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3 AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

3.4 O LUGAR DA PESQUISA: campus da UFMA/Imperatriz

A cidade de Imperatriz está localizada às margens do Rio Tocantins, na região sudoeste do Estado do Maranhão, cuja distância em relação à capital São Luís é de 629,5 km. Trata-se da segunda maior cidade do Estado do Maranhão, fundada há 167 anos e que faz fronteira com outras cidades menores que dela dependem economicamente: Cidelândia, São Francisco do Brejão, João Lisboa, Davinópolis, Governador Edison Lobão.

A escolha do lugar da pesquisa se deu em razão da minha aproximação com a unidade institucional da UFMA nessa cidade, dado que ali exerço o cargo de professora assistente do curso de Direito desde 2010. Ademais, trata-se de um campus avançado da universidade, localizado no interior do Estado e que possui características peculiares, marcadas principalmente pela dependência administrativa em relação à sede localizada na capital, com uma população majoritariamente pobre.

Imperatriz possui cerca de 160 bairros, com um total territorial de 1.367,90 km². Com uma população de aproximadamente 260 mil habitantes, o município de Imperatriz constitui um importante entreposto comercial e de serviços, desenvolvido principalmente a partir da abertura, às suas margens, da Rodovia BR 010, que liga a cidade de Brasília/DF à cidade de Belém/PA. Desde então, passou a abastecer mercados locais em um raio de 400 km, formando com Araguaína/TO, Marabá/PA, Balsas/MA e Açailândia/MA, uma importante província econômica.

Situa-se ainda numa área de influência de grandes projetos, como a mineração da Serra dos Carajás (Marabá/Parauapebas), a mineração do igarapé Salobro (Marabá/Paraupebas), a Ferrovia Carajás/Itaqui, a Ferrovia Norte-Sul, as indústrias de ferro gusa (Açailândia) e a indústria de papel e celulose Suzano (localizada na Estrada do Arroz).

Diante desses fatores, Imperatriz ocupa a posição de segundo maior centro político, cultural e populacional do Estado do Maranhão, com o segundo maior PIB deste estado e 139º do Brasil, cujo quantitativo é em torno de R$ 6.977.188,06 mil. Por haver se tornado polo

universitário72, comercial e de serviços de saúde, a cidade recebe cerca de 700 mil pessoas de cidades vizinhas dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins.

De acordo com os indicadores socioeducacionais do município de Imperatriz, no ano de 2018, houve 40.756 matrículas no ensino fundamental e 12.664 no ensino médio (IBGE, 2018). Segundo dados do Censo da Educação Superior divulgados pelo INEP, referentes ao ano de 2017, o número de matriculados na graduação foi de 16.803, sendo: 4.566 em instituições públicas federais; 1.894 em instituições públicas estaduais; e 10.343 em instituições privadas73.

O campus da UFMA em Imperatriz – denominado Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia (CCSST)74, funciona em duas unidades. A primeira, no Centro da cidade, com os

cursos de graduação em Direito, Pedagogia, Comunicação Social/Jornalismo e Ciências Humanas/Sociologia. Nessa unidade também funcionam três Programas de Pós-Graduação: em Comunicação Social; em Formação Docente e Práticas Educacionais; e em Sociologia. A segunda unidade se localiza no bairro do Bom Jesus, zona rural da cidade, onde funcionam os cursos de graduação em Engenharia de Alimentos, Ciências Naturais/Biologia, Enfermagem, Medicina e Ciências Contábeis. Nela também funcionam os Programas de Pós-Graduação em: Ciências dos Materiais; e Saúde e Tecnologia.

A maioria dos cursos mencionados foi criada a partir do REUNI, tendo sido as instalações prediais da Unidade Avançada Bom Jesus, bem como o prédio de Comunicação Social da Unidade Centro, construídos a partir dos recursos públicos advindos desse programa. Entre os cursos mais antigos, se destacam os cursos de Direito e de Pedagogia, ambos criados em 1979, e o de Ciências Contábeis, criado em 1993, como extensões da sede em São Luís.

Os cursos de Direito e de Pedagogia de Imperatriz/MA constituem o resultado do Programa de Interiorização da UFMA, iniciado a partir de pesquisas realizadas em 1977, que

72 O polo universitário de Imperatriz é constituído por instituições públicas, como Universidade Federal do

Maranhão - UFMA, Universidade Estadual do Maranhão do Sul - UEMASUL, Instituto Federal do Maranhão – IFMA; e por instituições particulares, em que se destacam: Universidade CEUMA, Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão - UNISULMA, Faculdade de Educação Santa Teresinha - FEST, Faculdade Pitágoras, e Faculdade de Imperatriz - DeVry FACIMP.

73 O Mapa da Educação Superior no Brasil, lançado em 13 de junho de 2019 pelo Sindicato das Entidades

Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP) e elaborado com base nos dados no Censo da Educação Superior de 2017, aponta o Estado do Maranhão como a unidade da federação com a menor taxa de escolarização líquida do país, com 10,6% dos jovens entre 18 e 24 anos matriculados no ensino superior. Em termos nacionais, essa taxa ficou em torno de 17,8%, decrescendo em relação a 2016, a qual havia sido 18,5% (IMIRANTE, 2019).

