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O R ISCO DE CAPTURA DO A DMINISTRADOR P ÚBLICO

CAPÍTULO 11 O PROCEDIMENTO DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE COMO

11.2 O R ISCO DE CAPTURA DO A DMINISTRADOR P ÚBLICO

As análises a serem realizadas para o cotejo entre os eventuais estudos apresentados pela iniciativa privada e para a seleção daquele(s) que atenda(m) ao interesse público na maior medida apenas reforçam a necessidade e o dever de o Estado reforçar a sua capacidade de organização e gestão.

Há, em cada procedimento de manifestação de interesse instaurado, a necessidade de análise crítica tanto sobre o pedido de autorização formulado para o início dos estudos quanto para a avaliação da documentação que é apresentada. Consequentemente, a Administração

228“[...] afastar a participação da sociedade implicaria a violação do princípio da eficiência, já que a decisão

administrativa a ser tomada não seria a melhor possível considerando-se os elementos fáticos e técnicos à disposição do administrador para fundamentá-la. Parece-nos que essa participação acaba sendo imprescindível, podendo-se falar, inclusive, de uma eventual nulidade no processo administrativo de delegação dos serviços que não a contemple, com exceção dos casos em que haja justificativa plausível para seu afastamento. Assim, a consequência jurídica relevante que se depreende dessa construção é que se pode dizer que há um dever da Administração em promover o Procedimento de Manifestação de Interesse, o qual só poderá ser afastado em circunstâncias específicas, quando haja motivos plausíveis para sua não realização” (DAL POZZO, Augusto Neves. Procedimento de manifestação de interesse e o planejamento estatal de infraestrutura. In: DAL POZZO, Augusto Neves; VALIM, Rafael; AURÉLIO, Bruno; FREIRE, André Luiz (coord.). Parcerias público-privadas: teoria geral e aplicação nos setores de infraestrutura. Belo Horizonte: Fórum, 2014, p. 62).

229 Exemplificativamente, a respeito das diversas fraudes que podem ser realizadas durante licitações, cf. VAZ,

Sérgio. Lei das licitações, princípios e situações de fraude e corrupção nas licitações (Lei nº 8.666, de 21/06/93). Presidente Prudente: Data Juris, 1993, p. 71-94.

Pública deve possuir corpo técnico adequado, capaz de realizar a verificação das propostas realizadas pela iniciativa privada, sob pena de sua captura pelos potenciais parceiros privados.

A necessidade de capacitação técnica é fundamental, no procedimento de manifestação de interesse, em decorrência da proximidade estabelecida entre a Administração Pública e os interessados que poderão participar da licitação para a exploração econômica do projeto desenvolvido. Os agentes do Poder Público envolvidos no PMI deverão ter os conhecimentos adequados para analisar criticamente todas as informações recebidas. Para auxiliá-los, poderão ser contratados consultores ou alocados outros agentes da Administração Pública que possam contribuir com a sua expertise para a avaliação crítica da documentação recebida e das demais informações fornecidas.230

Ainda, deverá ter-se o cuidado para que, em função das interações mantidas com a iniciativa privada, não passem a atuar em favor de determinados interessados, em detrimento de outros. A transparência e a racionalidade no procedimento podem ser remédios para imunizar a Administração do risco de captura.231

É possível que o interessado condicione em seu favor a tomada de decisões pela Administração Pública, especialmente pela potencial assimetria informacional que pode existir no processo. Para diminuir esse risco, é crucial que os editais de chamamento contemplem os tipos de estudos técnicos pretendidos e a sua forma de avaliação. Ademais, as informações sobre eles devem ser tornadas públicas de forma adequada, para que todos os interessados tenham acesso aos mesmos condicionamentos e aspectos relativos à elaboração dos estudos e que deverão ser analisados pelo Poder Público.232

