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4.1 O PROFESSOR E OS NOVOS PARADIGMAS

4.1.1 Paradigmas Conservadores

4.1.1 Paradigmas Conservadores

O século XIX e grande parte do século XX, atendendo ao paradigma da sociedade de produção de massa, estabeleceram uma prática pedagógica semelhante à produção de uma fábrica. Neste panorama, na educação, o paradigma conservador fragmentou-se em: abordagem tradicional, escolanovista e tecnicista, as quais embora tenham ocorrido em momentos distintos, sofreram influência do modelo newtoniano cartesiano. Modelo caracterizado pela “separação entre mente e matéria e a divisão do conhecimento em campos especializados em busca de uma maior eficácia” (BEHRENS, 2010, p. 17). Essa concepção fragmentou a ciência e definiu que um conhecimento científico deveria ser passível de mensuração e quantificação, premissas fundamentais do modelo da racionalidade.

Embora quase todos percebam que o mundo ao redor está se transformando de forma contínua apresentando resultados cada vez mais preocupantes em todo o mundo e a grande maioria dos professores continua privilegiando a velha maneira como foram ensinados, reforçando o velho ensino, afastando o velho aprendiz do processo de construção do conhecimento que produz seres incompetentes, incapazes de criar, pensar, construir e reconstruir conhecimento (MORAES, 1997, p. 17).

Essa contribuição da autora caracteriza-se como paradigmas conservadores. Os paradigmas conservadores objetivam a reprodução do conhecimento. As abordagens pedagógicas que visam a reprodução, a repetição e a uma visão mecanicista da prática educativa foram denominadas como: paradigma tradicional, paradigma escolanovista e paradigma tecnicista (BEHRENS, 2010, p. 40-41).

A abordagem tradicional, na visão de Behrens (2010, p. 41) caracteriza-se por valorizar a cultura geral e do saber humanístico, por conhecimentos inquestionáveis e desconectados da realidade dos educandos. Esse paradigma apresenta-se em sala de aula num ambiente militarizado, austero, conservador, ritualístico e com disciplina rígida. A escola tradicional é o lugar por excelência em que se realiza educação. A concepção tradicional,

Dá-se ênfase aos modelos, em todos os campos do saber. Privilegiam-se o especialista, os modelos e o professor, elemento imprescindível na transmissão de conteúdos [...]. O adulto, na concepção tradicional, é considerado como um homem acabado, “pronto” e o aluno um “adulto em miniatura”, que precisa ser atualizado [...]. O ensino é centrado no professor. Esse tipo de ensino volta-se para o que é externo ao aluno: o programa, as disciplinas, o professor. O aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por autoridades exteriores (MIZUKAMI, 1986, p. 8).

A ideia é a conservação da cultura. Por meio de uma relação vertical o professor é o agente e o aluno ouvinte. O aluno passivo deve assimilar os conteúdos transmitidos pelo professor. A metodologia baseia-se, segundo Behrens (2010, p. 43) em quatro pilares “escute, leia, decore e repita”. Sendo assim, o bom aluno deveria ser o bom ouvinte e copista, reprodutor sem o direito de produzir ou questionar conhecimentos. Na visão de Martins (2006), a dicotomia entre teoria e prática se revela na relação vertical e autoritária entre professor e aluno, pressupondo o professor como detentor do conhecimento e o aluno que nada sabe. Segundo Moraes (2003), essa abordagem obedece a um modelo de organização burocrático, com estruturas hierarquizadas, em que a maioria das decisões são tomadas no topo da instituição, distante dos alunos, e muitas vezes, dos professores. Sob essa perspectiva, a escola passa a assumir um lugar de excelência, acesso aos conhecimentos históricos acumulados pela humanidade. A avaliação visa à exatidão da reprodução do conteúdo comunicado em sala de aula por meio de provas, exames, chamada oral e exercícios.

Na sequência, a Abordagem Escolanovista chamada também de comportamentalista, implementada no Brasil por volta de 1930 e, embasada por

pressupostos de educadores como Rogers, Dewey e Montessori. Foi um momento histórico de ideias, aspirações, antagonismos políticos, econômicos e sociais. Apresenta-se como uma reação à pedagogia tradicional, dando ênfase ao indivíduo e a sua atividade criadora (BEHRENS, 2010).

