Capítulo I. História do Colégio Santa Cruz
6. O Colégio Santa Cruz
até 1951.
E, em 1952, fundaram o Colégio Santa Cruz.
6. O Colégio Santa Cruz
A ideia e vontade de fundar um colégio no Brasil veio do Padre Lionel Corbeil, que mesmo durante a construção da paróquia do Jaguaré já tinha esse sonho.
Assim, depois do pedido insistente de sua Eminência o Cardeal Motta e muitas conversas entre o Padre Corbeil e seus superiores do Canadá, nasce o Colégio Santa Cruz.
O Padre Corbeil trocava cartas com os superiores provincial e geral de Santa Cruz no Canadá, e nelas falava sobre o desejo de construir um colégio (HADDAD, 1982, p. 59-61).
Pe. Corbeil ao Padre Cousineau em 18/06/1945:
Um Colégio (...) o apostolado pelo ensino é aqui bem necessário.
Toda educação da juventude está na maior parte nas mãos do Estado. O curso primário é totalmente fornecido por leigos a serviço do governo. O curso secundário ou colegial não conta com mais de cinco colégios católicos para jovens em São Paulo. Quanto ao curso universitário, existe uma universidade do Estado e embriões de Universidades Católicas em São Paulo e no Rio de Janeiro. O que quer dizer que o ensino religioso deixa muito a desejar.
Também o arcebispo, bem como várias pessoas influentes de nossos amigos insistem bastante para que abramos um colégio católico com nossos métodos de educação moral, intelectual e física.
em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/juventude-operaria-catolica-
joc. Acesso em: 03 de novembro de 2017.
Vejamos a possibilidade para a Congregação de fundar este colégio. A questão se resume a dois problemas, a do financiamento e a dos padres a enviar. O financiamento já nos foi prometido por um grupo de leigos que se empenharam em comprar o terreno e em construir os edifícios.
Padre Corbeil ao Padre Poitras em 27/03/1946:
Até agora, em nossas cartas, falamos do colégio a ser fundado. É um desejo bem manifestado de sua Eminência o Cardeal assim como da Sociedade de São Paulo... A grande necessidade do Brasil é o ensino religioso nas escolas e nos colégios que são mantidos em sua maioria pelo Estado. As crianças não têm ensino religioso, é por isso que este país não tem vocações.
Padre Corbeil ao Padre Cousineau em 09/04/1946:
(...) o parecer do nosso Conselho não é favorável a esta fundação (colégio). Mas sua Eminência, o Cardeal, a quem expus as deficiências graves do ensino religioso, nas escolas e colégios e a necessidade de padres catequistas é de opinião que é mais importante fundar colégios católicos. Ele disse mesmo em uma reunião eclesiástica do clero, que isto seria mais importante que fundar paróquias. Eis uma orientação bem diferente que a de Dom José Gaspar.
Haveria possibilidade de organizar este Colégio?
Questão financeira, teríamos certamente a ajuda de várias pessoas ricas de São Paulo que já nos prometeram seu apoio. Questão de religiosos. Seria preciso receber ao menos dois padres por ano.
Padre Corbeil ao Padre Poitras em 16/02/1949:
Como o presidente da "Brazilian Traction" deve vir ao Brasil no fim deste mês, nosso amigo Odilon de Souza da Light de São Paulo é de opinião que devemos fazer a diligência imediatamente para obter um grande terreno para o nosso Colégio.
Um terreno de 50.000 m2 situado no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, foi doado pela Light de São Paulo (empresa canadense), em que seriam construídos os pavilhões para as salas de aulas, bibliotecas, quadras esportivas, ou seja, o Colégio Santa Cruz.
Na inauguração oficial do Colégio Santa Cruz, em 1952, o Padre Corbeil faz um discurso:
Um ginásio (...) cremos mesmo, serem as primeiras palavras que entraram em nosso vocabulário, por ouvi-las repetidamente dos amigos e, particularmente, de sua Eminência Reverendíssima o Sr.
Cardeal de São Paulo.
Tínhamos que realizar primeiramente, a obra para a qual fomos convidados, há 8 anos atrás, isto é, fundar uma paróquia em um bairro operário...
