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John Dewey foi talvez, no interior da filosofia acadêmica, o primeiro a reconhecer o caráter revolucionário da obra de Darwin151. Dewey observa que a relevância do pensamento darwiniano para a filosofia consiste, fundamentalmente, em ter conquistado para o “princípio da transição” o fenômeno da vida. O domínio biológico permanecia até então como o terreno onde a concepção idealista, assentada no argumento do design, mantinha sua posição mais forte. O ataque radical de Darwin ao fixismo, que começa já pelo próprio título da obra, expressa uma “revolta intelectual” que reclamará todo o campo da biologia para o pensamento genético152

.

O que há de subversivo no título da obra central de Da rwin é a articulação entre o conceito de espécie, marcado pela tradição com conotações fixistas e teleológicas, ligado, pois às formas imateriais e atemporais, com o de origem, implicando numa perspectiva genética para as próprias formas. Ou seja, para Dar win, a forma, longe de fazer parte de um mundo de ideais, de essências fixas e imutáveis, está mergulhada no fluxo da natureza. As formas não caem do céu, mas possuem uma história, são produzidas historicamente. Ao questionar a permanência das formas biológicas, e relocalizá-las numa lógica temporal de geração e transformação, Darwin acaba pondo em questão todo um aparato conceitual construído para priorizar a estabilidade, a imutabilidade. O modo de pensamento genético, fortalecido pela descoberta darwiniana, considera que as coisas são assim não porque assim é sua essência, mas porque vieram a ser assim. O impacto dessa forma de pensar não está restrito, evidentemente, à biologia:

In laying hands upon the sacred ark of absolute permanency, in treating the forms that had been regarded as types of fixity and perfection as originating and passing away, the "Origin of Species" introduced a mode of thinking

151 ‘Aqui nos limitaremos a tratar de apenas uma discussão de Dewey sobre o darwinismo, contida no

seu célebre ensaio “The Influence of Darwin on Philosophy”, publicado originalmente em 1910.

152‘Dewey (2007): “[…] the publication of Darwin's book precipitated a crisis […]. The combination of the very words origin and species embodied an intellectual revolt and introduced a new intellectual temper.”

that in the end was bound to transform the logic of knowledge, and hence the treatment of morals, politics, and religion.153 (DEWEY, 2007, p.39).

Mais recentemente, Dennett (1998) retoma a temática deweyana do “grande dissolvente”: a concepção evolutiva moderna, cujo fundador é não outro que Darwin, nega-se a ficar apenas no âmbito da biologia, mas age como u ma força inovadora poderosa, até irresistível, tornando obsoletas questões tradicionais, ao passo que implica novos métodos e novas questões.

Para ilustrar essa dinâmica arrasadora de uma ideia que escapa de seu âmbito original para, inexoravelmente, tocar, e transformar, tudo em seu caminho, Dennett (1998, p. 66) lança mão da metáfora de um “ácido universal”:

Você já ouviu falar de ácido universal? Eu e alguns dos meus amigos do colegial costumávamos nos divertir com essa fantasia [...]. O ácido universal é um líquido tão corrosivo que acaba com tudo! O problema é onde guardá-lo. [...] O que aconteceria se você encontrasse ou criasse uma grande quantidade de ácido universal? O planeta inteiro seria destruído? O que sobraria em seu rastro? Depois que tudo se tivesse transformado pelo encontro com o ácido universal, como ficaria o mundo? Eu nem podia imaginar que em poucos anos encontraria uma ideia – a ideia de Darwin – tão inequivocamente semelhante ao ácido universal: ela corrói quase todos os conceitos tradicionais, e deixa em seu rastro uma visão de mundo revolucionada, cujos antigos marcos ainda podemos reconhecer, mas que estão fundamentalmente transformados.

