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PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ENTREVISTADOS: algumas discussões

3 AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

4.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ENTREVISTADOS: algumas discussões

As principais informações sobre o perfil socioeconômico dos entrevistados de Direito foram sistematizadas no Quadro 2, a seguir apresentado.

Quadro 2 – Perfil socioeconômico dos entrevistados na época de ingresso no curso de Direito

Fonte: Dados da pesquisa

No que se refere aos entrevistados cotistas do curso de Direito, os que ingressaram no ano de 2007 apresentaram uma média de idade superior à média de idade dos que ingressaram nos anos de 2012 e 201681. Um dado também muito interessante concerne à formação escolar que os cotistas de Direito possuíam no momento do ingresso no curso. Dos 9 entrevistados, 6

80EFI: Ensino fundamental incompleto; EFC: Ensino fundamental completo; EMI: Ensino médio incompleto; EMC: Ensino

médio completo; ESI: Ensino superior incompleto; ESC: Ensino superior completo; NI: Não informado.

81 As informações sobre a turma de 2007 se coadunam à hipótese levantada por Prates e Colares (2014), cujos

estudos, com base em dados apresentados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), apontaram que idade média dos estudantes que estão matriculados no ensino superior aumentou em vez de decrescer. Uma das explicações possíveis que os autores atribuem a esse fato é a de que um quantitativo cada vez maior de “indivíduos mais velhos, já no mercado de trabalho, estão se aproveitando da expansão da educação superior para voltar aos bancos escolares com o objetivo de melhorar a própria carreira com a aquisição de novas credenciais” (PRATES e COLLARES, 2014, p. 114).

Entrevistado(a) Idade Cor/ raça Tipo de ingresso Formação escolar Renda familiar Situação de trabalho Escolaridade

pai e mãe80 Ocupação pai e mãe Irmãos

Direito 2007 Carolina 29 Parda Vestibular/ Cotas Escola Pública Graduação em Geografa (UEMA)

10 s.m Professora Pai: EFC Mãe: EMC

Pai e mãe:

autônomos 0

Roberto 23 Preto Vestibular/ Cotas Negro Graduação em História (UEMA) 2-3 s.m Professor Pai: NI Mãe: EMC

Pai: não informado Mãe: professora particular

1 Gilson 26 Preto Vestibular/

Cotas Negro Graduação em Química (UEMA) 3 s.m Soldado da Polícia Militar Pai: EFI Mãe: EFI

Pai e mãe: lavradores aposentados 7

Direito 2012

Renata 18 Negra SISU/Cotas Negro

Ensino médio em escola

federal

16 s.m Estudante Pai e mãe: ESC

Pai e mãe: professores ens. médio 0 Larissa 18 Parda SISU/Cotas Escola Pública Ensino médio em escola federal 1 s.m Auxiliar de escritório Pai: ESC Mãe: EMI Pai: contador

Mãe: não informado 1 Letícia 20 Parda

SISU/Cotas Escola Pública

Superior

incompleto 2 s.m Estudante Pai e mãe: ESC

Pai: professor ens. fundamental Mãe: psicóloga 1 Direito 2016 Viviane 17 Parda SISU/Escola Publica/ Negro/RF Ensino médio em escola federal

4-5 s.m Estudante Pai: ESC Mãe: EMC Pai: autônomo Mãe: auxiliar de escritório 5 Carla 21 Negra SISU/Escola Publica/ Negro/RF Superior incompleto 2,5 s.m Atendente comercial na empresa CEMAR Pai: ESC Mãe: EMI

Pai: professor ens. fundamental Mãe: dona de casa

1 Marcos 27 Negro SISU/Escola Publica/ Negro/RF Graduação em Biologia (UEMA) 2,5 s.m Funcionário da empresa CORREIOS Pai: NI Mãe: EMC Pai: falecido

já haviam superado a barreira de transição para ensino superior, sendo que 4 chegaram a obter a graduação por meio de cursos ligados à área da licenciatura (Química, Biologia, Geografia, História).

No caso da primeira turma de cotistas do curso de Direito da UFMA/Imperatriz (ano de 2007), todos os entrevistados já possuíam uma formação universitária. Entretanto, com o objetivo de adquirir novas credenciais educacionais e assim galgar novos espaços ocupacionais e de mobilidade social, ingressaram em um curso de alta seletividade, como o curso de Direito, por meio das políticas de cotas.