74 Presente na cidade de Imperatriz desde o início da década de 1980, o campus da UFMA nessa cidade (também

conhecido como Campus II da UFMA) foi elevado a Unidade Acadêmica em 02 de dezembro de 2005, por meio da Resolução nº 83 do Conselho Superior Universitário (CONSUN).

apontavam a cidade como detentora de forte vocação agropecuária, com grandes deficiências na área de Educação (MEDRADO, 2007). Apesar de não constar nas referidas pesquisas como prioridade para a região, a criação do curso de Direito se constituía numa reivindicação da elite local que encontrava resistência de setores burocráticos da própria UFMA em São Luís, tendo sido necessário, segundo Medrado (2007, p. 87), um “desbravamento político e burocrático” a fim de que o curso, pela carga simbólica que representava, fosse efetivamente instalado.

Desse modo, para Medrado (2007, p. 88), a criação dos cursos de Direito e de Pedagogia, por meio da Resolução nº 1 do Conselho Superior Universitário – CONSUN, de 08 de janeiro de 1979, “tornou realidade um antigo sonho do povo da região, colocando, definitivamente, Imperatriz no mapa do progresso, não apenas econômico, mas, sobretudo, cultural”.

Em 6 de janeiro de 1980, procedeu-se ao primeiro exame vestibular para os referidos cursos. Das 90 vagas previstas, 60 eram para o curso de Direito e 30 para o curso de Pedagogia. Dos 1.668 candidatos inscritos para as vagas, e já observado o caráter de alta e baixa seletividade, respectivamente, desses cursos, um dado primordial é apontado por Medrado (2007): foram aprovados apenas 30 candidatos para o curso de Direito, enquanto para o curso de Pedagogia o total de aprovação foi de 56 candidatos. Em relação a esse dado, o autor tece as seguintes considerações:

Quanto à realização do vestibular e a aprovação dos candidatos no certame, cabe aqui uma crítica: em que pese todo o clamor pela instalação do curso e da necessidade e importância de profissionais de formação jurídica para a região, poucas pessoas obtiveram aprovação (apenas 30 das 60 vagas oferecidas), resultado que não se coadunou com a empolgação daqueles que lutaram pela implantação do curso e, certamente, decepcionou a comissão que esteve em Imperatriz para instalá-lo, bem como todas as pessoas que hipotecaram seu prestígio e sua disposição apostando no projeto (MEDRADO, 2007, p. 90).

De tal fato, pode-se constatar o descompasso educacional da região com o anseio de instalação de um curso socialmente referenciado (muito mais pela cultura do bacharelismo, como apontado em capítulos anteriores) quando do projeto de interiorização de uma universidade federal. Como hipótese mais agravante para esta situação, tem-se a de que as condições educacionais dos habitantes da cidade de Imperatriz e seu entorno não lhes possibilitavam sequer os requisitos em termos de conhecimentos básicos necessários à aprovação para o curso de Direito, apesar do intento da elite local no sucesso de sua instalação.

Nesse quadro desalentador para um início de curso, as dificuldades são percebidas não apenas no acesso, como também nas próprias condições de permanência desses estudantes. Não havia instalações próprias da universidade na cidade de Imperatriz, tendo os referidos cursos funcionado em locais, como a sede da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, em horários que abrangiam inclusive os domingos, dado que os professores vinham de São Luís, conforme sua disponibilidade de datas e horários. Segundo Medrado (2007), dos 30 alunos aprovados para o curso de Direito/Imperatriz em 1980, apenas 13 colaram grau, o que representou menos de 50% dos aprovados e menos de 30% das vagas oferecidas.

Na atualidade, mesmo com os recursos advindos do REUNI, não foram criados outros cursos de Direito pela UFMA, além dos oferecidos nos campi da capital e de Imperatriz. Nesta, ele é ofertado apenas no turno da noite, com 80 vagas anuais, sendo duas entradas semestrais. Naquela, o curso é ofertado nos turnos matutino e noturno, cada turno com 100 vagas anuais e duas entradas semestrais. O período para integralização do curso de Direito em Imperatriz é de 10 semestres (mínimo) a 16 semestres (máximo).

Quanto ao curso de Pedagogia, além da expansão do campus da capital para o campus de Imperatriz, houve a criação em 1988 desse curso na cidade de Codó, localizada na região central do Estado do Maranhão, com a oferta inicial de 35 vagas. Entretanto, o curso passou por dificuldades e acabou sendo fechado. No ano de 2015, o curso de Pedagogia foi reaberto, entretanto, com uma formatação do Projeto Político Pedagógico voltado para as necessidades da microrregião de Codó. Atualmente as aulas são ministradas no turno vespertino. No campus da capital, o curso de Pedagogia funciona nos turnos vespertino e noturno. No campus de Imperatriz, por sua vez, o curso é oferecido apenas no turno noturno, com 80 vagas anuais e duas entradas semestrais. O período para sua integralização é de 9 semestres (mínimo) a 14 semestres (máximo).

Dado o caráter histórico de criação conjunta dos cursos de Direito e Pedagogia em Imperatriz/MA, numa das primeiras iniciativas de expansão e interiorização da Universidade Federal do Maranhão iniciada nos anos 1980, propõe-se, no atual contexto e com base nos dados anteriormente apresentados, uma nova abordagem relacional entre os mesmos dentro da expansão verificada no início do século XXI e que teve como uma de suas diretrizes a inclusão social pela via das ações afirmativas e mais, especificamente, das políticas de cotas.

3.5 OS CURSOS DE DIREITO E DE PEDAGOGIA DA UFMA/CAMPUS