A Divina Providência que dirige os indivíduos, as pessoas morais e as sociedades, fez passar um período de 8 anos antes de permitir a fundação deste ginásio. Este tempo foi utilizado para um conhecimento mais profundo dos diversos meios da sociedade que chegamos a conhecer através da Ação Católica Universitária e Operária, pela difusão do bom livro, pelo ministério em duas paróquias, pela pregação e pelo ensino.
Temos atualmente, após somente um semestre de atividades, candidatos registrados até 1957 (...). (HADDAD, 1982, p. 62)
Estavam presentes autoridades como o Cardeal Motta, o Governador de São Paulo - Prof. Lucas Nogueira Garcez, os cônsules do Canadá e da Bélgica.
Além dos pais dos primeiros alunos matriculados.
O Colégio já nasce bem-sucedido e dito de qualidade e excelência. Isso, porque os padres canadenses traziam consigo a marca de sua educação
Figura 9: Construção do Colégio Santa Cruz. Fonte:
http://www.cei.santacruz.g12.br/~50anos/revista/fotos/re bulico%20da%20memoria/construcao.jpg. Acesso em:
12 de novembro de 2017.
moderna e humanista. Padre Corbeil tinha estudado no Colégio Saint Laurent, um colégio de Santa Cruz e, queria "reproduzir" essa experiência aqui no Brasil.
O Padre Corbeil havia cursado este colégio e realmente era um curso notável, o Colégio Saint Laurent. Era um negócio completamente fora dos padrões para a época. Era muitíssimo adiantado, tanto do ponto de vista de infraestrutura, quanto do ponto de vista didático, do ponto de vista de orientação, do ponto de vista do espírito. A gente realmente tinha vínculos afetivos. Então o Padre Corbeil, que era jovem naquela época, estava acabando de sair desse colégio como professor. Ele veio aqui, e cada pessoa que vinha para cá, era uma pessoa desse Colégio que ele ia buscar (Padre Charbonneau).
(HADDAD, 1982, p. 63)
E dentro dessa ideia e perspectiva, chegava com os padres canadenses, então, uma nova proposta educacional. A qual, segundo eles, ajudaria na formação de jovens mais comprometidos com o seu país. Pois eles achavam que no Brasil, um país pobre e subdesenvolvido, faltava quem olhasse de maneira humana e solidária para a resolução desses problemas.
Padre Corbeil sempre refletia sobre essas questões:
Quanto ao problema político, sentia-se uma falta nítida de liderança, particularmente no plano da administração pública. Quando entrava no setor público para arrumar uma documentação ou qualquer outra coisa era uma desorganização, cheia de burocracia e, para mim, que chegava de um país muitíssimo organizado, percebia a desconfiança total no cidadão. Isso me impressionou muito e então a gente sempre tinha isto na mente: a gente tem que pensar em formar uma juventude que tenha o senso do bem comum, que pense em virtudes de honestidade, autenticidade, que seja um enriquecimento para o país, onde quer que esteja, seja no governo, fora do governo, nas profissões liberais, na direção de uma empresa. Então a gente tinha essa ideia nítida de quem formar: jovens autênticos que iam trabalhar para o bem comum. (HADDAD, 1982, p. 66)
Começava então a história do Colégio Santa Cruz, com seus primeiros sessenta alunos do sexo masculino, divididos em duas turmas com trinta alunos cada, três padres, oito professores leigos e um secretário. Em 1954, tinha quatro
séries, 137 alunos, 6 padres, 12 professores leigos;; em 1957, 185 alunos, 10 padres, 16 professores leigos;; em 1961, 310 alunos, 12 padres e 25 professores leigos. O regime de semi-internato chega ao fim e, com a saída de muitos padres, tem início a laicização dos cargos diretivos. Hoje, o Colégio conta com cerca de 2.700 alunos, 2 padres e 250 professores leigos.
Na época de sua fundação, a Cúria Metropolitana de São Paulo, emprestou uma casa, situada na Avenida Higienópolis, 890, para que as aulas começassem. Depois, em 1956, os alunos fundadores são transferidos para o Colégio Sion, que abriu uma seção masculina especialmente para eles, onde fizeram a 1ª série Ginasial (hoje correspondente ao 6º ano do Ensino Fundamental II), em regime de semi-internato. E em 1957, foram transferidos para o atual endereço no Alto de Pinheiros, quando o prédio foi finalizado.