Neste tocante, é importante atentar para a lacuna presente na aplicação dessas políticas e que se refere à possibilidade de participação de candidatos com uma graduação anterior – algo que na presente pesquisa é observado tanto num momento anterior à adoção da Lei nº 12.711/12 (caso da turma de 2007) quanto posteriormente a ela (caso da turma de 2016). A grande questão que essa lacuna gera é que a presença de portadores de diploma de ensino superior acaba favorecendo a dupla titulação de alguns em detrimento de outros que permanecerão sem aquele diploma, vindo a comprometer a eficácia da política enquanto instrumento de democratização da universidade pública.

Quanto aos cotistas que ainda não haviam superado a barreira do ensino superior (3 entrevistados) e para os quais o curso de Direito foi a sua primeira graduação, o estabelecimento no qual concluíram o ensino médio público foram os institutos federais de educação, ciência e tecnologia (no caso, o IFMA e o IFPI). Assim como as universidades públicas federais, esses institutos também passaram por um significativo processo de expansão e interiorização durante os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, tendo como um de seus efeitos a geração de fortes concorrentes na modalidade cotas para egressos de escola pública no ENEM/SISU, alcançando principalmente os cursos mais seletivos das universidades públicas federais.

Em termos ocupacionais, observei, dentre os 9 entrevistados, que 4 eram aprovados em concursos públicos no momento do ingresso e que 2 foram aprovados no decorrer do curso, ocupando, portanto, cargos e funções dentro da Administração Pública. Trata-se de estudantes com um histórico de participação em certames, com hábitos e rotinas de estudos voltados para essa finalidade, que acabam repercutindo também em sua aprovação no ENEM/SISU para ingresso em cursos no qual esse viés de estudo para concursos é muito recorrente, como o curso de Direito.

Em termos de origens sociais, verifiquei uma nítida distinção entre a turma de cotistas de Direito 2007 e os demais anos analisados (2012 e 2016). Em relação aos primeiros, o nível máximo de escolaridade alcançado pelos pais foi o nível médio, com a presença inclusive de pais que sequer chegaram a completar o nível fundamental, havendo ainda presença daqueles sem escolaridade alguma. Em relação aos demais, a predominância em termos de escolaridade dos pais foi o ensino superior, havendo uma presença considerável de professores dos níveis fundamental e médio.

Como estudado pela Sociologia da Educação, esse acúmulo de capital econômico, cultural e social nas chances de ingresso no ensino superior tem nas origens familiares, em especial na escolaridade dos pais, uma grande força a condicionar a participação de jovens no ensino superior. No presente estudo, verifiquei que essa origem familiar, quanto aos estudantes cotistas de 2007, não exerceu forte influência, dado que os estudantes já haviam ultrapassado a barreira do ensino superior. Por outro lado, com relação aos estudantes cotistas de 2012 e 2016 que ainda iriam transpor essa barreira, a influência familiar pode ser claramente percebida, dada a escolaridade e ocupação profissional dos pais.

Assim, observo em relação ao curso de Direito a persistência da seletividade ainda que em tempos de expansão do ensino superior para classes menos favorecidas, o que constitui um reflexo da teoria da “desigualdade maximizada” abordada no segundo capítulo. Isto porque, considerando a existência de nivelações dentro das classes sociais, os setores beneficiados pela política de cotas, no primeiro momento de aplicação dessa política, têm sido justamente aqueles que aguardavam pela oportunidade de ingressar no curso almejado. Isto por possuírem, não apenas certo nível de renda, como também um maior acúmulo de capital cultural e informacional que os demais localizados em estratos sociais mais baixos.

Quanto ao curso de Pedagogia, as características socioeconômicas dos entrevistados (Quadro 3) apontam que, para 6 dos 8 sujeitos participantes da pesquisa, esta era sua primeira oportunidade de ingresso no ensino superior. Desses 6, 5 eram oriundos do ensino médio estadual e 1 do ensino médio federal (IFMA). Em relação aos outros dois entrevistados que haviam passado por experiência anterior no ensino superior, um havia desistido do curso que iniciara e outro chegou a concluir a graduação que havia cursado na modalidade EAD.