No que consiste essa “perigosa ideia de Darwin”? O que Darwin nos proporcionou foi a dedução simples, a partir de elementos empiricamente verificáveis, de um mecanismo automático que, sem a necessidade de qualquer supervisão inteligente ou orientação finalística, dá conta de explicar a ordem e a diversidade do mundo vivo. Em um único golpe, Darwin não apenas eliminou o principal argumento para o design, explicando como o complexo pode surgir do simples, revirou pelo avesso a ordem cósmica tradicional ao tornar possível a explicação da inteligência como um resultado e não um pressuposto, e desferiu um “golpe mortal” à teleologia, abrindo espaço para a interpretação da origem do mundo

153“Ao colocar as mãos sobre a arca sagrada de permanência absoluta, ao tratar as formas, que haviam sido considerados como tipos de fixidez e perfeição, como aparecendo e desaparecendo, a "Origem das Espécies" introduziu um modo de pensar que, no final, foi obrigado a transformar a lógica do conhecimento, e, portanto, o tratamento de moral, política e religião”.

orgânico por meio de uma história contingente. A exemplo de Arquimedes que afirmava: “Dê-me um ponto de apoio que levantarei o mundo”, Darwin, à sua maneira, sustenta algo como, “dê-me herança e variação, que te mostrarei como produzir ‘infinitas formas de grande beleza’”.

Darwin pode ser justamente considerado um campeão do naturalismo porque sua abordagem (o modo de pensar darwiniano) não envolve essências imutáveis, criação do nada ou ideias animando a matéria. Nesse quadro teórico exaustivamente materialista é enfim possível elaborar uma narrativa explanatória genético -natural que, partindo da “regularidade sem propósito, irracional e sem objetivo da física”, dá conta da emergência diacrônica da complexidade de formas na base da acumulação de acasos, sem que o próprio mecanismo natural envolvido tivesse por finalidade atingir esse resultado (DENNETT, 1998, p. 68).

História, acaso, interações materiais – esses são os ingredientes de Darwin, e entre eles não há lugar para mente ou propósito transcendente. Não há nenhuma finalidade última ou ordem abrangente. A natureza é indiferente quanto às suas próprias criações. O que existe, existe porque sobreviveu, e não por fazer parte de algum grande plano cósmico, onde cada peça se encaixa no interior de uma harmonia geral pré-estabelecida. A natureza não quer nada, nem os seres naturais são frutos de um querer – onde existe vontade, ou desejo, ou inteligência, existem apenas como sub-produto de um processo em si mesmo não -intencional, não-inteligente, não- desejante.

A nova compreensão entra em choque absoluto com o modo de pensar dominante na filosofia, segundo o qual os eventos do mundo sensível são explicados por atuação de uma força espiritual, uma ideia, que dá sentido ao mundo e só pode ser apreendida racionalmente. Com Darwin tudo se inverte: o espiritual é agora o fenômeno a ser explicado, e não o princípio a partir do que se explica; o que é tem uma história (que pode ser empiricamente reconstruída), mas não necessariamente uma razão. Como consequência, as implicações do evento Darwin não podem ser contidas apenas no interior da biologia, mas extravasam para o tratamento da epistemologia, da metafísica, da ética, da reli gião e ameaçam desestabilizar a auto- compreensão humana enraizada na imagem manifesta. Como bem aponta Dennett (1998, p. 66):

A ideia de Darwin nascera como uma resposta a perguntas da biologia, mas ameaçava vazar, oferecendo respostas – bem-vindas ou não – para dúvidas existentes na cosmologia (de um lado) e na psicologia (de outro). [...] se a evolução irracional pode ser responsável pelos artefatos surpreendentemente inteligentes da biosfera, como os produtos das nossas próprias mentes “reais” poderiam estar isentos de uma explicação evolutiva?

4.2 Montando a seleção natural

Na primeira metade de “A Origem das Espécies”, Darwin busca deduzir metodicamente um mecanismo automático capaz de produzir diversificação das formas na ausência de qualquer direcionamento intencional. A ideia de “seleção natural” surge então como confluência de quatro fontes. Da prática da seleção artificial Darwin retira a ideia de que as populações podem ser moldadas ao longo do tempo a fim de expressarem características mais úteis ao ser humano, por meio do controle do processo reprodutivo.

