O PMI E A E XPLICITAÇÃO DA A TIVIDADE A DMINISTRATIVA

O termo procedimento pode ser enquadrado em 2 (duas) acepções distintas. Pode referir-se ao conjunto de formalidades necessárias à emanação de ato administrativo ou à sequência de atos administrativos, cada qual per se desencadeando efeitos típicos (como nos procedimentos concorrenciais, em concursos, em licitações), porém todos tendentes ao ato final, servindo-lhe de suporte de validade.87

O PMI se aproxima da segunda acepção: tem por objetivo ordenar o conjunto de atividades, a serem realizadas pelos interessados autorizados, sob a coordenação, a fiscalização e a análise pela Administração Pública, que levarão a fim específico – a conclusão sobre a viabilidade de realização de determinada concessão e a definição dos aspectos técnicos necessários para a sua licitação.

O ato de justificativa da outorga dará a ela suporte de validade, baseada em todos os estudos, projetos e demais documentos técnicos elaborados ao longo do procedimento com o auxílio dos particulares e revisados e validados pelos órgãos e entidades da Administração Pública.

O procedimento, em si, também é forma de explicitação da atividade administrativa, das funções administrativas a serem desempenhadas. É meio de controle da atuação da Administração Pública, pois impõe que todos os atos sejam adequadamente realizados, motivados, tornados públicos. Ainda, é meio de participação dos interessados na formação da escolha pública, pois determina que seja feita de forma transparente.88

O PMI corrobora esses aspectos em sede da construção das justificativas para a realização de concessões. A eventual participação de interessados nessa construção deverá ser autorizada às claras, de forma isonômica, e as escolhas realizadas, devidamente motivadas. Isso porque todos os interessados deverão ter o direito igualitário de participar do procedimento instaurado pela Administração Pública, independentemente de se realizado de ofício ou a pedido de outras pessoas da iniciativa privada.

A iniciativa de se instituir determinada concessão, com base na Lei de Concessões e na Lei de PPPs, passa a não se restringir apenas à Administração Pública. A detecção de negócios públicos, licitados em consonância com as referidas leis, pode ser promovida por

87 _{FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 9. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros,}

2008, p. 437.

88 _{FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 9. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros,}

pessoas físicas e jurídicas da iniciativa privada, que transmitem ao Poder Público a possibilidade de se realizar determinado projeto.89 Os trabalhos técnicos a respeito da viabilidade da outorga poderão ser realizados com a colaboração dos interessados, em auxílio à escolha pública de institui-lo ou não.

As previsões legais relativas ao PMI representam o reconhecimento da Administração Pública de que a iniciativa privada pode ser importante agente no auxílio de tomada de decisões administrativas, a realizar atividades de apoio ao próprio Poder Público e às decisões que deverá tomar.

As contribuições trazidas poderão representar importantes contribuições técnicas, operacionais, construtivas, econômico-financeiras, ambientais, socioeconômicas, jurídicas e de financiamento dos projetos, podendo torná-los mais atrativos aos interessados, sem desprezar as essenciais condicionantes às quais a atuação da Administração Pública está adstrita.

Dão substrato a uma atuação mais flexível da Administração Pública, por meio da qual poderão ser obtidas contribuições, dos mais diversos agentes privados, sobre o modo mais adequado de realização de determinada concessão, dos aspectos que podem – e devem – ser considerados para a sua viabilidade e atratividade.

Em qualquer caso, deverá haver o respeito a todos os princípios que pautam a atuação da Administração Pública. As solicitações de estudos deverão ser realizadas de forma pública. A interação entre o Poder Público e os interessados, pautada por princípios republicanos. As contribuições, devidamente analisadas e delineadas, para a conformação do interesse público que permeia a concessão – o qual será definido pela própria Administração.90

89 _{OLIVEIRA, Fernão Justen de. Parceria público-privada: aspectos de direito público econômico (Lei n°}

11.079/2004). Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 154.

90_{“[...] os projetos oferecidos por meio do Procedimento de Manifestação de Interesse devem, necessariamente,}

passar pelo crivo da Administração Pública para que se verifique a adequação ao interesse público que pretende proteger. Sustentar o contrário seria o mesmo que admitir a possibilidade de delegação da atividade de planejamento do Estado aos particulares que, à luz dos preceitos constitucionais, está absolutamente vedada. [...] Assim, mesmo que a Administração Pública promovesse a contratação de uma empresa para realizar os projetos ou até nos casos em que eles são recebidos por meio de Procedimento de Manifestação de Interesse, devem eles, necessariamente, passar pelo exame minucioso no que diz respeito ao atendimento dos anseios do interesse público tutelados pelos agentes estatais. Nesse sentido, não há nenhum limite de modificação desses projetos pelo Estado, porque, ao examiná-los, ele está a exercer, de maneira soberana, atividade que lhe é exclusiva e indelegável. Assim, ao manifestar aquiescência, parcial ou integral, aos termos dos projetos de autoria de particulares, na verdade o Estado os assume como próprios, em perfeita sintonia com os ditames constitucionais e infraconstitucionais que disciplinam a matéria” (DAL POZZO, Augusto Neves. Procedimento de manifestação de interesse e o planejamento estatal de infraestrutura. In: DAL POZZO, Augusto Neves; VALIM, Rafael; AURÉLIO, Bruno; FREIRE, André Luiz (coord.). Parcerias público-privadas: teoria geral e aplicação nos setores de infraestrutura. Belo Horizonte: Fórum, 2014, p. 66).

O PMI possui como finalidade o recebimento de contribuições, de sugestões e críticas a respeito da outorga de determinado empreendimento. A sua instauração pelo Poder Público deverá tê-la em mente, de forma que o mecanismo possa cumpri-la: ser utilizado para a realização de escolhas públicas adequadas em matéria de planejamento de concessões.