Quadro 3 – Perfil socioeconômico dos entrevistados na época de ingresso no curso de Pedagogia

Fonte: Dados da pesquisa

Os cotistas entrevistados da turma de Pedagogia de 2007, ao contrário dos cotistas entrevistados de Direito que ingressaram no mesmo ano, eram mais jovens (tinham entre 19 e 21 anos), tinham uma rede de apoio familiar e se dedicavam somente aos estudos, com exceção de um entrevistado que trabalhava como comerciário no início do curso e que depois largou o emprego para conseguir bolsa-auxílio da universidade ou estágio extracurricular remunerado.

Entre os entrevistados de Pedagogia que ingressaram em 2012 e 2016, há aqueles que ingressaram no curso com uma idade mais avançada (30, 42, 48 anos). Esses entrevistados, inclusive, estavam retomando os estudos depois de um longo período desde que haviam concluído o ensino médio. Eram casados ou separados, tinham filhos, sendo que alguns desses filhos eram jovens que também estavam prestando o ENEM/SISU.

Em 2016, os dois entrevistados tinham uma formação escolar semelhante aos cotistas de Direito, um com formação superior e outro com ensino médio em Instituto Federal.

82 EFI: Ensino fundamental incompleto; EFC: Ensino fundamental completo; EMI: Ensino médio incompleto; EMC: Ensino

médio completo; ESI: Ensino superior incompleto; ESC: Ensino superior completo; NI: Não informado.

Entrevistado(a) Idade Cor/raça Tipo de ingresso Formação escolar Renda familiar Situação de trabalho Escolaridade pai e mãe82 Ocupação

pai e mãe Irmãos

Pedagogia 2007

Milena 19 Parda Vestibular/Cotas Escola Pública

Ensino médio escola estadual

2 s.m Estudante Pai: ESC Mãe: EFI

Pai: mecânico Mãe: dona de casa

1

Rosângela 21 Branca Vestibular/ Cotas Escola Pública Ensino médio escola estadual 3 s.m Estudante Pai: NI Mãe: EMC Pai: não informado Mãe: auxiliar de escritório 0

Martin 19 Preto Vestibular/Cotas Negro

Ensino médio escola estadual

3 s.m Comerciário Pai e Mãe: EMC Pai: auxiliar de rec. humanos Mãe: auxiliar de serv. gerais 3 Pedagogia 2012

Vilma 42 Parda SISU/Cotas Escola Pública Ensino médio em escola estadual 5 s.m Professora de matemática Pai e mãe: EFI Pai: caixeiro viajante Mãe: dona de casa 9

Fabíola 30 Parda SISU/Cotas Negro Superior incompleto 1,5 s.m Auxiliar de serviços em escola municipal Pai: EMC Mãe: EMI Pai: eletricista (falecido) Mãe: aposentada 1

Raquel 19 Preta SISU/Cotas Negro Ensino médio em escola estadual 2,5 s.m Auxiliar de magistério em escola municipal Pai: EFC Mãe: EMC Pai: pedreiro Mãe: dona de casa 1 Pedagogia 2016

Rui 48 Negro SISU/Escola Pública/Negro Ensino superior 10 s.m Reformado do Exército Pai e mãe: EFC Pai: soldador Mãe: dona de casa 6

Tiago 20 Pardo SISU/Escola Pública/Negro/RF Ensino médio em escola federal 2 s.m Estudante Pai: NI Mãe: EMC Pai: não informado (falecido) Mãe: téc. em contabilidade 1

Entretanto, como evidenciado em seus relatos biográficos, a formação superior do primeiro entrevistado de 2016 não foi em uma modalidade presencial como a que haviam cursado os cotistas de Direito; o que estudou no IFMA, por sua vez, teve essa formação escolar como a primeira grande barreira educacional que enfrentou diante de uma condição social de maior vulnerabilidade quando comparado aos cotistas de Direito que também cursaram o ensino médio naquela instituição.

Em termos de escolaridade dos pais, apenas uma entrevistada cotista da turma de 2007 tinha o pai com ensino superior, cuja graduação em Teologia foi cursada em uma faculdade particular conveniada com a Igreja que frequentavam. No decorrer do curso, a mãe de um dos entrevistados de 2016 também se graduou em Teologia com a ajuda da Arquidiocese de Imperatriz. Em relação aos demais, o nível de escolaridade do pai e da mãe estava entre o ensino fundamental incompleto e o ensino médio. As ocupações também estavam entre as de menor remuneração: mecânico, caixeiro viajante, eletricista, soldador. Entre as mães, a maioria eram donas de casa. Apenas um cotista, da turma de 2007, tinha pais que eram servidores públicos aprovados em concurso. Ainda assim, eram funções de auxiliar na prefeitura de um município pobre com remuneração equivalente a um salário mínimo.

