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O consumidor padrão – Art 2.º do Código de Defesa do Consumidor

4. O CONSUMIDOR NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

4.2 O consumidor padrão – Art 2.º do Código de Defesa do Consumidor

O art. 2.°, caput, do Código de Defesa do Consumidor, objeto do presente estudo, enuncia o conceito do consumidor padrão72 como “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

70 ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 7. ed. rev. e atual. São Paulo:

Saraiva, 2009. p. 37-38.

71 FILOMENO, José Geraldo Brito. In: GRINOVER, Ada Pellegrini. Código brasileiro de Defesa do

Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 10. ed. rev., atual. e ref. Rio de Janeiro:

Forense, 2011. v. I, p. 26.

72 A doutrina identifica quatro conceitos de consumidor abrangidos pelo Código de Defesa do

Consumidor: “a) o consumidor padrão ou standard (art. 2.º, caput), segundo o qual consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto ou serviço como destinatário final; b) a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo (art. 2.º, parágrafo único), a fim de possibilitar a propositura da class action (prevista no art. 81, parágrafo único, III); c) as vítimas do acidente de consumo (art. 17), a fim de que possam valer-se dos mecanismos e instrumentos do CDC na defesa de seus direitos; d) aquele que estiver exposto às práticas comerciais (publicidade, oferta, cláusulas gerais dos contratos, práticas comerciais abusivas etc. (art. 29)” (EFING, Antônio Carlos. Contratos e procedimentos bancários à luz do Código de Defesa do

De início, verifica-se que é nítida a intenção do legislador brasileiro em não diferenciar a pessoa física da jurídica, para fins de aplicação da norma consumerista.

Diferentemente de alguns países que optaram por restringir a aplicação da norma protecionista tão somente às pessoas físicas ou às pessoas que adquirem produtos ou serviços para satisfação da necessidade privada (e não profissional)73-74-75, o que naturalmente traz maior tranquilidade para os aplicadores do direito, pois como veremos adiante, a restrição da aplicação da norma consumerista mitiga as discussões acerca do âmbito de sua aplicabilidade, minimiza a existência de decisões judiciais conflitantes e o consequente enfraquecimento da norma.

Pela leitura fria do texto da lei, verifica-se que o consumidor pode ser uma pessoa física ou jurídica sem que haja, de plano, qualquer distinção. Quanto ao consumidor pessoa física, não há tanta polêmica: aquele que adquirir/utilizar produto/serviço como destinatário final é caracterizado como consumidor.

O consumidor padrão está caracterizado, portanto, no art. 2.º, caput e, com a finalidade de estender-se à coletividade, conforme § 2.º do art. 2.º e arts. 17 e 29 com as figuras equiparadas, as quais não estão contempladas no escopo do presente trabalho, posto que não dialogam com a figura do comprador da CISG, a qual será analisada adiante.

Fazendo reflexão do consumidor desde o homo faber ao homo economicus

et culturales do século XXI, Claudia Lima Marques define:

gerais do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, n. 3, p. 53, set.-dez. 1992.

73 Marcos Maselli Gouvêa aponta: “Inicialmente, cumpre enfatizar que o Código brasileiro destoou da

tendência, presente no direito comparado, de limitar o status do consumidor apenas às pessoas que atendessem a certas condições subjetivas. Diversas leis estrangeiras exigem, para que determinada relação se submeta à sua tutela, que a aquisição ou utilização seja realização com finalidade ‘privada’, ou ‘não profissional’, restringindo, destarte, o consumidor ao particular, ao não profissional” (GOUVÊA, Marcos Maselli. O conceito de consumidor e a questão da empresa como “destinatário final”. Revista do Direito do Consumidor, São Paulo: RT, n. 23-24, p. 187, jul.-dez. 1997).

74 Na mesma linha, indica que Marco Antonio Zanellato, a intenção dos legisladores estrangeiros, tal

como verificado na França, Itália e Inglaterra e Proposta de Diretiva da Comunidade Europeia, optaram por desvencilhar a figura do profissional do consumidor (ZANELLATO, Marco Antonio. Considerações sobre o conceito jurídico de consumidor. Revista do Consumidor, São Paulo: RT, n. 45, p. 172-185, jan.-mar. 2003).

75 Ver ainda Anexo I deste trabalho contendo a legislação estrangeira a respeito do conceito de

Consumidor é o não profissional, aquele que retira da cadeia de fornecimento (produção, financiamento e distribuição) o produto e serviço em posição estruturalmente mais fraca, é o agente vulnerável do mercado de consumo, é o destinatário final fático e econômico dos produtos e serviços oferecidos pelos fornecedores na sociedade atual, chamada sociedade “de consumo” ou de massa.76

Em sua visão, o consumidor do século XXI é um agente econômico ativo no mercado e na sociedade de consumo (de crédito e de endividamento), e ao mesmo tempo persona com identidade cultural específica e diferenciada pela cultura de sua nação, seu mercado, sua língua e interesses locais, daí por que a denominação homo

economicus et culturalis. Dentro desse contexto, a vulnerabilidade desse agente

econômico é o que justifica a existência de um direito especial protetivo (favor debilis), e essa vulnerabilidade é prevista expressamente pelo codex consumerista (art 4.º, I) e constitui presunção legal absoluta, balizadora da aplicação de suas normas, sempre em favor do consumidor.77

Importa frisar que são três os elementos que compõem o conceito de consumidor segundo a redação supracitada. O primeiro deles é o subjetivo (pessoa física ou jurídica), o segundo é o objetivo (aquisição ou utilização de produtos ou serviços) e o terceiro e último é o teleológico (a finalidade pretendida com a aquisição de produto ou serviço), caracterizado pela expressão “destinatário final”.78 Resultado da definição objetiva79 do consumidor adotada pelo codex consumerista, concluímos que o foco é sentido da expressão “destinatário final”, a qual formou tradicionalmente duas vertentes: as teorias finalista e maximalista, que serão tratadas nos próximos tópicos.

Nesse contexto, vale anotar que, analisada a redação do art. 2.º, caput, conclui-se que o adquirente para benefício de terceiro também é consumidor, da mesma forma que será consumidor aquele que utiliza sem adquirir, pois o conceito indica

76 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das

relações contratuais. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2011. p. 302.

77 Idem, ibidem, p. 304.

78 GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do consumidor. Código comentado e jurisprudência. 10. ed.

rev., ampl. e atual. Salvador: JusPodvim, 2013. p. 28.

79 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das

aquisição ou utilização do produto ou serviço, de modo alternativo, não diferenciando o adquirente do usuário.80