O aluno nessa abordagem torna-se figura central no processo considerando seus fatores psicológicos, sendo que de forma ativa aprende pela descoberta e responsabiliza-se pelos objetivos referentes à aprendizagem. O professor passa a ser facilitador do processo e tem como função auxiliar no desenvolvimento livre e espontâneo do aluno de forma a planejar a fim de maximizar o resultado, aconselhando e orientando. Privilegia a auto avaliação e considera que existe dentro da pessoa humana uma base orgânica para um processo organizado de avaliação (capacidade de organização constante e progressivamente a partir do feedback recebido) (BEHRENS, 2010; MIZUKAMI, 1986).

Esse momento, observado por Behrens (2010, p. 44), apresenta como “de reação à pedagogia tradicional e busca alicerçar-se com fundamentos da biologia e da psicologia, enfatizando ao indivíduo e à sua atividade criadora”. O professor passa a ser um “facilitador de aprendizagem”. Para Martins (2006), apesar de o aluno passar de uma postura receptiva para uma participativa, ainda é ao professor que compete toda a dinâmica da sala de aula. A Escolanovista reage criticamente sobre a prática pedagógica do paradigma tradicional. A escola de Artes começa a ser ensinada, pois a Escola Nova considerava que existia alunos com talentos diferentes. Passou-se a valorizar o trabalho em grupo, a pesquisa dirigida e as experiências. Os livros didáticos, para o professor surgiram em 1930; para o aluno em 1960.

Com o advento da Revolução Industrial, a produtividade passou a ser o cerne da sociedade, assim o importante passou a ser “aprender a fazer”, visando a maximização da produção. Neste panorama surgiu a Abordagem Tecnicista fundamentada no positivismo e inspirada no processo ensino-aprendizagem. Permeada pela técnica tendo como elemento principal a organização racional dos meios.

Essa abordagem é apresentada por Capra (2002, p. 87) afirmando que no “final do século XIX e no começo do XX, o pensamento social era enormemente influenciado pelo positivismo, doutrina formulada pelo filósofo social Augusto Conte”. Entre os princípios dessa doutrina, menciona-se: a ideia de que as ciências sociais

devem procurar conhecer as leis gerais do comportamento humano, a ênfase na quantificação, a rejeição de todas as explicações baseadas em fenômenos subjetivos, como a intenção e o objetivo. A estrutura positivista é calcada na da física clássica.

O elemento principal da abordagem tecnicista não é o professor, nem o aluno, mas a organização racional dos meios. O planejamento e o controle asseguram a produtividade do processo e provocam uma educação fragmentada e mecanicista. A escola tem o papel de treinar o aluno. O professor utiliza sistemas instrucionais para tornar sua ação educativa eficiente e efetiva. O aluno é um espectador frente à realidade objetiva. Essa tendência apresenta-se como modelos a serem seguidos denotando que o comportamento humano deve ser modelado e reforçado (BEHRENS, 2010). Para Martins (2006), o centro do processo de ensino é deslocado para o domínio da teoria científica tanto para o professor quanto para o aluno.

A interpretação de Libâneo (1986) sobre esta concepção é de que a missão do docente era controlar o aprendizado do aluno por meio dos objetivos instrucionais obtendo a eficácia, a eficiência e a produtividade na educação, ou seja, a prática pela prática de modo metódico. Para isso o aluno precisava seguir manuais e instruções a risca de modo produtivo e eficiente, de modo acrítico, transmitidos por uma prática pedagógica mecânica, repetitiva e avaliado visando o produto final. O paradigma conservador, apoiado na racionalidade científica teve sua importância, inquestionável, para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia da contemporaneidade. Entretanto, este mesmo movimento desenvolveu dentro dele próprio os desafios que o colocaram em xeque, provocando assim, uma transição paradigmática.

4.1.2 Paradigmas Inovadores

Uma crise atinge o mundo em diversos aspectos, em especial na área da educação. As instituições de ensino se estruturaram de modo fragmentado, influenciando desde a separação das disciplinas até a disposição dos alunos em sala de aula, e isso continua nos dias de hoje. O conhecimento reproduzido pelo aluno é extremamente separado das questões emocionais, espirituais e humanas. A preocupação com o futuro das gerações por parte de estudiosos como Freire,