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As Normas Internacionais do Trabalho

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 167-170)

Capítulo 5. O ESTABELECIMENTO DO DIÁLOGO SOCIAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

4) a mensalidade associativa é cobrada dos filiados à entidade sindical Esta é a principal fonte de recursos dos sindicatos com forte representação na base, ou seja, quanto

5.2. Influência dos organismos internacionais para o estabelecimento do diálogo Os organismos de cooperação multilateral, em especial aqueles sob o guarda-chuva

5.2.1. As Normas Internacionais do Trabalho

Segundo Sussekind (1998), o mandato da OIT é internalizado pelos Estados- membros por meio da adoção de normas internacionais do trabalho, instrumentos jurídicos elaborados pelos representantes de governos, trabalhadores e empregadores que fazem parte do corpo dirigente da Organização, cujo objetivo é definir os princípios e direitos mínimos nas relações de trabalho. Podem ser convenções, tratados internacionais juridicamente vinculantes e passíveis de serem ratificados pelos países, como podem ser recomendações, que servem como princípios regentes, de caráter não vinculante. Em geral, uma convenção enuncia os princípios fundamentais que devem ser aplicados pelos Estados que a ratificaram39, enquanto que a recomendação correspondente completa a convenção, propondo princípios mais definidos sobre como a convenção poderia ser aplicada. Podem, ainda, existir recomendações autônomas, não vinculadas a nenhuma convenção, e que não são ratificadas pelos países. (OIT, 2005).

Essas normas são elaboradas e adotadas no âmbito da Conferência Internacional do Trabalho40, evento anual que congrega os Estados-membros na sede da OIT em Genebra,

39 O Brasil ratificou grande parte das Convenções da OIT. A informação completa está disponível em

http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812B62D40E012B68E913995EB0/Quadro_OIT_ratificadas_Brasil _junho_2009.pdf

40A OIT realiza anualmente (todo mês de junho) a Conferência Internacional do Trabalho , CIT, que funciona

como uma Assembléia Geral. Cada um de seus 185 Estados-Membros tem direito de enviar quatro delegados à Conferência, acompanhados por conselheiros técnicos: dois representantes do governo, um dos

para discutir os temas relevantes do período em relação ao mundo laboral, em pauta previamente acordada de forma tripartite e aprovada pelo Conselho de Administração.

Uma vez adotadas, os Estados-membros devem submeter as normas ao seus respectivos parlamentos visando sua ratificação, havendo o prazo de um ano após a ratificação para que a norma entre em vigor no país. Os países que ratificam as normas se comprometem a aplicá-la por meio de mudanças na legislação e a comunicar regularmente os resultados de sua aplicação (SUSSEKIND, 1998).

Existem, ainda, mecanismos de queixa que podem ser utilizados contra um Estado que não respeite as disposições contidas em uma convenção que porventura tenha sido ratificada por ele. Nesse caso, o Estado é arguido e deve apresentar justificativas para os procedimentos reclamados. (OIT, 2005)

O processo de elaboração de normas internacionais do trabalho é um processo complexo, que se desenvolve a partir das preocupações da comunidade internacional relativas a determinado tema, no qual intervêm representantes dos governos, dos trabalhadores e dos empregadores de todo o mundo. É, também, uma arena onde se pode claramente identificar as ideias, interesses e valores que permeiam essas discussões, assim como os fatores que fazem com que um determinado tema entre, ou não, na pauta da Organização.

Ainda que seja no âmbito da Conferência Internacional do Trabalho41 que essas interrelações se dão, as discussões e as coalizões ocorrem muito antes e em outras esferas, exemplificando o que Herz e Hoffmann (2004) expuseram sobre as influências mútuas e recíprocas que os organismos internacionais e os atores nacionais têm para a definição dos temas das agendas tanto dessas organizações, como dos próprios governos.

Como os países possuem níveis de desenvolvimento econômico, social, cultural e sistemas jurídicos diferenciados, a inserção de um tema na agenda demanda esforço político e tempo, além da capacidade de articulação dos atores que se movimentam em prol

trabalhadores e um dos empregadores, todos com direito a voto independente. É no âmbito da CIT que se originam as convenções, recomendações e resoluções que tratam das relações do trabalho (SUSSEKIND, 1998).