Em 1958, foi elaborado um plano piloto, aprovado pelo Ministério de Educação e Cultura, através do Parecer nº 607/58, para que no ano seguinte fossem iniciadas as "classes experimentais", no intuito de renovação dos métodos pedagógicos vigentes. "Foi a única escola religiosa masculina e uma das seis ou sete entre estabelecimentos oficiais e particulares de São Paulo a lançar, em 1959, classes experimentais", escreveu o Padre Yvon La France (1963)28, em seu livro.
E, depois, o Parecer nº 107/66 do Conselho Federal de Educação, de 1966, autorizava o Colégio Santa Cruz a funcionar, agora, como "escola experimental".
Tudo para que o colégio do Padre Corbeil fosse como o imaginado.
Moderno, com linhas arquitetônicas simples, alegres, arejadas e funcionais, instalado no meio de belos jardins, de árvores, de flores e verdes gramados, com grandes áreas para os esportes.
Idealizou-se, projetou-se uma comunidade escolar alegre, feliz, onde todos os agentes de educação seriam participantes ativos, pela comunicação, pelo diálogo, pela realização de uma Escola que "seria a segunda casa dos meninos". Uma escola com dois objetivos
28 Uma experiência Psicopedagógica no Colégio Santa Cruz, 1959-1962. Separata da Revista de Psicologia Normal e Patológica.
principais bem definidos: um ensino centralizado no educando, presidido por uma pedagogia ativa, respeitadora dos seus interesses, da sua imaginação, de sua inteligência, dos dons criadores, do espírito de pesquisa e de suas opções livres;; o outro, um ambiente que permitisse aos professores, ao mestre, ao técnico da educação, realizar-se profissionalmente.
Que sonho para quem não tem casa, nem terreno, nem dinheiro, mas possui uma equipe competente, entusiasta, comunicativa, decidida e ousada!29
Em 1974, há a abertura de matrículas para as alunas. Completa-se o Curso Primário, atualmente chamado de Ensino Fundamental 1. E, com a regulamentação dos cursos supletivos pelo Conselho Estadual de Educação através da Deliberação 14/73, democratização de suas atividades com a justa abertura aos mais necessitados, dá-se início o Curso Supletivo, hoje conhecido como EJA (Educação de Jovens e Adultos), gratuito para os alunos e subsidiado por recursos do próprio Colégio.
A marca do trabalho com os menos favorecidos vem desde a sua fundação, quando o Padre Cláudio inicia os acampamento-missão e também quando leva os alunos para desenvolverem atividades com os moradores da favela que existia em frente ao colégio. Mas, principalmente depois de 1965, pelo impacto do Concílio Vaticano II, há um envolvimento ainda maior com essas causas. E não adiantava somente educar os alunos sobre as questões sociais do país, para que se conscientizassem e, quem sabe, se sensibilizassem por elas, mas também colocá-los próximos a essas realidades;; para que, no contato direto e cotidiano, eles pudessem presenciar a democratização acontecendo de fato, como isso era importante para a melhoria da educação para todos e, consequentemente, uma melhora para o país.
Urge modificar as estruturas da escola, para que a educação seja proporcionada, não mais a um grupo privilegiado de indivíduos ou de nações, mas à totalidade dos homens. Como dizia o presidente da
29 Padre Lionel Corbeil, C.S.C., na introdução ao livro: "A escola moderna, uma experiência brasileira: o Colégio Santa Cruz”, escrito pelo Pe. Paul Eugène Charbonneau, C.S.C., 1973, p.
10.
Comissão especial da O.E.A. (Organização dos Estados Americanos) criada para promover a programação e o desenvolvimento da Educação, Ciência e Cultura na América Latina, sr. Gabriel Betancur Mejía: “Não é exagerado afirmar que a diferença mais notável entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos é que nos primeiros sua população tem acesso à educação e nos segundos uma alta percentagem da população não tem siquer acesso ao ensino primário e fundamental. A base primordial para a aquisição de um alto nível de vida está no nível educativo da população”. Passou-se da noção de privilégio à direito efetivo. Ã noção de direito corresponde a de dever:
definiu-se, portanto, o dever de proporcionar possibilidades de educação (do grau primário ao grau universitário) a todos os homens, sem discriminação social ou econômica.
