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O CÍRCULO DE DISCÍPULOS AUMENTA

No documento Mulher, história, psicanálise (páginas 126-129)

Após a leitura de A interpretação dos sonhos, Otto Rank17 conhece Adler em 1905. Apresentado a Freud, é integrado à Sociedade Psicológica das Quartas-feiras. Em 1906, Rank torna-se secretário da Sociedade, após apresentar uma exposição sobre o tema do incesto. Freud logo passa a considerá-lo um "filho adotivo". Incentivado pela primeira vez em sua vida, Rank começa a escrever, entra para a Universidade e obtêm (em 1912) um doutorado em Filosofia. Transcreve as atas das reuniões da Sociedade

Psicológica das Quartas-feiras, reunindo com isso um material de grande importância,

que seria mantido cuidadosamente por Freud (Roudinesco & Plon, 1998, p. 642).

Em 1907, Max Eitingon, judeu russo formado em medicina em Leipzig (Alemanha) e assistente de Bleuler na Clínica Psiquiátrica do Hospital Burghölzli, em

16 Investimento: conceito econômico que supõe a ligação de uma determinada energia psíquica a um

objeto, a uma parte do corpo, a uma representação ou a um grupo de representações. Sinônimo: catexia (Laplanche & Pontalis, 2000, pp. 62/254).

17 Todos os psicanalistas cujo nome – na primeira vez em que aparecer no texto – encontrar-se em

negrito, contribuíram, de alguma forma, para a discussão sobre a sexualidade feminina. Um recorte de sua biografia, no que antecede o primeiro contato com a psicanálise, encontra-se no Apêndice da página 305 (na ordem com que aparecem no texto).

Zurique, é o primeiro membro, dos vários deste grupo, a procurar conhecer Freud, o que ocorre em janeiro deste ano, quando participa de algumas reuniões da Sociedade

Psicológica das Quartas-Feiras, nas quais colabora com muita pertinência. Passa

algumas noites com Freud, gastas em caminhadas pela cidade, nas quais se realizam as primeiras sessões de análise didática18 da história psicanalítica. Também em 1907, Freud conhece pessoalmente Carl Gustav Jung (que também trabalha na Clínica

Psiquiátrica do Hospital Burghölzli), que viria a ser o seu primeiro discípulo não-judeu

– e que nutre por Eitingon um desprezo condescendente. Desde seu primeiro contato, os dois estabelecem uma grande relação de amizade e trabalho, e Freud desenvolve grandes esperanças de que Jung venha a ser seu sucessor (Roudinesco & Plon, 1998, pp. 171-172/276/803).

Karl Abraham, que também tem seu primeiro contato com os textos

psicanalíticos na Clínica do Hospital Burghölzli, se estabelece em Berlim, em 1907, por não lhe ser possível fazer carreira na Suíça. Em dezembro deste ano, vai a Viena com o intuito de conhecer Freud. Abraham arrisca-se a abrir uma clínica particular em Berlim – onde a psicanálise é ou desconhecida ou detestada nesta época. Para Freud isto representa muito, considerando-se que após seu rompimento com Fliess não havia ninguém de confiança para defender a psicanálise nesta cidade. Em 1908, Abraham cria, com outros médicos, um primeiro grupo psicanalítico berlinense. De 1907 a 1910, Abraham trabalharia na comparação entre histeria e demência precoce, bem como na significação do trauma sexual na infância. Desde o início, a relação entre Abraham e Freud não se reduziu a assuntos psicanalíticos e sua amizade se estendeu às respectivas famílias (Gay, 1999, pp. 175-177 e Roudinesco & Plon, 1998, pp. 2/804).

Também em 1908, Freud conheceria Sándor Ferenczi e Ernest Jones. Ambos viriam a aderir ao movimento psicanalítico e desenvolveriam com Freud relações importantes e duradouras.

Freud concede uma entrevista a Ferenczi em fevereiro de 1908, ficando tão impressionado com ele, já neste primeiro contato, que o convida imediatamente a apresentar uma comunicação no I Congresso Internacional de Psicanálise, a ser

18 Análise didática: aquela a que se submete a pessoa que visa ao exercício da profissão de psicanalista

realizado em Salzburgo, Áustria, em abril. Também o convida para visitar sua família nas férias de verão, convite que reserva apenas aos grandes amigos. A disposição especulativa de Ferenczi intriga Freud, embora sua carência emocional o incomode – por estar desiludido após seu rompimento com Fliess. Essa necessidade emocional desaparecera dele, teria dito Freud a Ferenczi, pois uma carga homossexual fora retirada e utilizada para o alargamento de seu próprio ego19. Quanto às relações amorosas de Ferenczi, elas sempre foram tumultuadas. Tornara-se amante, em 1904, de Gizzela Palos, uma mulher oito anos mais velha, com duas filhas adultas. O marido de Gizzela não lhe concede o divórcio, embora tolere sua relação com Ferenczi. Em 1908, Ferenczi torna-se analista de Gizzela, sendo constante e inutilmente advertido por Freud contra os perigos desta prática (Balint, 1991, pp. VIII-IX, Gay, 1999, pp. 183-184/258-2590 e Roudinesco & Plon, 1998, p. 233).

Jones conhece Freud no I Congresso Internacional de Psicanálise, em Salzburgo, Áustria, em abril de 1908, intitulado "Encontro dos psicólogos freudianos", e que tem a participação de quarenta e dois membros, vindos de seis países. Nesta ocasião, Freud faz uma exposição sobre um caso clínico e Jones fica deveras impressionado com aquele homem capaz de manter a platéia atenta durante horas, sem recorrer a qualquer anotação. Inicia-se então, entre os dois, uma longa correspondência, num total de 671 cartas. Como Freud jamais viria a gostar muito de Jones, faltam nesta correspondência a intimidade e o estilo próprios de suas outras cartas. Parece sempre que – mais que no caso de Jung – Freud vê em Jones um aliado indispensável, devido ao fato de ser um não-judeu, e um celta. Apesar disto, ou talvez por causa disto, Freud o trata de forma paternal, elogiando-o assídua e calorosamente (Gay, 1999, pp. 179-180/232 e Roudinesco & Plon, 1998, pp. 415-416).

Também em 1908, Freud inicia, como supervisor, a primeira psicanálise de uma criança. A mesma é conduzida pelo pai do menino de cinco anos, sob orientação de Freud – este caso será conhecido como o do "pequeno Hans". Ainda neste ano, contando com 22 membros, a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras passa a se

19 Ego ou eu: parte do psiquismo que Freud distingue do id (ou isso), que é o pólo pulsional da

personalidade, e do superego (ou supereu), cujo papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego. O ego seria responsável por encontrar o equilíbrio entre as reivindicações do id, os imperativos do superego e as exigências da realidade (Laplanche & Pontalis, 2000, pp. 124/219/497).

chamar Sociedade Psicanalítica de Viena – WPV. Então, metade de seus membros já pratica a psicanálise (Roudinesco & Plon, 1998, pp. 307/719-720).

No documento Mulher, história, psicanálise (páginas 126-129)