Para a diminuição do risco de captura, é essencial que a Administração Pública reúna conhecimentos e especialidades a respeito do setor objeto do procedimento de manifestação de interesse. Quanto mais dominar as informações a respeito da concessão a ser outorgada, mais eficiente poderá se mostrar o procedimento. Isso porque menor será a assimetria de informação em relação ao interessado. As informações coletadas poderão ser mais bem utilizadas para a estruturação da concessão. Menores serão as chances de o interessado se

230 A IN 52 do TCU prevê que, no exercício do controle das parcerias público-privadas e a fim de subsidiar os

trabalhos a serem realizados, a unidade responsável poderá propor a requisição de serviços técnicos especializados, sem ônus, a órgãos ou entidades Federais, bem como a contratação de serviços técnicos especializados. (art. 15, I e II).

231 PEREZ, Marcos Augusto. A administração pública democrática: institutos de participação popular na

administração pública. Belo Horizonte: Fórum, 2009.

232 BELÉM, Bruno Moraes Faria Monteiro. O procedimento de manifestação de interesse como meio de

participação do privado na estruturação de projetos de infraestrutura. Fórum de Contratação e Gestão Pública – FCGP, Belo Horizonte, ano 12, n. 135, p. 23-32, mar. 2013. Disponível em: <http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=89096>. Acesso em: 14 jul. 2013.

utilizar, em favor próprio, do fato de conhecer profundamente o setor em relação ao qual o PMI se desenvolve. Além disso, a expertise técnica e a especialidade permitem que as medidas tomadas pela Administração Pública já levem em conta as especificidades a respeito da futura concessão.233

O Poder Público deverá possuir os meios adequados para que haja a recepção controlada dos resultados oriundos do procedimento. Deverá dispor, na prática, de fazer mais do que meramente ratificar as propostas que lhe sejam apresentadas; poder analisá-las criticamente, cotejá-las entre si e com os resultados esperados, à luz dos requisitos constantes do PMI e em consonância com a concretização do interesse público, que à Administração Pública cabe.234

É cogente que se institua uma fiscalização rigorosa e justa para impedir o direcionamento do resultado do procedimento de manifestação de interesse e, consequentemente, da futura licitação que se possa lançar. De toda forma, mesmo a efetiva fiscalização e o conhecimento técnico a respeito do objeto do PMI não afastam totalmente – como em qualquer outro tipo de atuação administrativa – a possibilidade de que sejam praticadas condutas reprováveis, tanto pelos interessados como pela própria Administração.235 O fundamental é que essas condutas sejam reduzidas ao máximo e devidamente fiscalizadas e punidas.

Outra dificuldade inerente ao PMI está relacionada ao fato de que os interessados poderão apresentar propostas e informações diferentes entre si. Em geral, não haverá um estudo ideal, mas ideias contidas em vários deles que, correlacionadas, poderão formar a melhor proposta para a consecução das finalidades públicas perseguidas. Nesse caso, deverá haver a adequada isonomia e transparência na avaliação das propostas, em conformidade com o instrumento de chamamento e de forma fundamentada. Poderão ser escolhidas parcelas de 2 (dois) ou mais estudos, com o ressarcimento adequado ao aproveitamento de cada qual deles.236

Em suma: o Poder Público que optar pela utilização do PMI deve se certificar de que dispõe da expertise necessária ao menos para assimilar todas as informações fornecidas pelos

233 MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Agências reguladoras independentes: fundamentos e seu regime

jurídico. Belo Horizonte: Fórum, 2005, p. 62.

234 GONÇALVEZ, Pedro. O contrato administrativo (uma instituição do Direito Administrativo do nosso

tempo). Coimbra: Almedina, 2003, p. 71-72.

235 SCHWIND, Rafael Wallbach. Aspectos relativos à elaboração de projetos nas parcerias público-privadas. In:

TALAMINI, Eduardo; JUSTEN, Mônica Spezia (coord.). Parcerias público-privadas: um enfoque multidisciplinar. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 303.

autores dos estudos e de avaliá-las de forma transparente, isonômica e motivada, em estrita conformidade com os critérios e requisitos previamente divulgados.

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