Jovens e Adultos – EJA”, através do Programa Federal Educação Solidária, para os jovens a partir de 15 anos que ainda estavam estudando da 1ª à 4ª série do ensino fundamental. Contudo a experiência não passou de um ano.

No que se refere ao atendimento a saúde, os/as trabalhadores/as rurais enfrentam dificuldades dada à ausência de uma política de saúde pública adequada as necessidades das