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O objetivo primordial da presente investigação consiste em analisar a eficácia de um projeto de intervenção de promoção de competências empreendedoras desenvolvido em contexto escolar, direcionado a crianças do 4º ano de escolaridade do ensino básico.

Pretende-se, deste modo, contribuir para a compreensão do processo e dos resultados das intervenções de educação empreendedora em contexto escolar, em geral, e da promoção do desenvolvimento de competências empreendedoras, em particular, bem como suscitar a reflexão relativamente às metodologias de ação e de avaliação de eficácia mais relevantes. O desenvolvimento desta investigação é orientado pelos seguintes objetivos específicos: (a) Analisar a eficácia de um projeto de intervenção de promoção de competências empreendedoras numa amostra de crianças, alunos do 1º ciclo do Ensino Básico a frequentar o 4º ano de escolaridade, em instituições educativas da região norte do país e, em particular, da zona do Grande Porto;

(b) Utilizar os resultados obtidos no sentido de propor estratégias mais eficazes no âmbito das intervenções orientadas para a promoção do desenvolvimento de competências empreendedoras em contexto escolar, demonstrando a relevância a abordagem construtivo- ecológico-desenvolvimental subjacente ao projeto implementado;

(c) Definir e validar boas práticas na avaliação da eficácia de projetos de promoção do desenvolvimento de competências empreendedoras em contexto escolar;

(d) Possibilitar a constituição de base empírica a estudos e projetos que possam posteriormente ser definidos para outros níveis escolares, quer ao nível da promoção do desenvolvimento de competências empreendedoras em contexto escolar, quer ao nível da avaliação da eficácia das intervenções produzidas.

O interesse em investigar o desenvolvimento de competências empreendedoras em crianças, em contexto escolar, prende-se com razões de vária ordem.

Desde logo, o enquadramento sociocultural e político que atualmente vivenciamos tem sido responsável pela criação da perceção de que vivemos numa época caracterizada por diversas modificações estruturais ao nível de alguns dos eixos de integração social e profissional dos indivíduos. Nos dias que correm a instabilidade e a imprevisibilidade apresentam-se sistematicamente como características determinantes e marcas identitárias do mercado de

trabalho e emprego das sociedades ditas desenvolvidas (Fontes & Coimbra, 2005), verificando- se efeitos sucedâneos ao nível da verificação de um aumento constante dos despedimentos, da precarização dos vínculos laborais e da emergente necessidade de flexibilização e reconversão do trabalho produzido. Estas novas realidades têm colocado um tónus ainda mais acentuado na necessidade de se preparar os indivíduos para a confrontação com estas características societárias, facto que se apresenta como um repto estimulante à própria sociedade para a criação de ambientes formativos e educativos estimulantes das competências fundamentais que promovam a efetiva integração dos indivíduos na dinâmica social e favoreçam a construção de projetos de vida, pessoais e profissionais, viáveis e realistas (Lopes, 2013). É neste contexto que o empreendedorismo se desenvolve atualmente como uma dimensão transversal, fundamental para o desenvolvimento humano, social e económico (Tapia & Ferreira, 2011), pelo que será relevante procurar investigar qual a melhor forma de dotar os indivíduos com este potencial de adaptabilidade ao contexto social emergente, como parece ser a realidade decorrente do desenvolvimento das competências empreendedoras nos mesmos. Contudo, assiste-se que, neste domínio, este autêntico desafio social e político lançado à escola, através da produção de várias orientações políticas e, inclusivamente, de legislação própria, tem apenas sido traduzido na produção de variadas intervenções dispersas e com pouca produção de evidências ao nível da avaliação de resultados e concretização dos objetivos da própria intervenção conduzida.

