• Nenhum resultado encontrado

Parte I – Fundamentação Teórica

Capítulo 2: Liderança

2.1. Conceito de Liderança

2.1.1. O binómio liderança-gestão

debate de grande interesse que ocorre na área de liderança prende-se com o binómio

liderança-gestão. A importância da liderança na gestão das organizações é de tal ordem, que

muitos autores tratam sinonimamente os vocábulos de “liderança” e “gestão”. Os mesmos autores referem ainda que, fora dos círculos de investigação, é comum presumir-se que a liderança é um processo mais emocional e mais “quente” do que gestão, considerando-se que os líderes são carismáticos e inspiradores, tomam riscos, são dinâmicos e criativos, sabem

lidar com a mudança e são visionários, ao passo que os gestores são mais racionais, trabalham mais com a “cabeça” do que com o “coração”, lidam mais com questões de eficiência, planeamento, procedimentos, controlo e regulamentos. As diferenças entre os conceitos, dentro dos círculos de investigação, podem ser consultadas na tabela 5.

Tabela 5. Gestores vs. Líderes. (Fonte: Cunha et al., 2007)

Gestão Liderança

 Rendem-se à situação.  Procuram agir sobre a situação.

 Administram.  Inovam.

 Questionam-se sobre o como e quando.  Questionam-se sobre o quê e o porquê.

 Têm perspetivas de curto-prazo.  Têm perspetivas de longo-prazo.

 Imitam.  São originais.

 As competências de gestão podem ser ensinadas/aprendidas.

 As competências de liderança não podem ser ensinadas/aprendidas.

Assim, percebe-se pela tabela que um gestor é alguém que tem perspetivas de curto-prazo, que se limita a seguir as instruções a ele dadas, apenas administram e as suas competências podem ser ensinadas/aprendidas. Um líder, em contrapartida, é alguém que inova, que pensa no sucesso da Organização a longo-prazo, é original e as suas competências não podem ser ensinadas/aprendidas.

Apesar de ser consensual que gerir e liderar não são termos equivalentes, o grau de sobreposição entre ambos é uma questão de profundo desentendimento entre os autores. Yukl (2013) refere que um indivíduo pode ser líder sem ser gestor, e vice-versa. Bennis e Nanus (1985, citados por Cunha et al., 2007) defendem uma posição quase extrema, assumindo que gestão e liderança não podem estar presentes na mesma pessoa, já que a definição de líder e gestor contempla valores incompatíveis, referindo para isso que gerir consiste em “provocar, realizar, assumir responsabilidades, comandar” (p.333), ao passo que liderança consiste em “exercer influência, guiar, orientar” (p.333). Para os autores, enquanto que os gestores são as pessoas que sabem o que devem fazer, os líderes são as pessoas que sabem o que deve ser feito. Para Rost e Smith (1992), também os conceitos de liderança e gestão apresentam uma natureza divergente, embora ambas sejam necessárias para o sucesso e sobrevivência das organizações. Segundo os autores, a liderança é uma influência de relacionamento, ao passo que a gestão é um relacionamento de autoridade. Rowe (2001) discorda dos autores que

referem que um indivíduo não pode ser igualmente líder e gestor, propondo um modelo triangular cujos vértices apontam para as lideranças gestionária, visionária e estratégica. Assim, segundo o autor, a liderança gestionária está para os gestores como a liderança visionária está para os líderes. Neste sentido, o líder gestionário é aquele que enfatiza a estabilidade financeira a longo-prazo e procura manter a ordem existente, negligenciando e colocando de parte as inovações que podem mudar uma Organização. O líder visionário, por seu lado, já enfatiza a viabilidade da Organização a longo-prazo e fomenta a inovação, faltando-lhe, de alguma forma, alguma “frieza” necessária para garantir a sobrevivência da Organização a curto-prazo. Assim, facilmente se percebe que o líder estratégico é aquele que consegue harmonizar as duas vertentes da liderança, aliando os atributos dos gestores com os de líderes, e assegurando a sobrevivência a longo prazo da Organização, sem descurar das questões financeiras a curto prazo. As caraterísticas de cada um dos papéis supramencionadas podem ser consultados na tabela 6.

Tabela 6. Liderança Estratégica, Visionária e Gestionária. (Fonte: Rowe, 2001)

Líderes estratégicos

 Combinam sinergicamente as lideranças gestionária e visionária.

 Enfatizam o comportamento ético e as decisões baseadas nos valores.

 Conciliam as responsabilidades operacionais (do dia-a-dia) e estratégicas (longo prazo).

 Formulam e implementam estratégias com impacto imediato e preservam metas a longo prazo para assegurar a sobrevivência, o crescimento e a viabilidade da Organização.

 Têm expectativas fortes e positivas sobre o desempenho de todos

 As suas escolhas fazem a diferença nas suas Organizações e na envolvente (escolha estratégica).

Líderes visionários Líderes gestionários

 São proativos, moldam ideias, mudam a maneira como as pessoas pensam sobre o que é desejável, possível e necessário.

 Estão preocupados com ideias,

relacionam-se com pessoas de maneira intuitiva e empática.

 São reativos; adotam atitudes passivas em relação aos objetivos; os objetivos surgem das necessidades.

 Relacionam-se com as pessoas de

acordo com os seus papéis nos processos de tomada de decisão.

 O senso de quem eles são não depende do trabalho.

 Influenciam atitudes e opiniões de outros dentro da Organização.

 Preocupados em assegurar o futuro da Organização, especialmente através do desenvolvimento e gestão das pessoas.

 Mais dispostos a investir em inovação, capital humano, e criar e manter uma cultura efetiva para garantir a viabilidade a longo prazo.

 O senso de quem eles são depende do seu papel na Organização.

 Influenciam ações e decisões daqueles com quem eles trabalham.

 Envolvidos em situações e contextos característicos das atividades do dia-a- dia.

 Envolvem e apoiam, a curto prazo, um comportamento de menor custo para melhorar os números do desempenho financeiro.

Aceitando a premissa de que gestores e líderes são componentes imprescindíveis nas organizações modernas, a figura 2, proposta por Cunha e colegas (2007), traduz claramente a ideia da complementaridade das duas noções. Nesta figura, da esquerda para a direita,

conseguem analisar-se três aspetos: a imagem retratada à esquerda refere as distinções feitas sobre um líder e um gestor, sendo os conceitos distintos, como se analisou em cima; na imagem do meio, percebe-se o que acontece quando as pessoas conciliam, ou não, as duas funções. Isto é, se conciliarem, serão líderes-gestores, ou líderes estratégicos, como refere Rowe (2001). Se não conciliarem as duas vertentes, ou são líderes visionários ou gestores. Por último, na imagem à direita, percebe-se o que deve acontecer na prática. Na realidade das organizações, os gestores têm de ser capazes de assumir posições/comportamentos de

liderança, isto é, devem ser líderes estratégicos.

Figura 2. Ensaio visual para a compreensão das distinções liderança-gestão. (Fonte: Cunha et