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O desenho como perspectiva de observação

CAPÍTULO III O DESENHO ESCOLAR

3.5. O desenho como perspectiva de observação

Na década de 30, o ensino do desenho estava centrado na representação das formas tal como elas eram vistas pelo aluno, enquanto sujeito-observador: «Quando representamos pelo desenho o que estamos observando não poderemos deixar de atender às indicações da perspectiva de observação que nos permite representar os objectos como na realidade se apresentam à nossa vista» (Passos e Barata, 1937: 40), ver Fig 3.8.

Nesta abordagem de ensino, há regras estabelecidas para o aluno elaborar o desenho e uma sequência de operações para atingir um resultado determinado, um

desenho-modelo ou produto final.

O problema do desenho da forma aparente dos objectos foi recorrente no ensino na disciplina de Desenho desde a década de 30 até à década de 60 (Passos e Barata, 1937: 40; Castro e Castro, 1950; Andrade, s/d: 42; Júnior, 1967: 117; Abreu, 1973: 54- 55).

O ponto de vista ou de observação do aluno enquanto desenhador relativamente ao modelo é muito importante para as mudanças das formas aparentes dos objectos. Os diagramas para ilustrar e mostrar a diversidade dessas formas aparentes foram um elemento característico nos manuais de desenho, ver Fig. 3.9.

Fig. 3.9. Figuras aparentes das formas de um cubo, de uma cadeira e de um cilindro,

em relação ao nível do olho de um observador. Fonte: Passos e Barata (1937: 41).

Na observação em «perspectiva», o mesmo volume tem aparências diferentes para o observador — a nível do olhar, de baixo para cima, acima dos olhos e de cima para baixo. O desenhador mede o ângulo visual com o lápis para transportar a medida da altura da garrafa para a folha de papel, exemplos da perspectiva do disco circular, de um tacho e de um livro, exemplo das direcções das linhas envolventes do perfil de um rosto desenhado no papel na prancheta. Assim, a perspectiva de observação, segundo Castro e

Castro (1950), ver Fig. 3.10., «tem por fim orientar a atenção de quem desenha, permitindo representar os objectos conforme a sua posição e o seu afastamento. O aluno precisa de conhecer algumas regras práticas de perspectiva, em que já foi iniciado (…)» (Castro e Castro, 1950: 11). O método assenta no desenho do natural ou desenho à vista, e consiste em «observar as formas, comparando-as umas com as outras, e ter em atenção os ângulos das linhas, as proporções dos volumes, a perspectiva e os valores do claro-

escuro» (Castro e Castro, 1950: 10).

Fig. 3.10. O método da perspectiva de observação. Fonte: Castro e Castro (1950: 13).

O ensino era centrado em regras ou princípios: «O desenho deve iniciar-se por um esboço da forma total do modelo, reservando para a última fase os pormenores que haja interesse em representar» (Abreu e Miranda, s/d:27). Desenhar seria assim aprender a ver as proporções relativas entre as partes dos objectos, a transportar para o papel a medida relativa obtida pelo ângulo visual do observador, ver Fig. 3.11.

Fig. 3.11. Como medir a altura relativa do objecto e transportá-la para a folha de papel.12

Mas isto era apenas uma parte do problema, pois a aparência dos objectos era diferente de acordo com a altura do nível dos olhos do observador. Na Fig. 3.12., são representadas as formas aparentes de objectos como um cubo, uma mala, um balde e uma cadeira, a partir de três pontos de vista diferentes. Assim, entende-se agora a perspectiva como uma representação esquemática da figura do observador relativamente ao objecto para mostrar visualmente como é que o aspecto da forma do objecto se altera de acordo com o ponto de vista: «à altura dos olhos», «acima dos olhos», «de cima para baixo», «de baixo para cima», ver Fig. 3.13, tomando aspectos diferentes. O alçado e planta são «diversas formas como se pode representar o mesmo volume, conforme a sua posição no plano vertical e respectiva projecção no plano horizontal», ver Fig. 3.13.

A perspectiva seria assim um modo particular de ver, em que os diferentes objectos são representados segundo as suas deformações aparentes relativamente ao observador, ver Fig. 3.14.

Na Fig. 3.15, apresenta-se uma definição da perspectiva: «Alterações aparentes das formas devidas à colocação do observador (ponto de vista PV) que se encontra sempre ao nível da linha de horizonte (LH) e na qual convergem todas as linhas horizontais paralelas ao ponto de fuga (F)».

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«O lápis colocar-se-á horizontal, vertical ou obliquamente, conforme as dimensões que pretendermos comparar; ainda que mudando de posição, deve conservar-se fixa a distância do lápis ao observador e, e consequentemente, ao modelo» (Abreu e Miranda, s/d: 27).

Fig. 3.12. Desenhos lineares das formas de um cubo, uma mala de viagem, um balde e uma cadeira, vistos

em perspectiva, a partir de três posições diferentes (Andrade, s/d:Est.43).

Fig. 3. 13. As deformações aparentes da forma dos objectos. Representações em perspectiva, alçado e

Fig. 3. 14. As deformações aparentes da forma dos objectos (Júnior, 1967).

Considere-se ainda as definições dos conceitos de linha de horizonte e ponto de

fuga. A linha de horizonte é «a linha imaginária que se situa normalmente à altura dos

olhos» e o ponto de fuga é o «ponto de encontro de todas as linhas paralelas na convergência visual aparente», como no caso em que «as linhas das bermas duma estrada as quais vistas de longe parecem encontrar-se» (Júnior. 1967: 119).

Um outro problema, era a representação de volumes sólidos com uma base circular (Passos e Barata, 1937; Castro e Castro, 1950; Abreu e Miranda, s/d; Abreu, 1973). De facto, a utilização de ilustrações tinha como objectivo ajudar o aluno na na dificuldade em apreender as deformações aparentes da forma do objecto, ver Fig. 3.16..