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Para a presente reflexão individual, irei apresentar o que mais me marcou neste período de intervenção, ressaltando a importância da observação enquanto contributo para as aprendizagens adquiridas, bem como o seu impacto na minha formação pessoal e profissional. Referirei ainda as principais expectativas e os principais receios que me acompanharam nos momentos antes de entrar nesta instituição. Tentarei interligar os diferentes parâmetros anteriormente evidenciados, por considerar que existem pontos comuns entre eles, sendo ainda possível complementarem-se.

Para iniciar, considero pertinente mencionar a importância de observar o que está ao nosso redor, a fim de poder interiorizar o funcionamento e gestão da instituição e da sala, conhecer as regras e as rotinas, o grupo de crianças, … Contudo, devido à imensidão de dados que há a recolher e no curto espaço de tempo que tive até então, seria difícil reter e apresentar todos eles. Mas essa é mesmo uma função do observador: “onde quer que o investigador recolha informação, esta tem de ser sujeita a uma selecção” (Bell, 1997, p.23), optando assim, por apresentar os incidentes críticos pessoais desta semana.

Para ter acesso aos diversos dados, a observação participante foi um marco essencial: segundo o Ministério da Educação (1997), “observar cada criança e o grupo para conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades, recolher as informações (…) são práticas necessárias para compreender melhor as caraterísticas das crianças e adequar o processo educativo às suas necessidades” (p.25). Sem dúvida que ao exercer a observação participante vou-me sentindo integrada e envolvida com as crianças e as rotinas que se vão estabelecendo, uma vez que, o simples facto de acompanhar as crianças na hora das refeições, sestas e cuidados na higiene, contribuem para a criação de laços afetivos, fazendo-me igualmente perceber a importância das rotinas e permitindo-me um contacto mais próximo com as crianças.

Só através das observações, pude constatar como estes afetos ocupam um lugar no topo isto porque, senti que nos momentos livres e de recreação, as crianças dirigiam-se a mim e sentavam-se ao meu redor a conversar e a participar em brincadeiras. Julgo que no contexto de creche é importante fomentar a relação com cada uma das crianças e desfrutar dessa relação, a fim de essas relações de proximidade afetiva, serem marcadas por vínculos. Com o passar dos dias e das semanas, e através do contacto com as crianças, espero conhecê-las melhor nos diferentes domínios do seu desenvolvimento, isto porque, não é só importante para mim mas igualmente para as próprias. Afirmo isto indo ao encontro do que garante Fonseca (2011) ao retratar que “para a criança é importante ter consciência do seu desenvolvimento, para o educador de infância é crucial ter a percepção do que a criança é capaz de realizar, para conduzir o seu trabalho consoante as necessidades da mesma” (p.28).

Ainda respeitante ao parâmetro da observação, no primeiro dia senti falta de conhecer os diferentes espaços da instituição e de compreender o que ela oferece às crianças das diferentes faixas etárias. Mas para além de conhecer os cuidados oferecidos pela creche, contando com as percepções da educadora, tenho como principal expectativa ser capaz de investir em tempos de qualidade nas atividades, construir segurança e reinar a confiança para e com as crianças.

Já no segundo dia de observação, comecei a sentir uma proximidade de contato com as crianças, embora por mais pequenos que possam parecer, acredito que sejam um ponto forte, pois todos estes laços que se vão criando permitem o estabelecimento de uma vinculação mais fortalecida com o passar do tempo. Foi ainda visível que as crianças manifestam diferentes reações durante o período da adaptação, nomeadamente nas suas brincadeiras entre pares; evidenciando o que acabo de referir, observei que, quando as crianças querem ter o mesmo brinquedo ou fazer a mesma atividade simultaneamente, nem sempre reagem bem, dando gritos, choros, ficando de mau humor, deitando-se no chão, o que Rapoport e Piccinini (2001) consideram ser comportamentos frequentes nestas faixas etárias, onde “os conflitos são uma realidade no quotidiano pedagógico da educação de infância” (Pereira, 2012, p.45). Contudo, fui igualmente percebendo que, maioritariamente, as crianças têm essas reações e atitudes para chamar apenas a sua atenção, o que retrata claramente que terei de adequar estratégias e refletir na ação sempre que situações deste tipo aconteçam, predominando assim a reinvenção pedagógica.