Como naturalista, Darwin reconhece que a variação existe não apenas entre linhagens domésticas, mas também em espécies selvagens – os criadores fazem uso da variação que aparece espontaneamente, mas não a criam. Percebe também que a maior parte dos indivíduos gerados jamais consegue se reproduzir, de modo que apenas os mais aptos a lidarem com suas condições ecológicas conseguem sobreviver e contribuir hereditariamente para a próxima geração. Por último, a doutrina do uniformitarismo de Lyell, desenvolvida originalmente para a geologia, garantia que mesmo processos de baixa intensidade podem se acumular no tempo para gerar grandes efeitos – uma grande escala temporal permite que processos ordinários, gradativos, até imperceptíveis, produzam resultados tão fantásticos que causem a ilusão de uma intervenção extraordinária.

Não por acaso, Darwin inicia seu livro discutindo a experimentação de criadores com populações domesticadas e de como a ação h umana, ao direcionar a reprodução (selecionando os espécimes que lhe parecem mais interessantes), pode produzir novas variedades a partir de espécies originalmente selvagens. É fácil perceber então, como Darwin registra, que é possível provocar artificialm ente, no interior do que sabidamente é uma mesma espécie, diferenças tão grandes ou até maiores do que entre espécies selvagens reconhecidas como distintas: “As raças

domésticas da mesma espécie diferem uma das outras do mesmo modo que as espécies nativas diferem entre si” (DARWIN, 2002, p. 46).

Fica assim estabelecida a plena possibilidade da existência de antepassados comuns para variações com caracteres específicos. Darwin atribui essa divergência à atividade de seleção artificial (consciente ou não) po r parte dos criadores. Ele próprio criador de pombos, pôde averiguar a diferença notável na forma e desenvolvimento dos ossos das diversas raças dessa mesma espécie, e como era possível, mesmo no curto período de tempo da vida de um criador, introduzir gra ndes modificações nas variedades. É evidente que nas várias raças domésticas se observam adaptações que, ausentes na espécie ancestral, não visam ao bem -estar do próprio organismo, mas sim a utilidade para o ser humano:

A explicação reside na capacidade humana de seleção cumulativa: a natureza fornece as variações sucessivas; o homem sabe como levá -las para determinadas direções úteis para ele. Nesse sentido pode -se até dizer que o homem criou raças úteis para si próprio. (DARWIN, 2002 p. 58).

Os criadores são capazes de perceber as diferenças mais insignificante e através do reiterado cruzamento diferencial vão gradualmente produzindo raças domésticas que apresentam adaptações estruturais ou comportamentais condicionadas a seus desejos. Esse processo pode ser metódico e visando a um fim pré-estabelecido, como é na seleção científica aplicada conscientemente pelos criadores modernos, como pode também ser quase instintivo e errante, de acordo com a prática geral de favorecer as linhagens mais adequadas ao uso, o que remonta o próprio aparecimento da espécie humana enquanto tal e ao início do processo de domesticação de espécies animais e vegetais.

Darwin era não apenas um criador, mas também um naturalista, e pôde observar, já desde sua célebre viagem no Be agle, que as espécies selvagens, em seu estado natural, longe de serem permanentes e fixas, são igualmente variáveis, cada indivíduo da população sendo no mínimo ligeiramente diferente de todos os outros. Darwin descobriu uma imensa diversidade intra-populacional nas espécies naturais, e é essa variação espontaneamente produzida que serve de matéria -prima para a seleção artificial.

Na produção artificial de novas raças, os criadores não produzem a variação, apenas dão um direcionamento à variação que apare ce ao azar, tanto em variedades selvagens quanto em domésticas. Não só a seleção (humana, artificial) pode produzir em um período relativamente curto de tempo, a partir de uma variação espontânea que não responde à vontade do criador, grandes modificações no interior de uma mesma espécie, modificações de magnitude igual ou até maior do que as observadas entre espécies reconhecidamente distintas – também em espécies selvagens se verifica o mesmo processo de geração não-orientada de variação. Em suma, dentro de uma mesma espécie os indivíduos não são todos iguais, pelo contrário, cada um diferindo em alguma medida, maior ou menor, dos demais. Além disso, essas diferenças são ao menos parcialmente hereditárias, sendo transmitidas aos descendentes, o que por sua vez conduz à formação de linhagens.

