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2.1 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO

2.1.2 Reflexos da sociedade da informação

Na sociedade da informação existe um preceito em que todos os cidadãos estejam devidamente inseridos nela. Porém, ocorre é que uma grande parcela da população não consegue essa integração por não possuir acesso às TIC. Essa desigualdade no acesso à internet (conectividade) é denominada por Castells (2003) de infoexclusão15. Na sociedade informacional destacam-se dois grupos: pessoas que possuem acesso à conectividade e as pessoas que não possuem o acesso. As razões pelas quais as pessoas não têm acesso são diversas. A falta de recursos financeiros é uma delas, mas não a única. A falta de instrução e conhecimento, a não adaptação aos equipamentos, deficiências físicas e localização geográfica também são pontos que fazem com que os cidadãos não tenham acesso à conectividade.

Assim é preciso entender quais são as relações sociais estabelecidas com a inclusão digital, pois novos componentes estão surgindo para organizar o novo consenso social gerado por ela. São empresários, trabalhadores, governos, associações que têm o objetivo de incluir digitalmente a camada da população sem recursos próprios para se autoincluir no campo digital. Esferas da sociedade como governos, ONGs e associações que se organizam para proporcionar programas de inclusão digital para aproximar o computador e seus recursos ao indivíduo. Com isso, acredita-se que o novo usuário está apto a entrar no mercado de trabalho mais capacitado. Essas esferas apostam que, por meio da máquina, o indivíduo será incluído plenamente no convívio mútuo e na esfera da produção. Em geral, a concepção de inclusão digital desses grupos envolve a compreensão de que, por meio do domínio da máquina, o indivíduo está preparado para produção, isto é, para o mercado de trabalho (POCRIFKA, 2012, p. 22). Permanece a manutenção de um sistema de reprodução de paradigmas, com a formação só para o trabalho, do qual impede a visão de que os indivíduos precisam ir além do domínio da máquina.

Cabe destacar neste momento, a inclusão como:

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Existe uma disparidade entre o sentido dado a diferença de acesso a tecnologia na tradução portuguesa (2004) e na brasileira (2003) da obra de Castells, principalmente quanto ao termo usado por ele para designar infoexclusão que na tradução brasileira é denominada divisão digital. Consideramos que o termo divisão digital não é capaz de caracterizar o sentido empregado por Castells quanto a real existência de exclusão tecnológica e, portanto também social.

Um processo por meio do qual as pessoas têm acesso às tecnologias digitais e se capacitam para utilizá-las de forma que produzam impactos positivos em seus interesses. Essas tecnologias, portanto, devem desenvolver, nesses indivíduos, competências que impliquem melhoria em sua qualidade de vida. Para que uma pessoa possa ser incluída digitalmente, é necessário que ela tenha acesso à tecnologia digital, desenvolva capacidade técnica de manejar essa tecnologia, bem como capacidade de integrar a tecnologia aos afazeres cotidianos (MASCARENHAS, 2009, p. 2).

Assim, pensar em acesso à tecnologia digital é se especializar para utilizá-la de maneira que possa ter impactos positivos sobre seus interesses na sociedade da informação. Compartilhando a ideia da inclusão digital como sendo uma inclusão social, Warschauer (2006, p. 26) revela que “a inclusão social não é apenas uma questão referente à partilha adequada dos recursos, mas também de participação na determinação das oportunidades de vida tanto individuais quanto coletivas”. Isto é, não basta oferecer o recurso, a ferramenta, mas também é preciso proporcionar o uso do instrumento como elemento de transformação social. Ou seja, a tecnologia apresenta um viés positivo e outro negativo, mas concede a ampliação e potencialização da ação humana, por isso a inclusão digital conjectura uma gama de outros objetivos relacionados, tais como: acesso ao mundo tecnológico, seja no campo técnico-físico, que passa pela sensibilização, contato e uso básico da tecnologia, como no campo intelectual, que permeia a educação, qualificação, geração de conhecimento, participação e criação.

