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Os jovens atuais fazem parte da primeira geração imersa quase que totalmente na tecnologia. Pelo mundo eles interagem, reagem, divertem-se com os jogos, não desgrudam dos seus celulares, elemento que compõe sua identidade, começam e terminam namoros pelo MSN27, contam detalhes de sua intimidade no Facebook, baixam música, aprendem a fazer música, filmam, reproduzem, trocam e criam um olhar sobre o outro frente às inúmeras janelas que se abrem em tamanhos e dimensões diversas. Esta geração é a nativa digital.

Os termos nativos digitais e imigrantes digitais foram criados por Prensky (TORI, 2010 p. 218). Aqueles nascidos depois de 1980, quando iniciava o domínio das tecnologias digitais são chamados “nativos digitais”, conforme Palfrey e Gasser (2011, p. 11). Possuem acesso e habilidades para lidar com as novas tecnologias. Cada vez mais precocemente os jovens e crianças dominam as TIC, desse modo eles interagem por meio de uma cultura comum e de um modo bem diferente de anos anteriores.

Essa nova geração de nativos digitais possui uma identidade virtual, pois passa a maior parte do tempo conectada nas redes sociais, blogs, jogos online, em meio às inovações tecnológicas. A web 2.0, conhecida como a nova versão da world wide web, proporciona rapidez e criação de uma cultura tecnologizada. Nesses espaços socializam, se expressam criativamente e compartilham ideias e novidades. Desse modo, muitos nativos digitais não distinguem o online do offline e diante dessa realidade virtual aparecem as preocupações, em especial, dos pais e professores referente a segurança e privacidade dos nativos no ciberespaço (SANTOS; SCARABOTTO; MATOS, 2011, p. 5). A descrição dessa geração, segundo Palfrey e Gasser (2011) vêm enfatizando características comuns como maleabilidade, adaptabilidade, abertura, necessidade de independência e autonomia em relação ao conhecimento que lhes interessa.

Entre os pais e professores que buscam aprender a lidar com esses novos desafios impostos pela transformação na era digital, localizamos muitos “colonizadores digitais” e “imigrantes digitais”. Os autores Palfrey e Gasser (2011, p. 13) caracterizam os colonizadores digitais como pessoas mais velhas, as quais _______________

estão desde o início da era digital, mas cresceram em um mundo analógico e vem contribuindo para a evolução tecnológica, continuam conectados e sofisticados no uso das tecnologias, porém baseados nas formas tradicionais e analógicas da interação. Como exemplo é possível citar Bill Gates, criador de um dos maiores softwares da Microsoft e Steve Jobs – fundador da Apple. Porém, estes grandes nomes são nascidos antes da década de 1980, ou seja, não podem ser caracterizados como nativos digitais conforme definição dos autores, acima citados.

Os imigrantes digitais são definidos por Palfrey e Gasser (2011, p. 13) como menos familiarizados com o ambiente digital, os quais aprenderam ao longo da vida a utilizar as tecnologias como e-mails e redes sociais. Os imigrantes nasceram em outro meio, não dominado pelas tecnologias digitais, seu modo de aprender foi outro. Assim, a convivência entre nativos e imigrantes pode ser conflitante. A formação do professor imigrante diverge da forma como seus alunos, nativos digitais percebem o conhecimento e o meio em que vivem. Tori (2010, p. 18) ao descrever o posicionamento de Prensky (2001) sobre nativos e imigrantes digitais relata que os estudantes, nativos digitais, são ensinados por professores imigrantes, o qual advém de uma cultura pré-internet e muitas vezes não valorizam ou trabalham as características dos nativos.

O cérebro dos “nativos” se desenvolveu de forma diferente em relação às gerações pré-internet. Eles gostam de jogos, estão acostumados a absorver (e descartar) grande quantidade de informações, a fazer atividades em paralelo, precisam de motivação e recompensas frequentes, gostam de trabalhar em rede e de forma não linear (TORI, 2010 p. 218).

Para trabalhar com a geração nativa digital, de modo a prender sua atenção na construção do conhecimento, de maneira significativa, em meio a tantas inovações e informações que a era digital proporciona, é um desafio para o professor que não domina essas tecnologias. O interesse agora é compreender o fenômeno da emergência desse tipo de estudante com as novas necessidades e capacidades.

