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1 INTRODUÇÃO 31 1.1 O PROBLEMA DE PESQUISA

1.7 ORIGINALIDADE DA PESQUISA

A originalidade da pesquisa advém do conhecimento novo que apresenta marcadamente interdisciplinar. A Figura 1 ilustra a correlação dos temas da presente tese, tendo em vista a centralidade da mediação emancipatória e sua pertinência às audiências públicas, aos conflitos ambientais e à gestão do conhecimento.

Figura 1 – A interdisciplinaridade da tese

Fonte: o autor (2013)

As referências analisadas e a revisão das bases de dados de periódicos científicos – adiante detalhada – indicaram que são poucos ainda os trabalhos sobre mediação aplicada aos conflitos ambientais39. A maioria dos autores estudados identifica o Poder

Judiciário como a instituição por excelência para a resolução dos conflitos ambientais, contribuindo para reforçar o mito de que a mediação implica em concessões de bens indisponíveis, amplificando a ideia de um monopólio sagrado estatal.

Um pequeno grupo chega a sustentar que a mediação ambiental estaria a serviço de interesses dos países industrializados, que pretenderiam, com a disseminação de

39 Situação que tende a se modificar com a iminente aprovação do marco regulatório da mediação, cujo projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional prevê expressamente, no art. 34, inciso III, a utilização do instituto também em conflitos que envolvam direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos.

projetos para a capacitação em técnicas de manejo de conflitos ambientais, manter fora do campo político as discussões sobre o modelo de desenvolvimento na América Latina. Outros, em contrapartida, promovem a apologia da resolução negociada como alternativa de superação dos altos custos, da morosidade e da falta de especialização da Justiça estatal nesta área.

Mas a presente tese escolheu as audiências públicas como objeto de estudo empírico justamente para conferir o caráter político à mediação, destacando a sua ambivalência, já que pode propiciar a que grupos sociais mais fracos tenham a sua percepção ambiental respeitada, promovendo o empoderamento da sociedade civil, no que pode ser considerada inovadora.

No que tange à mediação para resolução de conflitos no âmbito das audiências públicas, até onde se investigou inexiste qualquer proposta que a contemple. Os trabalhos encontrados mencionam a existência de inúmeros conflitos nas audiências públicas e a importância dos mesmos serem mediados, mas nenhum chega referir a mediação enquanto instância a ser inserida no procedimento da audiência pública. Ao tratar da matéria, a pesquisa preenche um vazio existente, já que as audiências públicas, embora previstas em diversos diplomas legais, não possuem ainda um marco regulatório próprio, circunstância que confere ineditismo ao estudo.

No aspecto atinente às contribuições da EGC, em particular das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), para o tratamento dos conflitos nas audiências públicas, a tese se mostra ainda mais incomum, tendo em vista a escassez de produções científicas com esta abordagem, não tendo sido resgatado qualquer parâmetro com as especificidades trabalhadas nesta pesquisa.

O atraso procedimental em que se encontram as audiências públicas no Brasil, via de regra, realizadas de modo cansativo e enfadonho, enfraquecem a participação. Num esforço para superar essas limitações, a pesquisa aponta cenários para inovação, modernização e dinamização dessas solenidades, que se constituem em estímulo a uma maior participação e à própria qualificação dessa participação, porquanto vive-se mergulhado na cultura digital e essa linguagem, fazendo parte do cotidiano, deve também fazer parte do processo participativo, inclusive no sentido de orientar um

futuro marco regulatório das audiências públicas, ainda inexistente.

