Parte II Dimensão investigativa
3. Metodologia de investigação
3.1. Opções metodológicas
O presente estudo tem como problemáticas: “Que estratégias usam as crianças no processo
de recolha, organização e interpretação de dados, em diferentes contextos?”; e “Que aspetos
do sentido de número são evidenciados na realização de atividades desta natureza?”; a partir
destas questões foram formulados os seguintes objetivos:
(a) promover experiências de aprendizagem significativa no âmbito da recolha, organização e
tratamento de dados;
(b) perceber se estas tarefas facilitam a estruturação de determinados conceitos matemáticos
no âmbito da organização e tratamento de dados; e
(c) descrever os aspetos do sentido do número que as crianças evidenciam.
De modo a procurar responder às questões de investigação e através do estudo de variáveis
qualitativas, pretendo investigar com as crianças a importância do sentido de número, a
contagem de objetos e as estratégias usadas, desenvolvendo quatro tarefas, partindo da
abordagem do tema “O corpo humano”. As tarefas incidem principalmente na organização e
tratamento de dados, exploração da leitura de gráficos e tabelas e ainda em estratégias de
contagem que desenvolvam o sentido de número. Optei por realizar estas tarefas partindo
desta temática, não apenas por ser trabalhada durante o período da aplicação da investigação,
mas também pretendia criar uma sequência lógica e articulada entre as tarefas.
Debrucei o meu estudo sobre quatro crianças escolhidas por mim e entrevistei-as através de
entrevistas abertas e semiestruturadas. Ao longo das implementações das tarefas tive em
atenção estimular o questionamento e estabelecer diálogo com as crianças, usando linguagem
apropriada ao nível de conceitos matemáticos, para que respondessem evidenciando a recolha,
organização e interpretação dos dados. Optei por trabalhar modos de representações
diferentes, uma vez que é fundamental proporcionar atividades diversificadas, para que as
crianças tomem consciência das representações possíveis, podendo aplicá-las no futuro e em
diferentes contextos.
Para a realização do trabalho de investigação foi necessário recolher dados e analisá-los,
recorrendo a determinados métodos e técnicas de investigação. Tive um papel participativo e
37
envolvente neste estudo, assumindo os papéis de educadora estagiária e de investigadora,
tendo sido condicionados pelo contexto em que exerci as funções. Estando em interação com
as crianças no decorrer das tarefas, questionei-as constantemente, a fim de compreender como
interpretavam o que lhes era questionado e também para compreender o seu raciocínio,
possibilitando-lhes uma participação ativa no decorrer da investigação. Já no NCTM (2008), é
evidenciado que os educadores devem regularmente perguntar “porquê?” às crianças ou pedir
para que elas expliquem as suas estratégias, a fim de estabelecer um discurso centrado no
raciocínio matemático.
O presente trabalho é um estudo de caráter qualitativo, uma vez que no mesmo não se
recolhem “dados com o intuito de provar ou confirmar hipóteses construídas previamente, em
vez disso, as abstracções são construídas à medida que os dados particulares que foram
recolhidos se vão agrupando” (Bogdan & Biklen, 1994, p.50). Na perspetiva de Carmo e
Ferreira (1998), na investigação qualitativa não é intencionalidade proceder a generalizações
de resultados, mas sim, à centralização na compreensão dos problemas, onde se dá mais valor
ao processo do que ao produto. Tendo em atenção o anteriormente referido, o presente estudo
é ainda de caráter indutivo e descritivo: Sousa e Baptista (2011) consideram que no estudo
deste caráter, “o investigador desenvolve conceitos, ideias e entendimentos a partir de padrões
encontrados nos dados” (p.56), sendo assim, interpretativo. Neste estudo pretende-se
descrever e compreender os comportamentos, as ideias e os procedimentos das crianças ao
longo do desenvolvimento das tarefas.
É ainda um estudo de caso, sendo “limitado no tempo e na acção, onde o investigador recolhe
informação detalhada” (Sousa & Baptista, 2011, p.64), onde o objeto de estudo são as
crianças em idade pré-escolar. Carmo e Ferreira (1998) referem que o estudo de caso é
caraterizado pelo uso de diferentes técnicas de recolha de dados, entre a qual, a observação
participante, onde o investigador assume o seu papel ativo junto da população que pretende
observar. O presente estudo é baseado na observação participante e na descrição e
interpretação dos dados recolhidos. Com esta metodologia aplicada é-me então possível
observar, recolher, registar e analisar dados, dando relevância às aprendizagens significativas
das crianças, às suas dificuldades e estratégias de resolução que vão demonstrando durante a
implementação das tarefas, permitindo-me perceber melhor o caminho que perseguiram até
chegar a determinadas conclusões e às respostas para as problemáticas formuladas. Deste
38
modo, é possível ampliar o meu conhecimento uma vez que, sendo um estudo feito com
crianças em idade pré-escolar, as ideias apresentadas por elas, por mais simples que possam
parecer bem como as dificuldades e/ou facilidades que sentiram, permitem-me alargar a
análise dos dados. Assim sendo, e através do meu contacto direto com as crianças em estudo,
foi dada importância ao significado que as mesmas dão às tarefas a desenvolver, bem como às
aprendizagens significativas feitas em cada uma delas.