Ainda, segundo Warschauer (2006), existem três modelos de acesso à tecnologia de informação e comunicação que permitem a inclusão social na era da informática: equipamento, conectividade e letramento. A perspectiva desse autor aborda a aquisição da ferramenta em si, isto é, ter o computador em mãos. Além da máquina, é preciso que o cidadão esteja conectado às redes, por isso a necessidade da conectividade. O letramento vem para que o cidadão possa ter as habilidades necessárias para utilizar os recursos do equipamento e da conectividade. Nos tempos atuais, computador sem conectividade não tem função e uma pessoa com um computador sem ter habilidade e conhecimento para utilizá-lo não poderá avançar para o uso das TIC. Nesse sentido o letramento ocorre quando:

Com um ou dois cliques, obedecendo por assim dizer ao dedo e ao olho, ele mostra ao leitor uma de suas faces, depois outra, um certo detalhe ampliado, uma estrutura complexa esquematizada.[...] Não é apenas uma rede de microtextos, mas sim um grande metatexto de geometria variável, com gavetas, com dobras [...] (LÉVY, 1999, p. 41).

Ou seja, tecnologias midiáticas vinculadas ao uso do computador e da internet exigem o desenvolvimento de novas habilidades e competências de leitura e de escrita. Essa ampliação das possibilidades de uso da linguagem hipermidiática potencializa e impõe novos modos de construção do discurso. Para Warschauer, (2006, p. 153) as ferramentas, além de facilitar a ação que poderia ter ocorrido sem ela, altera o fluxo e a estrutura das funções mentais.

O conceito tradicional de letramento está voltado para a habilidade que a pessoa tem de ler e escrever. Assim, relacionando-o com a inclusão digital, Warschauer (2006, p. 65-66) descreve: “considera mais os contextos sociais da prática associada ao letramento […] aquilo que se considera leitura ou escrita hábil que varia completamente de acordo com os contextos histórico, político e sociocultural”. Logo, o letramento descrito nesse modelo refere-se à aquisição do letramento como acesso à tecnologia da informação e da comunicação. O letrado digital é aquele que lê e escreve os códigos, os sinais verbais e não verbais (compostos por imagens, mapas conceituais, gráficos, tabelas e desenhos) nos textos e contextos digitais (POCRIFKA, 2012, p. 35). O letramento para as TIC, segundo Warschauer (2006), transita por quatro vertentes: artefatos físicos, conteúdo relevante transmitido, habilidade e tipo certo de comunidade e apoio social. Por isso a sociedade da informação pode ter propiciado o surgimento dos excluídos digitais, pois o acesso não é favorecido a todos. Políticas de inclusão digital foram surgindo para reverter essa situação, com o objetivo de equiparar e universalizar o acesso à informação deste grupo que não possui condições de acessar os conteúdos digitais. A escola surge como alternativa para desenvolver ações de inclusão digital a partir da formação de alunos e principalmente dos professores para o uso educacional das ferramentas digitais.

Quando um cidadão não tem acesso às TIC, “encontra-se marginalizado em relação a uma instituição social. Logo, esse cidadão sofre a exclusão social: onde quer que exista uma minoria com acesso às TIC, há mais uma exclusão somada às muitas outras já existentes” (MASCARENHAS, 2009, p. 13). A exclusão digital acontece quando se privam as pessoas do computador, da linha telefônica e do provedor de acesso, instrumentos básicos da inclusão digital. O analfabetismo digital, a pobreza e a lentidão comunicativa, o isolamento e o impedimento do exercício da inteligência coletiva resultam dessa privação. A exclusão digital,

Além de ser um veto cognitivo e um rompimento com a mais liberal das ideias de igualdade formal e de direito de oportunidade, a exclusão digital impede que se reduza a exclusão social, uma vez que as principais atividades econômicas, governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão migrando para a rede, sendo praticadas e divulgadas por meio da comunicação informacional. Estar fora da rede é ficar fora dos principais fluxos de informação. Desconhecer seus procedimentos básicos é amargar a nova ignorância (SILVEIRA, 2001, p. 18).