Trata-se, por assim dizer, de estudo original que não se limita a apresentar – ou se baseia exclusivamente em – publicações anteriores, oferecendo uma nova interpretação dos fenômenos estudados, mas também criando condições para a sua efetividade, sintonizadas com as acentuadas e velozes mudanças em curso na sociedade brasileira, inclusive aptas a subsidiar a política pública em desenvolvimento para a área. 1.8 ADERÊNCIA E CONTRIBUIÇÃO AO PROGRAMA DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO

CONHECIMENTO (PPEGC) DA UFSC

A pesquisa elaborada insere-se nos estudos interdisciplinares, envolvendo as ciências políticas, jurídicas e sociais, além da própria gestão do conhecimento, área de concentração a que está subsumida. A abordagem acerca dos meios autocompositivos para diluir conflitos no âmbito do processo participativo para a elaboração do Plano Diretor – diploma legal voltado para a proteção da qualidade de vida e do meio ambiente em todas as suas dimensões –, lhe confere identidade com a linha de pesquisa eleita: gestão do conhecimento da sustentabilidade.

As conclusões alcançadas, que fundamentam a validade da mediação para o tratamento de conflitos ambientais nas audiências públicas, promovem a conexão e o entrelaçamento entre mediação, conflitos ambientais e democracia participativa, aportando uma contribuição teórica-epistemológica de nítida feição interdisciplinar, característica diferenciadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento - PPGEGC, em cuja área se acha vinculado junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.

Ao identificar no campo pesquisado (audiências públicas do processo participativo do Plano Diretor de Florianópolis) a ausência de instrumentos de EGC40, bem como ao propor a sua

40 E os prejuízos por esta ausência causados, como a perda do conhecimento comunitário e da cultura oral manifestados nas audiências públicas; a documentação do ponto de vista dos

adoção, descrevendo os benefícios e vantagens daí advindos41, a tese induz ao fortalecimento da área, em geral, e do PPGEGC, em particular.

A própria práxis da mediação ressente-se da ausência de suporte do instrumental oferecido pela EGC, já que nela preponderam os conhecimentos tácitos de bons ofícios empregados para resolução de litígios, geralmente emanados de líderes comunitários, espirituais, de anciões, e outros, que muitas vezes, por não se converterem em conhecimento explícito, se perdem.

Nesse sentido, pode-se destacar também a importância de um banco de dados – viabilizado a partir das contribuições da área – que reúna os acordos alcançados por intermédio da mediação, acabando com a desconexão entre elas e atuando como um repositório de precedentes, permitindo ao mesmo tempo a recuperação de informações e uma maior uniformidade das deliberações, que reflita uma vontade geral.

Ademais, mediação emancipatória nas audiências públicas em si, é uma inovação tecnológica no campo de resolução de conflitos difusos, que gera novas experiências, novos perfis profissionais e novas áreas de atuação, que se constitui num dos objetivos do PPGEGC.

A par disso, no âmbito da administração pública, os conhecimentos existentes relativos à realização de audiências públicas, mostram-se fragmentados e de cunho personalíssimo, a indicarem a necessidade de aprendizagem organizacional, que ao fim e ao cabo possa produzir resultados em benefício do cidadão, do governo e da democracia. Tal fato coloca o conhecimento específico daí advindo como elemento gerador de valor intangível para o processo participativo e para toda sociedade.

É possível divisar, também, que a gestão do conhecimento associada à gestão de conflitos, possa porventura abrir uma nova senda investigativa no âmbito do Programa de Pós- Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento (MUSSE et al, 2008), quiçá estimulando novas pesquisas e gerando

participantes que permite a aferição da veracidade e ao controle da legitimidade e legalidade da ação do Poder Público, entre outros; 41 Qualificação da participação pública; disseminação da informação; etc.

modelos de “melhores práticas”, com resultados benéficos à coletividade.

Espera-se, a final, que o trabalho possa – mesmo que modestamente – contribuir para um ainda maior reconhecimento do PPEGC perante a UFSC e a comunidade acadêmica em geral, e reforce a sua qualificada produção científica no sentido de consolidar o conceito 5 junto a CAPES, bem como estimule a conquista do conceito 642, na esteira dos desdobramentos que a

pesquisa poderá eventualmente ensejar. 1.9 ESTRUTURA DA TESE

Apresenta-se a seguir os capítulos que compõem a presente tese, estruturada em cinco partes (Quadro 1):

Quadro 1: Estrutura de tese

Elementos pré-textuais Parte 1: Introdução

Parte 2: Metodologia e dados coletados