A segunda ordem de razões remete-nos para a necessidade de comprovar a mais-valia decorrente do facto da concretização de intervenções orientadas para a promoção do desenvolvimento de competências terem subjacente uma conceção mais construtivo-ecológico- desenvolvimental (Fontes & Simões, 2015c). Gibb (1998) refere-se às competências empreendedoras essenciais como as capacidades que constituem as condições básicas e necessárias, suficientes para o exercício de comportamento empreendedor eficaz individual, organizativa e socialmente num ambiente cada vez mais turbulento e global. Assumindo que desenvolver competências implica o planeamento de situações suficientemente desafiadoras, a ponto de produzirem um estado de propensão à mudança por parte do indivíduo (Cordeiro, Araújo & Silva, 2006), é premente que as ações a realizar se sustentem em problemáticas que desvelem e impliquem o indivíduo, tendo que, necessariamente, ser capazes de despertar o interesse contínuo pela descoberta e pela novidade.

A visão que defendemos e que se encontra subjacente ao objetivos de investigação apresentados remete para a necessidade de aprofundamento do estudo do processo de construção/transformação contínua dos significados pessoais e sociais acerca do mundo envolvente e da sua dinâmica, bem como para a análise do papel adaptativo que estas competências empreendedoras assumem no processo de exploração da realidade e de ação do indivíduo.

Uma outra ordem de razões para a nossa investigação prende-se com a consciencialização da reduzida oferta de respostas especificamente orientadas para a promoção de competências empreendedoras em contexto escolar direcionadas aos níveis mais básico do sistema educativo (pré-primário e básico) (GEM Portugal team, 2014). Para Kuip e Verheul (2003), as competências empreendedoras deveriam ser preferencialmente trabalhadas, nos primeiros anos de escolaridade das crianças, ou seja, ao nível da educação básica e secundária, remetendo para o ensino superior o desenvolvimento de competências no âmbito da gestão de negócios. Outros autores (Kourilsky & Walstad, 2002; L. Stevenson & Lundström, 2002) sugeriram que o ensino do empreendedorismo deve ocorrer no início da vida de um indivíduo. O modelo de desenvolvimento de competências de Cunha & Heckman (2007) indicia que as diferentes competências empreendedoras, cognitivas e não-cognitivas, se desenvolvem em diferentes estádios do desenvolvimento, destacando que as competências adquiridas em contexto precoce (como por exemplo, no nível de educação de 1º ciclo de ensino básico) superam os benefícios do investimento nestas competências em períodos subsequentes (como por exemplo, no ensino secundário ou na universidade). O investimento precoce no desenvolvimento de competências empreendedoras pode ser particularmente efetivo a longo prazo (Huber et al., 2012).

Desta análise ressalta a constatação de que será bastante mais relevante apostar no desenvolvimento de competências não-cognitivas aquando da intervenção junto de crianças mais pequenas e favorecer a introdução de dimensões cognitivas, nomeadamente com a introdução de constructos de cariz económico-empresarial, em momentos mais avançados do desenvolvimento. Segundo Huber et al. (2012), as várias competências não-cognitivas a desenvolver podem ser, por exemplo, a autoeficácia, a necessidade de realização, a propensão para o risco, a orientação social, a persistência, a motivação, a capacidade de análise, a proatividade e a criatividade.

Partindo destas noções, colocar questões de investigação relativamente à definição das melhores estratégias e metodologias para promover este desenvolvimento em crianças do 1º ciclo parece-nos claramente uma necessidade a que urje oferecer resposta.

É neste sentido que, com este trabalho de investigação, se pretende produzir um contributo que permita a elaboração de práticas de ação, no âmbito do contexto escolar, promotoras de uma modificação de alguns destes aspetos relativos a representações mentais desajustadas do empreendedorismo e de promoção de efetivas competências empreendedoras.

A escassa investigação, no contexto português e, inclusivamente internacional, da eficácia das intervenções orientadas para a promoção de competências empreendedoras em contexto escolar, é uma razão suplementar e suficientemente significativa para que se investigue nesta área, com o intuito de refletir acerca das melhores práticas e metodologias avaliativas que permitam efetivar a análise da prossecução dos objetivos das intervenções produzidas.