No que diz respeito aos receios, fragiliza-me o facto de as crianças, que por pequenas que sejam, não me respeitem ou me compreendam; já Zabalza (1998) ao se referir a crianças desta faixa etária, afirmava “que custam muito a concentrar a sua atenção nas suas atividades, prestar atenção às instruções, manter-se dentro de processos minimamente prolongados, aceitar as regras básicas da convivência (p.26)”. Pelo facto de eu ser ainda um elemento estranho para elas e que invadi, de certa forma, o seu espaço, compreendo que no início seja uma barreira pela qual terei de lutar para a ultrapassar. Subjacente ao que acabo de referir, sei que é fundamental dar importância atribuída aos processos de controlo (da criança, do grupo, do processo educativo), tal como defende Coelho (2009) e, inerente a isso, está o facto de planificar ações adequadas ao grupo de crianças e ao contexto educativo. Apesar de esta ser uma expectativa a alcançar, é igualmente um receio, uma vez que não me sinto confiante em planificar para o contexto de creche, em virtude de nunca ter experienciando e vivenciado Prática Pedagógica neste mesmo

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contexto e de, apesar das referências bibliográficas existentes no que respeita à creche, não há um documento oficial que oriente as ações e o que é pretendido alcançar em cada fase final de desenvolvimento, tal como acontece em contexto de pré-escolar e 1.º Ciclo do Ensino Básico, com as OCEPE e o programa curricular respetivamente, e ainda com as metas de aprendizagem.

Deste modo, os meus principais receios não se debruçavam tanto na questão de ser bem recebida por toda a comunidade da instituição; contrariamente ao que até então se tem verificado em relação aos contextos anteriores de Prática Pedagógica, outras questões se formularam, transformando-se em receios: de um modo geral, os principais receios debruçavam-se na planificação e na escolha de atividades: o receio de saber que atividades desenvolver para o grupo de crianças com esta faixa etária, o problema de definir uma intencionalidade, como organizar a prática, como avaliar as atividades, … Conheço que, nestas idades, se valorizam os domínios afetivo/emocional, cognitivo, físico-motor, social e valores; mas sinto uma barreira entre a teoria e a prática, não sabendo ainda muito bem como aplicar/abordar esses domínios com as crianças. Com o que acabo de referir, penso que este seja o contexto em que irei sentir mais dificuldades relativamente ao que redigi anteriormente, talvez pelo facto de ainda o não ter percepcionado na sala.

Em jeito de conclusão e indo ao encontro do que redigi nesta primeira reflexão, apesar de o momento de observação se ter resumido a dois dias, afirmo já ter adquiridas aprendizagens significativas. Termino dizendo que terei de ter um papel ativo na minha prática e tal como considera Esteves (2012), o melhor que podemos dar às crianças é darmo-nos a conhecer tal como somos, partilhando as nossas experiências, vivências, gostos, medos. Assim, o relacionamento interpessoal e o vínculo de que falei anteriormente começam a ganhar forma, sendo essencial para a interligação e envolvimento de ambas as partes. Neste sentido, espero conseguir não só acolher as crianças, bem como educá-las, a fim de lhes proporcionar o melhor. E para que seja bem sucedida e proporcionar o melhor às crianças, terei de ter em consideração o facto de estar orientada para os contextos, os processos e os produtos, sendo colaborativa, dinâmica e estabelecer diálogo, tal como defende Formosinho (2001).

Referências bibliográficas:

Bell, J. (1997). Como realizar um projecto de investigação. Lisboa: Gradiva.

Coelho, A. (2009). Intencionalização educativa em creche. Disponível em: http://www.rieoei.org/deloslectores/2656Coelho.pdf. Acedido a 21.05.2012.

Esteves, S. (2012). In Associação de Profissionais de Educação de Infância. (2012). Cadernos de Educação de Infância (C:E:I). n.º 96 maio/agosto 2012. Lisboa.

Fonseca, V. (2011). Reflectindo sobre a prática pedagógica em educação de infância: o jogo e o desenvolvimento de competências sociais. Relatório de Mestrado. Leiria: Instituto Politécnico de Leiria.

Formosinho, J. (2001). A visão de qualidade da Associação Criança: Contributos para uma definição. In J. Oliveira-Formosinho & J. Formosinho (Coords.). Associação Criança: Um contexto de formação em contexto (pp. 166-180). Braga: Livraria Minho.

Ministério da Educação. (1997). Orientações curriculares para a educação Pré-escolar. Lisboa: ME. Pereira, M. (2012). In Associação de Profissionais de Educação de Infância. (2012). Cadernos de Educação de Infância (C:E:I). n.º 95 janeiro/abril 2012. Lisboa.

Rapoport, A. & Piccinini, C. (2001). Concepções de Educadoras Sobre a Adaptação de Bebês à Creche. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v17n1/5407.pdf . Acedido a 25.09.2012.

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