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O compromisso nacional com a promoção do Trabalho Decente

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 143-148)

Capítulo 4. A CONCEPÇÃO DO TRABALHO DECENTE

4.3. O compromisso nacional com a promoção do Trabalho Decente

No Brasil, o processo teve início em junho de 2003, quando o Diretor-Geral da OIT e o Presidente do Brasil assinaram um Memorando de Entendimento que previa o estabelecimento de um programa especial de cooperação técnica para a promoção de uma Agenda Nacional de Trabalho Decente (ANTD) no Brasil, em consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores. Como será visto a seguir, entre 2003 e 2010, diversas instâncias consultivas e deliberativas sobre o tema foram constituídas, tendo sido possível construir consensos importantes no campo da promoção do Trabalho Decente no país.

Conforme CNETD (2011), a proposta de uma Agenda Nacional de Trabalho Decente foi lançada em maio de 2006 pelo Ministro do Trabalho e Emprego durante a XVI Reunião Regional Americana, e tem como objetivo gerar Trabalho Decente para combater a pobreza e as desigualdades sociais, propondo a incorporação de metas de criação de emprego produtivo e de qualidade nas estratégias de desenvolvimento econômico e social, a integração entre objetivos econômicos e sociais e a inserção do trabalho nas discussões sobre geração de riqueza e redução das desigualdades (CNETD, 2011). Na ocasião, também foi lançada, pelo Diretor Geral da OIT, a Agenda Hemisférica do Trabalho Decente (AHTD). A ANTD estabelece como prioridades:

Gerar mais e melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento;

Erradicar o trabalho escravo e o trabalho infantil, em especial nas suas piores formas e

Fortalecer os atores tripartites e o diálogo social como um instrumento de governabilidade democrática.

A partir dessas prioridades é demarcado o âmbito das políticas públicas sobre o qual se formata o Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente.

Elaborada por um grupo de trabalho interministerial coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com assistência técnica permanente da OIT, e submetida à consulta às organizações de trabalhadores e de empregadores no âmbito da Comissão Tripartite de Relações Internacionais (CTRI), a Agenda Nacional de Trabalho Decente integrou objetivos econômicos com objetivos sociais considerando os eixos programáticos do Plano Plurianual 2004-2007, os resultados do Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milenio e os objetivos da Agenda Nacional de Desenvolvimento, além de estabelece resultados esperados e linhas de ação para cada uma das prioridades definidas (CNETD, 2011).

Segundo CNETD (2011), o processo de implementação da Agenda Nacional de Trabalho Decente (ANTD) ganhou novo impulso no final de 2007, com a constituição de um Grupo Técnico Tripartite de consulta e monitoramento. Também avançou, nesse período, a discussão sobre os indicadores para monitorar os avanços nas diversas dimensões do Trabalho Decente e na experiência pioneira de elaboração de Agendas Estaduais (Bahia, Mato Grosso) e intermunicipais (região do ABC Paulista) de Trabalho Decente.

O passo seguinte foi a elaboração do Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente (PNETD), a partir de uma proposta construída por um grupo interministerial mais amplo que o anterior, também coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e com a assistência técnica da OIT. No dia 4 de junho de 2009 foi formalizado, por Decreto Presidencial, o Comitê Executivo Interministerial encarregado da elaboração do PNETD, concebido como um instrumento de implementação da ANTD.

O Decreto nomeou os seguintes membros para o Comitê Executivo Interministerial: Ministério do Trabalho e Emprego

Ministério das Relações Exteriores Ministério do Desenvolvimento Social Ministério da Previdência

Ministério da Justiça

Ministério da Educação e Cultura Ministério da Saúde

Ministério da Fazenda

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ministério da Agricultura

Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério do Meio Ambiente

Secretaria Geral da Presidência Secretaria de Relações Institucionais

Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

Secretaria Nacional de Direitos Humanos

Também em junho de 2009, o Presidente da República e o Diretor Geral da OIT assinam uma Declaração de Compromisso que estabelece um novo marco de cooperação para o desenvolvimento do PNETD e reafirma o compromisso da OIT em apoiar o processo em nível local. A Declaração também estabelece que a cooperação terá com um de seus objetivos apoiar a construção de Agendas de Trabalho Decente em outros Estados- Membros da OIT por meio de iniciativas de cooperação sul-sul.

Em seguimento, durante o ano de 2009, o PNETD foi intensamente discutido por diversas áreas do Governo Federal e pelo Grupo de Trabalho Tripartite, em um complexo processo tentativo de consolidar o diálogo social. Como resultado, foi construído um consenso tripartite em torno das prioridades e resultados do PNETD, referendado por um documento firmado por representantes de governo, empregadores e trabalhadores durante a 98ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho, em junho de 2009, em Genebra. Na

ocasião, uma Declaração Conjunta assinada pelo Presidente Lula e pelo Diretor Geral da OIT reafirmou o compromisso entre o Governo brasileiro e a OIT em relação ao tema (CNETD, 2011).