Darwin nota que os naturalistas em geral distinguiam o conceito de espécie, que traz em si a ideia de um “ato criador distinto”, do de variedade, no qual estava subenentendido a ideia de “descendência comum”. Ora, Darwin conclui que, uma vez que ninguém poderia supor que os indivíduos de uma espécie fossem absolutamente idênticos, havendo considerável espaço para “diferenças individuais”, e que essas diferenças costumam aparecer com determinada frequência nos descendent es de um casal, tendo, portanto, um caráter hereditário, tais diferenças poderiam ser acumuladas ao longo das gerações, em condições naturais, de maneira idêntica ao que é feito pelo homem, que acumula, na direção de seus interesses, as diferenças individuais das variedades domésticas.

Esse acúmulo de “diferenças individuais” ao longo das gerações seria a origem da formação de variedades naturais no interior das espécies selvagens. Não apenas isso: Darwin chama atenção para o fato de que a distinção mesma entre espécie e variedade parece ser arbitrária – “é inteiramente indefinida a soma de diferenças considerada necessária para caracterizar como espécies duas formas muito próximas”, simplesmente não há “critério infalível através do qual se possam distinguir as espécies das variedades muito pronunciadas” (DARWIN, 2002, p. 76- 78).

Aqui Darwin já põe em questão a própria noção de espécie enquanto essência, sugerindo que o processo natural de produção de espécies em nada se distingue do processo natural de produção de variedades: o acúmulo de diferenças individuais ao

longo das gerações. Não haveria uma distinção de tipo entre diferenças (individuais) no interior de uma espécie e diferença entre espécies; a própria distinção entre essência e acidente fica assim borrada. A “essência”, enquanto produto histórico, é nada além de um acúmulo de acidentes. Aqui Darwin anuncia a ruptura entre o pensamento tipológico e o pensamento populacional, do qual iremos tratar em pormenores mais adiante.

Ao borrar a barreira entre espécie e variedade, uma barreira que na biologia fixista pré-darwiniana tinha um sentido metafísico, Darwin põe em apuros o pensamento essencialista. Organismos de uma mesma espécie não compartilham de uma mesma essência, não são realizações mais ou m enos perfeitas de uma única e idêntica forma; estão simplesmente aparentados de modos diferentes, ligados genealogicamente em maior ou menor grau. Darwin pode assim ser visto como o precursor do conceito wittgensteiniano de “semelhança de famílias”. “Espécie” é, para Darwin, apenas “uma palavra muito conveniente, aplicada arbitrariamente a um grupo de indivíduos bastante parecidos entre si”. O termo espécie é esvaziado de seu conteúdo metafísico para torna-se apenas uma classificação prática que separa arbitrariamente um contínuo de diferenciação (DARWIN, 2002, p.74).

Darwin então se pergunta se não ocorrerá também na natureza algum tipo de processo análogo à seleção artificial, que, sem a intenção consciente do criador, produza resultados semelhantes aos observados nas variedades domésticas. É então que Darwin se depara por acaso com as reflexões, no terreno da economia política, de Thomas Malthus. Como relata em sua autobiografia (DARWIN, 1887, p. 45):

In October 1838, fifteen months after I had begun my s ystematic inquiry, I happened to read for amusement Malthus on Population, and being prepared to appreciate the struggle for existence which everywhere goes on, from long-continued observation of the habits of animals and plants, it at once struck me that under these circumstances favorable variations would tend to be preserved, and unfavorable ones to be destroyed. The result would be the formation of a new species . 154

154“Em outubro de 1838, 15 meses depois de ter começado a minha pesquisa sistemática, comecei a ler, por entretenimento, Malthus, e estando preparado para apreciar a luta pela existência, que por toda parte se passa, a partir da observação de longa data dos hábi tos dos animais e plantas, repentinamente me dei conta de que, nestas circunstâncias, as variações favoráveis tenderiam a ser preservadas e as desfavoráveis seriam destruídas. O resultado seria a formação de uma nova espécie.”