Em suma, a escola abriu-se para a massa.
(...) Como afirmou Anisio Teixeira, “o povo já sabe buscar na escola a justiça social que lhe era antes negada em face dos privilégios educacionais”.
(...) O fato de um grupo de sacerdotes estrangeiros abrirem uma escola no Brasil os enquadra dentro do sistema escolar do país, coloca-os a serviço do bem comum educacional da sociedade brasileira, obriga-os a promover a cultura brasileira.
A educação democrática do povo brasileiro constitui um desafio decisivo que não poderá ser adiado. Para realizar essa educação, a escola secundária tradicional não é o único meio: outros campos, tais como, a alfabetização de adultos (...), atingem mais diretamente a massa. (BEAULIEU, CHARBONNEAU & ARRÔBAS MARTINS, 1966, p.15-17, 99)
O contexto foi esse, com o engajamento de todos e, principalmente, com a aposta de uma transformação social pelos efeitos da democratização da educação.
Assim, construiu-se o Santa Cruz, que até hoje, como o Padre Corbeil disse, apresenta o "seu processo educativo sempre em movimento" (HADDAD, 1982, p. 77).
Figura 10: Foto aérea do Colégio Santa Cruz. Alto de Pinheiros, São Paulo.
Fonte: Acervo do Colégio Santa Cruz.
Capítulo II
O Ensino Religioso no Colégio Santa Cruz: aspectos históricos
1. O Ensino Religioso no Brasil e no Colégio Santa Cruz
A Educação Religiosa/Ensino Religioso no Colégio Santa Cruz, acaba indo ao encontro de toda essa questão brasileira sobre a identidade dessa disciplina e a luta para torná-la uma Área de Conhecimento. Principalmente pela herança dos padres canadenses, ex-estudantes do Colégio Saint Laurent, que vieram para o Brasil trazendo seus pensamentos e educação moderna.
No país, muitas discussões foram levantadas sobre essa questão. Em 1824, Rui Barbosa, em seu texto para a Constituição Republicana de 1890, deixa clara sua opinião de que deveria haver liberdade religiosa: “uma Igreja livre, em um Estado livre” (JUNQUEIRA, 2002). Apesar de a Revolução Francesa influenciar com as ideias do Iluminismo e a busca pela razão, que trazia o conceito de laicidade e liberdade, seu texto vai mais do encontro da proposta americana de “neutralidade”, do que com a francesa dessa época, que era contra a Igreja Católica.
No Brasil, essas questões estão apenas começando. No Art. 153 da Constituição de 193430, admite-se o Ensino Religioso nas escolas, mas de caráter facultativo, de acordo com a crença do aluno, como disciplina nas escolas públicas. E com a primeira LDB (Lei de Diretrizes e Bases para o Ensino), em 1961, representada pela Lei Federal 4.024/61, o Ensino Religioso entra para a sala de aula como parte do currículo, mas no Modelo Confessional31, como ensino catequético, com a presença da Igreja, e ainda facultativo.
Art. 97. O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os poderes públicos, de acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável.
§ 1º A formação de classe para o ensino religioso independe de número mínimo de alunos.
§ 2º O registro dos professores de ensino religioso será realizado perante a autoridade religiosa respectiva32.
Após 10 anos, em 1971, há a promulgação da nova LDB (Lei Federal 5.692/71), que no Parágrafo Único do Artigo 7o, continua incluindo o Ensino Religioso entre as disciplinas curriculares das escolas oficiais, mas não diz mais respeito à presença de uma autoridade religiosa “respectiva”.
Art. 7º Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observado quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei n. 369, de 12 de setembro de 1969.
30Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm. Acesso em:
17 de julho de 2017.