Um dado interessante em relação às gerações de cotistas de 2007 e 2012 do curso de Pedagogia entrevistados durante a pesquisa se refere à oportunidade de ingresso no serviço público municipal por meio de concurso público promovido pela Prefeitura de Imperatriz em 2012. Dos 6 entrevistados, 5 foram aprovados nesse concurso: os 3 cotistas de 2007 que o realizaram no final do curso, sendo todos eles aprovados para Professor da Educação Infantil e Séries Iniciais; e 2 cotistas de 2012, que fizeram o concurso concomitantemente ao ingresso na graduação, sendo uma aprovada para o cargo de Auxiliar de Magistério e outra aprovada para o cargo de Auxiliar de Serviços de Manutenção e Alimentação. Todos ainda permanecem no cargo, com exceção de 1 cotista da turma de 2007 o qual, além do cargo que ocupa na Prefeitura Municipal, trabalha como professor substituto no IFMA e na UEMA.

As análise geracionais (2007, 2012 e 2016) dos cotistas entrevistados dos dois cursos remetem novamente às teorias de estratificação educacional, vertical e horizontal, tratadas no segundo capítulo, em específico as teorias da “desigualdade maximizada” e da “desigualdade efetivada”, respectivamente. Em relação a esta última, é perceptível uma distinção de perfis nos quais aqueles que detêm em seus percursos educacionais maior acúmulo de capitais específicos (sociais, linguísticos e informacionais) ocupam cursos mais seletivos, como o curso de Direito,

num processo de expansão do ensino superior. Foi assim com as três gerações de cotistas desse curso, cujos representantes ou tinham graduação prévia ou pais no ensino superior ou ainda notas competitivas no ENEM/SISU decorrentes de um ensino público elitizado.

Por outro lado, mesmo em um curso menos seletivo como o curso de Pedagogia, percebo que seus ocupantes também possuem um nível socioeconômico mais estável, como os entrevistados da primeira geração e o apoio recebido da família para o prolongamento da sua escolarização; ou ainda os entrevistados da segunda geração, em que se tem uma representante casada e com filhos adultos, bem como uma representante mais jovem que, apesar de não ter tido pais com recursos suficientes para financiar seus estudos, pode contar com a ajuda da tia para custeá-los, inclusive pagando cursinho preparatório durante os três anos em que ela estava cursando o ensino médio em escola pública estadual; ou no caso dos entrevistados da terceira geração, em que essa condição mais favorável também é percebida por meio da presença de um militar aposentado e de um aluno oriundo de instituto federal, o que já o destaca de um aluno do ensino médio de escola pública estadual.

Esses perfis observados nas gerações de cotistas entrevistados do curso de Pedagogia permitem inferir que ali também se encontra presente uma estratificação vertical, com reflexos da teoria da “desigualdade maximizada”, na qual segmentos sociais que se encontram um pouco abaixo daqueles que tradicionalmente têm ocupado o espaço universitário vão ocupando esse espaço na medida em que nele vai se processando uma abertura decorrente de uma política de expansão ou de inclusão social.

Tecendo uma análise comparativa dos perfis dos entrevistados com os perfis daqueles que participaram das edições do ENADE dos cursos de Direito e de Pedagogia83 – os quais foram apresentados no terceiro capítulo, é possível chegar a algumas aproximações. A primeira delas é a de que o perfil dos cotistas entrevistados que ingressaram na turma de 2007 do curso de Direito se mostra semelhante ao perfil dos cotistas que ingressaram no ano de 2008 e prestaram o ENADE em 2012: renda familiar entre 3 e 6 salários mínimos; trabalham entre 20

83 É importante observar que os anos de ingresso dos entrevistados dos cursos de Direito e de Pedagogia (2007,

