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3.2 AS MÍDIAS SOCIAIS A FAVOR DA EDUCAÇÃO

3.2.5 Netnografia

A netnografia ou etnografia virtual surgiu com a intenção de abordar as características do método etnográfico. Ou seja, estudos de práticas sociais, de artefatos que instituem cultura, voltado para o estudo de práticas, interações, usos e apropriações de meios por grupos e comunidades situadas no universo virtual, ou seja, no ciberespaço. A etnografia trata-se de uma descrição cultural (LÜDKE; ANDRÉ, 2008) e a netnografia, segundo Vieira e Zouain (2006, p. 194) de uma técnica interpretativa desenhada para investigar o comportamento de consumo de culturas e comunidades presentes na internet. É considerada uma adaptação da etnografia a estudos de comunidades online, sendo netnografia considerada sinônimo de “etnografia na internet” (KOZINETS, 2002, p. 61). É preciso uma transição de alguns dos pressupostos etnográficos para a vida moderna para que se possa situar na internet, encontrar grupos com interesses semelhantes e características homogêneas, que vão muito além da cultura local e nacional e das barreiras físicas que a territorialidade impõe. Estes grupos se congregam em comunidades virtuais e estabelecem formas particulares de ver e atuar no mundo.

A origem da netnografia é um tanto controversa, enquanto autores como Rocha, Barros e Pereira (2005) atribuem a criação do termo “netnografia” a Robert Kozinets – termo sugerido por um anônimo segundo o autor – que em 1997 desenvolveu um estudo sobre o consumo de subculturas, especificamente, da subcultura dos fãs do seriado norte americano Arquivo X; a autora Braga, afirma que:

O neologismo “netnografia” (nethnography = net + ethnography) foi originalmente cunhado por um grupo de pesquisadores/as norte americanos/as, Bishop, Star, Neumann, Ignacio, Sandusky & Schatz, em 1995, para descrever um desafio metodológico: preservar os detalhes ricos da observação em campo etnográfico usando o meio eletrônico para “seguir os atores.” O estudo em questão testava novos equipamentos para o desenvolvimento de uma biblioteca digital da Universidade de Illinois, parte de um projeto de maior escala para o desenvolvimento de tecnologias de base para uma infraestrutura de informação global. O objetivo era ainda entender o uso (tanto factual quanto virtual) a partir de um número de pontos de vista, e em uma larga escala crescente (BRAGA, 2006, p. 4).

A netnografia apresentada por Kozinets em seus diversos trabalhos (KOZINETS, 1997, 2002, 2006) propõe a abranger os fenômenos que acontecem online, na tela do computador, não generalizando as descobertas para fora deste contexto. Comunidades online, newsgroups, salas de bate papo, listas de e-mail, homepages pessoais, e outros formatos para compartilhamento de ideias, construção de comunidades e contato com companheiros consumidores são considerados fontes objetivas de informações (KOZINETS, 2002).

Segundo Kozinets (1998, p. 367), a netnografia pode abarcar três tipos de estudos: como metodologia para estudar culturas cibernéticas “puras” e comunidades virtuais; como uma ferramenta metodológica para estudar culturas cibernéticas e comunidades virtuais derivadas, e como uma ferramenta exploratória para estudar tópicos em geral.

Como método de pesquisa, a netnografia possui um corpo de procedimentos organizado por Kozinets (2002) e replicado por outros autores (LANGER; BECKMAN 2005; ROCHA; BARROS; PEREIRA, 2005). Os procedimentos são: (1) entrée, (2) coleta de dados, (3) análise e interpretação, (4) ética de pesquisa e (5) validação com os membros pesquisados (member checks).