3.2. Contexto de estudo
Nesta secção serão apresentados os participantes do estudo, os procedimentos adotados
durante o desenvolvimento da investigação, a apresentação das tarefas implementadas com as
crianças, o método de recolha de dados e ainda, a metodologia de análise de dados.
A presente investigação realizou-se na sala 2 do Jardim-de-Infância de Pinheiros em Leiria,
durante os meses de novembro e dezembro de 2011, onde desencadeei propostas educativas
no decorrer da minha Prática Pedagógica. O grupo era constituído por vinte e duas crianças
dos dois aos cinco anos de idade, sendo onze raparigas e onze rapazes. Tratava-se de um
grupo bastante heterogéneo, não só a nível de idades mas também no que diz respeito aos
níveis de aprendizagem e ritmos de trabalho. Quanto aos interesses do grupo de crianças,
grande parte mostrava preferência pela área do faz-de-conta, das construções e da pintura. No
exterior, o grupo de crianças revelava entusiasmo em jogar à bola, andar de triciclo e de
bicicleta.
3.2.1. Participantes
As primeiras tarefas foram propostas e implementadas com as vinte e duas crianças desta sala.
Como seria bastante complexo realizar o estudo com todo o grupo, uma parte do mesmo
incidiu em quatro crianças com cinco anos de idade, escolhidas por mim, tendo recorrido à
amostragem por conveniência, que “ocorre quando os elementos da amostra são escolhidos
por uma questão de conveniência” (Sousa & Baptista, 2011, p.72), e os resultados “não
podem ser generalizados à população à qual pertence o grupo de conveniência” (Carmo &
Ferreira, 1998, p.215). Sampieri (2006) refere que com esta amostragem, pretende-se obter
pessoas, contextos e situações que interessem ao investigador e que ofereçam riqueza para a
recolha e análise dos dados. Escolhi então estas crianças porque, pelas minhas observações,
indicavam ser as crianças que estariam em níveis de desenvolvimento semelhantes e que
39
conseguiriam realizar as tarefas propostas com alguma facilidade, daí considerar pertinente
realizar o estudo com elas por as considerar como potenciais participantes na investigação, a
fim de me permitir recolher dados para os analisar, interpretar e dar resposta às problemáticas
em estudo e aprender o máximo sobre elas.
A educadora cooperante, os encarregados de educação e as próprias crianças tomaram
conhecimento do trabalho a ser desenvolvido, explicando-lhes qual o objetivo pretendido, e
autorizaram a sua concretização ao permitirem fotografar e gravar o desencadear das
propostas educativas.
3.2.2. Procedimentos
Na presente secção, de modo a compreender em que circunstâncias foi realizada esta
investigação, irá ser apresentado sucintamente o contexto das tarefas implementadas.
Para iniciar, e tendo em consideração o método de investigação, estudo de caso, tive de
selecionar as crianças que iriam participar no mesmo. Para entender que estratégias usam as
crianças no processo de recolha, organização e interpretação de dados em diferentes contextos
e que aspetos do sentido de número são evidenciados na realização de atividades desta
natureza, implementei uma tarefa diagnóstica em novembro com todo o grupo de crianças,
sendo a base para todo o desenrolar das tarefas do estudo, denominada “Tarefa 0: Recolha de
dados”. A primeira e segunda tarefas, implementadas ambas no mês de novembro, foram
iniciadas em grande grupo, onde as crianças construíram gráficos de imagens. Apesar de
terem sido iniciadas com todo o grupo de crianças, após a implementação dessas tarefas
entrevistei individualmente as quatro crianças escolhidas para o estudo, através de entrevistas
abertas e semiestruturadas, conversando com as mesmas e colocando-lhes diversas questões.
Já a terceira e quarta tarefas deste estudo, realizadas no mês de dezembro, foram apenas
implementadas com as quatro crianças do estudo, dizendo respeito à construção e análise de
diagramas. De modo a ser mais perceptível a forma como foram implementadas as diferentes
tarefas, apresento a seguinte figura:
40
TAREFAS MODO DE IMPLEMENTAÇÃO
Tarefa 0 Em grande grupo
Tarefa 1 Em grande grupo e individualmente com as quatro crianças Tarefa 2 Em grande grupo e individualmente com as quatro crianças
Tarefa 3 Individualmente com as quatro crianças
Tarefa 4 Individualmente com as quatro crianças
Figura 1: Modo de implementação das tarefas