2012 e 2016) na pesquisa qualitativa não são coincidentes com os prováveis anos de ingresso daqueles que prestaram as edições do ENADE desses cursos (há uma margem de cerca de um ano de diferença em termos de época de ingresso dos mesmos). Ainda assim, considero importante uma análise comparativa entre os perfis observados a partir dos dados quantitativos apresentados pelo MEC/INEP e os perfis identificados na pesquisa qualitativa considerando o aspecto geracional que abrange o público das ações afirmativas e o público de ampla concorrência em momentos distintos da política de cotas no âmbito da UFMA: um primeiro momento decorrente da autonomia administrativa da universidade (ingressos até o ano de 2010); um segundo momento de adesão total ao ENEM/SISU e suas regulamentações (ingressos em 2011 e 2012); e um terceiro momento ligado à vigência Lei de Cotas (ingressos a partir de 2013).

e 40 horas semanais, se sustentam totalmente e contribuem para o sustento da família, pai com nível de escolaridade entre ensino fundamental incompleto e ensino fundamental completo, e mãe com nível de escolaridade entre ensino fundamental completo e ensino médio.

Os cotistas entrevistados de Direito que ingressaram na turma de 2012 também apresentaram semelhanças de perfil socioeconômico com os cotistas que ingressaram em 2011 e prestaram o ENADE como concluintes no ano de 2015. Essas aproximações se deram em relação à situação de trabalho e à jornada semanal. No final do curso, duas cotistas da turma de 2012 entrevistadas eram servidoras concursadas, que trabalhavam entre 20 e 40 horas semanais, com renda entre 3 e 4 salários mínimos e que também contribuíam para o sustento da família. Por outro lado, por possuírem pai e mãe com nível de escolaridade entre o ensino médio incompleto e o ensino superior completo, diferiam dos cotistas participantes do ENADE por estes apresentaram pai e mãe com nível escolaridade mais frequente entre o ensino fundamental incompleto e o ensino médio.

No que se refere ao curso de Pedagogia, as comparações entre os cotistas entrevistados na pesquisa qualitativa e os cotistas que prestaram o ENADE se tornam mais complexas. Isto porque, diferentemente do curso de Direito em que o ano de ingresso dos participantes dos ENADEs de 2012 e 2015 se deu dentro do previsto (2008 e 2011, respectivamente), o curso de Pedagogia apresentou muitas variações em relação ao ano em que seus participantes ingressaram. Ainda assim, podemos perceber aproximações entre os entrevistados cotistas que ingressaram em 2007 e 2012 com a turma de cotistas que prestou o ENADE de Pedagogia em 2014, no tocante à renda familiar (1,5 a 3 salários mínimos) e à situação de trabalho no qual também contribuem para o sustento da família.

Porém, algumas divergências se mostraram em relação à jornada de trabalho, que para os entrevistados é entre 20 e 40 horas semanais e para os participantes do ENADE é de mais de 40 horas por semana; e à escolaridade de pai e mãe, na qual para os entrevistados se observou uma frequência considerável de ensino médio completo, enquanto que para os participantes do ENADE as frequências maiores estiveram no ensino fundamental completo e incompleto.

No que se refere aos cotistas entrevistados que ingressaram na turma de 2016, pude observar que eles se mostram representantes de situações distintas porém bem equilibradas entre os cotistas que prestaram o ENADE de Pedagogia em 2017: no que se refere à situação de trabalho, há um considerável número tanto entre aqueles que não estão trabalhando (caso dos entrevistados de 2016) quanto entre aqueles que trabalham em tempo integral. Há ainda

uma presença maior, em relação aos anos anteriores, daqueles que recebem bolsa ou auxílio do governo para se manter (caso de um dos entrevistados de 2016); e daqueles que têm renda e são o principal sustento da família (caso de outro cotista entrevistado de 2016).

As diferenças mais uma vez se fazem em relação à escolaridade de pai e mãe dos entrevistados de 2016 que também se mostrou maior quando comparada com os cotistas que prestaram o ENADE de 2017. Estes com uma frequência maior de pai e mãe sem nenhuma escolaridade ou até o ensino fundamental completo. Aqueles com frequência maior de pai e mãe com nível fundamental completo e ensino médio completo.

Uma vez apresentados os perfis dos entrevistados da presente pesquisa, em que nesta seção em especial busquei estabelecer uma relação com o que foi abordado nos capítulos dois e três, passarei no próximo item à análise de importante categorias identificadas em termos de desafios e suportes enfrentados por esses indivíduos, concernentes à família, à escola e ao espaço universitário.