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C – EDUCAÇÃO CORPORATIVA C.1 – Contexto de

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 O método da pesquisa

Os enfoques quantitativo e qualitativo20 da pesquisa têm polarizado as discussões sobre os diferentes caminhos a serem seguidos pelos estudos científicos na busca do conhecimento. O enfoque quantitativo utiliza a coleta e análise de dados para responder às questões de pesquisa e testar hipóteses formuladas previamente. Baseia-se na medição numérica, nos critérios probabilísticos para a seleção das amostras e no uso de métodos estatísticos para estabelecer os padrões de comportamento de uma população e generalizar os resultados. É, portanto, mais adequado para estudos em que as variáveis empíricas são conhecidas e passíveis de mensuração (SAMPIERI et al., 2006; BAILEY, 1982).

Por sua vez, no enfoque qualitativo a coleta e a análise de dados são realizadas por meio de técnicas que não objetivam medir numericamente as variáveis e nem explorar a significância de relacionamentos estatísticos entre elas. Em razão disso e, também, por não ser necessário obter amostras representativas, os resultados não podem ser generalizados, de maneira intrínseca, para populações mais amplas. Normalmente, o estudo qualitativo é utilizado para descobrir e refinar questões de pesquisa e o seu propósito consiste em reconstruir a realidade tal como é observada pelos atores de um contexto predefinido. Por esse motivo, está fundamentado mais em um processo indutivo, para explorar e descrever evidências que possam implicar uma nova compreensão do fenômeno investigado e, em decorrência, gerar novas perspectivas teóricas (SAMPIERI et al., 2006; GRINELL, 1997; PATTON, 1990).

20 Alguns autores denominam os estudos quantitativos de positivistas e as pesquisas qualitativas como

Minayo e Sanches (1993, p. 239) argumentam que nenhum dos dois enfoques é melhor do que o outro, no sentido de ser suficiente para a compreensão completa da realidade investigada. Tanto que, em muitas circunstâncias, eles podem e devem ser utilizados como complementares. Para os autores, “[...] um bom método será sempre aquele que, permitindo uma construção correta dos dados, ajude a refletir sobre a dinâmica da teoria”. Portanto, além de adequado ao objeto da investigação e de assegurar sustentação teórica para a análise, “[...] o método tem que ser operacionalmente exequível”.

Ao analisarem o uso de pesquisas qualitativas na área social, Bogdan e Biklen (1982), indicam cinco características principais inerentes a esse tipo de estudo: o ambiente natural onde o fenômeno ocorre é a principal fonte de dados; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; a perspectiva do participante/respondente assume grande relevância; e a interpretação dos dados tende a seguir um processo indutivo.

Sampieri et al. (2006) argumentam que as pesquisas qualitativas, quando aplicadas nas áreas humanísticas, atribuem profundidade aos dados, riqueza interpretativa e contextualização do ambiente, podendo resultar em uma nova interpretação dos fenômenos investigados. Não devem ser confundidas com pesquisas não científicas, uma vez que existem rigorosos procedimentos para sua realização, apesar de não ser possível eliminar a subjetividade inerente ao próprio método.

Tendo em mente as ideias dos autores acima mencionados, bem como a natureza das questões formuladas, optou-se por adotar o enfoque qualitativo neste estudo. Isto porque, se trata de um fenômeno que precisou ser compreendido e analisado em ambiente próprio – contexto de cada empresa pesquisada – e exigiu profundidade e riqueza interpretativa na coleta e análise das evidências. Além disso, seria muito difícil, se não impossível, desdobrar o objeto da pesquisa – contribuição da educação corporativa para o desenvolvimento das competências individuais – em variáveis que pudessem adotar uma dimensão quantificável para medições. E como as formas deste tipo de contribuição têm configurações pouco precisas, o foco da investigação incidiu sobre a qualidade dessa contribuição.

Quanto ao tipo, a pesquisa pode ser definida como exploratória e descritiva. Os estudos exploratórios, segundo Selltiz et al. (1974), têm como principal objetivo uma maior

familiarização do pesquisador com o fenômeno investigado, podendo até mesmo gerar uma nova compreensão deste. Visam também esclarecer conceitos e estabelecer prioridades para futuras pesquisas.

Ao corroborar essa definição, Malhotra (1999) aponta que a pesquisa exploratória intenciona explorar problemas sobre os quais o nível de conhecimento ainda é reduzido para obter novos

insights e entendimentos. Sampieri et al. (2006) sugerem que os estudos exploratórios são

apropriados para investigação de tema ou de problema de pesquisa pouco estudados, sobre os quais se têm muitas dúvidas, ou que ainda não foram abordados adequadamente. Por essa razão, torna-se relevante investigar os fenômenos com base em novas perspectivas e ampliar os estudos já existentes.

Quando as pesquisas qualitativas são realizadas em um campo de conhecimento bem delimitado – como é o caso do presente estudo –, podem se enquadrar em diferentes tipos ao longo do seu desenvolvimento. Nas áreas das ciências humanas e sociais, não raro, uma pesquisa pode se iniciar como exploratória e, em uma etapa posterior, assumir o caráter descritivo (SAMPIERI et al., 2006; MATTAR, 1999; SELLTIZ et al., 1974).

As pesquisas descritivas têm por objetivo especificar as propriedades, as características e os perfis dos fenômenos investigados. De acordo com Sampieri et al. (2006), em um estudo descritivo que adota o enfoque qualitativo, seleciona-se uma série de questões e coletam-se informações sobre os conceitos ou variáveis a que se referem para, ao final, descrever como se manifesta o fenômeno de interesse.

Como se pode notar, a presente pesquisa qualitativa, quanto ao tipo, enquadra-se, perfeitamente, como exploratória e descritiva. Exploratória porque o fenômeno investigado é relativamente desconhecido, pois aborda uma realidade em que o nível de conhecimento é reduzido, os dados são escassos e as variáveis de difícil mensuração e interpretação. Descritiva porque foi preciso expor, a partir das análises dos dados coletados, como o fenômeno se manifestou no contexto de cada empresa pesquisada.

No que se refere à estratégia de pesquisa, foi utilizado o estudo de casos múltiplos. De acordo com Bruyne et al. (1991), um número crescente de pesquisas está fundado no estudo em profundidade de casos particulares, ou seja, numa análise intensiva empreendida em uma

única ou em várias organizações reais. Por recorrer a variadas técnicas de coleta de dados, o estudo de caso possibilita reunir informações em quantidade e qualidade suficientes para que se possa apreender a totalidade da situação na qual o fenômeno investigado está inserido. Segundo Yin (2005), o estudo de caso é uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto usual, geralmente, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente demarcadas. Na prática, o método do estudo de caso deve ser utilizado quando o pesquisador, deliberadamente, decide lidar com as condições contextuais, por acreditar que elas são pertinentes ao fenômeno estudado, como foi o caso desta pesquisa. As evidências resultantes dos estudos de casos múltiplos, segundo esse autor, são consideradas mais convincentes e passíveis de “generalizações analíticas”, quando se utiliza uma estrutura teórica, previamente construída, para referenciar a coleta, análise e comparação dos resultados empíricos. Yin (2005) recomenda que a estratégia de estudos de casos múltiplos deve adotar a lógica da replicação, ou seja, após a aplicação em um caso-piloto, repete-se o procedimento nos demais casos. É importante ressaltar que a lógica da replicação é diferente da lógica da amostragem, comumente utilizada em outras estratégias de pesquisa.