Darwin toma a ideia de uma generalizada “luta pela existência”, que ele próprio já havia observado em seu trabalho como naturalista. “Luta pela existência” aqui num sentido amplo e metafórico, que inclui a ideia geral de interdependência dos seres vivos. O ponto central é que os seres vivos, via de regra, se reproduzem em um ritmo muito maior do que o seu ambiente (o conjunto das condições ecológicas de vida) é capaz de suportar. O resultado inevitável é que apenas uma fração dos descendentes produzidos será capaz de chegar à idade sexualmente madura e se reproduzir. Há, portanto, sempre uma d esproporção entre o número de seres gerados e as possibilidades reprodutivas efetivas.

Nesse contexto, qualquer particularidade individual que seja favorável ao seu portador, que o ponha em relação de vantagem frente aos seus competidores nessa luta pela existência, tenderá maior probabilidade de ser passada para a geração seguinte. Isso é, os indivíduos que estejam em melhores condições para explorar as possibilidades ecológicas de seu ambiente, têm evidentemente melhor chance de sobreviver e se reproduzir – e uma vez que essa diferença individual que lhe conferiu tal vantagem seja hereditária, ela tenderá a ser passada para a geração seguinte. Aqui funciona a mesma lógica presente no princípio da seleção artificial, mas agora o que as variações que persistem são as que resultam não em uma utilidade para o ser humano, e sim no “bem-estar” do próprio organismo, entendido como a sua maior chance de sobrevivência e reprodução. O filtro deixa de ser a intenção do criador, e passa a ser a própria relação do ser vivo com os processos naturais nos quais está envolvido. Persistem as variações mais bem sucedidas frente à luta pela existência.

O último princípio é ser considerado para completar a formula darwiniana da seleção natural é retirado de Charles Lyell: o uni formitarismo. Amigo e colaborador de longa data de Darwin, Lyell foi um geólogo que se esforçou por oferecer uma explicação das mudanças ocorridas na superfície do planeta não por meio da criação especial ou quaisquer eventos extraordinários, mas por refer ência a causas que estão atualmente em operação. O uniformitarismo tenta dar conta da história geológica não por meio de grandes causas extraordinárias, mas pelo acúmulo gradual de processos perfeitamente ordinários.

O modo de pensar aberto pelo uniformitarismo não apenas implicou em uma significativa revisão da idade da Terra, dando o tempo necessário para a atuação do mecanismo darwiniano, mas também foi uma das chaves conceituais de permitiu a

Darwin chegar a sua inovação teórica: processos graduais se acumulam produzindo resultados grandiosos e contra-intuitivos. Grandes efeitos não precisam necessariamente de grandes causas, às vezes precisam apenas de muito tempo – uma escala de tempo que a mente humana tem dificuldades para processar, que está fora de seus parâmetros intuitivos. O que é difícil imaginar que possa ocorrer em um limitado espaço de tempo pode se tornar inevitável em uma longa janela temporal.

Foi associando esses 4 elementos que Darwin chegou a sua célebre conclusão. Dado que as espécies naturais constantemente produzem variações hereditárias, em condições de luta pela sobrevivência as variações favoráveis serão mantidas e as deletérias eliminadas, em um processo análogo ao da seleção artificial dos criadores, o que, dado um suficiente número de gerações, inevitavelmente resultará em divergência de formas vivas, produzindo novas espécies da mesma forma que diferentes variedades são constantemente, e espontaneamente, produzidas no interior de uma mesma espécie.

A genialidade de Darwin foi costurar essas 4 fontes na formulação de um mecanismo natural capaz de dar conta da diversidade de formas dos seres vivos e das adaptações desses às condições de vida as quais estão submetidos: a vida é difícil (sobreviver e reproduzir dá trabalho), os or ganismos variam e pelo menos algumas dessas variações serão úteis para o organismo no qual ocorrem; as que são úteis serão preservas e, pelo princípio da herança, transmitidas à geração seguinte – ao longo de muitas gerações, o resultado dessas sucessivas rodadas de variação e seleção resultará na formação de novas espécies.

Como Dennett observa, Darwin apresenta seu resultado, o princípio da seleção