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1. A INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA NO BRASIL: aspectos conceituais e

1.3 O MOVIMENTO DA ESCOLA NOVA E A REFORMA FRANCISCO

Prates e Collares (2014) afirmam que, por meio das Conferências Nacionais de Educação promovidas pela Associação Brasileira de Educação7, eram discutidas entre as

lideranças educacionais dos três níveis de ensino (primário, secundário e superior) novas ideias pedagógicas vindas dos EUA e da Europa. Nesse ambiente instigante de ideias e propostas

7 A primeira conferência foi realizada em 1927, na cidade de Curitiba; a segunda, em 1928, na cidade de Belo

novas para educação brasileira, surgiu o Movimento da Escola Nova, tendo como líder Anísio Teixeira, principal tradutor das ideias do norte-americano John Dewey no Brasil.

Com a Revolução de 1930, o Brasil veio a ter sua primeira experiência de política educacional global. Para tanto, foi realizada a IV Conferência Nacional de Educação, em 1931, na cidade de Niterói, na qual em mensagem aos participantes da conferência, Vargas pedia que fossem elaborados os princípios orientadores da política educacional do novo regime. Entretanto, esses participantes se dividiram em dois grupos, sem que nenhum deles tivesse conseguido sobrepor suas ideias a todos os educadores: de um lado estavam os liberais, tanto os antigos de tendência elitista, como Fernando de Azevedo, quanto os novos igualitaristas, liderados por Anísio Teixeira; do outro lado, estavam os defensores de uma política educacional autoritária.

Diante da impossibilidade do consenso, os liberais decidiram por expressar suas posições educacionais por meio da divulgação, em 1932, de um documento que ficou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”. Esse documento, refletindo a heterogeneidade ideológica existente dentro do grupo dos educadores liberais, apresentou um texto cujo teor detinha tanto princípios elitistas quanto igualitários. Aqueles voltados para a defesa de uma concepção unificada de educação, dando maior ênfase para aspectos biológicos, psicológicos, administrativos e didáticos do processo educacional. Estes se preocuparam com o papel da educação na discriminação social, denominada segregação, principalmente pelo que consideravam existir dois sistemas escolares paralelos: o primário-profissional e o secundário- superior, servindo assim de “instrumentos de estratificação social” (CUNHA, 2007a).

Em contraposição a esse aspecto discriminatório da educação brasileira, os igualitaristas propunham a criação de uma escola única para todos os indivíduos, de 4 a 14 anos, a fim de se “evitar o divórcio entre trabalhadores manuais e intelectuais”. Essa dualidade também se manifesta na questão do ensino superior. Segundo o autor:

No que se refere ao ensino superior, o manifesto apresenta, também, a dualidade de posições que permeia todo o seu discurso. Ao lado da função atribuída à universidade de formar a elite dirigente, dinâmica e aberta, aparece a de criar e difundir ideais políticos, tomando partido na construção da democracia. Os educadores liberais igualitaristas defenderam também a gratuidade do ensino superior (como, aliás, de todo o ensino oficial), em oposição ao Estatuto das Universidades, de 1931, que mantinha a tradição de pagamento do ensino superior, mesmo nas escolas estatais (CUNHA, 2007a, p. 246).

Apesar da grande repercussão do manifesto e do aumento do prestígio dos educadores igualitaristas, a política educacional prevalecente naquele período, apesar de reconhecer as ideias novas e avançadas desse movimento intelectual, foi altamente centralizadora e autoritária. Isto pode ser percebido por meio da Reforma Francisco Campos, de 1931, envolvendo os três níveis de ensino.

Esta reforma, no que se refere ao ensino secundário, de 1931, reforçou barreiras existentes entre os diferentes tipos de ensino “pós-primário não-superior”, segundo Cunha (2007a), como os cursos profissionais, os quais não estavam articulados com o secundário e, por consequência, com o superior, não podendo, após sua conclusão, candidatar-se diretamente ao exame vestibular. No tocante ao ensino superior, este continuaria a ser pago, mesmo nas universidades oficiais.

Dentre os decretos que a integravam, estava o Decreto nº 19.851, que criou o Estatuto das Universidades. Este estabelecida como requisito para fundação de uma universidade no país a incorporação de, pelo menos, três institutos de ensino superior, dentre eles os de Direito, de Medicina e de Engenharia, ou em substituição a um deles, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras. Desde então foram sendo criadas universidades a partir de ideais e preceitos do movimento oriundo da Associação Brasileira de Educação, principalmente no que tange à autonomia e ao engajamento científico e cultural.

As experiências mais inovadoras, inspiradas no liberalismo, foram a Universidade de São Paulo (USP), fundada em 1934, e a Universidade do Distrito Federal (UDF), criada em 1935 pelo decreto municipal nº 5.513. Esta última foi fundada por Anísio Teixeira, na época Secretário da Educação do Distrito Federal, o qual reuniu grandes nomes da cultura brasileira, como Gilberto Freyre, Mário de Andrade, Vila Lobos, Cândido Portinari, Sérgio Buarque de Holanda entre outros, sendo composta por cinco escolas: Escola de Ciências; Instituto de Educação, Escola de Economia e Direito; Escola de Filosofia e Artes; e Instituto de Artes.

Diante da política governamental que minou o pleno funcionamento da UDF, esta acabou sendo absorvida pela Universidade do Brasil, antiga Universidade do Rio de Janeiro. Em contraposição a esta experiência, a da USP por sua vez se mostrou exitosa. Segundo Prates e Collares (2014), o projeto de criação dessa universidade adquiriu um novo significado após a Revolução Constitucionalista de 1932, passando a fazer parte da agenda política da elite paulista, imbuída do espírito de criação de uma elite cultural para o país. A ideia principal era de que esta universidade desempenhasse o papel catalisador de ideais político-culturais, bem

como se destinasse à formação de profissionais e pesquisadores competentes em suas diversas áreas.