O procedimento de entrée constitui a formulação da pergunta de pesquisa e a identificação da comunidade online de interesse para o estudo. A coleta de dados envolve copiar diretamente os dados da homepage ou do site da comunidade em questão e a observação das interações e dos sentidos da comunidade e dos seus membros (LANGER; BECKMAN, 2005). A análise e a interpretação se referem à classificação, análise de codificação e contextualização dos atos comunicativos, para a qual Langer e Beckman (2005) utilizaram análise de frequência como suplemento à análise textual qualitativa. A utilização de softwares que auxiliam a análise qualitativa como o Atlas.ti e o Nvivo são recomendados. Por fim, deve-se realizar a validação do relatório de pesquisa junto aos participantes pesquisados, para ter mais validade das interpretações acerca de observações realizadas, e permitir aos pesquisados apresentarem suas opiniões sobre o que foi escrito, se está coerente ou não com a realidade que eles vivem.

Assim, uma observação netnográfica permite ao pesquisador, antes de ir ao local físico, ver as atividades do grupo, analisar as discussões online, e se ambientar ou ter a experiência virtual, antes da observação e da aproximação em si. O que

poderá abrir portas, ou fechar portas, em função da experiência do pesquisador e do modo como a pesquisa for conduzida.

Portanto, pensar a educação em rede significa investir em estratégias para a democratização da educação em todo o mundo. As redes sociais, a sala invertida, os REA, Moocs e a netnografia, que compõem este capítulo, navegam por abordagens que permitem construir uma percepção ampla das possibilidades trazidas pela ampliação do acesso à internet à educação. Permitem um olhar para dentro das salas de aula associando as políticas públicas com a educação e a cultura, com a comunidade, com o desenvolvimento industrial, científico e tecnológico.

Este capítulo implicou conjecturar a preparação dos professores para trabalhar com as possibilidades do laptop do Projeto Um Computador por Aluno, na perspectiva da educação em rede. Fato que leva a questionar os paradigmas que influenciaram a prática pedagógica docente, bem como, a formação inicial e continuada dos professores.

4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NUMA SOCIEDADE EM

CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO

Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada

sobre tudo67. Raul Seixas

Ser professor se difere grandemente de qualquer outra profissão, porque ser professor envolve intenso investimento intersubjetivo e trabalho mental, como muito reitera Tardif (2006) ao detalhar a amplitude do trabalho docente, visto que a personalidade do professor é componente fundamental de seu trabalho. Compreender-se como professor é se reconhecer como ser humano repleto de sensações, sentimentos e pensamentos; e o fazer pedagógico é permeado por eles. “A personalidade dos professores impregna a prática pedagógica: não existe uma maneira objetiva ou geral de ensinar; todo professor transpõe para a sua prática aquilo que é como pessoa” (TARDIF, 2006, p. 145).

Portanto, ser professor vai além de ser um profissional da educação. Para Sacristán (2001), a concepção de profissionalidade é mais adequada do que a de profissão, porque o exercício da docência nunca é estático e permanente. É sempre processo, mudança, movimento, arte. São novas caras, novas experiências, novo contexto, novo tempo, novo lugar, novas informações, novos sentimentos e novas interações, ou seja, a ideia de ser a profissão em ação. Cabe às instituições educacionais oferecer o suporte necessário ao processo de mudança da atuação do professor, bem como a introdução das tecnologias de informação e comunicação no processo educacional. Behrens (2010) salienta que a orientação prática, na preparação de docentes, fundamenta-se no pressuposto de que o ensino é uma atividade complexa, desenvolvida em cenários com contextos próprios, singularidades, resultados imprevisíveis. Nessa perspectiva de reflexão da prática para a reconstrução social, a docência é concebida como uma atividade crítica, uma prática social na qual os valores que presidem sua intencionalidade devem ser traduzidos em princípios de procedimentos que se realizam ao longo de todo o _______________

67 SEIXAS, Raul. Metamorfose ambulante. Disponível em: http://www.vagalume.com.br/raul-seixas/metamorfose-albulante.html. Acesso em: 20 mai. 2014.

processo de ensino-aprendizagem. O objetivo deste tópico consiste em discorrer sobre os paradigmas educacionais que influenciam a prática pedagógica, bem como, a formação continuada de professores. Destaca-se a formação dos professores para atuação no âmbito do Projeto UCA, buscando demonstrar a concepção da atual política de governo em relação às políticas públicas de inclusão na formação de professores do ensino fundamental anos iniciais, no Estado do Tocantins.