41 As Conferências Internacionais do Trabalho que ocorrem anualmente na sede da Organização

Internacional do Trabalho, com a presença de todos os Estados-membros, representados em caráter tripartite, com a atribuiçãodea discutir as normas a serem aprovadas e adotadas pelos países, além de outros assuntos decididos por seu Conselho de Administração são o exemplo clássico da arena de negociação para a formulação de políticas preconizada por Kingdon (1995), onde os participantes visíveis e os ocultos se interrelacionam para disputar ideias, interesses e valores que serão traduzidos em um objetivo comum. A depender do contexto, as decisões vão pender mais para um lado que para outro, adiando muitas vezes por tempo indeterminado o consenso sobre determinados temas.

desse objetivo. Naturalmente, sendo um processo bilateral, os países que propõem as discussões também possuem essa demanda interna, o que dá dinamicidade ao processo e alavanca os decursos dos mecanismos disponíveis.

A elaboração de normas não é o fim do ciclo e sim o início de outro processo, em geral longo e difícil, no qual os atores envolvidos tem que dedicar todo o seu conhecimento e poder político para que a mudança pretendida ocorra em âmbito local.

A promoção do conceito de Trabalho Decente não seguiu um caminho diferente. Desde o início da década de 1990 havia um debate internacional sobre a globalização dos mercados, a reestruturação produtiva e a introdução de reformas em diversas áreas, como nas legislações trabalhistas e nos sistemas de negociação coletiva, e como esses fatores impactavam de forma profunda no trabalho. Seja pelo efeito das reformas, como conseqüência das variações do ciclo econômico ou em razão do maior grau de concorrência com itens produzidos no exterior, o fato é que houve mudanças significativas no ritmo de criação de postos de trabalho, nas taxas de participação, nas características dos indivíduos empregados, nas instituições relevantes e em diversos outros aspectos. (CEPAL/PNUD/OIT, 2008a).

Esse discurso que vinha das discussões internacionais sobre a crise que assolava os países e afetava os empregos cabia perfeitamente no discurso nacional, em um país que vinha de um histórico de recessão, altos níveis de inflação e taxas de desemprego consideráveis.

Em um momento em que se discutia a consolidação do processo de redemocratização do Brasil, as reformas do Estado, o fomento ao desenvolvimento que deveria aliar a criação de empregos o desenvolvimento da indústria nacional em um mercado competitivo e aberto, a entrada na pauta do tema do Trabalho Decente demonstrou o reconhecimento do país como ator relevante no cenário internacional que se apresentava, ao mesmo tempo em que as forças políticas nacionais se esforçavam para garantir que o país se tornasse modelo para outros países da região.

Também se deve ressaltar que a entrada no governo em 2002 do Partido dos Trabalhadores, que em essência tem por prioridade a redução das desigualdades e a melhoria das condições de trabalho, facilitou a conciliação dessas duas vertentes e propiciou a oportunidade para que os tems relacionados ao trabalho fossem incorporados na agenda pública.

Apesar disso, os passos foram lentos e foram necessários quase dez anos para que a primeira grande discussão para a formulação de uma política de trabalho e emprego pudesse ocorrer. Não obstante o incentivo político dado pela OIT em nível local e a visibilidade que a participação do Brasil nos foruns internacionais ocasionava, não foi possível avançar de maneira consistente nas discussões em um período mais curto.

Por outro lado, ao assinar um Memorando de Entendimento com a OIT assumindo um compromisso perante a comunidade internacional de aplicar no Brasil as medidas necessárias para a implantação do Trabalho Decente, o país se coloca em uma condição onde fica passível de cobranças no cenário internacional, intensificando a pressão, já exercida pelos agentes internos interessados, de materializar a resposta a uma demanda já antiga de elaboração de uma política pública sobre trabalho e emprego.

Ainda que isso seja assunto interno do país, evidenciam-se pelos olhos da Organização, as fragilidades do processo, muito embora também seja visível a vontade política em realizá-lo. Esse tipo de acontecimento é utilizado para auxiliar outros países que estejam na mesma situação, caracterizando a assistência técnica que se espera desse tipo de organismo.

Mesmo estando em momentos políticos diferentes, os Estados-membros podem se beneficiar mutuamente, ampliando cada vez mais a agenda da organização internacional e, ao mesmo tempo, amparando-se para consolidar processos internos decorrentes da formulação de suas próprias agendas referentes ao tema.

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 167-170)

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