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2.3.2 Observador participante

Na sequência, a condição de coordenador de aspectos legais e institucionais da Fundação CEPA, empresa vencedora da licitação para a confecção do anteprojeto de lei do novo Plano Diretor da capital catarinense, conferiu ao pesquisador uma posição privilegiada de observador participante (SPRADLEY, 1979), e se prolongou por sete meses e meio.

Dois foram os campos de observação nesta vertente metodológica: o primeiro foi o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF); e o segundo os palcos das audiências públicas. O IPUF é o órgão encarregado de coordenar o processo participativo, em cuja sede trabalham os funcionários responsáveis pelo trabalho técnico e na qual se acham arquivados todos os documentos existentes.

Além disso, ali se realizam inúmeras reuniões com a sociedade civil organizada. No IPUF, o pesquisador teve acesso a informações às quais dificilmente poderia acessar de outro modo, sendo que sua presença não ocasionou qualquer perturbação ou anormalidade à rotina da organização. Ao revés, em razão da existência de um vínculo formal, constituiu-se uma interação social colaborativa (RICHARDSON, 1999).

Esse campo favoreceu amplamente a aproximação da problemática majoritária com a EGC, na medida em que possibilitou a verificação da existência de instrumentos e ferramentas de gerenciamento de informações e de conhecimento.

Tão logo os dados eram coletados durante a observação participante, iam sendo organizados em anotações escritas. Como se tratava de assunto extenso e complexo, um maior volume de registros foi necessário, subdivididos em anotações, diários, pró-memórias, atas de reuniões, etc., organizados por tópicos e em ordem cronológica.

A observação participante é uma técnica de investigação social em que o observador partilha, na medida em que as circunstâncias o permitam, as atividades, as circunstâncias, os interesses, as preocupações e os afetos de um grupo de

pessoas ou de uma comunidade em determinado contexto (ANGUERA,1985).

É, no fundo, uma técnica composta, na medida em que o observador não só observa como também tem de se socorrer de técnicas de entrevistas com graus de formalidades diferentes. O objetivo fundamental que subjaz à utilização desta técnica é a captação das significações e das experiências subjetivas dos próprios intervenientes no processo de interação social.

Como o observador tem de se integrar num grupo ou comunidade que, em princípio, lhe é estranho, ele sofrerá um processo de "ressocialização", tendo, frequentemente, de representar novos papéis. Por outras palavras, o investigador encontra-se numa tensão permanente entre a exigida adequação às características do grupo e a necessidade de manter o indispensável espírito crítico e isenção científica.

A técnica possibilita graus diversos de integração no grupo observado e de sistematização dos procedimentos de recolha de informação, de acordo com os objetivos que o investigador estabelece para a investigação.

A literatura especializada define a observação participante como “observação procedida quando o pesquisador está desempenhando um papel participante estabelecido na cena estudada” (ATKINSON E HAMMERSLEY, 1994) e que “representa um processo de interação entre a teoria e métodos dirigidos pelo pesquisador na sua busca de conhecimento, não só da ‘perspectiva humana’ como da própria sociedade” (HAGUETTE, 1987).

A antropologia é tida como a área na qual surgiu a pesquisa de campo, com destaque para Bronislaw Malinowski (1884 -1942), que introduziu a utilização da observação participante através da participação cotidiana por longos períodos na vida de seus pesquisados, criando, assim, um novo método de pesquisa que se revelou muito útil no campo social.

Para os fins desta pesquisa, a observação participante é considerada como um processo no qual a presença do observador numa situação social é mantida para fins de investigação científica. O observador está em relação face a face com os observados, e, em participando com eles em seu ambiente natural de vida, coleta dados. Logo, o observador é parte do contexto observado, o qual ele ao mesmo tempo modifica e é modificado.

O papel do observador participante pode ser tanto formal como informal, encoberto ou revelado, o observador pode dispensar muito ou pouco tempo na situação da pesquisa; o papel do observador participante pode ser uma parte integral da estrutura social ou ser simplesmente periférica com relação a ela (BECKER, 1994).

Portanto, observação participante é um método em que o pesquisador toma parte do cotidiano do grupo ou organização pesquisada, até desempenha tarefas regularmente, tudo com o intuito de entender em profundidade aquele ambiente, algo que a metodologia quantitativa não pode fazer.

A observação, segundo Serva e Júnior (1995), refere-se a uma situação de pesquisa na qual observador e observado encontram-se numa relação face a face e onde o processo de coleta de dados se dá no próprio ambiente natural de vida do observado, que passa a ver isso não mais como um objeto de pesquisa, mas como sujeito que interage em um dado projeto de estudo. A vivência dessas situações pode proporcionar maiores angústias no pesquisador, comparativamente às outras metodologias de pesquisa, pois traz dificuldades emocionais e obstáculos comportamentais a serem transpostos.

Como se pode constatar, “a escolha para utilizar a observação participante dá primazia à experiência pessoal vivida no campo, evitando o aprisionamento do pesquisador em apriorismos. Por outro lado, isso não significa, em absoluto, que não se disponha de quadros referenciais teóricos sólidos. Estes se constituem, inclusive, numa das condições básicas para a boa implementação da metodologia” (SERVA E JÚNIOR,1995).

O pesquisador de campo depende inteiramente da inspiração que lhe oferecem os estudos teóricos. Conhecer bem a teoria e estar a par de suas últimas descobertas não significa estar sobrecarregado de ideias preconcebidas, as quais são superadas pela capacidade de identificar problemas, que se constitui numa das maiores virtudes a ser perseguida pelo cientista.

Saber entender e respeitar o ritmo de ação e de interação do grupo pesquisado foi um passo decisivo para se viver a vida de uma instituição pública, e também para ser aceito e legitimado pelo grupo, o que é algo eminentemente fruto de um processo relacional. A postura exigiu flexibilidade, empatia, discrição e humildade, mas, sobretudo, saber escutar.