A exclusão digital não se limita ao universo daqueles que têm versus ao daqueles que não têm acesso ao computador e à internet, dos incluídos e dos excluídos. Essa polarização na verdade existe, mas, às vezes, mascara os múltiplos aspectos da exclusão digital. Por uma razão simples: a oposição acesso/não acesso é uma generalização adequada quando os assuntos são certos serviços públicos, como eletricidade, água, esgoto, e bens tradicionais de consumo intermediário, como TV, geladeira e telefone. O que importa, no caso destes últimos e também do carro, não é o tipo e/ou a qualidade do artefato - o custo da ligação e o preço da gasolina, por exemplo, limitam o uso do telefone e do carro, respectivamente.

As tecnologias configuram um quadro diferente considerando o quantitativo de proprietários de computador ou de pessoas com acesso à internet que não são dados suficientes para medir a exclusão digital. Pelas seguintes razões: o tempo disponível e a qualidade do acesso afetam, decisivamente, o uso da internet; as tecnologias são muito dinâmicas e exige do usuário, atualização constante para utilizar, da melhor maneira possível, a infraestrutura tecnológica e o sistema de acesso, evitando, assim, que esses usuários fiquem ultrapassados. O potencial de utilização dessas ferramentas depende da capacidade, apresentada pelo usuário, de ler e interpretar informação, bem como de sua rede social, caso específico do e-mail. Portanto, o acesso significativo às tecnologias exige muito mais do que o simples fornecimento de computadores e conexões à internet.

Na realidade a situação de exclusão vem aumentando nas últimas décadas. A pobreza, a miséria e o desemprego vêm alcançando índices assustadores (SILVEIRA, 2001), ao mesmo tempo o avanço tecnológico vem encantando as novas gerações. Por outro ângulo, observa-se que o uso de celulares, computadores, tablets e dispositivos aumentam de maneira exponencial. Segundo informações do site Economia com Opinião Independente de Mercado e Governo,

em 2010 o Brasil chegou a duzentos milhões de celulares “na esteira da população do 3G16”.

Trabalhos como o de Pocrifka (2012) e Mascarenhas (2009) que buscaram conhecer a inclusão digital do professor e do aluno na utilização das tecnologias em sala de aula, evidenciam a inclusão digital numa perspectiva social. A discussão em torno dessa inclusão não está na aquisição do aparato tecnológico e sim na sua utilização para a construção do conhecimento e deste conhecimento compartilhado socialmente. O potencial da inclusão digital está na utilização das ferramentas que têm como foco a colaboração e a cooperação. Os autores evidenciam ainda, que a exclusão digital subtrai do indivíduo os benefícios do progresso e as possibilidades de contribuir na produção de bens materiais e simbólicos, levando-o à exclusão social.

A sociedade, segundo Moran (2006, p. 51) precisa dar condições para o cidadão ter acesso à informação. Também “as escolas públicas e as comunidades carentes precisam ter acesso garantido para não ficarem condenadas à segregação definitiva, ao analfabetismo tecnológico, ao ensino de quinta classe”. Isso implica em ter como projeto político aquisição de computadores por meio de financiamentos públicos, privados, com juros baixos e apoio de organizações sociais e não governamentais.

Com a entrada dos computadores na sala de aula, visualiza-se um professor com característica flexível, o que implica no desenvolvimento do potencial criativo e também da habilidade para incorporar as constantes inovações surgidas no âmbito do processo produtivo. Enquanto na sociedade industrial cabia ao trabalhador executar funções repetidas e cronometradas, na conjuntura informacional, é possível que em todo instante este mesmo profissional atue em diferentes pontos da produção, sendo mais autônomo para gerir suas ações. E este é o desafio enfrentado pelos sistemas educacionais: professor preparado para a transição e incorporação de práticas mais flexíveis, portanto, condizentes com a conjuntura societária informacional, o qual exige uma formação docente crítica e autônoma que possa garantir uma parceria entre professores e alunos na construção do conhecimento.

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16 ECONOMIA BR.2009. Disponível em: http://www.economiabr.com.br/Ind/Ind_gerais.htm. Acesso em 11 jan. 2010.