A novela global – “G3R4ÇÃO BR4S1L” (Geração Brasil), retratou a caracterização da geração nativa, imigrante e colonizadora digitais, evidenciando novos processos e produtos tecnológicos, envolvendo uma nova geração, com uma constituição radicalmente diferente, o que causa espanto às demais gerações. A escrita do nome da novela já traz uma caracterização não linear da norma culta da

Língua Portuguesa, denotando uma nova identidade. O protagonista da trama global, Murilo Benício28, ao ser entrevistado comentou que o seu papel é o de um gênio da computação e seu grande sonho é desenvolver um computador pessoal popular, de baixo custo, e fácil manuseio, o qual criou a Marra Corporation. Como protagonista da trama exerceu o papel de colonizador digital. Na vida real o ator revelou que possui várias redes sociais, mas acaba não usando. E, como imigrante digital, comenta que os filhos ajudam muito com as tecnologias digitais: "Eles ajudam muito. Outro dia, meu filho mais velho baixou um aplicativo de música para mim, que já entra direto nos clipes. Ele instala e eu aperto o botão". E ainda, com o outro filho: "Jogo muito videogame com ele, e, agora, os jogos estão vindo com muito manual explicativo. Ele não quer ler, mas eu pego para dar uma olhada. Só que ele chega, na prática, muito mais rápido aonde eu chegaria lendo. Essa nova geração dá uma aula para gente”. Os filhos do ator são nativos digitais; conhecem as novas tecnologias, se interessa e aprende com elas, pois na sociedade da informação as crianças brincam com informação. Os nativos constroem os conhecimentos de maneira totalmente diferente dos imigrantes. Imigrantes aprendem de forma linear (começo, meio e fim). Já os nativos, por causa do uso constante da internet e da navegação pelos hipertextos, aprendem de forma não linear.

Os imigrantes e os nativos digitais não são necessariamente divididos por idade, e sim por seu contato com as novas tecnologias. Portanto, não se pode assumir que todo o jovem é nativo digital. Está claro que há uma tendência para que os mais jovens usem cada vez mais a tecnologia e tenham mais facilidade e agilidade para tanto. Mas o que se presencia hoje, especialmente no Brasil, é que entre os jovens existem nativos, imigrantes e excluídos digital. Jovens de classe média e média alta tem acesso à internet mais cedo e utilizam conexões de melhor qualidade. Esses jovens realmente cresceram na era digital. Estudantes de classes mais baixas, no entanto, acessam muitas vezes a internet na escola ou em lang houses e tem mais dificuldade para lidar com as novas tecnologias porque têm acesso a elas mais tarde. Portanto, não se pode assumir que todos os jovens sejam nativos da era digital, embora essa seja a tendência para os próximos anos.

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28 BENÍCIO, Murilo. Geração Brasil. Disponível em: www.purepeople.com.br/noticia/murilo-benicio-sobre-tecnologia-meu-filho-instala-eu-aperto-o-botao_a19064/1m. Acesso em: 16 abr. 2014.

Em entrevista à revista brasileira Época (2010), Marc Prensky explica que essa divisão etária na verdade nunca existiu “Nativos e imigrantes digitais são termos que explicam as diferenças culturais entre os que nasceram na era digital e os que não”. Para Marc Prensky, nos Estados Unidos quase todas as crianças em idade escolar cresceram na era digital. Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razões sociais.

No contexto educacional o “professor ainda não domina a linguagem digital, ao contrário, sua prática é oral e presencial. Enfrenta o desafio de conviver e adicionar os novos recursos à sua prática” (SANTOS; SCABAROTTO; MATOS, 2011, p. 11). Em paralelo a essa situação, os nativos digitais, independentemente dos seus processos de aprendizagens, estabelecem outra forma de se comunicar com a escrita na lógica do teclado, uma comunicação da oralidade grafada, têm outra forma de se relacionar. Portanto, o momento exige uma quebra de paradigmas dentro do contexto educacional. Cabe a contribuição de Behrens (2007, p. 41) a qual leva à reflexão que as concepções que os professores apresentam sobre a visão de mundo, de sociedade, de homem e da própria prática pedagógica que desenvolvem em sala de aula será determinante no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem na era digital.

É fato, que não dá mais para acreditar que isso é um modismo, que é passageiro e que não dará em nada. A potencialidade da tecnologia e sua articulação em rede já estão incorporadas ao mundo do trabalho, e o professor não pode mais ficar alheio desse contexto. Assim, entende-se que esse processo de construir novos saberes está ligado às iniciativas que articulem comunicação, interatividade, cooperação e colaboração. O exemplo disso visualiza-se nos últimos anos a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem – AVA tanto no mundo corporativo quanto no acadêmico. Para uma melhor compreensão da potencialidade do ambiente virtual, torna-se necessário enveredar pelo estudo do que é o virtual e sua relação com o real, como um desdobramento da cibercultura.