O PNETD foi concebido como um instrumento de uma política pública de Estado para a promoção contínua do Trabalho Decente no país. Segundo CNETD (2011), o arquétipo do Plano, denominado Matriz Lógica do PNETD foi resultado de um esforço de sistematização dos programas e ações do PPA 2004-2007, relacionados com as prioridades da ANTD.

Embora o processo tenha resultado em um consenso sobre as prioridades, não foi possível obter o mesmo consenso em relação às suas metas e indicadores. Dessa forma, o PNETD foi desenhado como um instrumento que propõe integrar, monitorar, avaliar e remodelar programas e ações do Governo Federal, concebidos tanto como resposta aos compromissos e metas assumidos pelo país no cenário internacional como também como parte da estratégia nacional de redução da probreza e promoção do desenvolvimento equitativo, inclusivo e sustentável (CNETD, 2011).

Deve-se ressaltar que as três prioridades do Plano são as mesmas da ANTD, sendo o PPA o veículo de execução do Plano, já que este não possui dimensão operacional própria e autônoma. No entanto, conforme pontuado em CNETD (2011), o Plano permite incorporar a cooperação técnica da OIT e a possibilidade de difundir boas práticas desenvolvidas no Brasil no âmbito laboral e de proteção social para outros países como parte das estratégias de cooperação sul-sul estabelecidas pelo Brasil.

Em maio de 2010, o Ministro do Trabalho e Emprego realizou uma pré- conferência, ocasião em que lançou o PNETD, com as prioridades e resultados acordados em forma tripartite, além de metas e indicadores para o período 2011- 2015. O PNETD, que consolida os avanços e consensos já obtidos, ao mesmo tempo em que registra as divergências e observações expressas pelas organizações de empregadores e de trabalhadores, foi apresentado pelo Ministro do Trabalho e Emprego como uma referência fundamental para a continuidade do debate em torno às políticas públicas de emprego e proteção social no país.

O mesmo Decreto que criou o Comitê Executivo Interministerial (CEI) instituiu o Subcomitê da Juventude, com o objetivo de elaborar uma Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude (ANTDJ). Esse objetivo foi cumprido durante o ano de 2010,

também por meio de um processo de diálogo tripartite. A ANTDJ se organiza em torno de quatro prioridades:

mais e melhor educação;

conciliação entre estudos, trabalho e vida familiar; inserção digna e ativa no mundo do trabalho; diálogo social.

Em sua primeira reunião em abril de 2010, o Comitê Executivo Interministerial (CEI) aprovou o seu Regimento Interno, aprovou a proposta de texto do PNETD, transformou o GTI em Subcomitê de Assessoramento Técnico (SAT), incorporou o GTT à sua institucionalidade e deliberou sobre o pré-lançamento da I Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente - CNETD, complexo processo de consulta tripartite em âmbito nacional para debater os temas do mundo do trabalho, de cujos resultados se esperava estabelecer a base de uma futura política governamental sobre emprego e trabalho no Brasil.

Em sua segunda reunião, realizada em maio de 2011, o CEI aprovou o temário e o calendário da I Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente, promoveu o lançamento da Agenda de Trabalho Decente da Juventude e criou o Subcomitê de Igualdade Racial e o Subcomitê de Igualdade de Gênero, que têm por objetivo elaborar agendas de Trabalho Decente específicas para estes segmentos.

De acordo com o afirmado por CNETD (2011), para a plena execução do PNETD, seu monitoramento e realimentação é necessário o fortalecimento dos mecanismos de diálogo social, já que o Plano é considerado ponto de partida e projeto em construção permanente para torná-lo um elemento catalisador das aspirações do governo e da sociedade em relação ao estabelecimento de um país mais próspero e inclusivo do ponto de vista social.

É a partir dessa perspectiva, de necessidade de fortalecimento de mecanismos existentes e promoção e consolidação do diálogo tripartite que se enquadra a realização da Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente, assim como o seu processo de preparação no âmbito municipal, estadual e intermunicipal.

Vale acrescentar que toda a movimentação em prol da realização da I CNETD acontece ao mesmo tempo em que o Governo Federal coloca em marcha o Plano Brasil

Sem Miséria36 com o objetivo de concretizar a meta central do governo de erradicar a extrema pobreza no país, que, apesar dos grandes avanços realizados nos últimos anos, ainda afeta 16,2 milhões de pessoas, segundo as fontes oficiais do governo.

Lançado em junho de 2011, o Plano Brasil Sem Miséria se baseia em três pilares: transferência de renda, acesso a serviços públicos e inclusão produtiva, lançando um novo desafio para as políticas públicas de trabalho e emprego no Brasil.

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 143-148)

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