31 Segundo JUNQUEIRA (2000, p. 18), Confessional (Lei n. 4.024/61): realizado a partir de uma mesma confissão religiosa, transmitindo tudo o que é próprio de uma tradição religiosa (visão de mundo, formulações de fé, ética, costumes, práticas rituais, etc.). Tem como objetivo formar na fé de uma determinada religião ou filosofia de vida e com a linguagem que lhes é própria. A responsabilidade administrativa é a da autoridade confessional, portanto o Ensino Religioso Confessional proporciona uma interpretação última e global da existência e apresenta um caminho a ser vivenciado. Portanto, as aulas de Religião visam, sobretudo, o aspecto informativo da doutrina de forma sistemática, e são avaliadas através de provas e exames buscando a fixação do conteúdo. Quer garantir estrutura de cristandade, desejo herdado do período colonial.
32Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-
1961-353722-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 17 de julho de 2017.
Parágrafo único. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1º e 2º graus33.
O que abriu, na época, a possibilidade de se ter um Ensino Religioso no Modelo Inter-Relacional (Interconfessional e Inter-Religioso)34. Com o crescimento de outras lideranças religiosas e o pluralismo da sociedade, outras religiões podiam estar presentes nas aulas.
Desta maneira, inicia-se um processo de busca por um objeto do Ensino Religioso, ou seja, de uma identidade. Pois ainda não havia clareza quanto ao seu papel no âmbito escolar.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), entidade da Igreja Apostólica Romana, por exemplo, em 1976, publicou um estudo para apresentar uma visão panorâmica do Ensino Religioso nas escolas oficiais nos diversos Estados brasileiros, após a promulgação das novas Diretrizes e Bases para o Ensino, em 1971 (ESTUDOS DA CNBB, 1976). Pois sentiu a necessidade de observar e entender como estavam sendo as aulas, e assim, saber como poderiam impulsionar a catequese nas escolas estaduais e, principalmente, nas particulares.
Como muitos outros grupos, além dos especialistas, que também foram em busca desse “objeto” do Ensino Religioso, dessa identidade e, “o quê” e
“como” poderia ser ministrado nas escolas.
Desde 1974, Encontros Nacionais de Ensino Religioso (ENER) têm sido realizados para reflexões sobre esse papel. Além de se pensar nos conteúdos
33Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-
357752-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 17 de julho de 2017.
34 Segundo JUNQUEIRA (2000, p. 18-19)Inter-relacional (Lei n. 5.692/71): é realizado a partir da articulação de diferentes confissões cristãs e posteriormente de forma lenta, assumindo as diversas tradições religiosas. Considera tudo aquilo que é comum a várias destas confissões religiosas também em termos de linguagem, o que não significa reduzir tudo a um denominador comum. O referencial teórico são as ciências humanas, o eixo, a teologia. O texto utilizado em geral é a Bíblia, a partir de uma interpretação que favoreça o diálogo entre as diversas propostas religiosas. O Ensino Religioso interconfessional pressupõe identidade confessional dos alunos, conhecida e assumida por eles. A perspectiva é da manutenção de uma sociedade homogênea.
Quando foram iniciadas as primeiras experiências inter-religiosas estabeleceu-se um proposta de “Teologia Comparada”, de maneira operacional através de um quadro histórico, com breves exposições sobre as concepções religiosas de cada uma das tradições estudadas.
disciplinares específicos, em como ensinar e quem estaria habilitado a ensinar.
As ideias sobre pluralismo, diversidade, construção de uma sociedade justa e democrática através de aprendizados que estimulassem a atuação transformadora dos cidadãos, estavam sempre presentes. E assim, demonstrando que o Estado, através da educação, tinha (e tem) o dever de se preocupar com a formação em todas as dimensões do ser humano, inclusive a do transcendente, da alteridade, da solidariedade. Ampliando esse campo também para a compreensão do fenômeno religioso e o conhecimento dessas manifestações em diferentes denominações religiosas.
Diz-se que o Brasil é um Estado laico, mas essa declaração, no entanto, não está explícita na Constituição Federal de 198835.
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de cultos e a suas liturgias;;
VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;;
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
O debate sobre o Ensino Religioso talvez seja o mais amplo dentro da discussão sobre a laicidade e a relação entre Estado e Igreja.
35 República Federativa do Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 17 de julho de 2017.
O ensino religioso é previsto na Constituição Federal36 no:
O ensino religioso é previsto na Constituição Federal36 no: